Capítulo II - O Reino de Áries.
O lugar que chovia há pouco, agora era 'castigado' pelo escaldante Sol, que provocara um calor espantoso. As frentes frias, que antes eram indesejáveis, agora eram aclamadas por todos. Quem antes corria desesperadamente para entrar em casa, agora corria até a praia em uma busca desesperada de algum refúgio para longe daquele calor.
O cais estava lotado de imensos navios pesqueiros. Os capitães destes entravam logo em seguida, carregando redes repletas de peixes e caixotes com mantimentos. Estes eram, provavelmente aqueles que estavam se preparando para zarpar com o navio e passar meses, anos ou até o resto da vida, navegando em alto-mar.
Haru observava-os estupefato. Com um sorriso descerrado e olhos fixados naqueles navios de tamanho colossal, o jovem guerreiro perdera completamente a noção de seu dever ali. Se perdeu completamente do que estava fazendo, enquanto fitava admirado aquelas embarcações e seus respectivos donos tomando-as e zarpando para o mar.
— Um dia ainda serei eu a partir! — Dizia a si mesmo, erguendo um dos punhos em direção ao rosto, enquanto mantinha um sorriso cândido e determinado sorriso estampado no rosto.
Assim que voltou a si, Haru olhou para trás, por cima do ombro. Lá vinha o senhor que o havia contratado para grelhar os peixes que estavam dentro do balde e colocá-los na prateleira acima do pano de prato, logo a sua frente. Haru voltou a fazer o que lhe fora ordenado.
Apenas tocando de leve o peixe com o dedo indicador, Haru foi capaz de incendiá-lo por completo com grande precisão, afim de não reduzi-lo a cinzas. Pegou um dos espetos que estavam dentro do balde e perfurou-o, pondo em cima do pano de prato.
Em seguida repetiu aquilo. O senhor que o contratou parou a sua frente, observando com olhar crítico o trabalho de Haru, que a seus olhos, estava concentrado. Satisfeito com o desempenho do menino, continuou seu trajeto.
Assim que deduziu que ele estava longe o suficiente, Haru bufou. Provavelmente por descontentamento devido a ter que continuar com aquilo. Para ele aquilo era uma tarefa extremamente entediante.
Deixava suas mãos fedendo a peixes, o que o obrigava a, antes de comer os doces que tanto gostava, lavar as mãos. Claro que já tentara comer doces com as mãos daquele jeito, porém, detestou, já que deixavam-nos com o mesmo gosto.
Alguns minutos fazendo aquilo, naquela velocidade, finalmente havia acabado com todos os baldes ali. Levantou-se e fez sinal para o senhor que o havia contratado, que estava parado na beirada do Cais. O senhor o notou e andou até ele.
— Deixe-me ver. — O senhor disse, olhando pensativo. — Bom trabalho.
Falou, afagando os cabelos de Haru. Logo em seguida, pagou a quantia prometida a Haru pelo trabalho, e, imediatamente, o garoto correu em disparada até o local aonde pensara ir desde o momento em que aceitou aquele trabalho.
Lojas de artigos para navios. Pensara naquele lugar o dia todo. Foi pensando nele que aceitou a tarefa. Esquecera por completo qual era a quantia combinada pelo navio que compraria, com o vendedor, mas agora, acreditava firmemente que tinha a quantia exata em mãos.
Após correr bastante, finalmente avistara a loja em que almejava chegar desde o momento em que abrira os olhos, naquele dia. Sentiu-se ainda mais enérgico, pondo-se a correr ainda mais rápido.
Abriu bruscamente a porta, assustando os clientes que habitavam-na. Continuou seu trajeto até o balcão, sem dar atenção a isto. Assim que chegou lá, pôs todas as moedas ensacadas que estava economizando, em cima do balcão composto de madeira antiga.
— Haru-kun... — O senhor disse, ao vê-lo. Sua atenção foi voltada ao saco de moedas douradas que estava em cima do balcão. — Quanto têm?
— Não sei direito, Tanaki-sama. — Respondeu. — Deve ser por volta de 700 gold's. Já é o suficiente?
— Estou impressionado que tenha conseguido economizar tanto, Haru-kun. Porém, ainda não é o suficiente. A quantia exata é de 1.000 gold's.
— Entendo. — Disse, de cabeça baixa.
— Ora, não fique assim. Já está perto, tenho certeza de que conseguirá e...
— Então, tudo o que eu tenho que fazer é conseguir os outros 300, certo? Não o venda a ninguém, apenas espere, voltarei aqui com a quantia certa antes mesmo que perceba! — Disse, com um sorriso determinado no rosto.
O senhor que estava no balcão, apenas o observara a expressão em seu rosto, impressionado. Assim que ele lhe deu as costas, viu a imagem de um homem em Haru, o que o deixou ainda mais perplexo.
O garoto correu até a porta e saiu rua a fora. O senhor que guardava o balcão ainda estava impressionado. Um sorriso se formou em seu rosto.
(...)
No palácio que abrigava a sala em que o conselho se reunia, tudo havia voltado ao normal, tão movimentado quanto antes de toda aquela chuva começar. A movimentação havia voltado ao normal, pessoas entravam e saíam dos estabelecimentos do lugar.
Dentro da sala em que o conselho se reúne, lá estavam eles, em mais uma reunião. Todos estavam calados, ouviam um senhor — que estava decima da mesa — falar.
— O Reino de Áries só é mantido assim, hoje, por causa dos Lordes Feudais. Todo dia eles contratam nossos samurais, desde os que se formaram há pouco na academia aos retalhadores, seja para quest's de assassinato, escolta ou captura. Graças a isto, conseguimos todo o dinheiro que temos para manter Áries no topo.
— Qual é a preocupação, Hanzuki-sama? Nós estamos no topo da 'cadeia alimentar' dos reinos. Estamos acima até mesmo do Reino de Câncer. O mundo Samurai, atualmente, é composto, ao todo, por 12 reinos: Áries, Câncer, Touro, Gêmeos, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes. Se conseguirmos nos manter no topo, sempre formando samurais de elite, nossa riqueza apenas crescerá.
— Além de tudo isso, somos o reino com maior poder militar. Temos os retalhadores que são conhecidos e temidos mundialmente por seus feitos e por seu tamanho poder. Sem contar que, temos ao nosso lado, o elemento luz.
— Câncer também tem o elemento luz. Bom, eles tinham. A morte de Azin foi a maior perca para eles. Azin foi, sem dúvidas, um dos samurais mais poderosos que viveu na era atual. Me pergunto, quem seria a pessoa que o matou?
— Isso não vem ao caso agora. O importante é que ele se foi, o que de tudo já é ótimo pra nós, embora ainda tenhamos que nos preocupar com alguns empecilhos que podem atravessar nosso caminho.
— Depois de muito pensar... — Hizashi se pronunciou. — Tive uma ideia. Uma que pode nos beneficiar ou nos desgraçar, dependendo do resultado que nossos 'catalisadores' nos apresentarem.
— Do que está falando, Hizashi? — Keiko o questionou.
— Se me permitirem... — Levantou-se. — Gostaria de mandar dois de nossos retalhadores, os mais poderosos, a uma viagem pelo mundo.
— Que tipo de viagem?
— Uma viagem de extermínio. Irão com o objetivo de diminuir o número de inimigos pra nós, infiltrando-se em outros reinos e matando o quanto puderem. Sem falar das organizações criminosas que devem existir por aí.
— Também havia pensado em algo parecido, há algum tempo atrás.
— M-mas, Hanzuki-sama! Isso é um absurdo! Não devemos sacrificar samurais como se fossem peças de um jogo de Shougi!
— Hayate... você sempre deixa seus sentimentos se envolverem em nossos assuntos, é incapaz de crescer. — Hizashi disse. — O sacrifício faz parte da natureza de um samurai. Ir à luta, por exemplo, é uma espécie de sacrifício. Um samurai é apenas isto. Uma arma a ser usada pelos Lordes Feudais, com o propósito de melhorar a vida em seu reino.
— Será que não presta atenção nas besteiras que está dizendo?! Esse não é o verdadeiro significado do nome 'samurai'. Um samurai é uma arma sim, no entanto, uma arma que deve ser 'manejada' no combate pela paz. O que querem fazer não chega nem perto disso, muito pelo contrário. Fazer isto apenas geraria mais guerras, violência e mortes!
— Como eu disse, incapaz de crescer. Acha que os outros reinos estão preocupados com isto? Enquanto estamos aqui, podem haver soldados infiltrados em nosso reino, matando nossos samurais. Por estamos no topo, acabamos relaxando. Temos que agir, e se formos por suas ideias, morreremos sem fazer algo a respeito.
— Hizashi tem razão. — O senhor disse.
— O quê? — Disse, espantado.
— No momento, devemos parar de nos preocupar com a tão sonhada paz. Temos que conquistar territórios, para só então, nos preocuparmos com isto. Estou de acordo. Quem mais estiver de acordo, por favor, levante a mão.
Todos presentes ali — exceto Hayate —, ergueram as mãos. Hayate olhava-os espantado. Alguns segundos depois, todos abaixaram suas mãos. O ancião direcionou seu olhar a Hayate.
— Se quiser dizer alguma coisa, vá adiante, Hayate. Porém, nossa decisão já foi tomada.
— Não senhor, não tenho nada a dizer. Se alguém tivesse que repreendê-los aqui, esse alguém seria a falecida Yume-sama.
Todos olharam-no surpresos. Ninguém parecia esperar que ele dissesse algo assim. Keiko abriu um sorriso no canto do rosto, enquanto fitava-o.
— Moleque corajoso. — Pensou, com o olhar sério direcionado a ele.