Existem dois significados diferentes para os gêneros binários "mulher" e "homem". A primeira definição é a definição popular, do dicionário, que define mulher como "fêmea da espécie humana". Essa definição vem de antes dos anos 80, onde gênero e sexo eram usados de maneira intercambiável na literatura científica.
Entretanto, sempre há uma definição técnica, assim como calor popularmente significa "quente", mas cientificamente significa "energia térmica em trânsito". A segunda definição de mulher é sociológica, onde se menciona a construção ambiental da mulher, ou seja, sob a ótica social.
Falemos sobre o fato da "construção social", vamos trabalhar com a segunda definição, usando a definição da professora de psicologia Hilary Lips. Entendamos, pois, a relação entre sexo e gênero:
Ou seja, a ideia de que há uma diferenciação completa entre
sexo e
gênero é equívoca. Se formos usar a definição desse livro, o que define o gênero são estereótipos
baseados no sexo. O que chamamos de papeis sociais e culturais atribuídos ao
gênero feminino foram atribuídos com base no
sexo feminino, a mesma coisa se aplicando aos homens. Isso significa que
o sexo precede o gênero.A ideia de que gênero é uma construção social e sexo é uma construção biológica é dissonante. Uma definição mais precisa seria dizer: sexo é uma categorização biológica, e gênero é uma categorização
biológica e ambiental (relativa ao meio social).
Aqui entra uma questão, entretanto. Se formos definir gênero como produto de tais estereótipos, qual seria o critério? Se eu absorvesse tais estereótipos, poderia ser considerado uma mulher, mesmo que não me identifique como tal? E se eu fosse diametralmente contrário a tais estereótipos, mas me identificasse como mulher, eu deveria ser sociologicamente considerado mulher?
Esse é um problema que se verifica pragmaticamente, uma vez que percebe-se que os "papeis sociais" foram convergindo entre os gêneros. Mulheres cada vez mais absorvem mais estereótipos masculinos e vice-versa.
É nesse impasse que entra a dificuldade de se definir "gênero", porque se o definimos como "tais características associadas", eu poderia dizer que um homem biológico que se identifica como homem é mulher se ele absorver a maior parte das características sociais femininas e vice-versa.
Daí, para resolver esse paradoxo, surge a ideia de que o gênero poderia ser decidido com autodeclaração. Aí entra outra contradição: se eu não me caracterizar com nenhum desses estereótipos e me definir mulher, posso ser considerado socialmente como uma mulher? Infelizmente, a autodeclaração não é um critério científico, uma vez que não há falseabilidade, não há componente lógico que diga que minha afirmação de algo a torna real.
Com esses devaneios bizarros, vê-se que ciências humanas é uma bosta, pois cada um pode fazer sua definição, não existem critérios exatos e no máximo brincamos de semantiquês. Como garantiremos que um "trans" se adequa à construção social de uma mulher? Autoidentificação? Absorção de estereótipos? Aí não funciona.
Aí voltamos ao ponto principal. Lembra que gênero foi definido pela prof. Hilary como uma construção sociológica
E BIOLÓGICA? Ótimo, vamos para a literatura científica mais atual:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8955456/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15854782/
Ou seja, podemos definir o transexualismo como um fenômeno advindo da disforia de gênero, esta que pode ser atribuída pela literatura científica
como um fenômeno biológico. Ou seja, eu não sou transexual por me dizer mulher, eu sou transexual pois minha mente destoa biologicamente do meu corpo. Aqui, há falseabilidade e há critério científico.
Assim, levando em consideração tudo o que foi dito aqui, chego a algumas conclusões pessoais:
1. O transexualismo se define biologicamente, não por autodeclaração. Você não é transexual se não sofre de disforia de gênero. Portanto, você não pode ser considerado uma mulher socialmente, uma vez que autodeclaração não é testável.
2. As palavras "mulher" e "homem" são apenas conceitos existentes para definir uma realidade material. "Mulher" poderia significar cachorro, pois é apenas uma palavra. Ou seja, mesmo dentro da definição de "mulher" como objeto sociológico, isso não torna um transexual igual a uma mulher biológica, pois você só mudou o significado da palavra mulher de forma a incluir os trans.
Dando um exemplo, baleias são mamíferos, não peixes. Entretanto, imagine que amanhã houvesse uma convenção acadêmica que definisse que baleias são peixes. Baleias seriam iguais a peixes? Não, o que mudou foi apenas a taxonomia, não a realidade material.
3. Me parece plausível, sob uma ótica sociológica, considerar que indivíduos com disforia de gênero se encaixam dentro da sua identidade de gênero, uma vez que é verificável uma convergência biológica entre o seu cérebro e a sua identidade, além de que eles absorvem perfeitamente seus estereótipos.
4. Ciências humanas é uma bosta.