Lipert escreveu: @Uman:
Infelizmente eu acabei perdendo a resposta elaborada que estava fazendo, então vai uma simples ._.
De boas. hasuahea
Bom, sugiro que você releia o texto da Constituição. É proibido que existam relações de dependência ou de aliança entre religiões como instituições ou com seus representantes.
E isto é por definição o que representa uma bancada evangélica. Ela está ali especificamente para utilizar os dispositivos do Estado para ganhar vantagens para sua religião em detrimento das outras.
Isso pra não citar o fato de que é permitido em casos específicos ("ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público").
Sim, casos específicos onde as instituições religiosas atuam para fins de contribuição social, como é o caso dos vicentinos ou da toca de assis, para citar alguns exemplos.
O que o texto proíbe é justamente a aproximação entre o estado e pessoas que querem que o Estado aja de uma maneia ou de outra baseado em suas próprias opiniões religiosas individuais.
Novamente eu cito Gillead, da série
The Handmaid's Tale.
Não há nem relação de dependência nem relação de aliança entre religiões e o Estado, e ninguém está tentando fazer isso.
Como não? O Fato de haver uma luta contra coisas que não dizem respeito às religiões, como aborto, drogas, sexualidade e etc por parte desses grupos de pressão, já indica aparelhamento ideológico puro.
Ninguém ali discute os prós e os contras no caso da descriminalização do aborto, por exemplo. Eles só se colocam contra porque "na religião deles é errado".
Utilizar a religião como subterfúgio político é que é o que devemos combater com todas as forças.
Já pensou se eu enquanto Budista crio uma bancada do Budismo na câmara e voto numa lei que obrigue toda a população (não budista inclusa) a fazer todos os dias pela manhã e pela noite um dos nossos rituais religiosos, ainda que exista toda uma ideia de que é eficaz fazer isso, envolvendo esta questão?
Não tem lógica alguma. Religião nenhuma pode arbitrar nada a nível de sociedade, apenas a nível de grupo institucional.
As pessoas da tal "bancada evangélica" são totalmente fora da casinha, e tem muito lugar - como escolas, por exemplo - que é uma "orientação da direção" que se reze antes das aulas começarem. Isso é um desrespeito puro, não deve existir.
O que há é o sistema representativo em ação! Se eu tenho determinados pensamentos, vou eleger pessoas com pensamentos semelhantes aos meus para me representar. Se há 86,8% de cristãos no Brasil, é normal que representantes das mesmas religiões estejam sendo eleitos.
Veja bem: Eu não estou negando que não seja assim. Eu estou alegando que isso não deveria acontecer, e estou dialogando para que vocês consigam enxergar isso também.
Eu compartilhei esses dias um texto que elucida bem esta questão:
César Heck escreveu: "Gente do céu, por que as pessoas não conseguem enxergar que seus valores, suas questões, crenças e etc não podem interferir na vida de todos os demais, principalmente de uma sociedade inteira? Você jamais faria um aborto? Okay, mas não queira proibir os outros. Você acha que ser LGBT é errado? Beleza, mas não retire os direitos nem o respeito por aqueles que são. Não gosta de um estilo musical? Ta tudo bem, só que deixe que os outros que gostam possam ouvir. Enquanto nós brasileiros tivermos essa cultura de nos sentirmos seres onipotentes e soberanos em relação a vida do próximo, vai ser muito dificil mudarmos esse cenário para melhor."
Comentário retirado de uma postagem sobre a futura ministra dos direitos humanos.
As pessoas não compreendem o conceito de laicidade nem de democracia. Misericórdia.
Esta é a questão principal. Já imaginou se existisse uma bancada
vegana cuja agenda fosse usar o Estado para impedir que todo o restante da sociedade não pudesse mais comer carne??!
Quanto aos grupos de minorias não terem bancadas e estarem "firmes e fortes" e ganhando adeptos por causa disso, então acho que toda a reclamação de vocês está um pouco fora de sentido, não? Por que estão reclamando, então, se ninguém de outros grupos religiosos está sendo atrapalhado, como você mesmo disse?
Acho que você não compreendeu o que eu disse.
A nível de religiosidade individual, de fato o aparelhamento entre algumas religiões e o Estado não interfere em nada. Eu mesmo sou um exemplo disso.
Agora, a nível de direitos individuais, eu sou constantemente confrontado por determinados grupos porque eu tenho um namorado já há 5 anos, por exemplo.
E isso se estende a todos os níveis, como por exemplo casais que querem adotar e sofrem por não conseguirem devido ao fato exclusivo de serem homossexuais.
E o Casamento, por exemplo? Cristãos tem muito receio de que homossexuais queiram se casar na igreja, mas este NUNCA foi o caso. O que nós queremos é ter os mesmos direitos, apenas.
E nem vou entrar no âmbito da monopolização de determinados grupos religiosos sobre o que é família...
E sim, há sim diversos ataques culturais aos valores cristãos, tanto em relação a coisas que são ensinadas para as crianças nas escolas, em relação a ataques diretos ao pensamento religioso, chegando até ao ponto de grupos quererem que um padre/pastor que não aceite celebrar um casamento gay "deveria ser preso".
Situações isoladas não merecem ser tratados como regra. Este tipo de pensamento é extremista e deve ser combatido veementemente.
Veja pelo outro lado: Se existe um pastor que
deseja celebrar um casamento homoafetivo, ele TAMBÉM é rechaçado e ameaçado, muitas vezes.
Compreendes isso?
Ataques, críticas, muitas vezes ferrenhas, sempre vão existir.
Se a instituição não conseguir se manter apenas por terem críticas à ela, então têm alguma coisa errada...
Tudo que existe é passível de análise crítica. Quem as recebe que precisa ter calma e serenidade na hora de desfazer determinados preconceitos e características distorcidas por não praticantes (e pelos próprios praticantes, já que ninguém é perfeito ainda que siga uma religião).
Atualmente tem 8 deputados espíritas. Vocês têm TODO o direito de se organizar e eleger mais deputados espíritas para representar seus valores em específico. Eu, inclusive, acho que seus valores possuem mais pontos em comum do que diferentes dos da bancada cristã. Uma ou outra coisa são divergentes.
Existem deputados espiritas que não se valem das ferramentas do estado para
impor seus valores aos outros à nível nacional. Essa é a parada que tem muita gente que precisa entender.