Um hino dos coraítas para o mestre de música.
Em melodia para o coração aflito: para responsório. Salmo didático de Hemã, o ezraíta.


1 Ó Eterno, Deus de minha salvação, dia e noite clamo a ti!
2 Chegue à tua presença minha oração, presta ouvido ao meu clamor!
3 Minha alma está saturada de desgraças, minha vida está à beira das profundezas da morte.
4 Já sou contado entre os que baixam à sepultura, sou como uma pessoa absolutamente alquebrada;
5 Sinto-me abandonado à minha própria sina, entre os mortos. Sou como os trucidados, que jazem na região dos mortos, dos quais já não te lembras, pois estão apartados de tua mão.
6 Tu me depositaste nas profundezas do fosso, nos lugares tenebrosos e abismais.
7 Sobre mim pesa a tua cólera; com todas as tuas grandes ondas do mar me afligiste.
8 Afastaste de mim os meus conhecidos, fizeste de mim um horror para eles. Enclausurado, não vejo qualquer saída;
9 meus olhos anuviam-se de preocupação. Todo dia te invoquei, SENHOR, estendendo para Ti minhas mãos.
10 Farás, entretanto, um milagre para aqueles que já se despediram da vida? Porventura os mortos virão a se levantar e te louvar?
11 Será que teu amor é também proclamado no túmulo, e a tua fidelidade no Abismo da Morte?
12 Será teu sinal milagroso conhecido na região das trevas, e tua justiça, na dimensão do esquecimento?
13 Contudo, eu, ó SENHOR, clamo a ti por socorro; já ao romper da alvorada a minha oração chega à tua presença.
14 Por que, SENHOR, me rejeitas e escondes de mim a tua face?
15 Desde muito jovem tenho sofrido e ando próximo da morte. os teus terrores levaram-me ao desespero.
16 Sobre minha existência se abateu a tua ira; os pavores que me causas me consumiram.
17 Cercam-me o dia todo como uma inundação; fazem-me submergir em agonia.
18 Afastaste de mim os meus amigos e todos os meus conhecidos de jornada; as trevas são a minha única companhia.

Capítulo 88

1 Hemã ou Hêman (nome hebraico que significa "fiel"), filho de Zera, da descendência de Judá (1Cr 2.6; Sl 89), foi um dos principais sábios da corte de Salomão (1Rs 4.31). Apesar de o salmista ter vivido desde a infância sob as agruras da vida e o iminente perigo da morte, sua oração (em melodia mesta: triste, melancólica), começa com uma declaração de fé e confiança na salvação eterna que vem do Senhor, e esse é seu maior consolo (v.1). O subtítulo deste salmo (literalmente, o título no original hebraico) pode ser assim transliterado: Shir mizmor livnê Côrah, lamenatsêach al machalat leanot, maskil leheman haezrachi.
2 Por mais difícil que seja compreendermos a razão do sofrimento humano, as Sagradas Escrituras nos ensinam que aflições e angústias fazem parte do plano de Deus para o aperfeiçoamento de toda a humanidade (Cl 1.24; 1Pe 3.13). A historia hebraica está salpicada de exemplos: José sendo injustamente atirado na cova e mais tarde na prisão, para depois vir a ser salvador da sua família e primeiro-ministro do faraó do Egito; Abraão lançado em densas trevas antes de receber a maravilhosa revelação da aliança (Gn 15.12-18); Jonas lançado nas profundezas do mar antes de aprender a ser um fiel profeta de Deus; Jesus Cristo padecendo e sendo aperfeiçoado por meio dos muitos sofrimentos pelos quais passou desde o nascimento, a fim de se confirmar como pleno Autor da nossa salvação (Hb 2.10). Este versículo pode ser assim transliterado, a partir do original hebraico: Adonai Elohê ieshuati, iom tsaácti valaila negdêcha.
3 O salmista narra seu sofrimento a partir de uma perspectiva totalmente humana e cartesiana da morte: uma condição e local em que não há mais qualquer possibilidade de intervenção divina em favor da restauração do necessitado (Sl 25.7; 74.2; 106.4)