A estudante Tara J. Shultz, da Universidade Crafton Hills(Yucaipa, Califórnia), ao lado dos seus pais e de alguns amigos, está protestando contra a inclusão de quatro graphic novels na grade curricular de uma disciplina de literatura da escola, alegando que as obras contém pornografia e violência que não deveriam ser lidas por estudantes universitários. Na quinta-feira da semana passada, a Srta. Shultz e seus iguais se reuniram à frente do prédio da administração do campus para expressar sua indignação.
As obras em questão são: Y: O Último Homem (Brian K. Vaughan e Pia Guerra), Sandman: A Casa de Bonecas (Neil Gaiman, Mike Dringenberg, Michael Jones III, Chris Bachalo, Michael Zulli e Steve Parkhouse), Persépolis (Marjane Satrapi) e Fun Home (Alison Bechdel).
Quando questionada a respeito do porquê da indignação, a protestante disse que “eu estava esperando por Batman e Robin, não pornografia”. No entanto, as obras que deveriam ser lidas pelos alunos ao longo do curso foram descritas na ementa da disciplina e, caso a protestante tivesse lido o que ela estudaria, poderia ter tomado conhecimento da “violência e pornografia” antes do início das aulas. Pode-se ler ainda na citada ementa, além da lista das obras, que a intenção da matéria é “o estudo da graphic novel como um meio viável de literatura através de leitura, discussões em classe e atribuições analíticas”.
O professor responsável pela cadeira, chamada “English 250: Fiction”, Ryan Barlett, defendeu as obras selecionadas, dizendo que: “eu escolhi várias graphic novels altamente aclamadas e premiadas para o meu curso. Não porque elas são supostamente atrevidas, mas porque cada uma fala sobre as dificuldades da condição humana. Como Faulkner afirma: ‘a única coisa sobre a qual vale a pena escrever, é sobre o coração humano em conflito consigo mesmo’. O mesmo pode ser dito sobre a leitura de literatura. Os personagens dos romances gráficos escolhidos estão todos lutando com questões de moralidade, autodescoberta, rupturas, etc.”
A Srta. Shultz e seus pais pedem que, ao menos, seja informado aos alunos o teor das obras selecionadas. Algo que a universidade parece disposta a fazer. Além disso, a estudante disse que: “eu gostaria que essas obras fossem erradicadas do sistema. Eu não quero que mais ninguém tenha que ler esse lixo”. O pai da aluna disse também que eles pretendem discutir os livros que são vendidos na livraria da universidade, porque há menores de idade que frequentam o campus.
Mariamma, uma das fundadoras do Lady’s Comics, disse que ficou chocada com a notícia. “A impressão que dá é que é uma pessoa alienada e que teve uma educação rigorosa. Creio que o professor, autoridade dentro da instituição, é quem tem de saber conduzir nessa situação e usar a obra criticada em favor da educação. Se a aluna acha que a obra é ruim por “x”, ela que leve isso para dentro da sala de aula e discuta a questão levantada, com a mediação do professor e juntos com os outros alunos. Querer banir uma obra é um tanto que infantil e até mesmo inocente da parte dela”.
Opinião semelhante tem o editor da Balão Editorial, Guilherme Kroll. Segundo ele: “Acho que a leitora que reclamou é uma pessoa que até o momento tem uma visão muito limitada do que são histórias em quadrinhos. Acho que ela deveria discutir e entender o que são os trabalhos que tanto a chocaram, porque eles a chocaram… Minha opinião é que as ações dela são fruto de ignorância, e ignorância combatemos com educação. O professor que recomendou as obras já deve estar tentando explicar tudo isso, acredito”. Kroll também faz uma ressalva interessante: “É inegável que quando um gibi é atacado por uma polêmica do tipo, a editora e a obra crescem em interesse dos leitores e as vendas aumentam também. [Mas] ninguém quer ser atacado, não importa a circunstâncias. Acho que [as editoras] preferiam que as pessoas entendessem o que estão lendo e não se comportassem como se não conseguissem interpretar um trabalho de ficção.”
Lembrando que a interpretação de trabalhos de ficção é justamente o ponto da disciplina para a qual as obras atacadas foram escolhidas. O Terra Zero tentou entrar em contato com a Universidade Crafton Hills, com o Prof. Barlett e com a estudante, mas sem sucesso.
Enquanto continua sua batalha pela moralidade nos quadrinhos, lê-se no mural online da faculdade que a aluna Tara J. Shultz – que atualmente está em busca de um diploma técnico em Letras – pretende cursar direito e entrar para a política.
É possível argumentar que ela está no caminho certo para a segunda opção.
Fonte: http://www.terrazero.com.br/2015/06/obras-consagradas-sao-alvo-de-polemica-nos-eua/
As obras em questão são: Y: O Último Homem (Brian K. Vaughan e Pia Guerra), Sandman: A Casa de Bonecas (Neil Gaiman, Mike Dringenberg, Michael Jones III, Chris Bachalo, Michael Zulli e Steve Parkhouse), Persépolis (Marjane Satrapi) e Fun Home (Alison Bechdel).
Quando questionada a respeito do porquê da indignação, a protestante disse que “eu estava esperando por Batman e Robin, não pornografia”. No entanto, as obras que deveriam ser lidas pelos alunos ao longo do curso foram descritas na ementa da disciplina e, caso a protestante tivesse lido o que ela estudaria, poderia ter tomado conhecimento da “violência e pornografia” antes do início das aulas. Pode-se ler ainda na citada ementa, além da lista das obras, que a intenção da matéria é “o estudo da graphic novel como um meio viável de literatura através de leitura, discussões em classe e atribuições analíticas”.
O professor responsável pela cadeira, chamada “English 250: Fiction”, Ryan Barlett, defendeu as obras selecionadas, dizendo que: “eu escolhi várias graphic novels altamente aclamadas e premiadas para o meu curso. Não porque elas são supostamente atrevidas, mas porque cada uma fala sobre as dificuldades da condição humana. Como Faulkner afirma: ‘a única coisa sobre a qual vale a pena escrever, é sobre o coração humano em conflito consigo mesmo’. O mesmo pode ser dito sobre a leitura de literatura. Os personagens dos romances gráficos escolhidos estão todos lutando com questões de moralidade, autodescoberta, rupturas, etc.”
A Srta. Shultz e seus pais pedem que, ao menos, seja informado aos alunos o teor das obras selecionadas. Algo que a universidade parece disposta a fazer. Além disso, a estudante disse que: “eu gostaria que essas obras fossem erradicadas do sistema. Eu não quero que mais ninguém tenha que ler esse lixo”. O pai da aluna disse também que eles pretendem discutir os livros que são vendidos na livraria da universidade, porque há menores de idade que frequentam o campus.
Mariamma, uma das fundadoras do Lady’s Comics, disse que ficou chocada com a notícia. “A impressão que dá é que é uma pessoa alienada e que teve uma educação rigorosa. Creio que o professor, autoridade dentro da instituição, é quem tem de saber conduzir nessa situação e usar a obra criticada em favor da educação. Se a aluna acha que a obra é ruim por “x”, ela que leve isso para dentro da sala de aula e discuta a questão levantada, com a mediação do professor e juntos com os outros alunos. Querer banir uma obra é um tanto que infantil e até mesmo inocente da parte dela”.
Opinião semelhante tem o editor da Balão Editorial, Guilherme Kroll. Segundo ele: “Acho que a leitora que reclamou é uma pessoa que até o momento tem uma visão muito limitada do que são histórias em quadrinhos. Acho que ela deveria discutir e entender o que são os trabalhos que tanto a chocaram, porque eles a chocaram… Minha opinião é que as ações dela são fruto de ignorância, e ignorância combatemos com educação. O professor que recomendou as obras já deve estar tentando explicar tudo isso, acredito”. Kroll também faz uma ressalva interessante: “É inegável que quando um gibi é atacado por uma polêmica do tipo, a editora e a obra crescem em interesse dos leitores e as vendas aumentam também. [Mas] ninguém quer ser atacado, não importa a circunstâncias. Acho que [as editoras] preferiam que as pessoas entendessem o que estão lendo e não se comportassem como se não conseguissem interpretar um trabalho de ficção.”
Lembrando que a interpretação de trabalhos de ficção é justamente o ponto da disciplina para a qual as obras atacadas foram escolhidas. O Terra Zero tentou entrar em contato com a Universidade Crafton Hills, com o Prof. Barlett e com a estudante, mas sem sucesso.
Enquanto continua sua batalha pela moralidade nos quadrinhos, lê-se no mural online da faculdade que a aluna Tara J. Shultz – que atualmente está em busca de um diploma técnico em Letras – pretende cursar direito e entrar para a política.
É possível argumentar que ela está no caminho certo para a segunda opção.
Fonte: http://www.terrazero.com.br/2015/06/obras-consagradas-sao-alvo-de-polemica-nos-eua/