Kanji
Fanfic de The GazettE
Escrita por: Beeyu-Sama e Kashi-Chan
História dentro do Spoiler :)
Aoi Pov
Eu o olhava fixamente já faziam duas aulas.
Com curiosidade.
Observava cada traço de seu rosto.
Observava a forma que ele olhava para frente, ouvindo atentamente.
Observava os olhos cor de chocolate, intensos e brilhantes, a boca, em um formato diferente, cheinha e levemente infantil, com uma fileira de dentes pequenos e brancos.
Eu via a forma que ele apoiava o cotovelo na mesa, mantendo o queixo sobre a palma da mão, o olhar profundo, tão... Tão lindo!
Eu também via como o uniforme contornava seu corpo, e como acentuava as curvas dele, destacando as pernas, que pareciam ser grossas demais, visando o estereótipo japonês...
Os fios loiros arrumadinhos, mas de forma desalinhada, dando aquela sensação de sexy, mas casual...
E foi por estar olhando o aluno novo á mais de uma hora e meia, que corei tão forte quanto minha pele morena permitiu, quando o professor perguntou o porquê de eu estar encarando Takashima Kouyou.
Sim, esse era o nome dele.
-Ah-ah... e-eu... etto... etto... Ele... Eu n-não... – Comecei, gaguejando vergonhosamente na frente de todos os alunos.
E foi quando aqueles olhos cor de chocolate se fixaram em mim, que eu senti que minhas pernas tinham virado gelatina.
Abri a boca pelo menos cinco vezes antes de conseguir articular algumas palavras.
-Ele... Cabelo legal – Murmurei sem graça, corado e tremendo.
Depois me perguntam o porquê de eu odiar o professor de física.
Vi aqueles lábios rosados se repuxem em um sorriso, e senti como se tivesse morrido e ressuscitado em cinco segundos.
Que. Sorriso. Lindo.
Correspondi desajeitado, e logo abaixei a cabeça, começando a fingir que fazia lição.
Shiroyama Yuu, 17 anos, filho de um dos atores mais famosos do Japão, Shiroyama Mitsu.
Estou no terceiro ano do ensino médio, e hoje, segunda feira, em meio á toda a chatice clichê da escola, um aluno novo entrou.
Takashima Kouyou.
Loiro, lindo, educado, simpático, com um sorriso lindo e mudo.
Claro que Kami-sama ficou morrendo de inveja daquele anjo perfeito e lhe tirou a voz.
Porque sim, ele era um anjo.
E se não era, deveria ser.
Os cabelos loiros, levemente enrolados nas pontas, ajeitadinhos, com uma franja que lhe escondia um pedaço dos olhos.
O uniforme escondido por uma blusa branca, dando certa graciosidade á ele.
E eu só fui notar que meu plano de não olhar ele foi por água abaixo quando o professor de Física saiu da sala, pois bateu o sinal, dando uma risadinha maliciosa para mim.
Ótimo.
Takamassa-sensei deve passar horas planejando formas diferentes de tirar com a minha cara.
Todos os alunos começaram a sair em direção ao pátio, já que era o intervalo.
E eu apenas fiquei ali, olhando ele guardar os materiais delicadamente e com calma.
Parecia acanhado, e também, pudera né!
Escola nova, alunos novos, lugares novos e ainda sem a voz!
Quem tem boca vai á Roma... E quem não tem voz vai... Para a minha casa?
Balancei a cabeça, me chingando mentalmente pelos pensamentos idiotas.
Resolvi parar de ser tarado e secar o anjo, e ir ajudá-lo.
Levantei, respirando fundo, seguindo para a carteira onde ele estava sentado.
‘Seja homem, Yuu’ Pensava comigo mesmo. ‘É só falar oi e perguntar se ele precisa de ajuda’.
Pigarreei para chamar a atenção dele, que ergueu o rosto e sorriu timidamente, fazendo um arrepio subir pela minha coluna.
-Etto... Oi... Eu... Só... Vim saber se precisa de ajuda em algo... Sabe? Bem... É que... – Comecei quase me batendo. Cadê o homem?
O sorriso aumentou um pouco e ele abriu a mochila, me fazendo arquear o cenho, confuso.
Pegou uma folha, e uma caneta, começando a rabiscar algumas palavras, enquanto meu cérebro processava o que ele estava fazendo.
Logo ele me estendeu a folha, e eu sorri, enquanto lia.
‘Oi... Shiroyama, né?
Obrigado por se oferecer, e se não for incomodar, gostaria que me mostrasse a escola.
Ainda não tive tempo de conhecer nada’
-Pode me chamar de Yuu – Falei sorrindo e ele correspondeu – Vamos, eu te mostro. Não vai ser incomodo algum.
Ele assentiu, se levantando, e fomos caminhando lado á lado pelos corredores, onde eu lhe mostrava cada pedaço da escola, que não era nada pequena.
-Aqui... É meu lugar preferido, sabe? – Falei enquanto ele me olhava atentamente – Ninguém fica aqui, porque preferem ficar no pátio. Mas... Eu gosto. É tranquilo.
Ele sorriu, assentindo, enquanto nos sentávamos no banco do jardim da escola.
‘Conversamos’ na medida do possível, já que nossas mímicas não eram das melhores.
Vez ou outra eu perguntava como se falava alguma coisa na língua dos sinais, e ele me mostrava.
O intervalo praticamente voou nesse ritmo, onde descobri algumas coisas.
Descobri que Kouyou tinha duas irmãs mais velhas, que ele não era de Tókyo, apenas havia se mudado por causa de uma oferta de emprego para o pai dele.
Tinha dezesseis anos, gostava de musica, rock, e tocava guitarra.
Tudo na base dos chutes e das mímicas.
Ele também gostava de mangá, e de alguns animes que eu apreciava.
Ele tinha nascido mudo, e aprendeu a linguagem dos sinais desde cedo.
Era sorridente na maioria das vezes, e não se importava de ser diferente dos outros.
Também aprendi o meu nome na língua dos sinais e como mandar alguém ir se foder.
Sabe como é, né? Caso algum dia eu faça algo errado, eu saberei o que ele vai dizer.
~~~~~~~~~~~~~~~~~”~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~”~~~~~~~~~~~~~~
Já fazia um mês que Kouyou estava na cidade.
Nossa amizade evoluiu rapidamente.
Era difícil nos ver separados, seja dentro ou fora da escola.
Meu pai parecia ter um amor platônico pelo loiro, que era sempre educado e gentil, e tinha admitido ser fã do meu pai.
Desde então eu era praticamente obrigado a levar Kouyou em casa sempre.
Também conheci a família dele, e convenhamos, eu não tenho certeza de que ele não seja adotado.
Kouyou era uma pessoa calma, serena e tranqüila. Pensativo e passava uma aura incrível de paz.
Já sua irmã Akemi, era completamente maluca.
Falava tanto, mais tanto que dava até dor de cabeça.
Completamente louca por Yaoi e vivia me jogando para cima de Kouyou indiretamente.
Dizia que devíamos casar e adotar um casal de filhos e morar em uma fazenda.
Ela não batia muito bem.
E a outra, Izumi, era obcecada... Por mim.
Enquanto uma me jogava para cima de Kouyou, a outra SE jogava para cima de mim.
Quando eu ia à casa do loiro, era um inferno completo.
Mal conseguíamos conversar direito.
O patriarca da família era mais tranqüilo e me lembrava Kouyou.
Sempre sereno e calmo.
Eu tinha muita afinidade por ele, que parecia satisfeito com nossa amizade, ainda mais depois de eu ter quebrado o nariz de um garoto que falou sobre Kouyou e seu estilo delicado.
Sim, ninguém chega perto do meu Uruha.
Uruha.
Foi o apelido que eu dei secretamente para ele.
Secretamente porque eu não chamava ele assim na frente dele nem sob tortura.
Qual é, como ficaria a minha masculinidade?
O fato de eu ter uma pequena quedinha por Kouyou não faz de mim menos macho, que isso fique bem claro.
Enfim, a mãe do loiro eu via dificilmente. Estava sempre trabalhando.
Mas ela também era simpática.
Mas, porque mesmo que comecei a falar de todo esse povo?
Ah, sim claro, a evolução da nossa amizade.
Kouyou era encantador.
Em todos os sentidos da palavra.
Seus gestos, na maioria das vezes tímidos e recatados, a forma que ele sorria, ou como corava com algum elogio.
O jeito que se vestia e até mesmo o sorriso.
Era oficial a forma que eu me derretia só de ver ele.
Tão gracioso, tão gentil.
No momento eu estava indo para a casa dele.
Era domingo e eu estava sem ver ele desde sexta.
Julguem-me, mas desaprendi a não ver ele todos os dias.
Estou piscando em neon de saudades.
Risca esse neon, por favor, né. Minha masculinidade não permiti esse tipo de frases.
Chegando á casa dele, coloquei aquela cesta que eu carregava no chão, respirando fundo, apertando a campainha.
Após alguns segundo Akemi colocou a cabeça para fora da janela, abrindo aquele sorriso macabro que me congelava até a alma.
-Ainda bem que chegou, Yuu! Tem uma pessoa loira nessa casa, que não sou eu nem minha mãe, que esta morrendo de saudades de você, cujo nome eu não posso falar! – Sim, ela gritou isso pela janela, e a vizinha que me chamava de ‘magrelo esquisito’ me encarou analítica.
Revirei os olhos, esperando até que Tadashi abriu a porta, me dedicando um sorriso simpático e sereno.
-Oi, garoto! Achei que não viria mais! O pequeno já estava impaciente – Sorriu me dando passagem, arqueando o cenho quando peguei a cesta novamente, entrando.
Eu acho uma ironia vagabunda ele chamar aquele dois metros de Kouyou de pequeno, mas enfim.
-Tive um pequeno contratempo – Falei entrando, vendo Azumi me olhar de cima abaixo duas vezes antes de rir.
-Kou-chan, sua morena chegou. Se eu fosse você, não deixava ele andar com essa calça agarrada assim não, porque na minha opinião ele está estuprável, sabe? – Berrou em direção á escada e eu corei, ficando sem graça.
-Azumi, já falei para não envergonhar o Yuu desta forma – Repreendeu Tadashi e eu agradeci mentalmente – Sente-se, Yuu. Kouyou já deve estar descendo.
Assenti, me sentando no sofá, colocando a cesta no colo, esperando, sentindo que Azumi ainda encarava minha calça.
-Yuu, hipoteticamente, se você fosse se casar com o Kou-chan ia querer rosas vermelhas ou brancas no seu casamento? – Perguntou fazendo uma feição séria, e eu corei, sem graça.
Ia abrir a boca para gaguejar (como sempre), mas a mesma ficou aberta e escancarada quando ele desceu.
Sim, eu já tinha visto ele de shorts inúmeras vezes, ainda mais com aquela blusa de lã, que cobria completamente o short curto.
Sim, eu já tinha visto ele com os cabelos arrumados daquela forma, e sim, eu já tinha visto aquele sorriso mil vezes.
A questão, básica e simples, é que Kouyou, sempre, não importa onde e em que ocasião, sempre me deixava de boca aberta.
Sempre sumia com meu ar.
Não importa quantas vezes eu olhe para ele, sempre parece como na primeira vez.
Porque ele parecia ficar mais belo a cada dia que passava.
E eu já não me importava se Azumi me olhava com malícia, ou se Tadashi me olhava avaliativo.
Eu só conseguia ver aqueles olhos cor de chocolate, intensos e lindos, enquanto ele descia a escada.
Kouyou terminou de descer, sorrindo ao me ver na sala, praticamente babando nele.
A minha sorte, é que Kouyou parecia inocente e ingênuo demais para perceber o tanto que ele me deixava bobo.
Kouyou veio até mim, sorrindo timidamente, e se sentou ao meu lado, enquanto meus olhos ainda olhavam os traços de seu rosto perfeito.
-Desculpa a demora – Sussurrei, quase voltando á mim.
Quase.
Ele sorriu, balançando a cabeça de forma descontraída.
Lembrei-me da cesta no meu colo quando os olhos cor de chocolate se focaram nela, confusos.
-Ah, etto... eu... bem... lembrei... do dia que fomos na feira e estavam... doando, e bem, você... pareceu gostar e... etto, como fica muito tempo sozinho em casa, achei que... etto.... eu só... – Gaguejei enquanto fuçava naquela cesta pequena, no amontoado de panos, pegando o gatinho pequeno, todo preto, com algumas manchas brancas na patinha.
Vi os olhos cor de chocolate se arregalarem, olhando de mim para o filhotinho que miava manhoso na minha mão.
-Se... bem, se você não quiser eu vou entender, sabe? Só pensei que, bem, como você gosta de gatos... e... etto, durante a tarde fica aqui sozinho. Mais se não quiser posso levar ele para minha casa, eu gostei dele... Eu... acho que fui um idiota, Uruha. Eu... bem, achei... achei... achei que você ia querer... mas... se não gostou tudo bem... eu... – Gaguejei completamente sem jeito.
Uruha abriu a boca, sem saber o que fazer, parecendo sem jeito, mas por fim franziu o cenho quando parei de falar, fazendo gestos para a irmã.
Só consegui entender “Ele” e “Chamou”
Meu conhecimento na língua de sinais ainda era pouco.
-Ele te chamou de Uruha – Falou Azumi, respondendo ao irmão e eu senti vontade de me dar um tiro.
Eu sempre faço merda quando estou nervoso, mas essa ganhou.
Eu chamei ele de Uruha, sem ter notado.
Como. Eu. Sou. Burro.
Senti minhas bochechas corarem rapidamente, e olhei atônito para Kouyou, vendo ele com o cenho franzido, parecendo estar pensando.
-E-eu... achei... achei que combinava – Me defendi, a voz saindo fraquinha, enquanto eu olhava de canto para o loiro.
Aos poucos a expressão dele se suavizou e ele abriu aquele sorriso magnífico que eu adorava.
Ele estendeu a mão para mim e eu o olhei sem entender, vendo ele sorrir, tomando o gatinho da minha mão, aninhando-o contra os próprios braços.
Sorri, não conseguindo não achar a cena, no mínimo, meiga.
Vi Tadashi me olhar fixamente e depois suspirar.
-Vou subir, crianças. Qualquer coisa estarei no escritório.
Kou e Azumi assentiram, e logo Azumi se levantou da poltrona onde estava sentando ao meu lado.
-Acho que deveríamos colocar as brancas, para representar a pureza que eu acho que o Kou tem, e as vermelhas, para representar esse amor todo que você sente por ele. O que acha? Ia ficar bonito, não ia? Ia ser o melhor casamento do mundo – Falou, rindo, e se levantou, subindo as escadas.
Olhei para Kou, que acariciava o pelo negro com carinho, enquanto o gatinho dormia, ronronando em seu colo.
-Você... Gostou? – Perguntei e ele direcionou os olhos cor de chocolate para mim, abrindo um sorriso enorme, assentindo – Qual vai ser o nome dele? – Perguntei e vi um sorriso quase infantil acender no rosto delicado dele.
Kouyou fez alguns sinais e eu prestei atenção, atentamente, quase chorando quando entendi.
O gato se chamaria... Aoi.
Kouyou apontou para o pelo negro do gato, logo sem seguida apontando para meu cabelo, também negro.
Sorri bobamente, o vendo ele retribuir de forma carinhosa.
-Parecido? – Perguntei e ele assentiu.
Ficamos ali, tentando conversar, porque as limitações que tínhamos ainda eram grandes.
-Kou, você... Você podia me ensinar a língua dos sinais, né? Tipo, me ensinar tudo. A gente ia poder conversar sempre, ia ser mais fácil! – Sugeri coisa que eu já havia tentado sozinho, na internet, mas que foi um fiasco.
Kouyou sorriu, mas negou com a cabeça com sutileza.
-Porque não? – Perguntei ofendido, e ele deu de ombros.
Estávamos em um ponto da nossa amizade que me incomodava. E muito.
Kouyou se recusava a me ensinar a língua de sinais, e também se recusava a escrever quando tinha que falar comigo.
Com qualquer outra pessoa, ele escrevia e problema resolvido.
Comigo, ele só escrevia se era caso de vida ou morte.
E isso me machucava.
Parecia que... Sei lá, eu estava mendigando a amizade dele.
Parecia que ele não queria falar comigo.
Pois veja bem, ele se recusava a me ensinar a língua de sinais, e não escrevia para falar comigo.
Abaixei a cabeça, sem graça, tirando a mão do gatinho que eu estava acariciando, e me ajeitei no sofá, suspirando.
-Kou, eu não entendo – Falei cabisbaixo – Eu... Eu tento fazer de tudo sabe? Eu... Já tentei aprender pela internet, mais é difícil... Eu... Eu só queria conversar com você, sabe? Eu queria muito. Você... Se fosse qualquer outra pessoa, você escreveria, na hora de conversar. Mas... Você me faz ficar fazendo minhas mímicas estranhas até saber o que é, e bem... A gente mal conversa. Eu...
Ergui o rosto, o vendo ele sorrindo, e abaixei a cabeça de novo, completamente chateado.
-Estou sendo idiota, né? – Sussurrei – Para que você se esforçaria para falar com um idiota? – Sussurrei me levantando do sofá, sem olhar para ele – Desculpa tomar seu tempo. Eu... – Comecei, sem saber o que dizer então apenas me virei, sem dar tempo dele ver as lágrimas pressas nos meus olhos e sai correndo.
Eu sentia como se pudesse me afogar no meu próprio choro.
~~~~~~~~~~~~~~”~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~”
Entrei na escola, sem vontade.
Havia chego em casa ontem quase morrendo de tanto chorar.
Meu pai apenas falou para eu comer chocolate e ir ver romance na TV.
O que obviamente foi uma péssima ideia.
E agora aqui estava a segunda feira, para terminar de me desanimar.
Entrei sem olhar para os lados, temendo ver Kouyou e cair aos seus pés pedindo perdão.
Eu sei que não fiz nada, mas... era capaz de fazer isso se visse os olhos cor de chocolate.
Então apenas segui de cabeça baixa, entrando na sala, sentando na primeira carteira, afastado de onde geralmente eu sentava com o loiro.
Pela primeira vez depois que conheci Kouyou, prestei atenção na aula.
Até o sensei Takamassa, que sempre foi insuportável perguntou se eu estava me sentindo bem.
É claro, que eu conseguia ver Kouyou.
Eu estava perto da janela, então, quando olhava para ela sem querer, podia ver o reflexo dele, sentado na extremidade oposta á minha, escrevendo algo em uma folha.
O sensei estava lá na frente, falando e ele escrevendo.
Meu orgulho estava tão ferido, que cheguei a cogitar a ideia de falar para o Sensei que ele não estava prestando atenção, mas, meu senso de bondade falou mais alto.
Forcei-me a parar de olhar para ele, focando os olhos no sensei, ainda com aquela expressão de cachorro que caiu da mudança.
Depois de alguns minutos tentando inutilmente prestar atenção na aula, senti uma bolinha de papel acertar em cheio minha cabeça e estava pronto para voltar a chorar, pensando em como essa sociedade não respeita nem uma bicha rejeitada.
Mas antes armaria um belo barraco porque meu ego está ferido.
Virei-me, pronto para amaldiçoar até a décima quinta geração do infeliz que não tem coração, e dei de cara com os olhos cor de chocolate.
Intensos, lindos, contrastando com aquele sorriso doce.
Mas, dessa vez, o que me paralisou não foi isso.
E sim o caderno dele.
Kouyou mantinha seu caderno aberto, em pé, de forma que eu pudesse ver o que estava escrito.
Grande, no meio da folha, ali estava.
‘Aishiteru’.
E eu fiquei ali, olhando feito bobo, do caderno para ele.
A sala estava uma gritaria, uma bagunça, o sensei estava berrando lá na frente, tinham oito meninas rindo da minha cara de assustado, e eu apenas conseguia sentir meus olhos cheios de lágrimas.
Kouyou sorriu ainda mais abertamente, virando a folha, onde pude ver outra frase.
‘Eu amo o jeito que você se atrapalha para falar comigo’
E a primeira lágrima escorreu, enquanto ele virar a folha.
‘Eu amo suas mímicas malucas’
E em cada folha, uma frase.
‘Eu amo como você fica bobo quando apareço’
‘Eu amo o jeito que você gagueja quando está com vergonha’
‘Eu amo seu sorriso’
‘Eu amo quando eu faço você sorrir’
‘Eu amo seus olhos’
‘Eu quando você me protege’
‘Eu amo quando faz palhaçadas para eu rir’
‘Eu amo seu lado dramático’
‘Eu amo suas piadas sem graça’
‘Eu amo o jeito que implica com o professor’
‘Eu amo seu lado convencido’
‘Eu amo sua vaidade’
‘Eu amo seu cheiro’
‘Eu amo sua voz’
Á esse ponto, minha maquiagem devia estar uma merda e eu com uma tremenda cara de panda.
As lágrimas desciam cada vez mais.
A sala, agora, se mantinha em silêncio, observando a declaração sem palavras.
Até o sensei parecia prestar atenção.
‘Seria muito mais fácil se eu te ensinasse a língua dos sinais?”
Ele virou a folha.
‘Sim’
‘Mas, Yuu, eu prefiro mil vezes nossas conversas estranhas. Nossas mímicas. Prefiro mil vezes rir de quando você fica irritado por não conseguir falar’
Outra folha
‘Prefiro o nosso jeito de amar’
‘Um amor sem palavras’
E eu tentava bravamente conter os soluços, o vendo ele sorrir para mim, virando a última folha, com aquele Kanji grande.
‘Aishiteru’
Eu vi ele levantar, gracioso como sempre, e andar até mim, sorrindo, parecendo não se importar com as pessoas á nossa volta.
Ajoelhou-se na minha frente, limpando minhas lágrimas, me dando aquele sorriso maravilhoso.
Pegou minha mão, colocando sobre o próprio coração, e eu só pude me jogar nos braços dele, sentindo ele me abraçar com força.
E ao fundo do meu choro escandaloso, pude ouvir as palmas começarem, a sala inteira já gritava e batia palmas.
Observando a nossa declaração estranha, do nosso jeito estranho.
Um amor sem palavras.
E não importava quantas coisas estranhas fizéssemos, seria apenas uma questão de amor.
-Eu te amo, Kouyou – Sussurrei me afastando dos seus braços, sorrindo para ele.
E vi aqueles lábios gordinhos e rosados grudarem aos meus, fazendo-me abraçá-lo novamente, correspondendo.
Podia sentir a suavidade e a maciez daquela boca perfeita.
Podia sentir meu coração gritando dentro do peito.
Estreitei ainda mais os braços ao redor do pescoço dele, quebrando o beijo, tentando conter as lágrimas.
Ele apontou para o próprio peito, depois colocou minha mão sobre o próprio coração, mexendo os lábios, sem som algum.
‘Ele bate por você’
-Etto, já descobrimos que Yuu-san é uma diva emocionalmente afetada, e que Kouyou é romântico, posso retomar a aula? – Ouvimos o sensei perguntar e corei até a raiz do cabelo, me lembrando que todos nos olhavam.
Kouyou sorriu, puxando uma cadeira, colocando ao lado da minha, sentando-se ali, de forma que pudesse me manter entre os braços, e logo o sensei retomava sua aula.
E eu realmente não me importava com as dificuldades que passaríamos.
Apenas queria viver.
Viver nosso amor sem palavras.
:D
Fanfic de The GazettE
Escrita por: Beeyu-Sama e Kashi-Chan
História dentro do Spoiler :)
Kanji
Spoiler :
Aoi Pov
Eu o olhava fixamente já faziam duas aulas.
Com curiosidade.
Observava cada traço de seu rosto.
Observava a forma que ele olhava para frente, ouvindo atentamente.
Observava os olhos cor de chocolate, intensos e brilhantes, a boca, em um formato diferente, cheinha e levemente infantil, com uma fileira de dentes pequenos e brancos.
Eu via a forma que ele apoiava o cotovelo na mesa, mantendo o queixo sobre a palma da mão, o olhar profundo, tão... Tão lindo!
Eu também via como o uniforme contornava seu corpo, e como acentuava as curvas dele, destacando as pernas, que pareciam ser grossas demais, visando o estereótipo japonês...
Os fios loiros arrumadinhos, mas de forma desalinhada, dando aquela sensação de sexy, mas casual...
E foi por estar olhando o aluno novo á mais de uma hora e meia, que corei tão forte quanto minha pele morena permitiu, quando o professor perguntou o porquê de eu estar encarando Takashima Kouyou.
Sim, esse era o nome dele.
-Ah-ah... e-eu... etto... etto... Ele... Eu n-não... – Comecei, gaguejando vergonhosamente na frente de todos os alunos.
E foi quando aqueles olhos cor de chocolate se fixaram em mim, que eu senti que minhas pernas tinham virado gelatina.
Abri a boca pelo menos cinco vezes antes de conseguir articular algumas palavras.
-Ele... Cabelo legal – Murmurei sem graça, corado e tremendo.
Depois me perguntam o porquê de eu odiar o professor de física.
Vi aqueles lábios rosados se repuxem em um sorriso, e senti como se tivesse morrido e ressuscitado em cinco segundos.
Que. Sorriso. Lindo.
Correspondi desajeitado, e logo abaixei a cabeça, começando a fingir que fazia lição.
Shiroyama Yuu, 17 anos, filho de um dos atores mais famosos do Japão, Shiroyama Mitsu.
Estou no terceiro ano do ensino médio, e hoje, segunda feira, em meio á toda a chatice clichê da escola, um aluno novo entrou.
Takashima Kouyou.
Loiro, lindo, educado, simpático, com um sorriso lindo e mudo.
Claro que Kami-sama ficou morrendo de inveja daquele anjo perfeito e lhe tirou a voz.
Porque sim, ele era um anjo.
E se não era, deveria ser.
Os cabelos loiros, levemente enrolados nas pontas, ajeitadinhos, com uma franja que lhe escondia um pedaço dos olhos.
O uniforme escondido por uma blusa branca, dando certa graciosidade á ele.
E eu só fui notar que meu plano de não olhar ele foi por água abaixo quando o professor de Física saiu da sala, pois bateu o sinal, dando uma risadinha maliciosa para mim.
Ótimo.
Takamassa-sensei deve passar horas planejando formas diferentes de tirar com a minha cara.
Todos os alunos começaram a sair em direção ao pátio, já que era o intervalo.
E eu apenas fiquei ali, olhando ele guardar os materiais delicadamente e com calma.
Parecia acanhado, e também, pudera né!
Escola nova, alunos novos, lugares novos e ainda sem a voz!
Quem tem boca vai á Roma... E quem não tem voz vai... Para a minha casa?
Balancei a cabeça, me chingando mentalmente pelos pensamentos idiotas.
Resolvi parar de ser tarado e secar o anjo, e ir ajudá-lo.
Levantei, respirando fundo, seguindo para a carteira onde ele estava sentado.
‘Seja homem, Yuu’ Pensava comigo mesmo. ‘É só falar oi e perguntar se ele precisa de ajuda’.
Pigarreei para chamar a atenção dele, que ergueu o rosto e sorriu timidamente, fazendo um arrepio subir pela minha coluna.
-Etto... Oi... Eu... Só... Vim saber se precisa de ajuda em algo... Sabe? Bem... É que... – Comecei quase me batendo. Cadê o homem?
O sorriso aumentou um pouco e ele abriu a mochila, me fazendo arquear o cenho, confuso.
Pegou uma folha, e uma caneta, começando a rabiscar algumas palavras, enquanto meu cérebro processava o que ele estava fazendo.
Logo ele me estendeu a folha, e eu sorri, enquanto lia.
‘Oi... Shiroyama, né?
Obrigado por se oferecer, e se não for incomodar, gostaria que me mostrasse a escola.
Ainda não tive tempo de conhecer nada’
-Pode me chamar de Yuu – Falei sorrindo e ele correspondeu – Vamos, eu te mostro. Não vai ser incomodo algum.
Ele assentiu, se levantando, e fomos caminhando lado á lado pelos corredores, onde eu lhe mostrava cada pedaço da escola, que não era nada pequena.
-Aqui... É meu lugar preferido, sabe? – Falei enquanto ele me olhava atentamente – Ninguém fica aqui, porque preferem ficar no pátio. Mas... Eu gosto. É tranquilo.
Ele sorriu, assentindo, enquanto nos sentávamos no banco do jardim da escola.
‘Conversamos’ na medida do possível, já que nossas mímicas não eram das melhores.
Vez ou outra eu perguntava como se falava alguma coisa na língua dos sinais, e ele me mostrava.
O intervalo praticamente voou nesse ritmo, onde descobri algumas coisas.
Descobri que Kouyou tinha duas irmãs mais velhas, que ele não era de Tókyo, apenas havia se mudado por causa de uma oferta de emprego para o pai dele.
Tinha dezesseis anos, gostava de musica, rock, e tocava guitarra.
Tudo na base dos chutes e das mímicas.
Ele também gostava de mangá, e de alguns animes que eu apreciava.
Ele tinha nascido mudo, e aprendeu a linguagem dos sinais desde cedo.
Era sorridente na maioria das vezes, e não se importava de ser diferente dos outros.
Também aprendi o meu nome na língua dos sinais e como mandar alguém ir se foder.
Sabe como é, né? Caso algum dia eu faça algo errado, eu saberei o que ele vai dizer.
~~~~~~~~~~~~~~~~~”~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~”~~~~~~~~~~~~~~
Já fazia um mês que Kouyou estava na cidade.
Nossa amizade evoluiu rapidamente.
Era difícil nos ver separados, seja dentro ou fora da escola.
Meu pai parecia ter um amor platônico pelo loiro, que era sempre educado e gentil, e tinha admitido ser fã do meu pai.
Desde então eu era praticamente obrigado a levar Kouyou em casa sempre.
Também conheci a família dele, e convenhamos, eu não tenho certeza de que ele não seja adotado.
Kouyou era uma pessoa calma, serena e tranqüila. Pensativo e passava uma aura incrível de paz.
Já sua irmã Akemi, era completamente maluca.
Falava tanto, mais tanto que dava até dor de cabeça.
Completamente louca por Yaoi e vivia me jogando para cima de Kouyou indiretamente.
Dizia que devíamos casar e adotar um casal de filhos e morar em uma fazenda.
Ela não batia muito bem.
E a outra, Izumi, era obcecada... Por mim.
Enquanto uma me jogava para cima de Kouyou, a outra SE jogava para cima de mim.
Quando eu ia à casa do loiro, era um inferno completo.
Mal conseguíamos conversar direito.
O patriarca da família era mais tranqüilo e me lembrava Kouyou.
Sempre sereno e calmo.
Eu tinha muita afinidade por ele, que parecia satisfeito com nossa amizade, ainda mais depois de eu ter quebrado o nariz de um garoto que falou sobre Kouyou e seu estilo delicado.
Sim, ninguém chega perto do meu Uruha.
Uruha.
Foi o apelido que eu dei secretamente para ele.
Secretamente porque eu não chamava ele assim na frente dele nem sob tortura.
Qual é, como ficaria a minha masculinidade?
O fato de eu ter uma pequena quedinha por Kouyou não faz de mim menos macho, que isso fique bem claro.
Enfim, a mãe do loiro eu via dificilmente. Estava sempre trabalhando.
Mas ela também era simpática.
Mas, porque mesmo que comecei a falar de todo esse povo?
Ah, sim claro, a evolução da nossa amizade.
Kouyou era encantador.
Em todos os sentidos da palavra.
Seus gestos, na maioria das vezes tímidos e recatados, a forma que ele sorria, ou como corava com algum elogio.
O jeito que se vestia e até mesmo o sorriso.
Era oficial a forma que eu me derretia só de ver ele.
Tão gracioso, tão gentil.
No momento eu estava indo para a casa dele.
Era domingo e eu estava sem ver ele desde sexta.
Julguem-me, mas desaprendi a não ver ele todos os dias.
Estou piscando em neon de saudades.
Risca esse neon, por favor, né. Minha masculinidade não permiti esse tipo de frases.
Chegando á casa dele, coloquei aquela cesta que eu carregava no chão, respirando fundo, apertando a campainha.
Após alguns segundo Akemi colocou a cabeça para fora da janela, abrindo aquele sorriso macabro que me congelava até a alma.
-Ainda bem que chegou, Yuu! Tem uma pessoa loira nessa casa, que não sou eu nem minha mãe, que esta morrendo de saudades de você, cujo nome eu não posso falar! – Sim, ela gritou isso pela janela, e a vizinha que me chamava de ‘magrelo esquisito’ me encarou analítica.
Revirei os olhos, esperando até que Tadashi abriu a porta, me dedicando um sorriso simpático e sereno.
-Oi, garoto! Achei que não viria mais! O pequeno já estava impaciente – Sorriu me dando passagem, arqueando o cenho quando peguei a cesta novamente, entrando.
Eu acho uma ironia vagabunda ele chamar aquele dois metros de Kouyou de pequeno, mas enfim.
-Tive um pequeno contratempo – Falei entrando, vendo Azumi me olhar de cima abaixo duas vezes antes de rir.
-Kou-chan, sua morena chegou. Se eu fosse você, não deixava ele andar com essa calça agarrada assim não, porque na minha opinião ele está estuprável, sabe? – Berrou em direção á escada e eu corei, ficando sem graça.
-Azumi, já falei para não envergonhar o Yuu desta forma – Repreendeu Tadashi e eu agradeci mentalmente – Sente-se, Yuu. Kouyou já deve estar descendo.
Assenti, me sentando no sofá, colocando a cesta no colo, esperando, sentindo que Azumi ainda encarava minha calça.
-Yuu, hipoteticamente, se você fosse se casar com o Kou-chan ia querer rosas vermelhas ou brancas no seu casamento? – Perguntou fazendo uma feição séria, e eu corei, sem graça.
Ia abrir a boca para gaguejar (como sempre), mas a mesma ficou aberta e escancarada quando ele desceu.
Sim, eu já tinha visto ele de shorts inúmeras vezes, ainda mais com aquela blusa de lã, que cobria completamente o short curto.
Sim, eu já tinha visto ele com os cabelos arrumados daquela forma, e sim, eu já tinha visto aquele sorriso mil vezes.
A questão, básica e simples, é que Kouyou, sempre, não importa onde e em que ocasião, sempre me deixava de boca aberta.
Sempre sumia com meu ar.
Não importa quantas vezes eu olhe para ele, sempre parece como na primeira vez.
Porque ele parecia ficar mais belo a cada dia que passava.
E eu já não me importava se Azumi me olhava com malícia, ou se Tadashi me olhava avaliativo.
Eu só conseguia ver aqueles olhos cor de chocolate, intensos e lindos, enquanto ele descia a escada.
Kouyou terminou de descer, sorrindo ao me ver na sala, praticamente babando nele.
A minha sorte, é que Kouyou parecia inocente e ingênuo demais para perceber o tanto que ele me deixava bobo.
Kouyou veio até mim, sorrindo timidamente, e se sentou ao meu lado, enquanto meus olhos ainda olhavam os traços de seu rosto perfeito.
-Desculpa a demora – Sussurrei, quase voltando á mim.
Quase.
Ele sorriu, balançando a cabeça de forma descontraída.
Lembrei-me da cesta no meu colo quando os olhos cor de chocolate se focaram nela, confusos.
-Ah, etto... eu... bem... lembrei... do dia que fomos na feira e estavam... doando, e bem, você... pareceu gostar e... etto, como fica muito tempo sozinho em casa, achei que... etto.... eu só... – Gaguejei enquanto fuçava naquela cesta pequena, no amontoado de panos, pegando o gatinho pequeno, todo preto, com algumas manchas brancas na patinha.
Vi os olhos cor de chocolate se arregalarem, olhando de mim para o filhotinho que miava manhoso na minha mão.
-Se... bem, se você não quiser eu vou entender, sabe? Só pensei que, bem, como você gosta de gatos... e... etto, durante a tarde fica aqui sozinho. Mais se não quiser posso levar ele para minha casa, eu gostei dele... Eu... acho que fui um idiota, Uruha. Eu... bem, achei... achei... achei que você ia querer... mas... se não gostou tudo bem... eu... – Gaguejei completamente sem jeito.
Uruha abriu a boca, sem saber o que fazer, parecendo sem jeito, mas por fim franziu o cenho quando parei de falar, fazendo gestos para a irmã.
Só consegui entender “Ele” e “Chamou”
Meu conhecimento na língua de sinais ainda era pouco.
-Ele te chamou de Uruha – Falou Azumi, respondendo ao irmão e eu senti vontade de me dar um tiro.
Eu sempre faço merda quando estou nervoso, mas essa ganhou.
Eu chamei ele de Uruha, sem ter notado.
Como. Eu. Sou. Burro.
Senti minhas bochechas corarem rapidamente, e olhei atônito para Kouyou, vendo ele com o cenho franzido, parecendo estar pensando.
-E-eu... achei... achei que combinava – Me defendi, a voz saindo fraquinha, enquanto eu olhava de canto para o loiro.
Aos poucos a expressão dele se suavizou e ele abriu aquele sorriso magnífico que eu adorava.
Ele estendeu a mão para mim e eu o olhei sem entender, vendo ele sorrir, tomando o gatinho da minha mão, aninhando-o contra os próprios braços.
Sorri, não conseguindo não achar a cena, no mínimo, meiga.
Vi Tadashi me olhar fixamente e depois suspirar.
-Vou subir, crianças. Qualquer coisa estarei no escritório.
Kou e Azumi assentiram, e logo Azumi se levantou da poltrona onde estava sentando ao meu lado.
-Acho que deveríamos colocar as brancas, para representar a pureza que eu acho que o Kou tem, e as vermelhas, para representar esse amor todo que você sente por ele. O que acha? Ia ficar bonito, não ia? Ia ser o melhor casamento do mundo – Falou, rindo, e se levantou, subindo as escadas.
Olhei para Kou, que acariciava o pelo negro com carinho, enquanto o gatinho dormia, ronronando em seu colo.
-Você... Gostou? – Perguntei e ele direcionou os olhos cor de chocolate para mim, abrindo um sorriso enorme, assentindo – Qual vai ser o nome dele? – Perguntei e vi um sorriso quase infantil acender no rosto delicado dele.
Kouyou fez alguns sinais e eu prestei atenção, atentamente, quase chorando quando entendi.
O gato se chamaria... Aoi.
Kouyou apontou para o pelo negro do gato, logo sem seguida apontando para meu cabelo, também negro.
Sorri bobamente, o vendo ele retribuir de forma carinhosa.
-Parecido? – Perguntei e ele assentiu.
Ficamos ali, tentando conversar, porque as limitações que tínhamos ainda eram grandes.
-Kou, você... Você podia me ensinar a língua dos sinais, né? Tipo, me ensinar tudo. A gente ia poder conversar sempre, ia ser mais fácil! – Sugeri coisa que eu já havia tentado sozinho, na internet, mas que foi um fiasco.
Kouyou sorriu, mas negou com a cabeça com sutileza.
-Porque não? – Perguntei ofendido, e ele deu de ombros.
Estávamos em um ponto da nossa amizade que me incomodava. E muito.
Kouyou se recusava a me ensinar a língua de sinais, e também se recusava a escrever quando tinha que falar comigo.
Com qualquer outra pessoa, ele escrevia e problema resolvido.
Comigo, ele só escrevia se era caso de vida ou morte.
E isso me machucava.
Parecia que... Sei lá, eu estava mendigando a amizade dele.
Parecia que ele não queria falar comigo.
Pois veja bem, ele se recusava a me ensinar a língua de sinais, e não escrevia para falar comigo.
Abaixei a cabeça, sem graça, tirando a mão do gatinho que eu estava acariciando, e me ajeitei no sofá, suspirando.
-Kou, eu não entendo – Falei cabisbaixo – Eu... Eu tento fazer de tudo sabe? Eu... Já tentei aprender pela internet, mais é difícil... Eu... Eu só queria conversar com você, sabe? Eu queria muito. Você... Se fosse qualquer outra pessoa, você escreveria, na hora de conversar. Mas... Você me faz ficar fazendo minhas mímicas estranhas até saber o que é, e bem... A gente mal conversa. Eu...
Ergui o rosto, o vendo ele sorrindo, e abaixei a cabeça de novo, completamente chateado.
-Estou sendo idiota, né? – Sussurrei – Para que você se esforçaria para falar com um idiota? – Sussurrei me levantando do sofá, sem olhar para ele – Desculpa tomar seu tempo. Eu... – Comecei, sem saber o que dizer então apenas me virei, sem dar tempo dele ver as lágrimas pressas nos meus olhos e sai correndo.
Eu sentia como se pudesse me afogar no meu próprio choro.
~~~~~~~~~~~~~~”~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~”
Entrei na escola, sem vontade.
Havia chego em casa ontem quase morrendo de tanto chorar.
Meu pai apenas falou para eu comer chocolate e ir ver romance na TV.
O que obviamente foi uma péssima ideia.
E agora aqui estava a segunda feira, para terminar de me desanimar.
Entrei sem olhar para os lados, temendo ver Kouyou e cair aos seus pés pedindo perdão.
Eu sei que não fiz nada, mas... era capaz de fazer isso se visse os olhos cor de chocolate.
Então apenas segui de cabeça baixa, entrando na sala, sentando na primeira carteira, afastado de onde geralmente eu sentava com o loiro.
Pela primeira vez depois que conheci Kouyou, prestei atenção na aula.
Até o sensei Takamassa, que sempre foi insuportável perguntou se eu estava me sentindo bem.
É claro, que eu conseguia ver Kouyou.
Eu estava perto da janela, então, quando olhava para ela sem querer, podia ver o reflexo dele, sentado na extremidade oposta á minha, escrevendo algo em uma folha.
O sensei estava lá na frente, falando e ele escrevendo.
Meu orgulho estava tão ferido, que cheguei a cogitar a ideia de falar para o Sensei que ele não estava prestando atenção, mas, meu senso de bondade falou mais alto.
Forcei-me a parar de olhar para ele, focando os olhos no sensei, ainda com aquela expressão de cachorro que caiu da mudança.
Depois de alguns minutos tentando inutilmente prestar atenção na aula, senti uma bolinha de papel acertar em cheio minha cabeça e estava pronto para voltar a chorar, pensando em como essa sociedade não respeita nem uma bicha rejeitada.
Mas antes armaria um belo barraco porque meu ego está ferido.
Virei-me, pronto para amaldiçoar até a décima quinta geração do infeliz que não tem coração, e dei de cara com os olhos cor de chocolate.
Intensos, lindos, contrastando com aquele sorriso doce.
Mas, dessa vez, o que me paralisou não foi isso.
E sim o caderno dele.
Kouyou mantinha seu caderno aberto, em pé, de forma que eu pudesse ver o que estava escrito.
Grande, no meio da folha, ali estava.
‘Aishiteru’.
E eu fiquei ali, olhando feito bobo, do caderno para ele.
A sala estava uma gritaria, uma bagunça, o sensei estava berrando lá na frente, tinham oito meninas rindo da minha cara de assustado, e eu apenas conseguia sentir meus olhos cheios de lágrimas.
Kouyou sorriu ainda mais abertamente, virando a folha, onde pude ver outra frase.
‘Eu amo o jeito que você se atrapalha para falar comigo’
E a primeira lágrima escorreu, enquanto ele virar a folha.
‘Eu amo suas mímicas malucas’
E em cada folha, uma frase.
‘Eu amo como você fica bobo quando apareço’
‘Eu amo o jeito que você gagueja quando está com vergonha’
‘Eu amo seu sorriso’
‘Eu amo quando eu faço você sorrir’
‘Eu amo seus olhos’
‘Eu quando você me protege’
‘Eu amo quando faz palhaçadas para eu rir’
‘Eu amo seu lado dramático’
‘Eu amo suas piadas sem graça’
‘Eu amo o jeito que implica com o professor’
‘Eu amo seu lado convencido’
‘Eu amo sua vaidade’
‘Eu amo seu cheiro’
‘Eu amo sua voz’
Á esse ponto, minha maquiagem devia estar uma merda e eu com uma tremenda cara de panda.
As lágrimas desciam cada vez mais.
A sala, agora, se mantinha em silêncio, observando a declaração sem palavras.
Até o sensei parecia prestar atenção.
‘Seria muito mais fácil se eu te ensinasse a língua dos sinais?”
Ele virou a folha.
‘Sim’
‘Mas, Yuu, eu prefiro mil vezes nossas conversas estranhas. Nossas mímicas. Prefiro mil vezes rir de quando você fica irritado por não conseguir falar’
Outra folha
‘Prefiro o nosso jeito de amar’
‘Um amor sem palavras’
E eu tentava bravamente conter os soluços, o vendo ele sorrir para mim, virando a última folha, com aquele Kanji grande.
‘Aishiteru’
Eu vi ele levantar, gracioso como sempre, e andar até mim, sorrindo, parecendo não se importar com as pessoas á nossa volta.
Ajoelhou-se na minha frente, limpando minhas lágrimas, me dando aquele sorriso maravilhoso.
Pegou minha mão, colocando sobre o próprio coração, e eu só pude me jogar nos braços dele, sentindo ele me abraçar com força.
E ao fundo do meu choro escandaloso, pude ouvir as palmas começarem, a sala inteira já gritava e batia palmas.
Observando a nossa declaração estranha, do nosso jeito estranho.
Um amor sem palavras.
E não importava quantas coisas estranhas fizéssemos, seria apenas uma questão de amor.
-Eu te amo, Kouyou – Sussurrei me afastando dos seus braços, sorrindo para ele.
E vi aqueles lábios gordinhos e rosados grudarem aos meus, fazendo-me abraçá-lo novamente, correspondendo.
Podia sentir a suavidade e a maciez daquela boca perfeita.
Podia sentir meu coração gritando dentro do peito.
Estreitei ainda mais os braços ao redor do pescoço dele, quebrando o beijo, tentando conter as lágrimas.
Ele apontou para o próprio peito, depois colocou minha mão sobre o próprio coração, mexendo os lábios, sem som algum.
‘Ele bate por você’
-Etto, já descobrimos que Yuu-san é uma diva emocionalmente afetada, e que Kouyou é romântico, posso retomar a aula? – Ouvimos o sensei perguntar e corei até a raiz do cabelo, me lembrando que todos nos olhavam.
Kouyou sorriu, puxando uma cadeira, colocando ao lado da minha, sentando-se ali, de forma que pudesse me manter entre os braços, e logo o sensei retomava sua aula.
E eu realmente não me importava com as dificuldades que passaríamos.
Apenas queria viver.
Viver nosso amor sem palavras.
:D