A maioria das pessoas que eu conheço gostam de pensar em si mesmas como inteligentes. Nas casas públicas, nos ramos de estudos, nas lojas de "moeda de dez centavos" (não posso falar muito, sou um colecionador de moedas antigas) e nas "estações de ônibus" — há um grande debate sobre a verdadeira natureza da inteligência. Pode ser um assunto delicado, dado a forma como os seres humanos, muitas vezes, superestimam sua autoestima sensitiva no assunto. Mesmo assim, por uma comunicação clara, é necessário levar uma facada mental para definir o que significa, isto é, pelos termos da inteligência: a criatividade e a genialidade. Só então vamos passar para o tema central deste tópico: genialidade no xadrez.
—> Inteligência
Há quase tantas definições da palavra "inteligência" como há pessoas tentando defini-la. Tanto é que "ele é inteligente", muitas vezes, significa nada mais do que "ele concorda comigo".
A inteligência é, muitas vezes, vista pelos cientistas da computação como a capacidade de processar informações, por psicólogos como a capacidade de deduzir relacionamentos, por educadores como a capacidade de aprender — e por biólogos como a capacidade de se adaptar ao ambiente. Muitos a definem como "a capacidade de julgar bem, de raciocinar bem e de compreender bem". Outros como "a capacidade de manter e dar continuidade ao pensamento abstrato"; e outros consideram como "a medida de valor em que uma pessoa é educável (fala que nem gente, Uésli!!)". Você pode escolher qualquer uma dessas definições, pois, de fato, uma coisa é clara: ter mais ou menos capacidade intelectual não fará o seu estilo de jogo mais perigoso. Quando eu usar o termo "inteligência", neste tópico, será no sentido de uma síntese de todas as definições acima — com ênfase na que melhor se adequa ao seu significado.
Testes de QI, como todos sabem, geralmente não conseguem capturar a essência da inteligência. Uma maneira de contornar esse problema é definir inteligência como "a capacidade de marcar pontos em testes de QI". Esse método, já um compromisso bastante duvidoso, ainda deixa o problema de padronizar os testes adequados. Há outros problemas: um número pode ser usado para medir apenas uma dimensão — mas é possível reduzir a inteligência a uma única dimensão?
A maioria das teorias modernas de inteligência envolvem uma maior complexidade, por exemplo: Spearman (1927) formulou uma teoria de duas partes — com o desempenho cognitivo sendo dependente de um fator geral (FG), bem como fatores específicos para uma tarefa específica. Cattell (1963) também usou dois fatores, a inteligência "fluida" e a "cristalizada". A inteligência fluida relaciona-se à velocidade e à integridade do funcionamento neurológico, e é — provavelmente ou logicamente — hereditária. Thurstone (1938) rompeu a inteligência em sete habilidades primárias: duas envolvendo palavras (compreensão e fluência), espaço, número, raciocínio indutivo, memória e velocidade perceptual. Da forma como eu entendo as suas categorias, as três últimas seriam as mais importantes para o xadrez. Guilford (1967) criou um modelo ainda mais elaborado em três dimensões — com seis, cinco e quatro fatores, respectivamente, resultando em não menos de 120 componentes diferentes para a inteligência global. Quantas dessas coisas seriam importantes para o xadrez? Não está inteiramente claro; meu palpite é de, pelo menos, 20...
Há outras abordagens, também, que eu não falarei aqui. O ponto é que as pontuações de QI não podem "capturar" o escopo completo da inteligência humana. Sempre que você projeta de uma realidade multidimensional para uma dimensão, você é obrigado a perder informações. Seja como for, o QI ainda pode ser útil como meio de comunicação. Usar frases como "muito inteligente" ou "muito, muito inteligente" qualifica uma comunicação desleixada — emprestando-se a má interpretação. O uso de números (QI de 120 ou QI de 150) é, relativamente e coesamente, mais preciso — desde que se tenha consciência do seu significado e limitações.
O que é o QI? O quociente de inteligência foi originalmente definido como 100 vezes a idade mental dividida pela idade cronológica, mas, atualmente, é mais comum avaliar o QI com base na distribuição estatística dos resultados. Para esse efeito, presume-se que a distribuição global da inteligência humana segue uma curva "normal" — na forma de um sino (com uma média de 100, geralmente com um desvio padrão de 15). Há, no entanto, boas razões para questionar se a distribuição real coincide com esse modelo teórico. Além do fato de que a população está mudando, há uma protuberância em sua extremidade inferior (causada por danos cerebrais — assunto para outro tópico sonífero) e, de acordo com a evidência empírica, há mais indivíduos brilhantes do que a teoria prevê. Ainda assim, a curva normal (com média de 100, desvio padrão de 15) é uma boa aproximação e será considerada como a "verdade" sempre que o QI for citado neste tópico. Apesar que qualquer medida de teste individual do QI de um indivíduo seja bastante improvável, a distribuição global pode ser razoavelmente considerada — mas não como parte do absoluto — fiável.
Há uma certa confusão entre a "inteligência pura" e a capacidade de agir inteligentemente (que poderia ser o resultado do conhecimento ou da educação). Acho que a seguinte analogia é uma boa maneira de conceber isso. Imagine um grande número de baldes de formas diferentes em um jardim (Lovecraft FTW!). Eles têm diferentes propriedades "genéticas": alguns são estreitos, alguns são amplos, alguns profundos, alguns são superficiais — e têm diferentes capacidades globais. Agora imagine que uma mangueira é usada para distribuir água aleatoriamente sobre os baldes. Cada um deles acaba com uma quantidade diferente de líquido — que pode ser considerado como a sua educação. Alguns são mais afortunados do que outros e recebem mais do que sua parte justa da água (um bom ambiente, uma família rica). A forma (caráter) pode efetuar a facilidade com que a água caia dentro do balde — o largo em altura seria o "superior". É possível que baldes menores (menos capacidade genética) acabem com mais líquido do que aqueles com maior capacidade (maior QI) e, sendo assim, aparentam mais inteligência. É relativamente mais fácil testar quanto líquido está em um balde do que sua capacidade real. Alguns baldes rapidamente se enchem e não podem mais continuar no jogo da vida — ("morte cerebral" em seu sentido nãoclínico).
O modelo está longe de ser perfeito... Motivação é um fator bastante importante que está faltando — mas, eis o ponto chave: baldes não são pessoas.
Voltando, por um instante, ao nosso nobre jogo, o que você pode muito bem perguntar — distingue-se o pensamento inteligente no tabuleiro de xadrez? Eu sugiro as seguintes características gerais: tomar uma direção definida, iniciativa, forte senso prático, bom raciocínio, julgamento, concentração, resistência às forças emocionais, adaptação (valores de fluidos), autocrítica, um forte sentido de propósito e a resolução eficaz. Maior velocidade de processamento também é uma característica da inteligência superior.
—> Criatividade
É muito mais fácil definir o que se entende por criatividade do que o que se entende por inteligência. O rótulo "criativo" é, geralmente, reservado em uma atividade ou trabalho que satisfaça dois critérios: 1. — percepção da "novidade" (ou originalidade) e 2. eficácia — deve "funcionar".
Esses critérios dependem de julgamentos de valor. Em certo sentido, todas as ações humanas são novas (dado que dois eventos não são completamente idênticos no mundo real), de modo que a "novidade", em um sentido mais amplo, faz parte da contagem. Assim, é um julgamento e não um fato quando algo é qualificado como "novo" — 1 e4 e6 2 d4 d5 3 Nd2 c5 4 exd5 Qxd5 5 N(g) f3 cxd4 6 Bc4 Qd6.
Mas cada vez há algo diferente. É inevitável... Talvez um adversário diferente, um pensamento diferente — ou apenas um humor diferente. Se você quer um jogo sólido e não se opor a um empate, estes movimentos são melhores do que se você estiver em uma situação em que "deve ganhar". Ainda assim, ainda que haja algo "novo" sobre a minha escolha para jogar esses movimentos, não seria suficiente para satisfazer o primeiro critério. Agora... E se eu fosse jogar os movimentos 1 e4 h5? 2 d4 a5? 3 Nf3 d5? — poderia, muito bem, contar como "original" desde que eu suspeito que o conceito, dado como é, nunca foi jogado antes. No entanto, meu adversário se encontra completamente perdido após estes movimentos peculiares, dito isto, eles não devem ser chamados de "criativos" — uma vez que, segundo critério, não é satisfatório. Não basta apenas fazer algo diferente: é preciso fazer funcionar!
—> Inteligência
Há quase tantas definições da palavra "inteligência" como há pessoas tentando defini-la. Tanto é que "ele é inteligente", muitas vezes, significa nada mais do que "ele concorda comigo".
A inteligência é, muitas vezes, vista pelos cientistas da computação como a capacidade de processar informações, por psicólogos como a capacidade de deduzir relacionamentos, por educadores como a capacidade de aprender — e por biólogos como a capacidade de se adaptar ao ambiente. Muitos a definem como "a capacidade de julgar bem, de raciocinar bem e de compreender bem". Outros como "a capacidade de manter e dar continuidade ao pensamento abstrato"; e outros consideram como "a medida de valor em que uma pessoa é educável (fala que nem gente, Uésli!!)". Você pode escolher qualquer uma dessas definições, pois, de fato, uma coisa é clara: ter mais ou menos capacidade intelectual não fará o seu estilo de jogo mais perigoso. Quando eu usar o termo "inteligência", neste tópico, será no sentido de uma síntese de todas as definições acima — com ênfase na que melhor se adequa ao seu significado.
Testes de QI, como todos sabem, geralmente não conseguem capturar a essência da inteligência. Uma maneira de contornar esse problema é definir inteligência como "a capacidade de marcar pontos em testes de QI". Esse método, já um compromisso bastante duvidoso, ainda deixa o problema de padronizar os testes adequados. Há outros problemas: um número pode ser usado para medir apenas uma dimensão — mas é possível reduzir a inteligência a uma única dimensão?
Há outras abordagens, também, que eu não falarei aqui. O ponto é que as pontuações de QI não podem "capturar" o escopo completo da inteligência humana. Sempre que você projeta de uma realidade multidimensional para uma dimensão, você é obrigado a perder informações. Seja como for, o QI ainda pode ser útil como meio de comunicação. Usar frases como "muito inteligente" ou "muito, muito inteligente" qualifica uma comunicação desleixada — emprestando-se a má interpretação. O uso de números (QI de 120 ou QI de 150) é, relativamente e coesamente, mais preciso — desde que se tenha consciência do seu significado e limitações.
O que é o QI? O quociente de inteligência foi originalmente definido como 100 vezes a idade mental dividida pela idade cronológica, mas, atualmente, é mais comum avaliar o QI com base na distribuição estatística dos resultados. Para esse efeito, presume-se que a distribuição global da inteligência humana segue uma curva "normal" — na forma de um sino (com uma média de 100, geralmente com um desvio padrão de 15). Há, no entanto, boas razões para questionar se a distribuição real coincide com esse modelo teórico. Além do fato de que a população está mudando, há uma protuberância em sua extremidade inferior (causada por danos cerebrais — assunto para outro tópico sonífero) e, de acordo com a evidência empírica, há mais indivíduos brilhantes do que a teoria prevê. Ainda assim, a curva normal (com média de 100, desvio padrão de 15) é uma boa aproximação e será considerada como a "verdade" sempre que o QI for citado neste tópico. Apesar que qualquer medida de teste individual do QI de um indivíduo seja bastante improvável, a distribuição global pode ser razoavelmente considerada — mas não como parte do absoluto — fiável.
Há uma certa confusão entre a "inteligência pura" e a capacidade de agir inteligentemente (que poderia ser o resultado do conhecimento ou da educação). Acho que a seguinte analogia é uma boa maneira de conceber isso. Imagine um grande número de baldes de formas diferentes em um jardim (Lovecraft FTW!). Eles têm diferentes propriedades "genéticas": alguns são estreitos, alguns são amplos, alguns profundos, alguns são superficiais — e têm diferentes capacidades globais. Agora imagine que uma mangueira é usada para distribuir água aleatoriamente sobre os baldes. Cada um deles acaba com uma quantidade diferente de líquido — que pode ser considerado como a sua educação. Alguns são mais afortunados do que outros e recebem mais do que sua parte justa da água (um bom ambiente, uma família rica). A forma (caráter) pode efetuar a facilidade com que a água caia dentro do balde — o largo em altura seria o "superior". É possível que baldes menores (menos capacidade genética) acabem com mais líquido do que aqueles com maior capacidade (maior QI) e, sendo assim, aparentam mais inteligência. É relativamente mais fácil testar quanto líquido está em um balde do que sua capacidade real. Alguns baldes rapidamente se enchem e não podem mais continuar no jogo da vida — ("morte cerebral" em seu sentido nãoclínico).
O modelo está longe de ser perfeito... Motivação é um fator bastante importante que está faltando — mas, eis o ponto chave: baldes não são pessoas.
Voltando, por um instante, ao nosso nobre jogo, o que você pode muito bem perguntar — distingue-se o pensamento inteligente no tabuleiro de xadrez? Eu sugiro as seguintes características gerais: tomar uma direção definida, iniciativa, forte senso prático, bom raciocínio, julgamento, concentração, resistência às forças emocionais, adaptação (valores de fluidos), autocrítica, um forte sentido de propósito e a resolução eficaz. Maior velocidade de processamento também é uma característica da inteligência superior.
—> Criatividade
É muito mais fácil definir o que se entende por criatividade do que o que se entende por inteligência. O rótulo "criativo" é, geralmente, reservado em uma atividade ou trabalho que satisfaça dois critérios: 1. — percepção da "novidade" (ou originalidade) e 2. eficácia — deve "funcionar".
Esses critérios dependem de julgamentos de valor. Em certo sentido, todas as ações humanas são novas (dado que dois eventos não são completamente idênticos no mundo real), de modo que a "novidade", em um sentido mais amplo, faz parte da contagem. Assim, é um julgamento e não um fato quando algo é qualificado como "novo" — 1 e4 e6 2 d4 d5 3 Nd2 c5 4 exd5 Qxd5 5 N(g) f3 cxd4 6 Bc4 Qd6.
Mas cada vez há algo diferente. É inevitável... Talvez um adversário diferente, um pensamento diferente — ou apenas um humor diferente. Se você quer um jogo sólido e não se opor a um empate, estes movimentos são melhores do que se você estiver em uma situação em que "deve ganhar". Ainda assim, ainda que haja algo "novo" sobre a minha escolha para jogar esses movimentos, não seria suficiente para satisfazer o primeiro critério. Agora... E se eu fosse jogar os movimentos 1 e4 h5? 2 d4 a5? 3 Nf3 d5? — poderia, muito bem, contar como "original" desde que eu suspeito que o conceito, dado como é, nunca foi jogado antes. No entanto, meu adversário se encontra completamente perdido após estes movimentos peculiares, dito isto, eles não devem ser chamados de "criativos" — uma vez que, segundo critério, não é satisfatório. Não basta apenas fazer algo diferente: é preciso fazer funcionar!
Como de praxe, estarei atualizando este tópico conforme a minha preguiça permitir.