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Antes de começar a contar essa história, gostaria de perguntar se já sentiram aquele frio na barriga, uma mistura de ansiedade e medo? Não são emoções desconhecidas. Só que hoje é diferente, bem diferente. Diferente da forma que eu havia experienciado essas emoções antes. A ansiedade aqui é constante, uma vozinha lá no fundo que questiona se vocês vão gostar. Meu coração está acelerado, minhas mãos estão trêmulas e minha mente parece um campo de batalha entre a excitação e o medo. Mas a decisão já foi tomada. Então, só posso esperar que gostem.

O título da história já revela muito, e com ele deixo com vocês os dois primeiros capítulos.







CAPÍTULO 1: SOB A CHUVA DE SANGUE E SEGREDOS

A luz opaca dos lustres no teto lançava um brilho suave sobre o salão luxuoso, refletindo nas taças de vinho e nas joias ostentadas pelos ricos espectadores. As paredes eram adornadas com tapeçarias de ouro e vermelho, dando ao ambiente um ar de opulência decadente. No centro, uma arena circular era cercada por grades de ferro douradas, onde as lutas clandestinas aconteciam sob os olhares atentos e gananciosos dos apostadores.

Entre eles, um homem alto e esguio com cabelos negros longos e olhos amarelos claros observava tudo com uma calma calculada. Sua postura elegante e confiante fazia com que os outros o respeitassem, sem saber que sua verdadeira identidade era bem diferente da que ele apresentava. Ele era um dos infiltrados, uma sombra entre as sombras, aguardando o momento certo para agir.

Na arena, a próxima luta estava prestes a começar. Uma mulher sinuosa com cabelos longos e claros entrou no ringue, seu olhar fixo e determinado. Ela se chamava Hanao, pelo menos para aqueles que assistiam. Sua verdadeira identidade, estava escondida sob o disfarce cuidadosamente criado. Vestia uma luva adaptada para manipulação de fios, sua arma secreta contra as adversárias.

Do outro lado, duas Kunoichi entraram na arena. A primeira, uma mulher alta e musculosa, empunhava espadas duplas que reluziam sob a luz. A segunda, mais ágil e esguia, segurava uma lança longa e afiada. Ambas lançaram olhares desdenhosos para Hanao, subestimando sua aparente fragilidade.

O gongo soou, e a luta começou.

A Kunoichi com espadas duplas avançou primeiro, seus movimentos rápidos e precisos, cortando o ar com um assobio mortal. Hanao desviou agilmente, suas luvas cintilando enquanto manipulava fios quase invisíveis. Com um movimento rápido, ela lançou os fios em direção às espadas, tentando imobilizá-las. Mas a adversária era experiente e se desvencilhou com um giro elegante, atacando novamente.

Enquanto isso, a mulher com a lança aproveitou a abertura e atacou pela lateral, desferindo um golpe direto ao torso de Hanao. Hanao saltou para trás, os fios de sua luva entrelaçando-se rapidamente para formar uma barreira improvisada. A lança atravessou os fios, mas perdeu força, permitindo que ela se esquivasse por pouco.

A multidão vibrava, apostando freneticamente. Ela sabia que precisava de uma estratégia. Decidiu focar na Kunoichi com a lança, que parecia ser a mais imprevisível. Desviou de mais um golpe das espadas duplas e lançou um fio em direção à lança, envolvendo a ponta afiada e puxando com força. A adversária tentou resistir, mas perdeu o equilíbrio, tropeçando para frente.

Aproveitando a oportunidade, ela girou rapidamente, seus fios se entrelaçando em um movimento elegante, e puxou a adversário para si, desferindo um golpe direto com a luva no rosto da adversária. O impacto foi forte, jogando-a para trás, atordoada.

Agora restava a Kunoichi com espadas duplas. Ela avançou com uma fúria renovada, desferindo uma série de golpes rápidos. Hanao se esquivava com agilidade, seus fios dançando ao redor das lâminas, desviando os ataques com precisão. Em um movimento rápido, ela conseguiu enlaçar um dos pulsos da adversária, puxando com força e desarmando-a de uma das espadas.

A multidão prendia a respiração, hipnotizada pela coreografia intensa da batalha. Ela manteve a pressão, seus fios manipulando o ambiente ao seu favor, prendendo a Kunoichi em uma rede complexa. Com um puxão final, desarmou a adversária completamente e a jogou ao chão, imobilizando-a com seus fios.

O silêncio dominou o salão por um instante antes que a multidão explodisse em aplausos e gritos. Hanao, ofegante, olhou ao redor, seus olhos brilhando com determinação. Havia vencido a primeira batalha, mas sabia que a verdadeira luta estava apenas começando.

O homem alto e esguio observava do alto, seus olhos amarelos brilhando com satisfação. A missão estava em andamento, e a primeira etapa tinha sido um sucesso. Mas eles ainda precisavam descobrir mais sobre até onde esse tipo de show de sangue e violência se desenrolava.

O entusiasmo dos apostadores era palpável no ar. A vitória de Hanao na primeira luta tinha aquecido os ânimos e despertado a curiosidade sobre sua habilidade. Murmúrios e especulações percorriam o salão enquanto os olhos atentos se fixavam novamente na arena. Agora, uma nova adversária se preparava para enfrentar a misteriosa lutadora. A Kunoichi que entrava na arena era uma figura imponente, portando um chicote com uma lâmina na ponta que reluzia perigosamente à luz. Havia algo de sinistro em seus movimentos, e um brilho gelado em seus olhos.

Hanao se posicionou no centro da arena, os fios de sua luva prontos para responder a qualquer ataque. O gongo soou, e a segunda luta começou.

A Kunoichi balançou o chicote, que estalou no ar como um trovão. Num movimento rápido, a lâmina na ponta do chicote cortou o espaço entre elas, e Hanao mal teve tempo de se esquivar. O chicote não era sua única arma; a adversária começou a usar técnicas Suiton, projetando feixes de água comprimida com precisão mortal. Um dos feixes atingiu um apostador, matando-o instantaneamente, e o sangue respingou no chão da arena, causando pânico entre os espectadores.

Hanao sabia que precisava ser extremamente cuidadosa. Usando seus fios, ela tentou enlaçar o chicote, mas a Kunoichi era hábil e conseguiu se desvencilhar, lançando outro feixe de água que Hanao mal conseguiu evitar. Com um salto ágil, ela se reposicionou, calculando seu próximo movimento. A cada estalo do chicote, um novo feixe de água era disparado, forçando Hanao a manter-se em constante movimento.

Enquanto a batalha se desenrolava na arena, no andar superior do salão, o homem misterioso, observava atentamente. Ele tinha outras preocupações agora, pois Giyu do clã Ugatsu se aproximara, com um sorriso astuto no rosto.

— Vejo que está interessado em um de nossos combates. — Disse Giyu, suas palavras impregnadas de uma confiança calculada. — Mas tenho algo ainda mais interessante para lhe oferecer. Um projeto que irá revolucionar o mundo ninja.

Ele ergueu uma sobrancelha, fingindo interesse. — É mesmo? Ouvi falar que vocês estão vendendo algo tão grandioso que me faria investir cada moeda da minha fortuna.

Giyu sorriu, seus olhos brilhando com uma mistura de orgulho e sigilo. — Chamamos de 'A Chave do Deus Morto'. É uma tecnologia armamentista sem precedentes, algo que transformará nossa vila em uma potência incontestável.

— A Chave do Deus Morto? — Ele repetiu, tentando soar intrigado. — Isso soa muito bem. Como vocês conseguiram algo assim?

— O segredo está nos vestígios deixados pelo Deus, Nagato Uzumaki. — Explicou Giyu. — Após sua morte, nossa vila passou por tempos turbulentos. Mas a queda de Hanzō foi apenas o início de uma mudança no modo como o mundo se rendeu e se fez refém do conceito de ninjas. Os restos do poder de Nagato e os segredos tecnológicos deixados por ele será a chave para nossa salvação.

Ele fez uma pausa, absorvendo a informação. — E como isso afetou Amegakure?

— A queda de Hanzō trouxe caos, mas também uma oportunidade de renascimento. — Disse Giyu, sua voz ganhando um tom reverente. — Nagato também morreu, mas não antes de nos entregar o poder e conhecimento necessário para nos reerguemos das cinzas. Sob nova liderança e com a tecnologia que descobrimos, estamos prontos para nos tornar uma força imbatível.

De volta à arena, Hanao estava lutando para se manter à frente dos ataques incessantes de sua adversária. A Kunoichi balançou o chicote mais uma vez, e um feixe de água passou tão perto que cortou uma mecha dos cabelos de Hanao. Mas essa proximidade deu a ela uma ideia. Usando seus fios, ela criou uma teia complexa e invisível ao redor de si, usando as grades de ferro como pontos de fixação, uma armadilha pronta para capturar a Kunoichi no próximo ataque.

Com um movimento rápido, a Kunoichi adversária lançou o chicote mais uma vez, e Hanao desviou, conduzindo o ataque direto para sua teia de fios. O chicote ficou preso, e antes que a adversária pudesse reagir, Hanao puxou com força, desarmando-a. A Kunoichi tentou usar outra técnica Suiton, mas Hanao estava preparada. Com um movimento ágil, ela lançou seus fios, envolvendo a adversária e imobilizando-a completamente.

A multidão explodiu em aplausos e gritos de entusiasmo. Hanao, ofegante, mas vitoriosa, olhou ao redor, seu olhar determinado e implacável. Mais uma vez, ela havia triunfado, mas sabia que a verdadeira missão estava longe de ser concluída.

Enquanto Giyu continuava a falar, o homem misterioso sorria internamente. Cada palavra do organizador era uma peça do quebra-cabeça que ele e a sua companheira precisavam para desvendar o mistério do novo projeto armamentista. E com cada vitória de Hanao, eles se aproximavam mais de seu objetivo.

— Fale-me mais sobre essa 'Chave do Deus Morto'. — Disse Suigetsu, inclinando-se para frente, seus olhos amarelos brilhando com interesse. — Estou ansioso para saber como posso me beneficiar desse poder.

Giyu sorriu, satisfeito com o interesse de um dos maiores financiadores das lutas clandestinas em Amegakure. — Claro, mas primeiro, vamos brindar a isso. A era de Amegakure está apenas começando.

Enquanto o brinde se fazia, as sombras da conspiração se aprofundavam, e a noite de sombras e segredos continuava a desenrolar seu enredo sombrio e perigoso.


Última edição por L⍱scivi⍱ em Qui 20 Jun 2024, 22:15, editado 1 vez(es)

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CAPÍTULO 2: UMA VALSA MORTAL


A excitação no salão atingia um ponto máximo. O sangue derramado e a vitória esmagadora de Hanao tinham inflamado os ânimos dos apostadores, e a atmosfera estava carregada de adrenalina e tensão. Os gritos e aplausos ecoavam pelas paredes luxuosas, e os olhos dos espectadores brilhavam com uma mistura de fascinação e avidez.

Aproveitando o momento, Giyu se aproximou do centro da atenção, subindo em um palco elevado. Ele ergueu uma mão para silenciar a multidão, e seu sorriso astuto refletia a certeza de que tinha todos na palma de sua mão. Era a hora de fazer o que havia sido pago para fazer.

— Senhoras e senhores...! — Começou, sua voz ressoando com autoridade pelo salão. — Nesta noite memorável, tenho a honra de apresentar a vocês um vislumbre do futuro, um protótipo do projeto que revolucionará o mundo ninja. Permitam-me apresentar... Elas, as caçadoras.

Com um gesto dramático, Giyu indicou a entrada da arena, e três figuras sombrias emergiram. O impacto visual foi instantâneo. As três mulheres eram uma visão perturbadora e impressionante, suas formas humanas misturadas com partes cibernéticas que brilhavam.

A primeira caçadora tinha as pernas substituídas por lâminas afiadas que reluziam ameaçadoramente. Seu tronco era adaptado para suportar uma cauda gigante, pesada e destrutiva, que se arrastava atrás dela como um chicote letal. Seus braços, quase completamente mecânicos, terminavam em garras capazes de cortar aço. Um capacete cibernético cobria seus olhos, e pequenos fios elétricos visíveis pulsavam com energia, controlando-a como um fantoche.

A segunda caçadora tinha toda a parte do corpo abaixo dos seios substituída por um chassi gigantesco que lembrava a forma de uma aranha. As pernas mecânicas terminavam em garra única e poderosa, e seu movimento era uma mistura de fluidez e precisão mortal. Seu capacete também pulsava com energia, mantendo-a sob controle total.

A terceira caçadora era uma visão ainda mais grotesca. Seus braços foram substituídos por tentáculos mecânicos que se esticavam indefinidamente, ondulando no ar como serpentes metálicas. O capacete cibernético na cabeça dela completava a imagem aterrorizante de uma arma viva.

Giyu continuou, com os olhos brilhando de orgulho. — Essas mulheres eram criminosas, julgadas e condenadas. Agora, elas servem aos propósitos de nossa vila. A tecnologia que vocês veem diante de seus olhos é apenas o começo da revolução que está por vir. Com essas armas cibernéticas, Amegakure se tornará uma força imbatível.

Os olhos da figura misteriosa ao lado de Giyu, disfarçado, estreitaram-se, enquanto ele observava as três. A brutalidade da transformação e o controle absoluto exercido sobre elas eram um testemunho do que Amegakure estava disposta a fazer para alcançar poder. Ele precisaria relatar isso, e com urgência.

Ainda se recuperando da luta anterior, Hanao observava com atenção. As caçadoras eram inimigas formidáveis, e se tivesse que enfrentá-las, precisaria de toda sua astúcia e habilidade.

A arena estava envolta em uma atmosfera eletrizante. Os gritos e aplausos dos espectadores ecoavam pelo salão, enquanto Hanao se preparava para a luta mais difícil de sua vida. As três caçadoras cibernéticas avançavam em sua direção, cada uma personificação da fusão brutal entre tecnologia e carne.

A primeira caçadora, nomeada de Aelo, com suas pernas lâminas e cauda destrutiva, foi a primeira a atacar. Sua velocidade era quase cegante. Num piscar de olhos, ela estava em cima de Hanao, desferindo golpes rápidos e mortais. A cauda cortou o ar com um silvo mortal, atingindo Hanao no torso e jogando-a para trás. O impacto foi tão forte que ela cuspiu sangue, sentindo algumas costelas se romperem.

Hanao mal teve tempo de recuperar o fôlego antes que a caçadora atacasse novamente, suas garras mecânicas brilhando com uma ameaça afiada. Com movimentos rápidos, Hanao envolveu as partes atingidas com chakra, mitigando parte do dano, mas a dor era intensa. Os fios de sua luva foram cortados facilmente pelas lâminas, forçando-a a adotar uma defesa mais estratégica.

Enquanto a primeira caçadora recuava para um novo ataque, a segunda caçadora, Celeno, se moveu com a graça mortífera de uma aranha. Seu chassi gigantesco avançava com uma rapidez surpreendente, suas garras prontas para esmagar Hanao. A cada salto, ela disparava dispositivos ocultos – agulhas venenosas, explosivos atordoantes e bombas de fumaça. Hanao desviava com dificuldade, sentindo o veneno corroendo suas defesas e as explosões atordoando seus sentidos.

A terceira caçadora, Ocípete, com seus tentáculos mecânicos, era uma presença constante, tentando capturar Hanao por trás. Os tentáculos se estendiam com uma rapidez assustadora, quase capturando-a várias vezes. Hanao sabia que precisava se livrar de pelo menos uma delas para ter alguma chance.

Concentrando seu chakra, Hanao usou uma técnica de amplificação física, aumentando sua força e velocidade. Com um salto ágil, ela evitou uma investida da primeira caçadora e se virou para a terceira, lançando seus fios em um movimento rápido e preciso. Os tentáculos mecânicos se entrelaçaram nos fios, e antes que a caçadora pudesse reagir, Hanao puxou com força, desequilibrando-a.

Aproveitando a abertura, Hanao concentrou todo seu chakra em um golpe devastador. Seus fios envolveram a cabeça da terceira caçadora e, com um movimento rápido e brutal, ela arrancou a cabeça desta. O corpo mecânico caiu ao chão, inerte.

Mas a vitória teve um preço. A segunda caçadora, aproveitando a distração de Hanao, pulou sobre ela, suas garras prontas para pisoteá-la. Hanao tentou desviar, mas não foi rápida o suficiente. As garras atingiram seu ombro, rasgando carne e músculo. Ela gritou de dor, sentindo a fraqueza tomar conta de seu corpo. O veneno das agulhas começava a fazer efeito, e sua visão ficava turva. Em desespero, ela mordia seu antebraço até tingir os lábios de um vermelho sangue.

A primeira caçadora, vendo Hanao ferida, avançou com a intenção de terminar a luta. Sua cauda balançou com força, pronta para desferir o golpe final. Hanao tentou se levantar, mas suas forças estavam esgotadas.

No momento em que a cauda estava prestes a atingi-la, um grito de raiva cortou o ar. A figura misteriosa que se manteve observando o desenrolar das lutas durante todo este tempo, revela sua verdadeira identidade, saltando para a arena. Com um movimento rápido, ele segurou a cauda da caçadora, seu corpo transformando-se em água para absorver o impacto. Com uma força incrível, ele torceu a cauda, quebrando o mecanismo e com mais um golpe a caçadora é jogada para trás com sua face completamente deformada.

A segunda caçadora, surpreendida pela intervenção, tentou pisotear a mulher caída ao chão novamente. Mas ele estava pronto. Avançando com velocidade surpreendente, segurando a perna mecânica da caçadora e destruindo-a com um golpe poderoso. A perna se partiu em pedaços, e no instante seguinte, em uma velocidade tão assombrosa que ninguém foi capaz de ver o que acontecia: ela também é partida ao meio junto ao chassi mecânico.

Os espectadores ficaram em silêncio, chocados com a reviravolta. Ele então olha para sua companheira, seus olhos brilhando com uma mistura de preocupação e raiva.

— Você lutou bem. — Disse ele, sua voz firme e embargada de fúria. — Mas agora é minha vez.

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CAPÍTULO 3: REVELAÇÕES SOB AS LUZES DA LUA ESCARLATE

O salão estava em silêncio, o choque ainda reverberando entre os espectadores. O impacto da intervenção daquele homem havia mudado o curso da noite. Com Hanao ferida, mas segura, e as caçadoras cibernéticas mortas, a tensão no ar era palpável.

Mas antes que alguém pudesse esperar qualquer ação daquele homem. A técnica de transformação, o Henge no Jutsu, que ele e Hanao haviam usado, começou a se desfazer. Lentamente, suas aparências mudavam, revelando suas verdadeiras identidades.

Ele sentiu um familiar formigamento enquanto seus cabelos pretos e longos começavam a encurtar e assumir a cor alva característica. Seus olhos, que antes brilhavam em um tom amarelo pálido, gradualmente mudaram para o violeta intenso. A transformação estava revelando o verdadeiro Suigetsu Hōzuki.

Karin, também, estava passando pela mesma mudança. Seu disfarce de Hanao começou a se desvanecer. Seus cabelos longos e claros voltaram à sua cor original, um vibrante vermelho escarlate, e seus olhos verdes brilhantes mudaram para o vermelho profundo que marcava sua herança Uzumaki. O salão ficou em silêncio ao reconhecer a dupla.

Os murmúrios começaram a se espalhar entre os espectadores. — Eles são da Taka... seguidores de Sasuke Uchiha! — A revelação causou um rebuliço entre os presentes, a tensão escalando rapidamente.

Giyu, ficou pálido por um momento, mas rapidamente recuperou a compostura. — Então, era tudo uma farsa! Vocês vieram para espionar nosso projeto?

Suigetsu sorriu, seus dentes afiados brilhando. — Acho que agora você sabe quem somos. E sabe que não vamos sair daqui sem as informações que queremos.

Sob as luzes do salão luxuoso, com o sangue ainda manchando o chão e o silêncio pesado no ar, a noite de segredos e batalhas chegava a um clímax. O salão estava em silêncio mortal, as luzes lançando sombras longas sobre os corpos inertes das três caçadoras.

Suigetsu, com a Kubikiribōchō descansando sobre seus ombros, assumiu uma postura altiva e intimidadora. Sua presença dominava o espaço, e o brilho feroz em seus olhos era suficiente para silenciar qualquer murmúrio de desafio.

— Todos vocês... — Começou ele, sua voz cortante como a lâmina que carregava. — assistiram a esta demonstração de poder. Mas agora, vou mostrar algo que vocês nunca esquecerão.

Com um movimento preciso, Suigetsu levantou a mão livre, formando o selo do Tigre (寅, Tora). A quantidade de chakra que ele começou a condensar era imensa, fazendo o ar vibrar ao seu redor.

Num piscar de olhos, ondas de água começaram a surgir abaixo dos seus pés, enchendo o salão com uma força avassaladora. A água se espalhou rapidamente, engolfando tudo e todos em seu caminho. O poder de Suigetsu sobre a água era absoluto, e ele controlava as ondas com precisão letal.

Os espectadores e guardas tentaram fugir, mas a força das ondas era implacável. Em questão de segundos, a água preencheu todo o espaço, submergindo cada pessoa, cada objeto, em um turbilhão caótico. Os gritos foram rapidamente silenciados pela força esmagadora das ondas.

Karin, também foi envolvida pela água, mas confiando em seu companheiro para se manter segura no meio do caos. Ela sentiu o chakra de Suigetsu pulsando ao seu redor, um farol de poder que guiava suas ações.

E então, com um movimento rápido e decisivo, Suigetsu fez a água retornar com a mesma velocidade e força. As ondas recuaram, carregando consigo todos aqueles que haviam sido engolfados. O salão, que há poucos momentos estava repleto de vida, gritos e movimento, agora estava completamente vazio. Cada pessoa, cada guarda, havia sido levado pelas águas, desaparecendo sem deixar rastro.

O lugar estava um caos absoluto. Móveis revirados, decorações destruídas, poças de água espalhadas por todo lado. Mas não havia ninguém. Suigetsu e Karin também haviam desaparecido, como se nunca tivessem estado ali.

O salão luxuoso de Amegakure estava vazio, um testemunho silencioso do poder avassalador de Suigetsu Hōzuki e da determinação implacável de Karin Uzumaki.

........

A luz fria da manhã iluminava as ruas de Amegakure, refletindo nas superfícies molhadas e nos telhados encharcados pela recente chuva. O esquadrão de agentes de Amegakure, liderado por Tetsuji, uma mulher com olhos biônicos que brilhavam com uma luz artificial, estava reunido na entrada do salão luxuoso que havia sido palco do caos da noite anterior.

Tetsuji observava a cena de devastação com uma expressão séria. Sua equipe, composta por alguns dos mais habilidosos ninjas da vila, estava espalhada pelo local, analisando cada detalhe e coletando qualquer pista que pudesse explicar o que havia acontecido.

— Relatório! — Ordenou Tetsuji, sua voz fria e reverberante.

Um dos agentes se aproximou, segurando um dispositivo de rastreamento. — Ainda não encontramos sinais de vida dentro do salão. Também não há rastros de quem possa ter feito isso e como ele conseguiu desaparecer com uma multidão tão grande de pessoas. As marcas de água são evidentes em todas as superfícies. Alguém com grande habilidade de manipulação de água esteve aqui.

Tetsuji franziu a testa. — E Giyu?

— Desaparecido. Não há corpo, nem traços de luta além dos danos causados pela água. Quem quer que tenha feito isso foi extremamente eficiente.

Outro agente se aproximou, trazendo um conjunto de documentos parcialmente molhados. — Estes registros mostram que havia um evento de lutas acontecendo com vários apostadores e financiadores do evento. Parece que alguém se infiltrou e causou todo esse caos.

Tetsuji ponderou por um momento. — Quais vilas ou organizações têm habilidades para realizar um ataque tão direto contra nós? E por quê?

Os agentes começaram a discutir possibilidades. — Podem ser os remanescentes e admiradores da Akatsuki, pois Amegakure está estrategicamente bem localizada. Ou talvez seja uma ação de Konoha ou outra grande vila interessada em descobrir nossa movimentação e tentando enfraquecer nossa posição.

— Não podemos descartar a possibilidade de ser uma organização mercenária com acesso a ninjas de alto nível. — Sugeriu outro agente.

Tetsuji ergueu a mão, silenciando-os. — Independentemente de quem seja, precisamos reforçar toda a vigilância e monitoramento da vila. Dobrem as patrulhas e intensifiquem as verificações de entrada e saída. Rastreiem as assinaturas de chakra deixadas por qualquer rastro de ninjutsu. Não podemos permitir que escapem.

........

Longe dali, em um lugar escuro e insalubre, Suigetsu estava ajoelhado ao lado de Karin. Ela estava deitada em uma superfície improvisada, suando e se contorcendo de dor. O veneno injetado por uma das caçadoras estava causando febre alta e uma dor excruciante.

Suigetsu usava suas habilidades de manipulação de água para tentar extrair o veneno. Ele havia feito um pequeno corte na altura do ventre de Karin, concentrando seu chakra para reunir o veneno espalhado em um ponto.

— Segura firme, Karin. — Murmurou ele, sua voz suave, mas firme. — Isso vai doer, mas precisamos tirar esse veneno de você.

Karin, com o rosto contorcido de dor, apenas assentiu. Ela confiava em Suigetsu, mas a dor era quase insuportável.

Com uma concentração intensa, Suigetsu manipulou a água dentro do corpo de Karin, reunindo o veneno em pequenas gotas. Ele as comprimiu, forçando-as a sair através do corte que havia feito. Cada movimento causava uma onda de dor que fazia Karin se contorcer, mas ela resistia, sabendo que essa era a única maneira de sobreviver.

O processo parecia durar uma eternidade. Suigetsu, suando de concentração, finalmente conseguiu retirar a maior parte do veneno. As gotas verdes e viscosas pingaram do corte, caindo em um recipiente que ele havia preparado.

— Pronto. — Disse ele finalmente, limpando o suor da testa. — O pior já passou. Agora só precisamos cuidar dos seus ferimentos e descansar.

Karin, ainda ofegante e suando, sorriu fracamente.

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CAPÍTULO 4: MAR, NÚVENS E NEBLINA


Os dutos de Amegakure eram um labirinto de tubos metálicos e vapor, escuros e úmidos. Suigetsu e Karin, escondidos nas sombras, estavam realizando uma tarefa crítica. O capturado Giyu estava amarrado e imóvel, pronto para revelar os segredos que a dupla estava à procura.

Suigetsu posicionou as pontas dos dedos ao longo da lateral do rosto de Giyu. Seu chakra, de um brilho azul escuro, envolvia seus dedos como uma aura ameaçadora. Ele atentamente, explicou em voz baixa: — "Liberação de água: Mar de nuvens e neblinas que devoram a mente" (雲海霧の精神喰らいの術, Unkai Kiri no Seishin Kurai no Jutsu), esta técnica é capaz de extrair memórias da vítima, mas também a mata no processo. É um jutsu secreto do clã Hōzuki, destinado a desvendar os segredos mais bem guardados.

Com a técnica ativada, Suigetsu começou a injetar água no cérebro de Giyu fazendo as veias perto das têmporas saltarem. O efeito foi imediato e horripilante. Giyu começou a vomitar água, que se transformava em inúmeras bolhas translúcidas contendo fragmentos de suas memórias.

As bolhas flutuavam no ar, cada uma brilhando com um brilho etéreo. Karin, curiosa, tocou uma delas, e sua mente foi imediatamente invadida por imagens e sons. Ela viu Giyu em uma conversa acalorada com uma mulher, discutindo planos para acabar com a supremacia das cinco grandes vilas e as cinco grandes nações. A mulher falava sobre trazer um fim à era ninja que tanto prejudicou as vilas menores.

— Ela pretende derrubar as grandes vilas. — Murmurou Karin, processando a informação. — Eles estão planejando uma revolução.

Ela tocou outra bolha, e novas memórias se desdobraram em sua mente. Viu Giyu sendo convidado para uma reunião em uma base secreta abaixo dos grandes arranha-céus no centro de Amegakure. A estrutura subterrânea era fortemente protegida por sistemas de segurança sofisticados.

Enquanto Karin explorava as memórias, Giyu, já enfraquecido pela técnica, finalmente caiu no chão, sem vida. Suigetsu parou a técnica e olhou para as bolhas de água espalhadas pelo local.

— Temos bastante trabalho pela frente. — Disse ele, olhando para Karin.

Karin assentiu, ainda tocando as bolhas. — Sim, cada fragmento pode conter informações vitais. Precisamos ser meticulosos. Nada pode fugir aos nossos olhos, nenhuma dessas bolhas.

A dupla sabia que essa tarefa exigiria tempo e paciência. As bolhas representavam um quebra-cabeça complexo que precisavam resolver para entender completamente os planos de Amegakure e a extensão da conspiração.

Enquanto trabalhavam, o silêncio dos dutos era quebrado apenas pelos murmúrios de memórias e o som das bolhas estourando. Cada nova memória revelava mais sobre os planos sinistros de Giyu e seus cúmplices.

A missão de Taka estava apenas começando. As informações que obtivessem aqui poderiam mudar o destino das vilas ninja e redefinir o equilíbrio de poder no mundo shinobi.

........

Tetsuji estava de pé em uma sala de escritório ampla e luxuosa, marcada pelo contraste entre o minimalismo das paredes brancas e a mesa gigante ao fundo. Atrás dela, sentada com serenidade, estava uma mulher de cabelos escuros longos e olhos cor de mel. Seus dedos habilidosos dobravam papéis com precisão, transformando-os em origamis delicados.

— Senhora. — Começou Tetsuji, mantendo a postura rígida e respeitosa.  — Houve um incidente grave durante um evento de lutas e apostas na noite passada. Todos os participantes e espectadores desapareceram, e encontramos sinais claros de uma invasão. Giyu também está desaparecido.

A mulher atrás da mesa não pareceu perturbada. Em vez disso, ela ergueu um origami recém-feito e sorriu para ele. — Como está o dia lá fora, Tetsuji?

Tetsuji piscou, ligeiramente confusa com a interrupção, mas manteve o foco. — Está nublado, senhora. As chuvas são intermitentes, como sempre em Amegakure.

A mulher sorriu e voltou sua atenção para um novo pedaço de papel. — E você, Tetsuji? Como está?

—  Eu estou bem, senhora. Preocupada com a situação, claro.

A mulher assentiu, continuando a dobrar o papel. — O que tem feito, Tetsuji? Ainda gosta de caminhar pela vila?

— Tenho estado ocupada com minhas responsabilidades. — Respondeu Tetsuji, tentando disfarçar sua impaciência. — Senhora, a situação é urgente.

A mulher finalmente levantou os olhos para Tetsuji, seu olhar penetrante, mas gentil. — E as crianças? Elas ainda gostam de fazer origamis? Brincar na chuva?

Tetsuji respirou fundo, percebendo que essas perguntas triviais faziam parte do método peculiar da mulher para avaliar a situação. — Sim, senhora. Elas adoram.

A mulher sorriu novamente, satisfeita com a resposta. Então, com um movimento gracioso, ela amarrou seu cabelo em um coque bem-feito, revelando um braço mecânico complexo e sofisticado. Com um movimento suave da mão mecânica, as paredes da sala começaram a se mover, revelando espaços secretos.

Atrás das paredes, havia computadores avançados, múltiplas telas de câmeras mostrando diversos pontos de Amegakure, e sensores de toda natureza. Dados sobre soldados, armas, e aparelhos manipuláveis à distância por ela estavam organizados e acessíveis.

A expressão da mulher se tornou séria e decidida. — Tetsuji, ative o esquadrão especial. Usaremos todos os nossos recursos nesta caçada.

Tetsuji assentiu, sentindo um peso se levantar de seus ombros. A mulher à sua frente, apesar de sua aparência tranquila e interesse em origamis, era uma estrategista implacável. Com ela no comando, Tetsuji sabia que a vila teria uma resposta à altura.

A caçada aos infiltrados estava apenas começando, e Amegakure estava se preparando para responder com toda sua força e tecnologia avançada.

........

Nos dutos escuros e sinuosos de Amegakure, Suigetsu e Karin estavam mergulhados em uma tarefa vital. Enquanto Suigetsu absorvia as bolhas de memória de Giyu, Karin registrava meticulosamente todos os dados em um pergaminho. Suigetsu manipulava as bolhas com uma habilidade surpreendente, absorvendo as memórias em seu corpo em uma velocidade impressionante, acelerando significativamente o processo.

Enquanto escrevia, Karin ocasionalmente se perdia em pensamentos. Memórias do passado invadiam sua mente, especialmente o dia em que Sasuke lhe propôs essa missão. Fazia anos que não tinha contato direto com o Uchiha, mas nem a distância nem o tempo foram suficientes para apagar os sentimentos que ela nutria por ele.

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FLASHBACK

Karin se lembrava claramente da reunião no esconderijo sombrio de Orochimaru. A sala estava iluminada apenas por algumas velas, lançando sombras dançantes nas paredes. Ao seu lado, Suigetsu estava relaxado, mas atento. Orochimaru, com seu sorriso enigmático, observava tudo com um olhar penetrante. E, no centro de tudo, estava Sasuke, com a presença imponente e os olhos ardendo com determinação.

— Amegakure está apresentando um crescimento econômico muito fora do padrão desde o fim da 4ª Guerra Ninja. — Disse Sasuke, sua voz calma, mas carregada de propósito. — Eles estão atraindo investidores de diversas regiões das cinco nações, exceto pelas cinco grandes vilas.

Ele fez uma pausa, permitindo que a informação fosse absorvida. — Os negócios clandestinos estão gerando uma movimentação de dinheiro sem precedentes, principalmente na compra e venda de armas e drogas, lutas clandestinas e venda de escravos.

Orochimaru interveio, sua voz suave, mas cheia de autoridade. — Após a morte de Nagato, a vila se tornou ainda mais fechada. Algumas famílias escalaram rapidamente ao poder e influência e aparentam querer expandir essa influência para fora dos limites da vila. Algo grande está acontecendo em Amegakure, e precisamos saber exatamente o que é.

Sasuke olhou diretamente para Karin, seus olhos ardendo com uma intensidade que ela sempre achou irresistível. — Eu não tenho tempo para realizar essa investigação pessoalmente. Pretendo deixar a cargo de vocês, para que descubram o que está realmente acontecendo em Amegakure e qual é o grande objetivo por trás de atrair tantos investidores para essas terras.

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No presente, Karin suspirou, voltando sua atenção ao pergaminho. Suigetsu, agora quase terminado com a absorção das memórias, olhou para ela, percebendo a distração momentânea. Sua expressão se endureceu momentaneamente, os olhos estreitando-se, enquanto ele reprimia um suspiro de frustração.

—  Pensando em Sasuke novamente, hein? — Ele disse, sua voz carregada de uma ponta de irritação que ele não conseguia esconder completamente, sem desviar os olhos de seu trabalho.

Karin corou ligeiramente, mas não negou. —  Sim. Não importa quanto tempo passe, eu ainda... bom, você sabe.

Suigetsu assentiu, tentando disfarçar seu desconforto. — Vamos terminar isso então. Precisamos dessas informações para cumprir a missão que ele nos deu.

Havia uma tensão sutil no ar, enquanto Suigetsu se forçava a manter o foco. Ele não podia negar a importância de Sasuke, mas era difícil ignorar os sentimentos conflitantes que surgiam toda vez que o nome dele era mencionado.

Karin, sentindo a tensão, tentou se concentrar ainda mais em seu trabalho. — Você tem razão. Vamos focar.

Enquanto Suigetsu continuava a absorver as últimas bolhas de memórias, Karin se concentrava em registrar os dados.

........

No topo do maior arranha-céu de Amegakure, quatro figuras desconhecidas observavam os limites da vila. A cidade abaixo estava imersa em uma névoa persistente, cortada apenas pelas luzes pálidas dos postes e janelas distantes. A chuva caía em uma cortina incessante, transformando o cenário em um mar de cinzas e sombras.

Sōya, um homem alto e extremamente musculoso, estava no centro do grupo. Seu cabelo verde escuro e olhos negros brilhavam com uma intensidade ameaçadora. Em suas costas, dois facões gigantes estavam presos, prontos para o combate. Ele vestia um changshan preto, aberto nas laterais, que revelava sua postura firme e poderosa. Suas calças pretas e coturnos, junto com as luvas azul escuras sem dedos que cobriam seu antebraço, completavam sua figura imponente.

Ao seu lado, Saki, uma jovem loira com o cabelo preso em um rabo de cavalo caído, parecia despretensiosa à primeira vista. Ela usava um shortinho de cor clara e um top branco, com um coldre preso em sua perna e um cinto de utensílios na cintura. Seus olhos e o sorriso solto brilhavam com uma determinação feroz, enquanto ela olhava para a vila com um leve sorriso nos lábios.

Kaho, a mais baixa do grupo, estava coberta por uma capa de chuva que não escondia suas botas de cano alto. Seu cabelo preto, cortado em um estilo bob na altura do pescoço, emoldurava seu rosto sério. Ela segurava um rifle de precisão com destreza, seus olhos escuros avaliando cada movimento na cidade abaixo.

Yun, um homem de estatura média, completava o grupo. Seus olhos e cabelos castanhos, longos e presos em uma trança que chegava ao chão, brilhavam com um azul assustador. Ele vestia somente uma calça de cor escura com detalhes em branco, dando-lhe uma aparência inquietante.

Os quatro observavam a cidade em silêncio, comunicando-se apenas com olhares e gestos. Havia uma tensão palpável no ar, como se estivessem à espera de um sinal.

— Temos que garantir que ninguém escape. — Disse Sōya, sua voz profunda e ressonante cortando o silêncio. — Nossos alvos são específicos.

Saki assentiu, seu sorriso se alargando. — Eu posso cuidar das distrações. — Ela disse, tocando levemente no coldre em sua perna.

Kaho ajustou seu rifle, os olhos focados na mira. — Darei cobertura.

Yun permaneceu em silêncio, os olhos brilhando enquanto ele observava a cena. Ele levantou uma mão, e uma onda de energia azul cintilante passou por seus dedos.

— Está na hora. — Ele disse finalmente, sua voz fria e controlada.

Com um aceno de Sōya, o grupo se dispersou, cada um se movendo com precisão e propósito. A noite de Amegakure estava prestes a ser envolvida em um novo nível de caos e destruição, enquanto essas sombras desconhecidas se preparavam para executar seu plano.

........

Finalmente, Suigetsu terminou de absorver as memórias. O corpo de Giyu jazia sem vida no chão, mas o trabalho com ele estava finalizado.

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CAPÍTULO 5: MENTIRAS SUBMERSAS


O processo de extração de informações finalmente terminou. Suigetsu, com uma expressão séria, segurou o corpo de Giyu pelo pescoço, levantando-o no ar acima de uma grande poça de água. Por alguns segundos, ele manteve Giyu suspenso, seus olhos frios fixos no corpo sem vida. Então, com um gesto brusco, ele soltou Giyu, que desapareceu dentro da poça, como se nunca tivesse existido.

— 'Liberação de água: Técnica da Estrutura Aquosa de Vários Andares ─ Maré de Desastres' (多層水構造: 災害の潮の術, Tasō Sui Kōzō: Saigai no Ushio no Jutsu). — Karin, observando a cena com atenção, começou a descrever a técnica secreta que também fora utilizada no salão de lutas clandestinas na noite anterior. — Essa técnica, consegue transformar qualquer porção de água em um portal para uma dimensão completamente submersa. Quantidades imensuráveis de água podem ser expurgadas a partir dela e dá para trazê-la de volta quando bem entender.  — Ela explicou, seu tom de voz misturando admiração e apreensão.

Ela não disse, mas qualquer um que atravessasse esta passagem para o outro mundo iria se deparar com uma visão perturbadora: corpos, os corpos boiando de todas as pessoas vítimas desta técnica, incluindo aqueles pegos por ela na noite passada. Morreram todos afogados em uma água fria, escura e sem fim.

Essa técnica também facilita a movimentação do Suigetsu. Ele consegue acessar qualquer poça de água dentro de um raio de 500 metros, tornando-o praticamente onipresente em locais úmidos como Amegakure.

Suigetsu voltou seu olhar para Karin, seu rosto imperturbável. — Giyu era uma formiga no grande esquema das coisas. As informações que ele tinha eram superficiais comparadas ao que realmente está acontecendo em Amegakure.

Karin concordou, seu olhar se tornando pensativo. — Apesar disso, ele tinha informações importantes sobre a estrutura básica da nova cadeia de comando da vila. Tudo começa com uma mulher chamada Kyōkō, também conhecida como 'Milagre de Deus'. Foi ela quem apresentou 'A Chave do Deus Morto', aparentemente um presente de Nagato, para algumas das pessoas mais influentes e poderosas da vila após a morte dele.

— Kyōkō. — Repetiu Suigetsu, ponderando sobre o nome. — A partir dela, uma organização inteira e uma imensa estrutura econômica e política foram fundadas. Isso é algo que o próprio Nagato não conseguiu alcançar com todo o poder que tinha.

Karin continuou, seu tom de voz ficando mais sério. — Agora, nosso foco é investigar as quatro casas, ou as quatro bestas, que ascenderam na política interna da vila após a queda de Nagato. Pelo que tudo indica, ascenderam através da ligação direta com Kyōkō e a tal da Chave do Deus Morto. E apenas os líderes dessas quatro famílias têm acesso direto a ela.

Karin e Suigetsu sabiam que estavam apenas arranhando a superfície do enigma complexo que era Amegakure. Depois de discutirem suas próximas ações, decidiram que era hora de se separar. Suigetsu, com suas habilidades únicas, tinha uma vantagem natural em se mover rapidamente e acessar locais difíceis por meio de sua técnica de manipulação de água. Ele iria explorar alguns dos locais que viram nas memórias de Giyu.

Karin, por outro lado, tinha uma mobilidade mais limitada e não poderia usar sua capacidade sensorial com total liberdade sem atrair atenção indesejada. Ela ficaria encarregada de recolher informações sobre as quatro bestas.

— Nos separamos aqui e nos reencontramos aqui em algumas poucas horas. — Comentou Suigetsu, olhando para ela. — Confio nas suas capacidades, Karin.

Karin sorriu, reconhecendo a verdade nas palavras de Suigetsu. — Vamos nos encontrar novamente quando tivermos mais informações.

Com um aceno de cabeça, Suigetsu desapareceu dentro da poça de água, deixando Karin sozinha nos dutos escuros. Ela começou a se distanciar do ponto inicial, movendo-se silenciosamente pelos túneis úmidos e frios. Seus pensamentos estavam focados na missão, mas também em seu encontro com Sasuke.

........

Enquanto Suigetsu se movia através da água, ele ponderava sobre a natureza de Karin. "Ela é muito mais do que aparenta ser, sua capacidade sensorial e essas essências que usa são armas poderosas." Pensou ele, fazendo uma observação mental sobre a natureza peculiar de Karin. "Ela consegue perceber quando um alvo está mentindo e extrair informações sem levantar suspeitas. E além de suas habilidades sensoriais excepcionais, ela era uma mulher extremamente cheirosa. Só que as essências que usa continham substâncias entorpecentes em sua composição, um truque que a ajudava a distrair e manipular seus alvos. Com suas habilidades sensoriais e a manipulação sutil de entorpecentes, ela pode extrair informações de maneira que eu nunca conseguiria."

Suigetsu sabia que, apesar de suas diferenças, ambos formavam uma equipe eficiente.

........

Karin continuava seu caminho pelos dutos, sentindo a vibração do ambiente ao seu redor. Ela ativou sua capacidade sensorial, estendendo seus sentidos para captar quaisquer presenças próximas. Sabia que precisava ser cuidadosa, por isso restringiu seu alcance sensorial para uma área pequena para não chamar muita atenção. Mesmo uma mínima exposição poderia alertar os guardas de Amegakure.

Já fazia algum tempo que ela se sentia observada, mas não detectava nada dentro do alcance do seu sensor de chakra.

Karin, agora disfarçada como uma jovem de pele clara e cabelos prateados, percorreu as ruas estreitas e sombrias de Amegakure. Seu objetivo era claro: misturar-se e recolher informações sem chamar atenção. No entanto, a tranquilidade de sua missão foi abruptamente interrompida.

Enquanto se movia pelas vielas, ela sentiu uma abrupta manipulação de chakra a quilômetros de distância, por cima dos prédios. Sua percepção melhorada captou o projétil se aproximando a uma velocidade exorbitante. Instintivamente, ela inclinou a cabeça, mas o disparo passou a milímetros de seu rosto, perfurando a parede atrás dela e deixando rachaduras extensas.

Antes que pudesse processar o ataque, uma figura loira apareceu à sua frente. Saki caminhava com uma elegância desdenhosa, um sorriso largo estampado no rosto, segurando duas pistolas de cor prateada. Karin sabia que estava em grande perigo.

— Que bela noite para um passeio, não é mesmo? — Saki comentou, sua voz gotejando sarcasmo e uma pontada de divertimento. — Você deve ser o ratinho que estamos procurando.

Karin se preparou, sabendo que precisava agir rapidamente. As pistolas de Saki eram um perigo iminente, e Kaho, a franco-atirador, ainda estava em algum lugar à distância, pronta para atacar a qualquer momento.

Saki não esperou mais. Em um movimento fluido, ela disparou as pistolas. Karin, contando com sua agilidade e capacidade sensorial, desviou-se dos tiros, saltando para trás e girando para evitar os projéteis. O som das balas ricocheteando nas paredes ecoava pelas ruas estreitas.

Tentando prever os movimentos uma da outra, Karin e Saki estavam sempre um passo à frente e um atrás, anulando os ataques mutuamente. Karin concentrou energia em seus punhos e avançou, mas Saki previu seu movimento, esquivando-se graciosamente e disparando em resposta.

Karin mal teve tempo de reagir quando sentiu outra perturbação de chakra. Seu corpo reagiu instintivamente, saltando para o lado, enquanto uma bala construída a partir do chakra cravava-se no chão onde estava um segundo antes. Kaho estava mais perto do que pensava, exercendo uma pressão psicológica constante com seu alcance e poder letal.

Enquanto lutava contra Saki, desviando dos projéteis de Kaho, Karin percebeu que estava em uma situação desesperadora. Saki se movia com uma agilidade impressionante, e sua habilidade de prever os movimentos de Karin tornava a luta ainda mais difícil.

Karin tentou usar seus fios de chakra para prender Saki, mas esta previu o ataque e saltou para trás, atirando enquanto estava no ar. Os fios de chakra não chegaram nem a representar uma ameaça a Saki, deixando Karin sem opção a não ser recuar.

"Droga, nada que eu faça está dando certo..." Pensou a Uzumaki, sentindo o sangue bombear mais rapidamente por todo o corpo.

Saki sorriu, seus olhos brilhando de excitação. — Você não pode me vencer, pois eu vejo cada movimento seu antes mesmo de você pensar nele.

A Uzumaki sentiu outro projétil de Kaho se aproximando. Ela desviou por muito pouco, a bala de chakra passando a milímetros de seu ombro. A pressão estava aumentando, e Karin sabia que precisava encontrar uma maneira de virar o jogo.

Karin usou sua capacidade sensorial para tentar localizar Kaho e encontrar uma brecha. No entanto, cada vez que se concentrava, Saki aproveitava o momento para atacar, forçando Karin a desviar e se defender.

— Você está lutando bem, mas em desvantagem. — Saki provocou, e um sorriso travesso despontou do seu rosto.

Saki não se contentava apenas com tiros precisos. Ela acrescentou acrobacias e bombas sonoras ao seu estilo de combate, tornando-se ainda mais imprevisível. Saltou sobre uma parede próxima, girando no ar e disparando de cima. Karin desviou, mas a bomba sonora jogada sorrateiramente perto dela a desorientou por um momento.

"Merda! Se continuar assim, eu vou morrer..." Constatou a remanescente do clã Uzumaki.

A Uzumaki tentou se recuperar e recuar e despistar as adversárias. Saki e Kaho, porém, estavam sempre um passo à frente. Prevendo algumas rotas de fuga de Karin, Kaho disparou a distância algum tipo de projétil explosivo em pontos estratégicos, bloqueando certas passagens que pudessem servir de rota de escape para a Uzumaki. Karin salvou-se unicamente por conta de sua capacidade de regeneração, mas os ferimentos estavam se acumulando.

Percebendo que não estava conseguindo fugir, já um pouco ferida, Karin voltou para o combate corpo a corpo com Saki.

— Você realmente acha que pode me vencer? — Saki sorriu, seus olhos brilhando de excitação. — Eu vejo através de você. Vejo seus impulsos cerebrais. Sei onde e quando você vai atacar. Já meus ataques são inevitáveis.

Karin avançou com um soco, mas Saki desviou facilmente, girando e acertando Karin com um chute no estômago. A Uzumaki cambaleou para trás, recuperando-se rapidamente e atacando novamente. Cada movimento de Karin era antecipado por Saki, que se esquivava com graça e contra-atacava com precisão.

Karin gritou, frustrada, e tentou um golpe mais complexo, variando sua abordagem. Usou uma combinação de ataques rápidos e movimentos imprevisíveis e a manipulação de fios, mas Saki continuava a prever seus movimentos, desviando e atacando com precisão cirúrgica.

Enquanto isso, Kaho mantinha a pressão psicológica com disparos precisos. Cada vez que Karin parecia ganhar algum terreno contra Saki, uma bala de chakra voava em sua direção, forçando-a a desviar e dando a Saki a vantagem novamente.

A Uzumaki sabia que estava em uma situação desesperadora. A combinação de Saki e Kaho era quase insuperável.

........

Suigetsu, utilizando sua técnica, apareceu em vários pontos-chave que viu nas memórias de Giyu. Ele se moveu rapidamente, explorando áreas subterrâneas e escondidas, onde descobriu pistas sobre as operações clandestinas da vila. Observou documentos, ouviu conversas e reuniu fragmentos de informações, sempre mantendo-se fora da vista.

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CAPÍTULO 6: NÃO SE ESCONDA DE MIM


A batalha continuava em um impasse. Karin e Saki moviam-se em um ritmo frenético, tentando prever os movimentos uma da outra. Cada ataque era antecipado, cada esquiva era perfeita. A tensão estava no auge. A ruiva sabia que se isso continuasse, ela acabaria sendo capturada.

A Uzumaki respirou fundo, sentindo a pressão crescer. O olhar de Saki, confiante e incisivo, não deixava dúvidas de que ela estava em uma situação desesperadora. Mas Karin tinha uma carta na manga, uma técnica secreta que poderia virar o jogo. Decidida a não ser capturada, ela começou a inflar seu chakra, canalizando-o para seu ponto máximo.

Saki, percebendo a mudança na postura de Karin, franziu o cenho. — O que você está fazendo? — Perguntou, os olhos brilhando de curiosidade e cautela.

Ela não respondeu. Em vez disso, ela invocou sua técnica secreta, Kongō Fusa. As correntes gigantes se manifestaram em velocidade, força e violência assombrosos, atacando em todas as direções de forma desordenada. Elas surgiram rasgando o ar com um estrondo e causando grandes estragos ao quarteirão. Casas e prédios foram destruídos em questão de segundos.

Saki foi pega de surpresa, mal conseguindo esquivar-se das correntes que vinham de todas as direções. Kaho, observando de sua posição distante, teve que recuar rapidamente para evitar ser atingida pelos destroços e pelas próprias correntes.

As correntes da Uzumaki continuaram a destruir tudo em seu caminho, até que o chão sob seus pés começou a desmoronar. Com um grande estrondo, o solo cedeu, revelando uma imensa galeria com diversas ramificações de túneis de esgoto de Amegakure. O buraco se abriu de forma abrupta, engolindo tudo ao seu redor.

Karin aproveitou o caos gerado por seu ataque. Em meio aos destroços e à confusão, ela saltou para dentro da galeria subterrânea, desaparecendo nos túneis de esgoto.

........

Enquanto isso, Saki e Kaho entraram em contato através dos comunicadores de ouvido. A voz de Saki estava carregada de frustração e excitação. — Quase conseguimos levá-la em direção aos rapazes, mas não esperava que ela detivesse um poder tão avassalador. — Comentou.

Kaho, com sua voz calma e analítica, respondeu: — Apesar disso, Saki, você poderia ter vencido sua oponente em diversos momentos durante o combate. Não havia necessidade de envolver nós quatro para emboscá-la. Mas não o fez porque estava brincando e se divertindo com a situação.

A loira ficou surpresa por sua companheira ter notado. Mas desfez o semblante de surpresa com uma gargalhada travessa. — Você me pegou, Kaho. Faz tempo que alguém não me desafiava assim. Aquela mulher atiçou meu interesse.

A pequena assentiu, entendendo. — Então, qual é o plano?

Saki sorriu, ajustando as pistolas nos coldres da perna. — Vou usar meus 'Hounds' para forçar essa ratinha a sair do buraco onde ela entrou.

........

Karin corria pelos túneis escuros e úmidos, sentindo a adrenalina pulsar em suas veias. Ela sabia que tinha ganhado um pouco de tempo, mas não podia baixar a guarda. Ela parou por um momento para recuperar o fôlego e avaliar suas feridas.

Sua perna estava sangrando muito. Karin foi pega de raspão pela onda de choque de quando explodiram o corredor que ela estava presta a passar. Por instinto, ela recobriu o corpo com chakra para mitigar os danos e quase imediatamente mordeu seu braço para curar os danos mais graves, do contrário ela estaria em uma situação bem crítica agora ou até morta.

Ela aproveitou o momento para fazer algumas observações sobre seus adversários. A mulher de cabelos dourados que ela havia enfrentado, aparentemente podia ler os impulsos cerebrais de seus adversários, permitindo-lhe equiparar ou mesmo superar o apoio do Kagura Shingan em combate. Isso a tornava uma oponente impossível de vencer em uma batalha direta. Aquela mulher não apenas previa seus movimentos, mas também se movia com uma agilidade e precisão sobrenaturais. Além disso, utilizava acrobacias e diversas artimanhas sujas em seu estilo de combate, aumentando ainda mais a dificuldade.

Já o inimigo que atirava ao longe, o franco-atirador, era inteligente e cuidadoso o suficiente para nunca atirar duas vezes a partir da mesma posição. A única brecha que o tornava detectável para sensores como o de Karin era o momento em que disparava. Relembrando então alguns momentos da luta, Karin observara que as balas criadas a partir do chakra, atirados por ele, tinham um poder destrutivo absurdo, várias e várias vezes acima do poder de uma bala normal, perfurando objetos como se fossem bolas de canhão.

Karin também observou as pistolas de Saki, que utilizavam balas normais, mas com um diferencial crucial: ela pôde sentir o acumular de chakra no cano da arma, aumentando a velocidade e o impacto dos disparos. Quanto maior o acúmulo de chakra, maior a velocidade da bala ao ser disparada, tornando a loira uma combatente ainda mais letal.

Para Karin:
“Amegakure também está desenvolvendo soldados que utilizam armas de fogo com aplicação direta de chakra para potencializar seu poder. Isso representava um novo nível de desenvolvimento em poderio militar.” Pensou, apreensiva.

........

Em um ponto muito distante, Suigetsu continuava suas investigações pelas instalações subterrâneas de Amegakure. Algo, porém, perturbava sua concentração. Um pressentimento sombrio de que algo não estava certo. Ele parou por um momento, seus instintos sempre apurados avisando que algo estava acontecendo.

Enquanto isso, nas profundezas da vila, em uma galeria onde desaguam vários dutos de esgoto, Karin estava alerta. Ela sentiu o chakra de formas de vida semelhante a cães se aproximando, farejando o ar em busca de seu rastro. Eram lobos, movendo-se furtivamente e farejando o perfume intenso que ela havia escolhido usar naquela noite.

— Que azar. — Karin bufou, percebendo o erro tático.

Determinada a preparar uma defesa, Karin começou a estabelecer fios de chakra entre as estruturas metálicas e formações rochosas ao longo das amplas áreas da galeria. Criou uma intrincada zona de teias, ajustando a visibilidade dos fios através do fluxo de chakra. A cada movimento, ela reforçava sua armadilha, esperando que isso lhe desse uma vantagem contra os perseguidores.

Os lobos chegaram à galeria, cada um vindo através de um duto diferente. Permaneceram nas sombras, seus olhos brilhando em um azul ameaçador no escuro. Quando se revelaram sob a claridade, Karin sentiu um calafrio percorrer sua espinha. As criaturas diante dela eram uma visão horrível: grandes lobos com partes de seus corpos transformadas em máquinas, transformados em armas vivas sem muita consciência. A cena trouxe à tona lembranças dos corpos mutilados e transformados das caçadoras com quem ela havia lutado anteriormente.

Um dos lobos estava com as costelas e partes dos órgãos na região expostos, e Karin observou, horrorizada, enquanto um dispositivo injetava algo no coração do animal. O batimento cardíaco do lobo começou a acelerar absurdamente e foi perceptível um aumento significativo em seu tamanho. O horror da situação a paralisou por um momento.

Sua atenção foi abruptamente desviada quando a mulher loira, com quem outrora lutara, saltou de algum lugar à frente dos lobos, gargalhando de forma anárquica. Com um sorriso travesso, ela agora empunhava uma Minigun, a arma girando com um som ameaçador.

— Olha só quem eu encontrei. — Saki riu, seus olhos brilhando de excitação. — Achei que você poderia ser mais divertida de rastrear.

Karin apertou os punhos, tentando manter a calma. A situação estava se deteriorando rapidamente, e ela precisava pensar em uma estratégia para sair dali.

Karin usou os fios de chakra para desviar, enquanto os lobos avançavam sobre a zona de fios. Os lobos aparentemente eram capazes de detectar os fios, mesmo os invisíveis a olho nu, mas ainda tinham dificuldade de mover-se no meio deles. Karin havia criado fios altamente visíveis e outros quase invisíveis, forçando a atenção dos lobos a se concentrarem para evitar os fios mais invisíveis, o que os levava a esbarrar ou tropeçar nos fios mais visíveis que eram menosprezados de primeiro momento.

Apesar de sua estratégia, Karin não conseguia eliminar os lobos dentro de sua zona de fios. Saki estava constantemente a pressionando com os disparos da Minigun, e os lobos pareciam extremamente capazes de coordenar suas evasivas e investidas junto com ela. A loira se movia com agilidade, fazendo com que Karin se mantivesse em constante movimento para evitar ser atingida.

— Você é persistente, admito. — A atiradora provocou, sua voz carregada de diversão e malícia. — Mas vamos ver quanto tempo você consegue continuar dançando.

Karin respirou fundo, sentindo o peso do combate. Precisava encontrar uma maneira de virar o jogo a seu favor. Utilizando sua capacidade sensorial aprimorada, tentou prever os movimentos dos lobos junto a adversária, mas a combinação de ataques coordenados estava dificultando sua concentração. Saki, por outro lado, permanecia implacável, disparando sua arma em rajadas contínuas.

Apesar disso, os lobos estavam tendo dificuldades de avançar sobre a zona de fios, mesmo com o apoio ofensivo incessante de Saki. No entanto, com um assobio estridente da mulher loira, os lobos mudaram de postura. Seus corpos aumentaram de tamanho novamente, e lâminas metálicas pontiagudas começaram a se destacar por entre os pelos.

— Vamos ver como você lida com isso. — Ela exclamou, recomeçando os disparos intermináveis. Os cães avançaram sobre a zona de fios, utilizando as lâminas para cortar os fios cuidadosamente colocados pela Uzumaki.

Karin rapidamente começou a utilizar kunai anexadas com tarjas explosivas para barrar o assalto dos lobos. As explosões reverberavam pelo ambiente subterrâneo, criando ondas de choque e poeira. No entanto, os lobos eram ágeis, esguios e respondiam mostrando seus dispositivos únicos.

Um lobo se aproximou pela esquerda, revelando uma arma instalada em sua boca que disparava um fino feixe brilhoso e quente. Karin, com reflexos rápidos, conseguiu desviar abaixando-se. Outro lobo aproveitou a brecha para afinar seu rabo peludo em uma lâmina longa, desferindo um golpe que projetou um ataque gigantesco, fazendo um enorme corte na parede ao fundo. Ela, por muito pouco, conseguiu desviar desse ataque também.

No entanto, Saki aproveitou a distração e conseguiu acertar algumas balas na perna de Karin, que gritou de dor antes de conseguir se esquivar novamente através dos fios suspensos. Mas, no momento seguinte, dois outros lobos tentaram encurralar a kunoichi.

A ruiva percebeu um foco de chakra na boca do primeiro lobo que estava em posição de 'uivo'. Uma onda sonora potente a atingiu, desestabilizando-a. Enquanto ela lutava para recuperar o equilíbrio, o segundo lobo pulou em sua direção, pronto para morder sua cabeça.

Num instante de desespero, Karin recuperou a consciência no momento certo. Com um movimento rápido e preciso, ela girou no ar e socou a mandíbula do lobo por baixo com a mão encoberta por chakra. O impacto foi forte o suficiente para lançar o lobo para trás, mas a pressão constante da adversário e dos outros lobos estava começando a cobrar seu preço.

— Você não me parece muito bem. Quer ajuda? — Saki perguntou cessando os disparos e fingiu preocupação.

Karin, ferida e exausta, sabia que precisava agir rápido. Ela percebeu que a única maneira de equilibrar a luta seria se arriscando com técnicas Fūinjutsu, do contrário ela acabaria perdendo ainda mais terreno. Cercada por todos os lados, ergueu um olhar destemido para sua rival.

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CAPÍTULO 7: O TEMIDO PODER UZUMAKI


A batalha subterrânea continuava em um ritmo frenético. Karin, utilizando suas zonas de fios para aumentar sua mobilidade, enfrentava a ofensiva incansável de Saki e dos lobos metálicos. Cada movimento, cada ataque e cada esquiva era meticulosamente calculado, mas o confronto permanecia em um impasse.

De repente, Kaho surgiu em um ponto elevado da galeria, observando a luta de cima. Com uma postura relaxada, ela aparentava não ter intenção de se envolver diretamente no embate já em andamento.

— Interessante. — Comentou Kaho, sua voz ecoando pelo espaço. — A aparência não condiz com a pessoa. Você deve estar usando o Henge no Jutsu, mas só há uma única pessoa no mundo todo capaz de usar o Kongō Fūsa, Karin Uzumaki.

Karin lançou um olhar rápido para Kaho, sem baixar a guarda. A presença da nova adversária era preocupante, mas a batalha contra Saki e os lobos exigia sua atenção total.

— Compreendo e admiro sua determinação, Uzumaki. — Continuou Kaho, com um tom quase respeitoso. — Mas permita-me desestimulá-la da ideia de vitória.

Kaho explicou audivelmente, como se estivesse dando uma lição. — A Saki aqui não é uma combatente comum. Ela é uma humana melhorada, biotecnologicamente aprimorada para se tornar uma super-arma. Ela não envelhece, não adoece, não sente fadiga e possui um condicionamento corporal absoluto. Sua visão aprimorada permite discernir os impulsos sinápticos de seus adversários, simulando uma espécie de precognição combativa. Ela sabe antecipadamente o que você está prestes a fazer.

Karin sentiu um calafrio. A luta contra Saki já era difícil, mas entender a extensão das habilidades de sua oponente tornava a situação ainda mais desesperadora.

— Além disso, — Prosseguiu a pequena. — ...um neurochip implantado em seu cérebro lhe permite controlar e estender suas capacidades precognitivas para o que ela chama de 'Hounds', os lobos modificados a sua frente, através de uma interface orientada pelo pensamento.

A loira sorriu, seu olhar fixo na Uzumaki.

Karin bufou, sentindo a dor das balas em sua perna. Mas ela não desistiria tão facilmente. Ela mergulhou a mão em sua bolsa médica, retirando um pequeno frasco de perfume. Era um truque que ela usou poucas vezes.

Com um movimento rápido, ela abriu o frasco e encheu a boca com o líquido. Focando o chakra em sua boca, ela aumentou a quantidade da substância, preparando-se para liberar sua técnica. Ela cuspiu a substância, liberando uma densa nuvem de fragrância que se espalhou rapidamente por toda a galeria.

Saki e Kaho foram pegas de surpresa. — O que é isso?! — Exclamou a loira, levando as mãos ao nariz para tentar evitar o cheiro forte do perfume. A pequena Kaho, que observava do alto, também cobriu o nariz, mas era tarde demais. A nuvem estava por toda parte.

A fragrância não era apenas forte; era composta de substâncias entorpecentes que lesionavam os nervos olfatórios e prejudicavam a visão. Saki, tentando abrir os olhos para usar sua habilidade de visão aprimorada, descobriu que não conseguia mantê-los abertos. A dor e o desconforto eram insuportáveis.

Os lobos, embora afetados pela nuvem, não podiam expressar sinais de desconforto. Eram criaturas sem consciência, movidas por comandos e instintos básicos. Mesmo com suas narinas e olhos aguçados prejudicados, continuavam a avançar, mas de forma descoordenada e menos eficaz.

Quando a nuvem de perfume finalmente se dispersou, Karin permanecia imóvel, mas seu entorno havia mudado drasticamente. Dois grandes círculos concêntricos de kunai estavam cravados no chão ao seu redor, cada uma com tarjas anexadas contendo inscrições complexas. Ela estava no centro de uma armadilha cuidadosamente preparada.

A loira, agora com os olhos vermelhos e lacrimejando, sentiu sua visão começar a se recuperar graças a um de seus aprimoramentos biotecnológicos que acelerava a recuperação de lesões. Ao analisar a situação, percebeu que seus 'Hounds' estavam desorientados, seus sentidos olfativos e visuais comprometidos pela nuvem de perfume. Sem esses sentidos, eles dependiam inteiramente dos comandos mentais dela, mas as limitações impostas pela perda de compartilhamento de sua habilidade de visão sináptica eram evidentes.

— Ela é esperta, preciso admitir. — Murmurou Saki, ainda tentando se ajustar aos novos desafios. Com um gesto rápido, tentou coordenar os lobos para um ataque coordenado, instruindo-os a avançar sobre Karin de forma intercalada.

Os lobos responderam prontamente, mas assim que os primeiros dois se aproximaram do círculo externo de kunai, as inscrições nas tarjas se ativaram. As marcas se estenderam pelo chão em uma velocidade impressionante, alcançando e imobilizando os dois lobos em questão, prendendo-os com uma força invisível.

Karin, com movimentos ágeis, desviou dos dois lobos restantes, aproveitando sua superior mobilidade. Em um movimento fluido, lançou duas kunai com tarjas explosivas sobre os lobos presos. As explosões resultantes arremessaram os lobos para longe, neutralizando-os temporariamente.

Saki, observando a cena, rapidamente tentou intervir. Ela começou a condensar chakra em sua arma, pronta para disparar um ataque devastador. No entanto, no instante em que tentou atirar, sentiu seu corpo imobilizar-se. Olhando com atenção, percebeu que as inscrições das tarjas haviam se estendido pelo chão até alcançar seus braços e pernas, prendendo-a no lugar.

— Mas o quê...? — Saki murmurou, surpresa e irritada. A habilidade de Karin era muito mais do que ela havia antecipado. Cada kunai, cada tarja, cada inscrição era parte de uma teia intricada de selos projetada para paralisar e controlar o campo de batalha.

Karin, agora em vantagem, se permitiu um momento de satisfação. “Quero ver se você consegue manter esse sorriso soberbo no rosto.” Pensou.

Saki tentou se libertar, mas as inscrições mantinham seu controle firme. Os 'Hounds' restantes, agora descoordenados e incapazes de superar as limitações impostas pelo perfume e as tarjas, estavam vulneráveis.

— Karin Uzumaki. —  Murmurou Kaho, quase admirada. — Você realmente é uma força a ser reconhecida.

A pequena, sempre calma e inabalável, observava a batalha do alto da galeria. Com uma voz tranquila e segura, alertou Saki sobre a verdadeira natureza de sua adversária. — Saki, não a subestime. Ela é uma Uzumaki, instruída por um Sannin. Clã temido por sua afinidade com Fūinjutsu. Lembre-se de que essas técnicas geralmente precisam de duas coisas: uma condição para ativar a técnica e uma troca equivalente ao poder da técnica.

Saki, ainda imobilizada, ouviu atentamente as palavras de Kaho. Ao cessar o acúmulo de chakra em sua arma, sentiu seus movimentos retornarem. Com os olhos semicerrados em concentração, começou a pensar nas possíveis condições para a ativação do Fūinjutsu de Karin, pois todos os seus lobos portavam biotecnologia estimulada e amplificada por chakra. — Se não é o chakra em si que ativa a técnica... O que poderia ser?

Enquanto ponderava, Saki notou que os lobos anteriormente derrotados estavam recuperados e prontos para a luta novamente. Ela decidiu testar uma teoria. Coordenando os lobos mais uma vez, instruiu-os a atacar em um padrão específico. Os lobos avançaram, dois deles focando em ataques poderosos, canalizando uma grande quantidade de chakra.

Como esperado, os dois lobos com o maior volume de chakra foram imobilizados pela técnica de Karin. A Uzumaki desviou dos ataques dos outros dois, aproveitando sua agilidade aprimorada pela zona de fios, e desferiu um soco potente envolvido por chakra nos lobos imobilizados, neutralizando-os novamente.

A loira sorriu ligeiramente ao perceber o padrão. — Entendi. Seu Fūinjutsu reage ao maior volume de chakra canalizado. Os lobos que canalizam mais chakra em seus ataques são os que são imobilizados.

Karin, percebendo que Saki havia descoberto seu truque, manteve-se alerta. — Você é rápida, mas entender isso é apenas o primeiro passo.

Kaho, observando de cima, mostrou uma leve expressão de contentamento.

Ela, observando a batalha com atenção aguçada, decidiu intervir novamente. — Saki! — Sua voz ecoou pela galeria, firme e calculista. — Percebi algo importante sobre a técnica de selamento da Karin. A condição para ativação é básica demais para ser apenas o volume de chakra. Parece mais provável que a técnica reaja à desvantagem numérica.

Saki, que estava coordenando seus lobos com ataques moderados, parou por um momento para ouvir. — Desvantagem numérica? — Perguntou, sem desviar os olhos da Uzumaki.

— Sim. —  Continuou Kaho. — Reparei que quando parte dos seus Hounds estavam incapacitados, apenas você foi imobilizada, não só porque sua arma canaliza uma quantidade de chakra muito maior comparado aos ataques dos lobos. E quando todos atacaram juntos, o número de inimigos aumentou e mais de um foi imobilizado.

Kaho fez uma pausa, analisando a situação. — A técnica de selamento provavelmente se ativa dentro de um alcance limite, baseado na desvantagem numérica e na quantidade de oponentes. Quanto maior o número de inimigos, mais inimigos são imobilizados pela técnica de uma só vez. Ela está usando essas condições a seu favor.

A outra estreitou os olhos, assimilando a informação. Atenta às palavras de Kaho, ela rapidamente recuou, emitindo um comando aos lobos para segui-la, exceto por um que ficou estrategicamente para enfrentar Karin em um combate direto. Este lobo, agora carregado com uma dose extra da substância que os fazia aumentar de tamanho, quadriplicou de tamanho e volume de chakra, tornando-se uma presença imponente e ameaçadora.

Karin, percebendo a mudança de tática das adversárias, ajustou sua postura defensiva. Ela sabia que os inimigos estavam se adaptando rapidamente e que precisava pensar em algo novo para manter a vantagem.

Mas ela não esperava a transformação súbita do lobo. No instante em que ele começou a avançar, liberando descargas elétricas por todo o corpo, as balas alojadas na perna de Karin começaram a reagir como para-raios, atraindo a eletricidade. Uma descarga elétrica brutal percorreu seu corpo, quase a incapacitando. Em um movimento desesperado, ela mordeu seu próprio braço para aliviar a dor e conseguiu saltar para longe, evitando por pouco ser abatida pelo lobo gigante.

Saki, agora posicionada a uma distância segura para não ser afetada pela técnica de selamento de Karin, voltou a intervir na luta com seus tiros incessantes. As balas espalhadas ou alojadas ao redor da área e no corpo de Karin começaram a reagir à eletricidade emitida pelo lobo, tornando a situação ainda mais perigosa.

O lobo gigante, agora uma verdadeira máquina de destruição, avançava com uma ferocidade implacável. Cada descarga elétrica que ele liberava se espalhava por uma ampla área na velocidade de um raio, por conta das balas que estavam por todos os lugares, o que tornava mais difícil para Karin se concentrar e formular uma estratégia eficaz. Saki, aproveitando a vantagem, continuava a disparar, tentando manter a pressão sobre a Uzumaki.

A ninja escarlate sabia que precisava agir rapidamente. Usando o restante dos seus fios de chakra para se mover com agilidade entre as estruturas metálicas e rochosas da galeria, ela tentou evitar tanto as descargas elétricas quanto os tiros de Saki. Seus movimentos eram rápidos e calculados, mas a pressão constante estava começando a cobrar seu preço.

Então, em um momento de clareza, percebeu que precisava neutralizar o lobo primeiro. Observando atentamente, ela percebeu que a última carga de substância injetada no animal também estava cobrando seu preço. Cada investida do lobo estava mais lenta e desengonçada, e a baba que antes escorria por seus dentes agora era substituída por sangue em tons escuros.

Aproveitando-se do tamanho do lobo e o seu claro desgaste, Karin desviou por baixo dele com facilidade e prendeu-se aos pelos da criatura. Agora, ela estava fora do alcance das balas de Saki, ganhando tempo precioso para utilizar sua técnica secreta. No entanto, ela precisaria contar com sua alta vitalidade para lidar com as descargas elétricas liberadas pelo lobo.

Enquanto as descargas elétricas a atingiam, Karin manteve-se determinada mordiscando seus lábios com força, condensando uma grande quantidade de chakra para finalmente usar o Kongō Fūsa novamente. As correntes então se manifestaram, atravessando o corpo da criatura e imobilizando seus membros. A técnica neutralizou a liberação das descargas elétricas ao inibir a utilização de chakra do lobo.

As correntes se moveram e o lobo foi retalhado, lavando Karin com sangue e espalhando partes do corpo da criatura por todos os lados. Com um suspiro de alívio, ela se afastou do corpo dilacerado do lobo, seu rosto e roupas manchados com o sangue escuro.

Sua rival, observando a cena, ficou momentaneamente atônita.

Karin, agora esgotada e respirando pesadamente, sabia que o Kongō Fusa consumia muito de suas energias. Cada uso da técnica era arriscado, e agora ela estava sem condições de continuar lutando.  

A loira, observando o estado da sua oponente, aproveitou para soltar um comentário sarcástico: — Você está mal, amiguinha. Tem certeza de que não quer dar uma pausa para se recuperar?

Kaho, sempre observante, notou que as capacidades defensivas de Karin haviam reduzido drasticamente. Ela percebeu que durante a luta contra o lobo, Karin não estava conseguindo antecipar as descargas elétricas, o que anteriormente teria sido fácil para ela, focando na defesa e mitigando os danos com chakra.

A pequena então sugere que: — A troca equivalente cobrada pela sua técnica de selamento é a sua habilidade sensorial, correto?

Vinhas de Lótus (蓮の蔦の術, Hasu no Tsuta no Jutsu), funcionava sob três condições: primeiro, só funcionava quando o usuário lutava em desvantagem númerica; segundo, seu alcance máximo era de 25 metros; terceiro, a técnica afetava os adversários numa proporção de 1 para 2 conforme a quantidade de adversários no alcance da técnica. Adicionalmente a esta última condição, os alvos que expressassem maior volume de chakra na utilização de uma técnica, seriam priorizados pela jutsu. Além disso, ela tinha renunciado ao Kagura Shingan por 10 minutos para atender ao requisito de troca equivalente.

Aturdida com o fato de suas adversárias terem desvendado as condições da sua técnica, Karin quase não percebeu que o gigante coração do lobo morto por ela continuava a bater de forma rítmica próximo a ela. No instante seguinte, ela foi envolvida por uma enorme explosão de fogo e eletricidade, gerada a partir do coração da criatura, cobrindo uma ampla área e fazendo boa parte da galeria desmoronar.

Saki e Kaho se afastaram rapidamente para evitar a explosão. O impacto foi devastador, criando uma onda de choque que reverberou pelos túneis e galerias subterrâneas. Destroços voaram para todos os lados, e o ambiente escuro da galeria foi iluminado momentaneamente pelo clarão da explosão.

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CAPÍTULO 8: O CHEIRO DO ORVALHO


Karin, protegida por uma barreira emanada a partir das correntes do seu clã instintivamente erguida em torno de si, resistiu ao impacto inicial. Ela estava ferida, cansada, e sem condições de continuar após sobreviver ao ato final que o coração daquele lobo fez ao liberar sua energia em uma grande explosão. Ela caiu quase desmaiada ao chão. E o Henge no Jutsu se desfez, revelando seu cabelo vermelho.

“Por Deus, eu não posso morrer aqui.” Suplicou internamente, antes de sua visão turvar e perder a consciência.

Kaho e Saki, determinadas a capturar a Uzumaki, começaram a se aproximar. E quando Kaho estava prestes a efetuar um tiro para incapacitar a Uzumaki, uma presença assassina tremenda surgiu, acompanhada por uma neblina densa e gélida. As duas sentiram o impacto da presença e recuaram instintivamente. De dentro da neblina, Suigetsu apareceu ao lado de Karin, agarrando-a com delicadeza.

— Vocês realmente acham que vão levar ela assim tão fácil? — Suigetsu disse, a voz fria e cheia de desdém. Seus olhos brilharam com uma fúria contida, enquanto ele avaliava a situação.

Saki e Kaho mantiveram suas posições, mas era claro que estavam cautelosas. A neblina espessa tornava difícil ver qualquer coisa com clareza, e a presença assassina de Suigetsu parecia amplificar a tensão no ar.

— Você chegou rápido. —  Comentou Kaho, tentando manter a calma.

— Rápido o suficiente para impedir vocês. —  Ele respondeu firme, ajustando Karin em seus braços.

Saki, ainda segurando sua arma, estreitou os olhos. — Você está sozinho. Acha que pode nos enfrentar e proteger ela ao mesmo tempo?

Suigetsu sorriu de maneira fria. — Vocês querem descobrir?

Kaho, sempre analítica, fez um sinal para Saki. — Vamos recuar por agora. Não somos a melhor combinação para lutar contra ele.

Saki hesitou, mas concordou descontente e bufando.

Suigetsu esperou até ter certeza de que elas haviam ido embora antes de se concentrar em Karin. — Vamos sair daqui. —  Ele murmurou, segurando-a com firmeza e começando a se mover pela galeria destruída.

Karin, mesmo exausta e ferida, conseguiu abrir os olhos e murmurar: — Suigetsu...

— Guarde suas forças, Karin. — Ele respondeu suavemente.

Enquanto se afastavam da zona de combate, a neblina lentamente começou a se dissipar, mas Suigetsu manteve um ritmo constante, determinado a tirar Karin daquele lugar perigoso. Naquele momento, garantir a segurança da Uzumkai era sua prioridade absoluta.

........

Karin abriu os olhos lentamente, sentindo um leve torpor ainda pairando sobre seu corpo. Ela percebeu alguém afagando seus cabelos com delicadeza, e um suspiro impaciente e suave tocou seu rosto. Seus olhos piscaram algumas vezes antes de focarem na pessoa à sua frente.

Um rapaz com longos cabelos loiros, olhos verdes e um rosto belíssimo estava inclinado sobre ela, uma expressão admirada e sentimental no rosto. Ele ficou corado ao perceber que ela acordara.

— Você finalmente acordou. — Diz, tentando esconder a alegria e alívio em sua voz.

Karin, ainda confusa, tentou situar-se franzindo o cenho. O rosto à sua frente não lhe era familiar, mas algo na presença dele fez sua mente começar a clarear. A assinatura de chakra, que trazia a sensação de uma brisa fria tocando sua pele, era inconfundível.

— Suigetsu? — Ela murmurou, os olhos estreitando-se enquanto tentava confirmar sua suspeita.

O rapaz sorriu timidamente, o rubor aumentando em suas bochechas. — Você me pegou. — Ele disse, a voz ainda suave, mas agora com um toque de nervosismo. Ele relaxou, revelando sua verdadeira aparência.

—  Precisávamos nos esconder e, bem, não conseguiríamos acesso a um quarto desses me apresentando como Suigetsu Hōzuki. —  Esclareceu, encolhendo os ombros.

Enquanto ela se ajustava, olhou ao redor e percebeu que estavam em um quarto luxuoso, aparentemente uma suíte de luxo. As paredes eram decoradas com tapeçarias finas, e os móveis eram de madeira polida e ornamentos prateados. A cama em que estava deitada era macia, com lençóis de seda.

Suigetsu tenta disfarçar seu comportamento cuidadoso com a ruiva, voltando à habitual troca de farpas e implicância. — Eu sabia que você não ia durar muito tempo sem mim por perto. — Ele provoca, com um sorriso travesso.

Karin sorri timidamente, mas seus olhos mostram um cansaço profundo. — Obrigada. Eu não teria conseguido sem você.

— Você está segura agora. — Disse Suigetsu, tentando disfarçar a vergonha de seu comportamento carinhoso. — Eu te trouxe para um lugar seguro.

—  Você... ficou cuidando de mim? —  Ela perguntou, um pouco surpresa.

Ele revirou os olhos, tentando parecer indiferente. — Claro, alguém tinha que fazer isso. Não podia deixar você morrer por aí, não é?

Suigetsu, agora visivelmente mais sério, senta-se ao lado dela na cama. — Você quase morreu, sabia? Aquela batalha... foi perigosa demais. Eu não sei o que teria acontecido se eu não tivesse chegado a tempo.

Karin vê a preocupação genuína nos olhos dele. — Eu sei. Foi por pouco. Mas estou aqui agora, ... — Ela desvia o olhar, tentando esconder a timidez, antes de concluir: — ...graças a você.

Ele corou mais uma vez e desviou o olhar. — Não foi nada. Só... não vá ficando acostumada com isso, entendeu? Não sou eu o teu grande salvador Uchiha.

Ela ruborizou e reagiu de forma impulsiva tentando golpeá-lo, mas a dor a fez parar rapidamente. — Você sempre sabe como estragar um momento.

Ele ri suavemente, sentindo um calor reconfortante no peito. — Não foi nada. Só estou fazendo o meu trabalho, sabe. Faz parte do meu charme.

Eles ficam em silêncio por um momento, absorvendo a presença um do outro. Suigetsu, ainda tentando esconder sua preocupação, diz: — Descanse, Karin. Você precisa descansar. Precisamos de você em plena forma para o que estar por vir.

Ele saiu do quarto, deixando Karin descansar, mas seu coração estava pesado. Por trás das brincadeiras, ele estava claramente preocupado.

........

Na sala predominantemente escura, a tensão era sutil, quase imperceptível. Tetsuji estava em pé no meio de uma sala predominantemente longa e escura, com apenas uma iluminação branca ao fundo. Sua postura era reta e respeitável. Atrás dela, a pequena Kaho estava na mesma posição. As duas conversavam em voz baixa sobre os subordinados de Uchiha Sasuke da antiga Taka, questionando-se mutuamente até onde eles pretendiam ir, o que estavam investigando e o que já sabiam.

Esparramada em um grande sofá meia-lua de cor escura à frente delas estava Saki, brincando de forma despreocupada com suas madeixas douradas, embora seu rosto não contivesse o habitual sorriso que a acompanhava. Yun estava recostado na parede de braços cruzados, aparentemente irritado com algo não evidente. Mesmo na quase escuridão total, eles não se incomodavam, pois conseguiam enxergar no escuro.

O som de saltos tocando o chão em passos tranquilos e compassados rompeu o ambiente silencioso, anunciando a aproximação imponente de uma mulher poderosa. A sombra dela se revelou no fundo iluminado e, por fim, ela surgiu trajando um vestido longo preto de alças e cavado nas costas, tão fino que se tornava quase transparente, deixando pouco para a imaginação. Seus cabelos negros estavam presos em um coque bem-feito, os olhos cor de mel e a postura mansa e serena. Era conhecida como Fantasma da Chuva, Yurei, aquela que vê tudo e que ninguém nunca vê, a mulher a quem Tetsuji havia se reportado anteriormente e a superior imediata de todos que se encontravam naquela sala.

Ela estava acompanhada da muralha de musculos que era Sōya, o que aparentemente deixou Yun ainda mais irritado e desconfortável, algo que não passou desapercebido por Yurei, que sorriu com divertimento. Sōya, atrás dela, interrompeu o silêncio momentâneo ao levantar a voz de forma altiva para revelar detalhes da última ação. Explicou que Saki e Kaho foram as únicas a terem contato com os adversários, que falharam em conduzir a inimiga para o cerco que haviam preparado, mas conseguiram descobrir as verdadeiras identidades dos invasores: membros da Taka, seguidores de Uchiha Sasuke, possivelmente a mando do próprio ou de Orochimaru, interessado nos projetos que estavam sendo desenvolvidos na Vila da Chuva.

Yurei, a mulher atrás da mesa, não demonstrou perturbação. Ao invés disso, percebeu Saki e notou uma certa melancolia em seu comportamento. Perguntou a ela como estava e por que parecia chateada.

Saki levantou o olhar lentamente, seus olhos dourados encontrando os de Yurei. —Estou bem, senhora. — Respondeu, mas sua voz a traiu com uma nota de desânimo.

Yurei inclinou a cabeça ligeiramente, curiosa. — Então, por que essa melancolia, Saki?

Saki hesitou, mas sabia que mentir para Yurei era inútil. — Falhei em capturar a inimiga. Deixei que ela escapasse, apesar dos nossos esforços. Não estou acostumada a falhar.

Kaho, a figura de menor estatura ali, tentando retomar o foco da reunião, começou a explicar em detalhes o que aconteceu na luta e o que foi possível perceber das habilidades da adversária do Clã Uzumaki. — Ela usou técnicas de selamento poderosas, um Fūinjutsu que eu ainda não tinha visto. E parece que ela tem habilidades sensoriais e capacidades médicas poderosas...

Yurei, porém, não parecia interessada nas táticas ou nas habilidades específicas dos inimigos. Ela voltou sua atenção para Saki. — Diga-me, Saki. — Perguntou com uma voz suave e inquisitiva. — Qual foi a sensação de tentar predar um animal com poder suficiente para te matar em resposta?

Saki pensou por um momento. — Foi... emocionante, senhora. A adrenalina, a tensão. Mas também frustrante. Saber que estava tão perto e ainda assim falhei...

Yurei sorriu levemente, satisfeita com a resposta. Ela então fez várias outras perguntas a Saki, coisas que a princípio não faziam sentido, mas que faziam parte do método peculiar dela. — E como estava o clima? Sentiu alguma mudança no ar durante a batalha? E os cheiros, algum aroma específico?

Saki, tentando compreender a linha de raciocínio de Yurei, respondeu da melhor forma que pôde. — Chuvoso, como sempre. Mas, durante a luta, percebi um leve aroma primaveril e herbáceo, intensificado pelo jutsu daquela mulher. Seguido do cheiro metálico de sangue e a sensação gélida e perturbadora que aquele homem me causou quando surgiu.

Yurei acenou, absorvendo cada detalhe. — Muito bem. Continuem vigilantes. E você Tetsuji, prepare-se para mais investigações. E Saki, ... — Ela fez uma pausa, o olhar suave, mas firme. — ...não se deixe abater pela falha. A caçada ainda não acabou.

Com isso, Yurei se virou, deixando a sala em silêncio, exceto pelos pensamentos tumultuados de seus subordinados.

........

Ugatsu Yume, líder do clã Ugatsu, sentava-se rigidamente em uma mesa redonda em um bar vibrante, com música alta e pessoas rindo ao redor, contrastando com a atmosfera tensa entre ela e o homem à sua frente. Em frente a ela, o assassino de seu neto, Suigetsu, com um rosto e cabelo diferentes do que ela ouviu falar. Estava casualmente vestido com um sobretudo aberto, uma camisa branca de tecido fino e uma calça escura. Ele exibia um ar despreocupado, mas seus olhos brilhavam com astúcia.

— Se você veio até aqui sem fazer alarde, ... — Começou Suigetsu, sua voz suave. — ...provavelmente quer fazer um acordo. —  Ele sorriu ligeiramente, estudando as reações da velha senhora. — O clã Ugatsu é notoriamente habilidoso em sobreviver. Vocês passaram pelas principais guerras em Amegakure com mínimas perdas. Essa é uma característica marcante no sangue do seu clã.

Ela manteve sua expressão severa e indiferente, sem dar qualquer sinal de emoção. Ela observava Suigetsu com um olhar penetrante. Ele continuou: — Agora, estou em posse do cadáver do seu neto. O submundo, é claro, se interessaria muito pelas informações que um corpo como o dele pode conter.

A velha senhora não hesitou. Sua voz era fria e direta, diz: — O que você quer em troca do corpo?

Suigetsu cruzou os braços, inclinando-se para frente com um olhar sério. — Apenas confirmar a veracidade de alguns dados já colhidos por mim e minha parceira. — Ele fez um gesto para a mulher ao lado de aparência simples e pouco destacante, cuja presença tinha sido até então silenciosa, mas vigilante.

Yume assentiu lentamente, reconhecendo a seriedade do momento. — Os mais habilidosos guerreiros do nosso clã despertam uma habilidade sanguínea única. Seus corpos se aclimatam com facilidade a novas condições climáticas e biológicas, permitindo-lhes respirar em qualquer meio gasoso, seja hostil ou deficiente.

Ela fez uma pausa, avaliando a reação de Suigetsu antes de continuar com indiferença. — Não posso permitir que os segredos do meu clã caiam em mãos erradas. Preciso reaver o corpo do meu neto para descartá-lo de forma adequada. Em troca, estou disposta a fornecer as informações que você deseja.

Suigetsu estudou a mulher a frente por um momento, considerando suas palavras. — A sua franqueza é apreciável. —  Disse ele, finalmente. — Mas a confiança é algo que se conquista e vou precisar de uma demonstração de boa-fé.

Yume manteve sua expressão imperturbável. — E o que você sugere como demonstração?

— Você pode começar compartilhando detalhes sobre como essa habilidade sanguínea se manifesta em seus guerreiros. — Respondeu Suigetsu. — Quais são os sinais iniciais? Há algum treinamento ou evento específico que a desperta?

Ela assentiu. — A habilidade se manifesta geralmente durante situações extremas, como um reflexo de sobrevivência. Os sinais iniciais incluem uma adaptação rápida a mudanças bruscas no ambiente, como temperaturas extremas ou atmosferas tóxicas. Não há um treinamento específico, mas sim uma seleção natural onde apenas os mais resilientes sobrevivem e despertam essa habilidade.

Suigetsu absorveu a informação, satisfeito com a resposta inicial. — Muito bem, isso é um bom começo. — Ele se recostou na cadeira, observando Yume. — Se continuar assim, você terá o corpo do seu neto de volta em breve. Mas qualquer tentativa de me enganar ou ocultar informações será tratada de forma adequada.

Yume manteve sua postura severa, mas havia um brilho de determinação em seus olhos. — Eu entendo. Vamos proceder conforme o acordado.

Com isso, ambos sabiam que estavam entrando em um jogo perigoso de confiança e necessidade, onde cada movimento poderia determinar o futuro de suas intenções.

........

Em um pequeno vilarejo, afastado da vila principal e gravemente afetado economicamente, havia um ambiente sombrio e opressivo. Cercado por formações rochosas que se erguem acima das casas decadentes, o vilarejo sofre com a chuva incessante, o frio cortante e o lodo que cobre as ruas e os prédios. As cabanas são velhas, com pintura descascada e rachaduras nas paredes, refletindo a miséria dos moradores.

No meio dessa desolação, uma mãe se encontra com seus três filhos, enfrentando uma escolha horrível e impensável. O mais velho, um jovem que perdera a perna, tenta mostrar coragem apesar de sua vulnerabilidade. O filho do meio, ainda uma criança, esconde-se atrás da saia longa da mãe, os olhos cheios de medo e confusão. O mais novo, um bebê, é segurado no colo da mãe, alheio ao destino que pode lhe aguardar.

Diante deles, um homem sinistro e sem escrúpulos propõe uma barganha perversa: ele resolveria todos os problemas da família, mas em troca, exigia uma das crianças para servir de cobaia nos experimentos cruéis de Amegakure. Ele descreve o destino aterrador que aguardava a criança escolhida, ressaltando que sofreria as maiores dores físicas imagináveis.

O homem sugere que a mãe escolha o mais novo, pela sua inocência e falta de compreensão, ou o mais velho, por já estar inválido. Quando o jovem tenta se oferecer corajosamente, a mãe, tomada por uma mistura de raiva, culpa, medo e desespero, agarra violentamente o braço do filho do meio e o joga aos pés do homem, machucando o rosto do menino.

— Este! — Ela grita, sua voz carregada de emoção.

O homem ri, satisfeito, enquanto recolhe a criança que esperneia e grita de terror. Ele se vira para ir embora, mas não antes de deixar um saco de moedas no chão lodoso e sujo.

Mas já na manhã seguinte, a mãe e seus dois filhos restantes são encontrados mortos em casa, assassinados brutalmente. Um boato sobre o dinheiro guardado pela mãe dos três meninos se espalhou pelo vilarejo, levando os vizinhos, desesperados e sem escrúpulos, a cometerem um ato bárbaro. Refletindo a desesperança e a crueldade que podem emergir em tempos de desespero.

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CAPÍTULO 9: ONDE A CHUVA CAI

A atmosfera no bar permanece carregada de tensão. A líder do clã Ugatsu, permanecia em silêncio e inabalável como sempre. O Hōzuki, no entanto, com seu semblante sério, é quem inicia a discussão, revelando suas descobertas.

— Localizei uma base em uma área remota ao sudoeste da vila da chuva. — Começa ele, sua voz firme e controlada. — Encontrei dados referentes a centenas, talvez milhares de crianças e jovens retirados de suas famílias.

Ele faz uma pausa, avaliando a reação de Yume. — Descobri que o submundo está injetando dinheiro em larga escala em Amegakure, atraindo várias empresas e instituições para financiar algum tipo de experimento com essas crianças, e outras atividades ilegais e desumanas.

Suigetsu faz mais uma pausa, observando atentamente as reações dela. — Qual é o propósito disso tudo? Que fim levaram todos aqueles jovens e crianças, cujo único rastro de suas existências são arquivos com fotos de cada uma delas? Por que não há ninguém, família ou parentes procurando por elas?

Yume sorri, um riso sarcástico. — A grande maioria delas foi simplesmente entregue ao submundo, por não apresentarem qualquer valor para a vila se não monetário. — Responde ela com uma frieza que arrepia. — Não sei qual é o destino certo delas após serem entregues para os senhores do crime. Já as que foram selecionadas para ficar, principalmente aquelas que apresentaram características únicas, têm seus órgãos removidos e vendidos por todo o continente. Que é o segundo mercado mais lucrativo para a vila.

Ela faz uma pausa, seus olhos negros fixos em Suigetsu. — Existem aquelas poucas crianças e jovens que apresentam um potencial muito acima dos outros. Estes não possuem um destino muito diferente das demais, só que, ao invés de terem seus órgãos simplesmente retirados, são melhorados e otimizados para se tornarem super-soldados, transformados em algo novo que mescla ninjutsu e máquinas.

Suigetsu faz um gesto sutil para a mulher ao seu lado, que assente, confirmando a veracidade das palavras de Yume. A mulher ao lado de Suigetsu, é a Karin disfarçada que possui um sensor de chakra que lhe permite detectar mentiras, e sua confirmação dá um peso adicional às revelações perturbadoras.

Yume continua: — Os caminhantes, aqueles que realizam acordos diretamente com as famílias em troca de um 'potencial', tratam de eliminar quaisquer rastros de seus negócios. Muitas vezes, eliminam qualquer associação dessas crianças com sua vida pregressa.

Ela faz uma pausa, seu olhar transitando entre o homem e a mulher a sua frente. — Eles fazem negócios com praticamente qualquer pessoa, não apenas em troca de um potencial em uma criança. Mesmo que muitos reconheçam o perigo de fazer negócios com eles, em tempos desesperadores, eles vendem a “esperança”.

— Isso é monstruoso. — Murmura Karin, a conversa carregada de uma tensão palpável.

Suigetsu, com o olhar frio e calculista. — E você simplesmente permite isso? Permite que seu próprio clã participe de algo tão desprezível?

Yume o encara com indiferença. — Meu clã faz e fara o que é necessário para sobreviver e prosperar. — Responde ela com uma calma inquietante. — Você deveria entender isso, pequeno demônio. No mundo em que vivemos, apenas os fortes sobrevivem ou aqueles mais adaptados as mudanças, e às vezes, a sobrevivência exige sacrifícios.

O Hōzuki, com um olhar inquisitivo e penetrante, pergunta: — Quero detalhes sobre o processo de aprimoramento. Como acontece? O que é feito para transformar crianças, jovens, homens e mulheres em soldados melhorados? E qual é o grande projeto da vila da chuva? Vocês pretendem enriquecer vendendo esses super-soldados para o submundo ou criar um exército para fazer frente às grandes vilas?

Yume, com um sorriso enigmático e fria indiferença, responde: — O processo de aprimoramento é um segredo muito bem guardado pelas quatro casas que controlam a vila da chuva. Eu mesma não sei os detalhes exatos. Contudo, posso lhe dizer que a vila da chuva ainda não está em fase de mercantilização dos super-soldados. Por enquanto, seus pés ainda pisam em uma grande fábrica de armas e equipamentos altamente tecnológicos, produzidos e comercializados em larga escala, é claro.

Ela faz uma pausa, observando Suigetsu cuidadosamente antes de continuar: — Essas armas e equipamentos são capazes de funcionar extraindo chakra de seus portadores, aumentando o potencial letal delas. Isso atrai muito interesse dos compradores, pois, transforma alguém com capacidades mínimas de moldagem de chakra em um soldado com poder equiparável aos poderosos ninjas. É uma forma de equalizar o campo de batalha, por assim dizer. Mas, para Amegakure, essas inovações são apenas o começo.

Ele absorve as informações, ponderando sobre as implicações. A revelação de que Amegakure está focada em fabricar armas e equipamentos tecnológicos em larga escala, capazes de transformar pessoas comuns em soldados poderosos, é alarmante. Ele percebe que essa tecnologia pode mudar drasticamente o equilíbrio de poder no mundo ninja.

Ele questiona mais: — E essas quatro casas? Qual é o papel delas nesse esquema?

Yume, com um olhar calculista, responde: — As quatro casas são as famílias que governam Amegakure. Cada uma controla uma parte essencial do processo de desenvolvimento e fabricação dessas tecnologias. Elas são rivais entre si, mas todas compartilham o objetivo de fortalecer a vila e aumentar seu poder. Meu clã, os Ugatsu, tem uma função estratégica nesse cenário, mas mesmo nós não sabemos todos os segredos. O poder é fragmentado e protegido para evitar que qualquer um de nós tenha controle absoluto.

Suigetsu faz um gesto para a mulher ao lado, que novamente assente, confirmando que ela está falando a verdade.

Ela observa o jovem espadachin com um olhar enigmático e frio. Com uma voz baixa, quase conspiratória, ela começa a falar: — As quatro famílias são cada uma representada por uma besta ou monstruosidade, refletindo sua natureza e propósito dentro da vila. Elas são pilares de poder e influência, cada uma com seu papel específico na estrutura de nosso domínio.

Ela faz uma pausa, seus olhos penetrantes fixos em Suigetsu, antes de continuar:

— Primeiro, há a casa Jubokko. Liderada por remanescentes de guerra, eles que se renderam à fé de Uzumaki Nagato, acreditando que a dor seria o único caminho para o entendimento entre os homens. O símbolo deles é a árvore vampírica, que se alimenta do sangue dos caídos. São fanáticos, poucos vistos, por raramente subirem a superfície, mas que buscam uma espécie de ascensão divina através da dor. A natureza de suas ações se mantém, em boa parte, obscuras.

O espadachim absorve as palavras com atenção, relembrando algumas vagas memórias de Giyu em que alguns membros e subordinados desta casa apareciam. Yume continua:

— Em seguida, a casa Ubume, dedicados a proteger a vila de ameaças externas. Eles são guardiões, que se certificam de que nenhum inimigo possa ameaçar os filhos da vila da chuva ou os interesses destes. São munidos das mais poderosas armas criadas nestas terras e liderados por um fantasma que a tudo ver...

........

Yurei permanecia imóvel encostada ao parapeito de uma sacada, enquanto a chuva caía sobre seu corpo nu. A água fria parecia não a incomodar, pois sua mente estava absorta em pensamentos, pensamentos envoltos em uma teia de reflexões sobre os recentes acontecimentos. O quarto, luxuoso e austero, à meia-luz, contrastava com a simplicidade de sua postura exposta a chuva fria e constante, um lembrete da natureza implacável de Amegakure.

Ela, conhecida como o Fantasma da Chuva, possuía uma habilidade singular e temida: a capacidade de invadir sistemas cibernéticos, restaurar informações corrompidas e quebrar códigos de segurança. Sua mente é um supercomputador humano, capaz de assumir o controle de equipamentos tecnológicos com um simples pensamento. Ela vê através de câmeras, ouve através de rádios e dispositivos de áudio, e controla uma vasta rede de robôs autônomos em forma de animais espalhados por toda a vila.

Milhares ou, talvez, dezenas de milhares de robôs no formato de cães, gatos, ratos e até aves são seus olhos e ouvidos, patrulhando incessantemente, coletando informações e garantindo que nada escape à vigilância dos seus olhos.

Isso através de um neurochip com uma interface mental própria que ela usa para controlar essas unidades, que respondem diretamente ao seu pensamento. Sua capacidade mental era extraordinária, tornando-a a única pessoa capaz de emparelhar mentalmente com tantas unidades de monitoramento e reconhecimento de forma simultânea.

Essa habilidade não apenas a tornava uma vigilante implacável, mas também explicava por que raramente era superada por qualquer shinobi. Ser capaz de rastrear, observar e ouvir através de tantas perspectivas diferentes a tornava quase onisciente dentro de Amegakure. Mas a habilidade dos invasores, seguidores de Uchiha Sasuke, a havia surpreendido. Era raro encontrar alguém capaz de escapar de sua vigilância, o que a deixava inquieta e intrigada.

Sōya, nu e com um ar possessivo, aproximou-se dela por trás, envolvendo sua cintura com os braços e o seu grande corpo. O contato físico e a intimidade recente sugeriam que haviam compartilhado um momento carnal. Yurei aproveitou a proximidade para comentar com Sōya, sua voz em um sussurro suave contra o som da chuva:

— Nunca fui superada por nenhum shinobi até agora. — Ela comenta, quase como se estivesse falando consigo mesma. — A mulher do Clã Uzumaki foi detectada uma vez pelos meus brinquedos, mas desde então, tornaram-se mais cuidadosos.

Ele, não soube dizer se havia frustação ou entusiasmo em sua voz, mas a apertou um pouco mais, oferecendo o conforto silencioso que achava necessário. Ele conhecia bem o orgulho de Yurei, a líder da casa Ubume, ela retornaria de seus desvaneios mais implacável e mais astuta do que nunca. Ela, por sua vez, parecia distante, sua mente focada em outra parte da vila, observando através de seus muitos olhos.

........

— Por fim, as casas Hanzaki e Jorōgumo. Os Hanzaki, são compostos por uma família de antigos ferreiros da vila da chuva, e que hoje são especializados na invenção e produção de armas de fogo que empregam aplicações direta de chakra. Enquanto os Jorōgumo, a família a qual meu clã, os Ugatsu, é subordinado, controlam os aspectos econômicos e políticos da vila. Simbolizado pela aranha encantadora, tecem suas teias de influência e poder por toda a vila e mesmo fora desta. Eles são os mestres das intrigas e das negociações, manipulando tudo em busca de poder e influência.

Ele então pergunta: — E qual é o papel do seu clã dentro dessa estrutura?

Ela, com um sorriso sarcástico, responde: — Nosso papel é garantir que os interesses da nossa casa sejam sempre protegidos e promovidos. Nós somos os olhos e ouvidos deles, executando suas ordens e assegurando que suas tramas avancem sem impedimentos

Suigetsu sorriu com escárnio. E com sua voz carregada de ironia, diz: — Curioso o que você acabou de falar. — Inclinou-se para a frente, seus olhos brilhando de malícia. — Pois aí está você, protegendo os interesses do seu clã acima dos interesses deste projeto maior.

Yume manteve-se imperturbável, observando-o com uma curiosidade calculada. Ele continuou: — Mas eu entendo. Os interesses individuais de cada indivíduo também devem ser respeitados, pois não se está lidando com cascas vazias sem identidade.

A sala estava silenciosa, exceto pelo som abafado da chuva lá fora. Ele fixou seu olhar na mulher já de idade, a provocação em sua voz tornando-se mais afiada. — Agora, você deveria repensar a rota que seguirá a partir de então. Um projeto ambicioso como este, querendo transformar Amegakure em uma potência capaz de fazer frente às cinco grandes vilas, é algo que atrairia a sombra da guerra para dentro do seu território novamente.

Ele fez uma pausa, deixando as palavras penetrarem. — Vão acabar tendo o mesmo fim que os Uzumaki.

Ela estreitou os olhos, seu sorriso desaparecendo lentamente, enquanto alternava seu olhar entre os dois jovem a sua frente. Karin então fez a pergunta que pairava no ar. — Qual interesse prevaleceria? A sobrevivência do seu clã ou a ambição dos seus superiores?

A mais velha manteve-se em silêncio por um momento, ponderando as implicações. Suigetsu e Karin sabiam que tinham tocado em uma questão fundamental, uma escolha entre lealdade e sobrevivência.

Ela, sempre calma e inexpressiva, ouvia as palavras de Suigetsu com um interesse frio. Suas palavras não mostravam nenhuma emoção enquanto ela ponderava sua resposta. Finalmente, com uma leve inclinação de cabeça, ela respondeu:

— Você levanta uma questão interessante, pequeno demônio. A história da vila da chuva é repleta de sobrevivência à beira da extinção. Meu clã, como você bem observou, sempre priorizou sua sobrevivência acima de tudo. Porém, o projeto para transformar Amegakure em uma potência global é também uma forma de garantir que nunca mais sejamos relegados à insignificância.

Ela fez uma pausa, olhando para o homem a sua frente com seus olhos frios e calculistas, avaliando cada reação dele.

— A sombra da guerra já está sobre nós, quer queiramos ou não. Fugir dela é impossível. Então, ao invés de fugir, nós escolhemos enfrentar. Esse projeto, por mais sombrio que possa parecer, é nossa chance de assegurar um futuro para a vila da chuva, um futuro em que não sejamos apenas peões no jogo das grandes vilas. No entanto, não somos tolos. Sabemos dos riscos, e é por isso que jogamos em todas as frentes. Protegeremos nosso clã, mas também não viraremos as costas para a oportunidade de elevar nossa vila.

Ela então inclinou-se ligeiramente para frente, seus olhos fixos nos dele, a intensidade em sua voz aumentando.

— E quanto a você, pequeno demônio da névoa? O que você sugere? Como equilibrar esses interesses, garantindo tanto a sobrevivência da vila da chuva quanto a segurança de nossos clãs?

Suigetsu sorriu, percebendo que havia conseguido instigar uma reflexão importante nela. — A buscar por poder absoluto pode trazer destruição tanto quanto a fraqueza. Talvez seja possível encontrar uma terceira via, uma que permita a sobrevivência e prosperidade da vila da chuva através desses avanços tecnológicos sem atrair a ira das grandes vilas.

Ele manteve seu sorriso sarcástico, mas havia um brilho de reconhecimento em seus olhos. Continuando: — Meu interesse, senhora Yume, é simples. Isto não é apenas uma missão de investigação; estamos aqui para desmantelar qualquer ameaça que pudesse surgir contra as cinco grandes nações. Mas também queremos expor a verdade por trás dessas atrocidades e acabar com esse ciclo de sofrimento que aflige seu próprio povo.

A tensão entre os dois aumentou, cada um avaliando o outro como possíveis aliados ou inimigos. No entanto, ambos sabiam que, em um mundo de constantes guerras e traições, alianças momentâneas eram uma necessidade.

Yume, com um pequeno sorriso, assentiu.

— Então, parece que temos um entendimento. Por agora, nossos interesses podem se alinhar, no sentido de querer evitar uma guerra.

Suigetsu riu, um som baixo e rouco.

A conversa havia terminado, mas a aliança frágil formada entre eles era apenas o começo de uma nova e perigosa fase no confronto entre a Taka e Amegakure.

........

Sob a chuva da noite, com os olhos fechados e o rosto erguido para o céu, ele parecia querer absorver as sensações que a chuva e o frio provocavam em sua pele. Seus longos cabelos castanhos, agora soltos, bailavam conforme a ventania. De longe, emitia uma paz intimista, mas a verdade é que sua mente estava a um turbilhão.

Memórias de um passado longínquo emergiam, reavivando a época em que era apenas um jovem rapaz, mas já reconhecido por suas habilidades como curandeiro, especializado em plantas medicinais. Ele se lembrava vividamente do dia em que dois irmãos gêmeos foram ao seu encontro para tratar a doença de um deles, o dia em que ele conheceu os dois e se apaixonou perdidamente por um deles.

Ele estava em sua pequena cabana, cercado por ervas e poções, quando ouviu a porta se abrir. Dois irmãos gêmeos entraram, encharcados, ambos com expressões de preocupação, mas um deles estava visivelmente mais abatido. Os olhos ônix de um dos irmãos suplicavam por ajuda, enquanto ele se agarrava ao corpo do irmão mais frágil com uma dedicação tocante.

— Por favor, precisamos de sua ajuda. — Disse um dos irmãos, suplicante. — Meu irmão está doente.

Ele se aproximou do gêmeo doente, que estava muito febril e pálido, e começou a examiná-lo. Sentiu uma pontada de tristeza ao ver a dor nos olhos do jovem. — Eu farei o que puder. — Prometeu, suas mãos já trabalhando com as ervas. E cumpriu, conseguindo retardar a doença por um bom tempo, proporcionando longos períodos de bem-estar.

Vários flashs de boas memórias com os três se seguiram em sua mente: risos compartilhados, momentos de ternura e cumplicidade. Ele via as memórias dos três caminhando juntos pelo campo, rindo e conversando sobre trivialidades. Lembrava-se dos olhos brilhando de gratidão e dos momentos de paz que passaram juntos.

— Você é um milagreiro. — Disse, sorrindo enquanto observava o irmão caminhando a frente.

— Eu só faço o que posso com o que a natureza nos oferece. — Respondeu humildemente.

Apesar de serem quase idênticos, distinguiam-se pela cor do cabelo: um tinha cabelos azulados, o mais extrovertido dos três, e o outro, um tom de verde escuro, o oposto do irmão, sempre sério e de poucas palavras. Mas essas lembranças felizes foram interrompidas pela memória da súbita piora no quadro do irmão doente. Suas medicações e conhecimentos não conseguiam mais combater a doença, ele tentou de tudo, todas as ervas e poções que conhecia, mas nada parecia conter o avanço da doença ou aliviar a dor intensa que o jovem sentia.

— Por favor, faça algo! — Implorou o irmão em boa saúde, segurando a mão dele com certo desespero. — Não posso perder meu irmão, é tudo o que me restou.

Ele olhou para os olhos da pessoa por quem estava apaixonado, sentindo-se impotente e frustrado. — Estou tentando. — Murmurou, sua voz carregada de desespero. — Estou tentando...

A memória se cortou para outra cena, quando misteriosamente uma figura surgiu em sua cabana, estendendo uma mão biônica, oferecendo ajuda em troca de um acordo. Ele sentia a angústia e a desesperança daquele momento, quando todas as suas habilidades e esforços pareciam insuficientes.

— Eu posso ajudar. — Disse a figura, sua voz suave. — Mas haverá um preço.

Ele olhou para a mulher, a oferta de ajuda misturada com a ameaça implícita do acordo, e viu o irmão que amava apertar a mão dela em meio aos gritos estridentes de dor do outro irmão reverberando por toda a cabana.

Ele então abriu os olhos e encarou o céu, sentindo a chuva fria escorrer pelo rosto. As gotas de chuva caíam em seu rosto, misturando-se com lágrimas que ele não percebeu está chorando. A dor e a culpa misturavam-se com a raiva e a frustração acumuladas ao longo dos anos. As emoções conflitantes o consumiam, deixando-o vulnerável e exposto, como se a chuva pudesse lavar a dor, mas não as cicatrizes profundas de seu coração.

O passado e o presente se misturavam, as memórias trazendo uma dor quase insuportável. A chuva caía mais intensamente, quase como se o céu compartilhasse de sua tristeza, enquanto ele permanecia ali, sozinho com suas memórias e seu tormento, tentando encontrar um sentido ou uma resolução em meio à tempestade interna e externa que o cercava.

— Eu fiz o que pude. — Sussurrou para a noite, seu coração pesado carregando consigo todo o peso das lembranças.

descriptionA NÉVOA RUBRA E OS MISTÉRIOS DA VILA DA CHUVA  EmptyRe: A NÉVOA RUBRA E OS MISTÉRIOS DA VILA DA CHUVA

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CAPÍTULO 10: JARDIM DE MÁSCARAS

Em um fechado dojo, duas figuras esguias e masculinas se enfrentavam, suas katanas cintilando à luz suave que penetrava pelas janelas de papel de arroz. O som metálico das espadas cortando o ar e se encontrando ressoava pelo ambiente, ecoando nas paredes. Os movimentos eram precisos, quase coreografados, demonstrando a habilidade e a experiência de ambos os espadachins.

Um era um homem mais velho, de meia-idade, tinha cabelos grisalhos e dessarrumados que contrastavam com sua barba bem desenhada. Ele se movia com a tranquilidade e a confiança de alguém que já tinha visto muitas batalhas, seus olhos observando atentamente cada movimento do adversário. Usava um hakama de cor clara, que fluía com cada movimento, dando-lhe uma aparência quase etérea.

Seu adversário era um jovem de cabelos longos e pretos, amarrados em um rabo de cavalo baixo e frouxo. Uma franja caía sobre seu rosto, escondendo parcialmente uma cicatriz horizontal que atravessava seus olhos, sugerindo que ele havia perdido a visão. Apesar disso, seus movimentos eram precisos e graciosos, como se a falta de visão tivesse aguçado seus outros sentidos. Ele também vestia um hakama claro, que contrastava com o vermelho escuro da cicatriz.

— Parece que Amegakure está se tornando um ponto de interesse, não é? — Disse o mais velho, ajustando a posição de sua katana e bloqueando um golpe com facilidade desviando-o para a esquerda. — Uzumaki Karin e Hōzuki Suigetsu não apareceriam aqui sem um bom motivo.

— Concordo. — Respondeu o jovem, girando graciosamente para evitar um corte e contra-atacando com um movimento rápido e fluido. — Isso sugere que as ações da vila estão chamando a atenção de figuras poderosas. Uchiha Sasuke ou talvez Orochimaru.

— Não estamos aptos a enfrentar alguém desse calibre ainda, mas essa não é a nossa responsabilidade, afinal. — Comentou o homem grisalho, respirando tranquilamente enquanto observava seu adversário.

O jovem riu suavemente, uma risada sem alegria.

— Verdade. — Disse ele, avançando com uma série de golpes rápidos e precisos que o homem mais velho bloqueou com uma habilidade aparentemente sem esforço. — Mas confesso que estou curioso sobre o demônio do Clã Hōzuki. Dizem que ele domina todas as sete espadas da névoa oculta. Seria interessante testar minhas habilidades contra ele.

O homem mais velho sorriu, desviando de um golpe e contra-atacando com um movimento rápido que fez o jovem recuar.

— Sempre em busca de um desafio, hein? — Perguntou, sua voz carregada de animação e um leve tom de preocupação. — Mas devemos ser cautelosos. Esses inimigos são diferentes de tudo que já enfrentamos.

Ambos se afastaram, mantendo as espadas baixas, mas prontas, respirando levemente. O ambiente voltou a ficar silencioso, exceto pelo som distante da chuva batendo no telhado do dojo.

— Eu sei. — Disse ele, sua voz agora mais sombria.

Eles voltaram à posição inicial, prontos para continuar seu treino, sabendo que cada movimento os aproximava mais da perfeição.

........

Karin, disfarçada como um jovem rapaz trabalhando de garçom, manobrava pela casa noturna vasta e barulhenta. A música era um estrondo contínuo, reverberando nas paredes e no chão, enquanto luzes piscavam em um frenesi de cores. O cheiro era uma mistura enjoativa de álcool, suor e substâncias ilícitas, perfumada por aromas intensos de perfume barato. Ao voltar para reabastecer a bandeja, ela foi ordenada a servir drinks para a turma de um homem chamado “Pequenino” na área VIP, localizada atrás das cortinas gigantes que serviam como divisória.

Enquanto caminhava pela multidão, Karin relembrou o quanto Yume havia contribuído para ajudá-los a evitar os olhos da "Fantasma da Chuva". Conhecedora de diversas passagens antigas e secretas de Amegakure, Yume era uma memória viva de guerra. Esse conhecimento havia sido vital para eles.

Durante o trajeto, ela teve que se esquivar de pessoas dançando desordenadamente, bêbadas e drogadas, suas expressões vazias e olhos vidrados. A bandeja de coquetéis em suas mãos parecia um escudo frágil contra a decadência ao seu redor.

A área VIP, oculta por cortinas gigantes de tons pasteis justapostas, era um espaço amplo e luxuoso em contraste gritante com a área comum. Passando pelas cortinas, ela observou vários homens vestidos de terno e gravata, políticos e empresários de todos os tipos, se misturavam em um ambiente carregado de luxo. A música, ainda alta, tinha um tom mais sofisticado, mas igualmente penetrante.

Plataformas elevadas exibiam mulheres quase nuas ou completamente nuas, movendo-se de maneira provocante sob as luzes coloridas. Algumas delas estavam deitadas em almofadas de seda, outras se contorciam em barras de pole dance, todas sob os olhares lascivos de homens tarados e inescrupulosos. As mulheres estavam sob influência de capacetes que Karin reconheceu, semelhantes aos que ela havia visto acoplados às caçadoras. Isso indicava que essas mulheres não tinham mais controle sobre seus corpos, transformadas em meros objetos para satisfazer as obscenidades dos presentes.

A visão dos homens que realizavam atos carnais ao vivo, com gente observando por todos os lados, foi o que mais causou repulsa em Karin. Alguns brincavam de jogos envolvendo dinheiro, apostando quem conseguiria fazer as mulheres realizarem atos mais degradantes. Havia risos altos e comentários nojentos, enquanto mãos sujas passavam notas de dinheiro de uma para outra.

Karin quase vomitou ali mesmo, o estômago revirando de nojo. A cena era um pesadelo vivo, cada detalhe mais grotesco do que o anterior. As mulheres, sem consciência, sem escolhas, eram tratadas como bonecas sem vida.

Ela não pôde evitar pensar no quanto aquele ambiente a deixava incomodada, sentindo uma raiva crescente e um desejo ardente de destruir tudo aquilo. A indignação em seu coração era tão intensa quanto o cheiro sufocante de drogas e sexo no ar.

“Que lugar imundo.” Pensou, engolindo a bile que subia em sua garganta. “Como alguém pode fazer isso com outro ser humano?”

Com a bandeja de drinks firmemente nas mãos, e com uma pequena indicação de um colega de trabalho também servindo bebidas por ali, ela se aproximou do grupo do tal ‘Pequenino’, a raiva e o asco fervendo dentro dela. Ela sabia que tinha uma missão a cumprir, mas não conseguia evitar desejar um fim imediato para todos aqueles desgraçados que se deleitavam na miséria alheia.

Ao se aproximar do grupo ao redor do 'Pequenino', ela avistou uma figura familiar. Era Suigetsu, disfarçado, que lhe entregou um olhar compreensivo, quase como um pedido de desculpas pela cena horrível que ela havia presenciado. Aquilo trouxe um mínimo de conforto a Karin, mas o sentimento de nojo e raiva ainda fervia dentro dela.

O 'Pequenino', ironicamente, era um homem grande, alto e gordo. Sua aparência era perturbadora; ele não possuía íris ou pupilas, mas sim uma esclera completamente enegrecida, dando-lhe um olhar quase demoníaco. Ele estava cercado por duas mulheres, ambas evidentemente sob a influência dos capacetes de controle.

Ela observou com um misto de repulsa e raiva quando aquele homem grotesco puxou o rosto de uma das mulheres para si, beijando-a de forma despudorada e vulgar, sua língua invadindo a boca dela. A mulher não tinha expressão, o que tornava a cena ainda mais grotesca. A visão fez com que Karin se arrepiasse de nojo, o asco era palpável.

Ela sentiu o gosto amargo da bile subir em sua garganta novamente, mas se forçou a manter a calma e a compostura. Sabia que qualquer reação emocional forte poderia comprometer seu disfarce.

“Força, Karin, força.” Pensou ela, enquanto colocava a bandeja de drinks na mesa diante dele e seus acompanhantes.

Enquanto ela servia os drinks, ouviu fragmentos de conversa entre os homens ao redor. Eles falavam de negócios escusos, transações ilegais e planos futuros que envolviam grandes somas de dinheiro e poder.

“Eles estão todos mergulhados até o pescoço na podridão.” Pensou ela, cada vez mais determinada a fazer algo para acabar com aquela barbaridade, enquanto dava um passo para trás, tentando não demonstrar a tempestade de emoções que fervilhava dentro dela. Ela precisava ser paciente, precisava ser esperta.

Antes que Karin pudesse fazer qualquer outro movimento, o tal Pequenino voltou sua atenção para ela, sua voz cortante e carregada de sarcasmo.

— Jovem, por que não se junta a nós? — Sugeriu ele, com um sorriso que mais parecia um esgar. Os homens ao redor da mesa trocaram olhares confusos, suas expressões oscilando entre a surpresa e a perplexidade.

Karin respondeu com a voz firme, mas educada:

— Agradeço, senhor, mas prefiro continuar com meu trabalho.

O sorriso dele se alargou, revelando dentes amarelados e desalinhados. Seus olhos escuros e sem vida, fitando-a intensamente.

— Interessante. — Murmurou ele. — Sempre pensei que vocês dois estivessem aqui por minha causa, afinal, não é todo dia que recebemos visitas tão... especiais, como ninjas subordinados ao Uchiha Sasuke.

O ambiente congelou. Karin e Suigetsu trocaram olhares rápidos, seus corpos instantaneamente tensos. Os outros homens ao redor da mesa olharam entre o homem grotesco a sua frente e o jovem garçom, o choque estampado em seus rostos.

Usuzumi Soga, líder da casa Jorōgumo, mais conhecido como Pequenino, riu suavemente, o som reverberando pelo espaço como um trovão abafado.

— Vocês realmente achavam que poderiam me enganar? — Continuou ele, sua voz agora baixa e ameaçadora. — Sou o mestre das mentiras e enganações. Nenhuma farsa, por mais elaborada, consegue escapar aos meus olhos.

Karin sentiu um frio na espinha. A atmosfera ao redor da mesa ficou densa, quase sufocante. Usuzumi Soga era um homem enigmático, conhecido por sua paciência e meticulosidade. Ele não apenas via através das mentiras; ele as manipulava, transformando qualquer situação a seu favor com uma precisão assustadora.

— Fico curioso para saber o que exatamente vocês esperavam conseguir aqui. — Disse ele, inclinando-se para frente. — Pensaram que poderiam entrar em meu território, disfarçados como dois ratos, e sair ilesos?

Suigetsu, mantendo a calma, respondeu:

— Parece que subestimamos sua capacidade. Isso é algo que não acontecerá novamente.

Soga sorriu novamente, dessa vez com uma expressão de pura satisfação.

— Vocês subestimaram muitas coisas, parece. — Respondeu ele, sua voz agora mais tranquila. — Mas vou dar a vocês o crédito por sua audácia. Poucos ousariam tentar o que vocês fizeram. E agora, a verdadeira diversão começa.

Os homens ao redor da mesa estavam paralisados, seus rostos uma mistura de medo e confusão. Soga levantou-se lentamente, seu enorme corpo se movendo com uma graça surpreendente para alguém de seu tamanho.

— Eu prometo que esta será uma noite inesquecível. — Disse ele, cada palavra um veneno gotejando de seus lábios.

........

No centro do campo de testes, um espaço amplo e tecnológico, repleto de equipamentos avançados e estruturas metálicas. O chão estava marcado com linhas brilhantes, delineando áreas de combate. O som de maquinário e sistemas de energia ecoava pelo espaço, criando uma atmosfera de tensão e expectativa.

Saki e Kaho observavam da plataforma de comando, seus olhos fixos em Yun, que estava prestes a enfrentar seis oponentes equipados com trajes robóticos. As armaduras brilhavam com um azul metálico, exibindo um design futurista e ameaçador. Cada traje era equipado com armas integradas e capacidades de defesa avançadas, tornando-os formidáveis adversários.

Com um sinal de Kaho, a luta começou.

Os seis oponentes avançaram em formação, suas armaduras emitindo um zumbido baixo. Yun se moveu com rapidez, desviando dos primeiros ataques. Um dos robôs tentou acertar um soco, mas ele girou no último segundo, esquivando-se e contra-atacando com um chute rápido que acertou a junta do joelho do robô, causando uma faísca de energia.

Ele com mais um ataque rápido, lançou suas descargas elétricas sob o primeiro oponente. Surpreendendo-se, quando a eletricidade parecia ser absorvida pela armadura, sem causar dano algum. — Droga! — Murmurou Yun, percebendo que suas descargas elétricas não funcionariam como esperado.

— Essas armaduras são feitas com uma camada de malha metálica com polímeros condutores e um exoesqueleto incorporado para gerar um escudo eletromagnético poderoso. — Comentou Kaho, sua voz calma ecoando pelo campo de testes. — Você vai precisar de outra abordagem, Yun.

Outro robô tentou acertar Yun com uma lâmina embutida no braço. Ele evita com um salto para trás, evitando o corte, e em seguida lançou um raio de eletricidade a partir de suas mãos, que percorreu o ar e atingiu o robô no peito, não causando qualquer dano, novamente.

Os outros quatro robôs se aproximaram em um ataque coordenado. Yun se agachou e rolou para o lado, evitando uma rajada de projéteis que passaram zumbindo acima de sua cabeça.

Ele franziu a testa, adaptando rapidamente sua estratégia. Ele se moveu com agilidade, desviando dos golpes pesados dos oponentes robóticos, enquanto sua longa trança dançava no ar de forma sinuosa em conformidade aos seus movimentos. Cada movimento era calculado, sua mente trabalhando a mil por hora para encontrar uma forma de vencer.

Um dos oponentes avançou, balançando um braço mecânico em um arco largo. Yun abaixou-se, sentindo o vento passar por cima de sua cabeça, e contra-atacou com um soco poderoso, usando a força física em vez da elétrica. O impacto foi forte, mas a armadura absorveu a maior parte do golpe.

Yun decidiu mudar de tática. Ele começou a criar pequenos campos eletromagnéticos, manipulando as cargas ao seu favor. Um dos robôs tentou atacar, mas Yun usou um campo eletromagnético para desviar o golpe, redirecionando a força contra outro oponente.

Outros dois robôs tentaram flanqueá-lo, atacando de ambos os lados. Yun saltou no ar, executando um giro acrobático que lhe permitiu evitar ambos os ataques, enquanto expandia seu campo eletromagnético. As armaduras começaram a falhar, as partes mecânicas lutando contra o campo criado por Yun.

Aterrissando graciosamente, ele continuou a manipular as forças ao seu redor, criando um caos controlado no campo de batalha. Os oponentes começaram a tropeçar e a se mover desajeitadamente, suas armaduras trabalhando contra eles. Yun aproveitou a confusão, desferindo golpes precisos nos pontos fracos das armaduras. Ele acertou as juntas e os conectores, causando danos internos que começaram a desmontar os trajes de dentro para fora.

Saki assistia, animada com a performance de Yun. — Isso que é entretenimento! — Ela gritou para Yun, entusiasmada. Kaho, embora mais reservada, também parecia animada ao assistir.

Yun derrubou o penúltimo oponente com um chute alto, quebrando o visor do capacete e fazendo a armadura cair no chão com um estrondo metálico. O último oponente, percebendo a derrota iminente, tentou um ataque desesperado. Yun, vendo uma abertura, canalizou toda a sua energia em um campo eletromagnético que começou a comprimir a armadura em torno do usuário, causando um grito final de dor e desespero.

O campo de testes estava silencioso, exceto pelo som dos trajes robóticos danificados. Yun respirava pesadamente, mas havia um sorriso divertido em seu rosto.

— Você fez um ótimo trabalho. — Disse Kaho. — Certamente, o desempenho dos trajes é uma coisa para olhar com os olhos alargados, no entanto, não se compara a força combativa de nenhum de nós.

Depois da eletrizante batalha contra os seis oponentes robóticos, Sōya surge repentinamente na área de teste. Com um sorriso desafiador no rosto, ele se aproximou de Yun, tirando a camisa e jogando-a de lado, revelando seus músculos bem definidos.

— Então, Yun... — Disse Sōya, esticando os braços e se aquecendo. — Quer tentar enfrentar um desafio de verdade?

Saki vibrou, a animação evidente em seus olhos. — Isso vai ser épico! Vamos lá, Yun, mostre do que é capaz!

Yun estreitou os olhos, avaliando a proposta. Ele sabia que o seu líder era uma montanha de músculos e habilidades, mas a provocação acendeu um fogo competitivo amalgamado a raiva e ressentimento por algo que não estava claro.

— Você está pedindo por isso. —  Respondeu Yun, sua cara fechada.

Yun e Sōya estavam no centro da área de teste com sangue e partes robóticas espalhadas por todos os lados, espaço iluminado por luzes fluorescentes, criando um ambiente austero e focado. Saki e Kaho observavam atentamente, cada uma reagindo de forma diferente à luta intensa que se desenrolaria à sua frente. Uma observando a luta com divertimento, gritava animada e saltitante, incentivando os lutadores. A outra permanecia em silêncio, seus olhos analisando cada movimento com uma calma imperturbável.

Os dois se encararam por um momento, o campo de teste imerso em uma tensão palpável. Sem aviso, Sōya avançou com um golpe direto. Yun esquivou-se para o lado, aproveitando a velocidade para desferir um soco rápido no flanco do maior. O impacto foi sólido, mas Sōya parecia quase não sentir.

O maior revidou com uma série de golpes pesados, seus movimentos rápidos e precisos. Yun desviava e bloqueava o melhor que podia, mas cada golpe de Sōya era como uma marreta, fazendo seus braços tremerem com a força. Sōya tentou um chute alto, mas Yun se abaixou, respondendo com um gancho de esquerda que atingiu o queixo do gigante a sua frente.

— Não tão mal. — Sōya comentou com um sorriso, antes de agarrar Yun pelo ombro e arremessá-lo no chão com um movimento rápido.

O menor rolou e se levantou rapidamente, já lançando uma série de chutes em direção ao maior. Seus movimentos eram rápidos e precisos, focando nos pontos fracos que ele conhecia. Sōya bloqueava a maioria dos golpes, mas Yun conseguiu acertar um chute lateral da sua costela, arrancando um gemido de dor.

Os chutes de Yun eram seguidos por uma sequência de socos rápidos, seus punhos se movendo como borrões. Sōya absorveu um dos socos no peito, recuando ligeiramente, mas mantendo o equilíbrio. Ele sentiu a força desmedida nos golpes de Yun, que parecia estar lutando com uma seriedade e intensidade incomum.

Sōya notou que ele estava respirando forte, faíscas de eletricidade escapando de seus lábios. Ele se perguntou o que poderia estar deixando o pequeno tão irritado, mas antes que pudesse formular uma resposta, o próprio verbalizou sua frustração. — Eu consigo ouvir o que você está pensando! E eu não estou irritado! — Gritou Yun claramente irritado, seu rosto ficando ainda mais vermelho de raiva.

Os golpes dele tornaram-se mais frenéticos, cada soco e chute carregado com uma força quase selvagem. Sōya começou a recuar, usando sua agilidade para evitar os ataques.

— Por que você está agindo assim? Qual o problema? — Perguntou, tentando alcançar Yun emocionalmente enquanto desviava dos golpes.

Ele não respondeu com palavras, mas sua expressão traía seu ciúme e frustração. Finalmente, Sōya viu uma abertura. Ele se moveu rapidamente, agarrando o braço de Yun e puxando-o para si. Com um movimento fluido, travou o corpo do menor contra o seu, obrigando-o a olhar diretamente em seus olhos.

— Ei, o que está acontecendo com você? Você tem estado diferente ultimamente, tem se afastado e me tratado com antipatia. — Perguntou, sua voz cheia de preocupação. Ele percebeu que os olhos de Yun estavam lacrimejando, o garoto tentando baixar a cabeça para esconder suas emoções. O pequeno tentava usar toda a sua força para se desvencilhar do agarre, soltando um grito de frustração.

— Deixe-me ir! — Gritou, tentando esconder o rosto.

Ele se libertou com um movimento brusco, acertando uma joelhada nas costelas de Sōya. No mesmo instante, uma descarga elétrica percorreu o corpo do maior a partir do joelho de Yun, deixando-o momentaneamente paralisado pela dor. Logo em seguida, Yun se afastou rapidamente, pisando fundo, saindo da área de teste sem dizer uma palavra.

Sōya tentava se manter em pé após o golpe. Saki observava com uma expressão confusa, sem entender a razão do que aconteceu ali. Kaho, por outro lado, permaneceu impassível, seus olhos tranquilos revelando que ela compreendia mais do que deixava transparecer.

Saki, que assistia a tudo com uma expressão confusa, comentou: — O que deu nele? Nunca vi o Yun tão irritado assim.

Sōya, ainda ofegante, olhou para Kaho e Saki, a procura de respostas. Kaho observou Sōya com olhos calmos. — Seja paciente com ele, Sōya. Às vezes, as pessoas precisam de tempo para enfrentar seus próprios demônios.

........

Longe dali, em uma sala de controle repleta de monitores, a Fantasma da Chuva observava calmamente o embate entre Sōya e Yun através das câmeras. Ela se mantinha serena, sua expressão impassível. A sala estava em penumbra, iluminada apenas pelo brilho das telas que exibiam as imagens em alta definição. Sentada em uma cadeira giratória, seus olhos passavam de uma tela para outra, absorvendo cada detalhe.

Ela analisava cada movimento de Yun, notando a intensidade emocional que transparecia em seus golpes. Ele estava cada vez mais dominado por suas emoções em relação a Sōya, e isso poderia se tornar um problema para ela no futuro.

— Você está se tornando um problema, Yun. — Murmurou ela para si mesma.

Yurei sabia que Sōya estava completamente preso a ela, não apenas pelo sentimento de lealdade e admiração, mas também pela paixão ardente que ele desenvolveu por ela. E a lealdade de Sōya para com ela era uma âncora que impedia Yun de agir contra seus interesses, por enquanto. Ela sabia manipular essa dinâmica a seu favor, mantendo Yun sob controle através da influência que exercia sobre Sōya.

Recostou-se na cadeira, seus olhos ainda observando as telas. Seu sorriso se ampliou ligeiramente, um brilho de satisfação dançando em seus olhos. Yurei era sagaz, sorrateira e profundamente manipuladora. Ela entendia as complexidades das emoções humanas e sabia exatamente como utilizá-las a seu favor.

— Ele nunca será capaz de abandonar Sōya. — Continuou Yurei, observando as faíscas de raiva nos olhos do Yun através das telas. E apesar de sua confiança em manter controle sobre a situação, ela sabia que as emoções podiam ser uma faca de dois gumes. — Mas vai chegar o momento em que ele vai buscar formas de tentar livrar ambos desta situação.

Ela sabia que precisaria ser cuidadosa, mas sentia-se confiante de que poderia manejar qualquer situação que surgisse.  

— Por enquanto, ainda consigo mantê-lo sob rédeas. — Murmurou para si mesma, sua voz suave e calculada, seus olhos fixos na tela que mostrava o jovem lutador com poderes elétricos saindo do campo de treino. — Mas continue lutando, meu pequeno. Eu estarei aqui, lhe esperando quando for a hora. — Sussurrou ela uma última vez para a tela, com um tom de voz quase carinhoso, gentil.

........

Soga, acompanhado por vários seguranças armados, conduzia Karin e Suigetsu agora em suas formas verdadeiras por um corredor iluminado por uma luz de cor vermelha intensa, criando uma atmosfera opressiva e inquietante. A tensão era palpável, e Karin não podia deixar de sentir um arrepio subir pela espinha.

Eles finalmente chegaram a uma área luxuosa de dois andares, com um imenso jardim de inverno ao centro, dominado por uma árvore gigantesca que se projetava para fora do prédio. O ambiente era uma combinação bizarra de beleza natural e decadência humana. Ao redor do jardim, grandes jaulas estavam espalhadas por toda o andar, onde homens e mulheres lutavam ferozmente. As lutas eram observadas por homens, mais dos políticos e empresários de outrora, que bebiam, sorriam, apostavam e se entregavam a uma euforia descontrolada.

Karin, observando tudo aquilo, relembra seu disfarce como Hanao. Não podia deixar de recordar as inúmeras pessoas que se submetiam àquele tratamento degradante em busca de alguns trocados. Muitos eram pais ou mães desesperados, arriscando suas vidas para conseguir algo para alimentar seus filhos. A maioria, no entanto, não tinha a sorte de sobreviver aos combates para receber sua comissão.

Soga, com seu olhar calculista, liderava o grupo enquanto subiam uma escada que os levava ao segundo andar, uma área ampla e predominantemente escura. O silêncio era quebrado apenas pelo som abafado das lutas e das apostas que ocorriam lá embaixo.

Ao chegarem, os três se sentaram em um longo assento concavo, estrategicamente posicionado para proporcionar uma visão de cima do jardim de inverno ao centro. Karin e Suigetsu mantinham a calma exterior, mas seus sentidos estavam em alerta máximo, prontos para qualquer coisa que pudesse acontecer.

Soga, observava-os com um olhar enigmático, sua esclera enegrecida refletindo a luz ambiente de forma perturbadora.

— Espero que estejam confortáveis. — Disse Soga, com um sorriso que não alcançava seus olhos. — Este é um lugar especial. Lá embaixo, vemos do que as pessoas são capazes quando levadas ao limite.

Karin manteve a postura, ocultando seu desconforto e nojo com que via. Suigetsu, ao seu lado, permanecia igualmente atento, seus olhos escaneando o ambiente, absorvendo cada detalhe.

— Vocês devem estar se perguntando por que os trouxe aqui. — Continuou Soga, sua voz carregada de superioridade. — Bem... O que acham desse espetáculo? Vidas jogadas em um ciclo de violência por um pouco de dinheiro. Fascinante, não é?

— É uma visão... interessante. — Respondeu Suigetsu, cuidadosamente escolhendo suas palavras. — Mas não foi por isso que nos trouxe aqui.

Soga riu baixinho, um som que fez a pele de Karin arrepiar.

A tensão no ar era palpável. Usuzumi Soga, com seu sorriso enigmático e olhar predatório, parecia divertir-se com a situação. Karin e Suigetsu, por outro lado, estavam em alerta máximo, cientes de que estavam em um terreno perigoso. Sentados na escuridão do segundo andar, a iluminação fraca realçava os contornos das formas esquisitas de fontes de chakra que apenas Karin podia perceber.

Soga quebrou o silêncio com uma voz suave, mas cheia de malícia.

— Vejo que vocês estão desconfortáveis, mas não precisam se preocupar. — Disse ele, seus olhos negros fixos nos dois. — A violência aqui é só para entretenimento. Vocês, por outro lado, são meus convidados de honra.

— Se esse é o seu jeito de nos fazer sentir bem-vindos, diria que falhou miseravelmente. — Disse Suigetsu, mantendo a voz firme.

Soga riu suavemente, um som frio e calculista sibilando de seus lábios.

— Eu confesso, Hōzuki Suigetsu, que estava ansioso para conhecê-lo. As histórias sobre suas habilidades com as espadas são fascinantes. — Ele olhou para Karin. — E você, Uzumaki Karin, uma presença inesperada, mas não menos intrigante.

Karin, tentando manter a compostura, respondeu com firmeza.

— E o que exatamente deseja de nós? Certamente não nos trouxe aqui apenas para sermos espectadores desse... espetáculo nojento assistido por um bando de vermes iguais a você.

Ele, inclinando-se para a frente, responde:

— Ah... Minha doce Uzumaki, você vai direto ao ponto. Gosto disso. A verdade é que vocês despertaram minha curiosidade. Dois dos mais notórios membros da equipe de Uchiha Sasuke, infiltrados em Amegakure. Deve haver um motivo para isso, e estou ansioso para descobri-lo. — Arqueando uma sobrancelha, continuou. — Certamente, não é apenas para uma visita social.

—  Talvez Amegakure tenha uma beleza exótica e sombria que nos atraiu. — Disse Suigetsu, o sarcasmo evidente.

Soga com um sorriso amplo no rosto, devolve:

— Ah, claro, turismo. Quem poderia resistir a uma vila tão... acolhedora quanto a nossa? Mas sejamos honestos, sei que vocês estão aqui por razões mais... substanciais.

— Não estamos aqui para causar problemas. — Disse Karin, franca. — Mas sabemos que Amegakure esconde uma gigantesca trama sob a chuva que dá seu nome. Tudo o que buscamos é evitar que Amegakure se torne um problema para o mundo futuramente e seja completamente suprimida por isso.

— Problemas são inevitáveis, pequena. A questão é quem controla a narrativa. Vocês dois, por exemplo, são uma parte intrigante da minha. — Seus olhos negros fixaram-se nos de Suigetsu. — E creio que saibam muito bem que qualquer ação precipitada aqui atrairia a atenção indesejada de certas... celebridades.

A Uzumaki sentiu um calafrio ao ouvir a implicação. Ela sabia que ele estava falando de Sasuke.

Suigetsu estreitou os olhos, tentando ler as intenções de Soga.

— Então, o que sugere? Estamos aqui em busca de Kyōkō, a guardiã da ‘Chave do Deus Morto’, escondido sob Amegakure. Sabemos que você pode nos levar até lá.

Soga sorriu enigmaticamente, seus olhos brilhando com astúcia.

— Ah, o grande segredo de Amegakure. Um segredo guardado pela casa Hanzaki. Vocês são mais ousados do que eu imaginava. — Ele fez uma pausa, observando as reações de Karin e Suigetsu. — Mas talvez, apenas talvez, eu possa ser persuadido a levá-los até lá.

Ela sentiu um frio na espinha, sabendo que ele estava tramando algo.

— E o que seria necessário para nos levar até lá? — Perguntou ela, mantendo a voz firme.

Soga olhou para os dois com um sorriso enigmático.

— Acredito que podemos chegar a um entendimento. Afinal, não posso simplesmente descartá-los. Me beneficiaria mais mantê-los vivos e ter a possibilidade de construir uma relação amigável com ninjas como Orochimaru ou Uchiha Sasuke.

Suigetsu e Karin trocaram olhares, entendendo que não tinham outra escolha. Eles assentiram, cientes do perigo que os aguardava.

— Muito bem. Temos um acordo — Disse Suigetsu, com firmeza.

O homem corpulento se levantou, ainda com aquele sorriso perturbador. Observava a dupla com um sorriso enigmático, enquanto a tensão no ar se tornava quase sufocante. Ele sabia que tinha o controle total da situação e planejava cada movimento com precisão meticulosa.

— Bem, meus caros, voltaremos a nos falar em breve. —  Disse ele, sua voz suave e cheia de malícia. —  Mas não posso simplesmente deixar que partam sem levantar suspeitas sobre mim, não é mesmo?

O segundo andar iluminou-se repentinamente, luzes fortes revelando uma visão aterradora: dezenas, talvez centenas, de mulheres em formas grotescas, mesclando carne e máquina, moldadas em design de animais. Algumas tinham asas metálicas, outras garras afiadas como lâminas, todas com olhos cobertos por capacetes, com pequenos fios elétricos visíveis pulsando de energia, indicando a ausência de vontade ou consciência própria.  

Usuzumi Soga, com um sorriso satisfeito, começou a se afastar, desaparecendo entre as criações de sua casa: as caçadoras. Mortíferas formas de vida, meio-homem e meio-máquina.

— Estamos sozinhos agora. — Murmurou Karin, seus olhos vermelhos brilhando com determinação.

Suigetsu assentiu, sua expressão séria.

A Uzumaki mal teve tempo de reagir quando uma mulher com asas metálicas de libélula apareceu em seu campo de visão, desferindo um golpe nas costelas de Karin com suas garras. Concentrando chakra na região, ela conseguiu mitigar o dano, mas ainda foi arremessada contra o peitoril de vidro e lançada com violência contra a grande árvore ao centro, caindo, por fim, no primeiro andar.

— Karin! — Gritou Suigetsu, a preocupação evidente em sua voz.

Mas ele não teve tempo de reagir, pois uma mulher cuja parte inferior simulava uma lacraia gigante atacou-o com velocidade e violência. O solo onde suas inúmeras patas pisavam era destruído com violência, criando um som ensurdecedor ao tocar as superfícies. E a parte superior da caçadora segurava um enorme venábulo que brilhava em um tom sinistro, que ela tentava acertar em Suigetsu, enquanto se movia de forma rápida e serpenteante pelo chão, paredes e teto.

Ele saltou para trás, evitando os ataques da caçadora, que cravou sua arma no chão, destruindo o solo e levantando uma nuvem de detritos. Com um movimento fluido, ele se desfez em uma poça líquida, desviando das pinças da caçadora lacraia que esmagaram o solo onde ele estava segundos antes. Reaparecendo em forma humana atrás dela, aproveitou a oportunidade para lançar um ataque rápido, cortando algumas das patas da caçadora com um ataque cortante a base de água.

A caçadora reagiu com rapidez, balançando sua arma em um arco largo. Ele, agora alerta, se desfez novamente em água, deixando a lâmina passar através dele sem causar danos.

Nesse momento, outras se aproveitaram da distração e atacaram simultaneamente. Ele contra-atacou com um poderoso golpe de água saído do seu corpo na forma de uma lâmina circula horizontal, cortando várias delas ao mesmo tempo.

Mesmo assim, mais delas continuaram a investir, cada uma mais mortal que a outra. Suigetsu, lutava com uma ferocidade desesperada. Ele se desfez em água repetidas vezes, desviando de golpes, absorvendo ataques e reformando-se para contra-atacar com precisão letal.

No andar inferior, o caos reinava. Homens desorientados gritavam tentando fugir, corpos dilacerados estavam espalhados e móveis destruídos. Karin já recuperada do golpe e da queda do segundo andar, desviava dos dardos gigantes de uma caçadora, que possuía um apêndice metálico ligado à coluna por onde lançava esses dardos. Ao mesmo tempo, a ruiva se distanciava das investidas rápidas de uma mulher cujas pernas metálicas pareciam as de um gafanhoto, com espinhos de metal projetando-se por toda a sua pele. Homens desesperados eram atingidos violentamente, enquanto ela, às vezes, era forçada a correr através da multidão desorientada.

De repente, a gafanhoto se lançou em sua direção com uma velocidade quase cegante. Karin mal teve tempo de reagir antes de ser atingida por um chute poderoso que a jogou contra uma parede. Ela se levantou rapidamente, ofegante, enquanto sua adversária se preparava para outro ataque. Com um impulso surpreendente, a caçadora pulou, suas pernas metálicas brilhando à luz fraca do ambiente. A ruiva se abaixou, rolando para o lado, sentindo o impacto do chute que destruiu o chão onde ela estava momentos antes.

Suas habilidades sensoriais estavam em alerta máximo, captando cada movimento ao seu redor. Ela não tinha tempo para pensar, apenas reagir.

Novamente no andar de cima, Suigetsu, agora grudado à parede, fluindo chakra pelos seus pés, encontrou uma brecha para pegar um pergaminho. Ele abriu-o e invocou a ‘Espada-Relâmpago, Kiba’. Ele expõe a longa katana com lâmina negra que tinha a frase “夜の静寂を引き裂く雷の音” (O som do trovão rasga o silêncio da noite) gravada em ambos os lados da lâmina. Usando a espada para pegar impulso, Suigetsu lançou-se contra a mulher com asas de libélula, dividindo-a do ombro até a cintura. Ele começou a desferir golpes poderosos e violentos contra várias outras caçadoras que reinvestiram contra ele, retalhando-as com imenso poder.

Uma mulher com cauda metálica de escorpião disparou uma saraivada de jatos de ácido que se espalhavam como pétalas no ar. Suigetsu desviou do ataque, aproximou-se e perfurou a cabeça dela, liberando uma poderosa explosão de relâmpago que destruiu a parte superior da caçadora e atingiu outras atrás dela.

Enquanto lutava, Suigetsu refletiu sobre a lendária Kiba, uma espada forjada em tempos imemoriais sob o céu de uma das ilhas do País da Água, recoberta por uma eterna tempestade de relâmpagos. Ele comentou em voz baixa que os mais antigos diziam que o ferreiro responsável pela criação desta arma selou mil anos da poderosa tempestade na lâmina, ao custo de um grande sacrifício para as gerações futuras de sua família. Cada descendente não conseguia viver além dos 28 anos, acometidos por uma doença genética que marcava a pele com marcas de raios antes de levá-los à morte.

“Ele renunciou a um futuro longo e próspero para seus descendentes para concluir o Fūinjutsu que tornaria a espada Kiba, a lâmina ofensivamente mais poderosa entre as ‘Sete Espadas da Névoa’.” Pensou.

Enquanto golpeava algumas outras caçadoras, a espada de Suigetsu liberava grandes fluxos de relâmpago que danificavam ou destruíam vários inimigos nos arredores simultaneamente. A cada movimento, os relâmpagos da espada criavam uma dança de destruição, retalhando e eletrificando os inimigos.

A mulher com chassi de lacraia atacou novamente, suas patas metálicas esmagando o solo e criando fissuras no chão. Ele, percebendo a aproximação, se lançou em um movimento rápido, transformando-se em água para evitar seu ataque inicial e desferir uma série de golpes ao longo do seu corpo, a lâmina carregada de energia cortando através da caçadora lacraia com uma força devastadora. O impacto foi tão poderoso que a caçadora foi partida em inúmeros pedaços, suas partes metálicas e orgânicas se separando em uma explosão de faíscas e fluidos.

Mas não havia tempo para comemorar. Ele foi pego desprevenido quando atingiu uma caçadora com braços e pernas robóticos, que escondia um "Às" na manga. O sangue esverdeado da criatura caiu sobre ele, gerando uma reação volátil ao entrar em contato com a água que compunha seu corpo. A fumaça resultante atordoou-o temporariamente pelo mau cheiro e pela irritação provocada em seus olhos.

Essa brecha permitiu que outra caçadora, com o corpo quase completamente robótico do pescoço para baixo, se aproximasse rapidamente. Com movimentos calculados, ela gerou uma reação explosiva gigante a partir dos seus braços. O impacto foi devastador, fazendo o segundo andar começar a desmoronar.

No andar de baixo, Karin estava em constante movimento, usando seus fios com precisão para se defender e atacar. Ela puxou uma cadeira com um fio de aço, posicionando-a como um escudo bem a tempo de bloquear um dardo que vinha em direção à sua cabeça. O impacto do dardo na cadeira ecoou pelo ambiente caótico.

Mas ela mal teve tempo de respirar quando detectou outra caçadora se aproximando por detrás. Essa caçadora possuía asas robóticas de vespa e lâminas afiadas projetando-se de seus pulsos como ferrões. Com um movimento ágil, ela desviou do ataque, girando no ar e envolvendo um fio de aço ao redor do pescoço da caçadora, degolando-a com precisão letal.

Antes que o corpo caísse ao chão, outra inimiga já surgia. Esta tinha braços que se transformados em pinças metálicas e afiadas, semelhantes às de um louva-a-deus. Ela atacou com golpes cortantes e rápidos, forçando a Uzumaki a desviar com agilidade. Ao mesmo tempo, a outra caçadora com o apêndice metálico ainda estava lançando dardos venenosos na direção dela.

Ela mantinha-se em movimento constante pelo salão, usando suas habilidades sensoriais para antecipar os ataques. Ela desviava dos golpes cortantes de uma, enquanto evitava os dardos venenosos.

A gafanhoto reaparece. Com um salto impressionante, ela alcançou a ruiva no ar, desferindo um chute lateral. Karin se defendeu envolvendo seu corpo de chakra, mas a força do impacto a jogou contra outra parede. Ofegante, ela se levantou novamente, apenas para ser atacada pela louva-a-deus.

A ruiva esquivava, sentindo a tensão em seus músculos. Ela sabia que a batalha estava longe de acabar, mas, por um momento, ela perdeu a compostura ao sentir o chakra do seu companheiro apresentar uma oscilação incomum.

— Suigetsu! — Gritou Karin, a voz cheia de pânico e desespero, enquanto olhava para cima, vendo os destroços caindo e tentando localizar seu companheiro. Parte do segundo andar estava desmoronando.

Suigetsu, ainda atordoado, tentou se recompor. Ele usou o pouco de visão que ainda tinha para detectar os movimentos das caçadoras restantes. A explosão tinha causado um caos ainda maior, com destroços caindo em todas as direções, atingindo tanto caçadoras quanto pessoas aleatórias que participavam do evento. O ambiente luxuoso agora estava em ruínas.

“Droga... isso está ficando complicado.” Pensou, tentando recuperar o controle da situação.

A explosão de alta temperatura o havia prejudicado, deixando-o temporariamente enfraquecido. Ele se apoiou na Katana, ofegante, enquanto observava a mesma mulher que havia causado a explosão se aproximar pelos escombros. O cheiro intenso de uma reação química enchia o ar, provavelmente originado das substâncias pulverizadas pelos braços robóticos daquela mulher.

Com uma expressão de dor e determinação, Suigetsu começou a condensar uma grande quantidade de chakra na lâmina da espada. Ele sabia que precisava agir rápido. E desapareceu de vista em um instante, sumindo em uma poça de água abaixo dos seus pés.

Karin estava exausta, sentindo o peso da batalha em cada fibra de seu corpo. Ela estava cercada por inúmeras caçadoras, cada uma mais ameaçadora que a outra. Suas opções de fuga estavam esgotadas. O pânico ameaçava tomar conta, mas ela manteve a cabeça erguida, determinada a lutar até o último suspiro, a morrer com honra. Mas antes que qualquer uma das caçadoras pudesse reagir, Suigetsu reapareceu ao lado da ruiva, pressionando-a contra seu peito musculoso.

— Fique comigo! — Murmurou ele, a voz grave e segura, enquanto se preparava para o golpe final.

No mesmo instante, a Katana enegrecida começou a emanar um brilho azulado e intensamente. Liberou um ataque poderoso, canalizando todo o seu chakra na lâmina. O som ensurdecedor de um trovão ecoou pelo salão, enquanto um relâmpago gigantesco se formava na espada, transformando-se em uma lâmina colossal de pura energia.

A lâmina relampejante cortou o ar, atravessando o salão com uma força avassaladora. A gigantesca árvore ao centro foi cortada com facilidade, seu tronco estilhaçado pela energia elétrica. O relâmpago continuou seu caminho, deixando um rastro de descargas elétricas poderosas que se espalharam por toda a área, atingindo tudo e todos no caminho.

As caçadoras, incapazes de resistir à força devastadora do ataque, foram pulverizadas pelas descargas, seus corpos mesclados de carne e máquina reduzidos a cinzas. Músculos, ossos e componentes robóticos foram destruídos em uma explosão de luz e som. A árvore gigante começou a cair, destruindo o restante do segundo andar e abrindo um grande buraco no teto, revelando o céu chuvoso de Amegakure.

— “Grande Predadora: Deus do Trovão, Divisor de Céus” (大捕食者: 雷神天裂きの術, Dai Hoshokusha: Raijin Tensaki no Jutsu) — Sibilou Suigetsu ao final, ofegante.

Karin olhou para o céu através do buraco, sentindo a chuva fria cair sobre seu rosto. O cenário final era uma visão aterradora: corpos destroçados, escombros espalhados por toda parte e a árvore gigante caída, com relâmpagos ainda crepitando em seus galhos.

Suigetsu, ainda segurando sua companheira, olhou ao redor, avaliando os danos. O silêncio que se seguiu ao ataque era opressor, apenas interrompido pelo som da chuva, a respiração de ambos e dos pequenos estalos de eletricidade.

— Precisamos sair daqui, agora. — Disse ele, a voz firme, mas gentil.

Karin, ainda ofegante, assentiu. E juntos, começaram a se mover para fora daquele inferno.

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CAPÍTULO 11: ECOS DE SILÊNCIO


Uma torre em Amegakure, envolta em sombras e umidade, parecia a escolha natural para um refúgio de dor. Na penumbra da torre, a figura esguia de Yun estava encostado contra a parede, suas lágrimas escorrendo silenciosamente pelo rosto. Sōya se aproximou devagar, mantendo a voz baixa e suave.

— Eu chutei que te encontraria aqui.

Yun permaneceu em silêncio, a dor em seus olhos evidente, mesmo na escuridão. Sōya esperou, respeitando o espaço do amigo. Mas após um longo momento, o menor finalmente falou, sua voz tremendo.

— Sōya, o que você sente por Yurei? —  Ele perguntou, já sabendo a resposta, mas precisando ouvir da boca do amigo. A pergunta saiu quase como um sussurro, mas carregava um peso inegável. A ansiedade e o nervosismo estavam evidentes na postura de Yun, que apertava as mãos com força.

Sōya franziu a testa, estranhando a pergunta. Ele respondeu de forma enigmática, sua voz baixa e introspectiva.

— Eu a amo. A admiro mais que tudo e... morreria por ela.  

Yun virou-se lentamente, seus olhos vermelhos e úmidos começaram a derramar lágrimas silenciosas. As palavras de Sōya o cortaram profundamente. Ele tentou esconder sua expressão de dor e decepção, mas as emoções transbordaram.

— E você consegue realmente amá-la, sabendo de tudo o que ela fez e faz? De todo o mal que ela causa? — Perguntou, a voz trêmula.

Sōya sentiu-se desconfortável, hesitando em responder. Olhou para seu amigo, sua expressão endurecendo, ele sabia que estava sendo tocado em um ponto sensível.

— Não há como não a amar depois de tudo o que ela fez por mim e pelo meu irmão. Ela nos salvou. — A voz dele começou a ganhar um tom defensivo, suas palavras agora carregadas de uma convicção dura.

Yun não conseguiu mais conter seus sentimentos. As lágrimas deram lugar à raiva e o ressentimento, e ele gritou, sua voz ecoando pela torre incapaz de esconder seus sentimentos.

—  Ela não fez bem nenhum a você ou ao seu irmão! Ela está torturando seu irmão, e você também, por puro egoísmo de não querer vê-lo partir! —  Suas palavras carregadas de dor e frustração, embargando sua voz.

O maior deu um passo para trás, surpreso pela intensidade das palavras. O confronto abriu uma ferida que ele tentava ignorar. A verdade era dolorosa, mas ele se recusava a aceitá-la.

— Você não entende. Ela é a única que se importa. Ela é a única que tem um plano e a resposta para nos salvar.

O menor balançou a cabeça, sua voz agora cheia de desespero.

— Ela está nos destruindo. E você está cegamente seguindo-a, achando que isso é amor. Mas isso não é amor. É manipulação.

A tensão entre eles aumentou, a dor e a raiva de Yun colidindo com a lealdade e a negação de Sōya. Eles estavam em um impasse, a amizade e os sentimentos conflitantes ameaçando destruí-los por dentro.

Atingido pelas palavras do menor, como um soco no estomago, ele avançou para cima do seu grande amigo, ficando cara a cara com ele. Ele se recusava a considerar as palavras de Yun.

— O que você acabou de dizer? — Sōya perguntou, sua voz carregada de raiva e incredulidade.

Yun não reagiu, sua expressão se suavizou com ternura. Ele levou a mão ao rosto do maior, acariciando-o com delicadeza. Seus olhos, cheios de lágrimas, encontraram os do amigo.

— Eu... — Murmurou Yun, antes de depositar um beijo casto no canto dos lábios de Sōya.

As lágrimas de Yun continuaram a descer profusamente enquanto ele o olhava com uma expressão de amor e tristeza. A raiva de Sōya se desfez, substituída por um choque absoluto. Ele finalmente entendeu os verdadeiros sentimentos de seu amigo.

Yun recuou um passo, os ombros tremendo de emoção, as lágrimas descendo de forma ainda mais profusas.

— Eu... Eu sempre soube. Sempre senti cada vez que vocês estão juntos. — Ele lutou para encontrar as palavras. — Ver você com ela, sabendo do que ela é capaz, é uma tortura diária. Mas eu não podia te abandonar, porque... porque eu te amo.

A montanha de músculos ficou paralisada, sua mente girando com a revelação. Ele olhou para os olhos castanhos a sua frente, vendo a profundidade da dor e do amor nos olhos do amigo.

— Yun... — Começou Sōya, a voz trêmula. — Eu... eu não sabia que você sentia isso por mim.

O outro balançou a cabeça, tentando conter mais lágrimas.

— E agora você sabe. E isso muda tudo. Eu não posso continuar assistindo você se destruir por alguém que só quer te manipular e usar você. — Ele deu um passo para frente, a vulnerabilidade evidente em seus olhos. — Eu sei que você a ama. Eu sei. Mas, por favor, veja a verdade. Abra os olhos e veja o que ela está realmente fazendo. Veja o que ela realmente é. O que ela faz com você, com seu irmão.

O maior recuou, a confusão e o conflito interno claros em seu rosto. Ele não sabia como responder, o peso das revelações caindo sobre ele como um fardo insuportável. Sōya ficou em silêncio, seus pensamentos um turbilhão. Ele queria acreditar no amigo, mas o medo de perder tudo o que conhecia era paralisante. Ele precisava de tempo para processar, para entender a profundidade do que estava a ser dito. E enquanto as palavras de Yun ecoavam em sua mente, ele sabia que a verdade não poderia ser ignorada para sempre.

Mas ele sentia um turbilhão de emoções: amor por uma mulher que ele considerava sua salvadora, lealdade ao irmão, e agora uma nova e profunda compreensão do amor que seu melhor amigo sentia por ele. Ele olhou para o amigo, a confusão e a dor misturadas em seus olhos.

— Yun... eu...

Yun sorriu tristemente, enxugando as lágrimas.

— Eu só quero que você seja feliz. Mesmo que isso signifique sofrer em silêncio.

E ali, na escuridão da torre, Sōya e Yun ficaram em silêncio. Mas a tempestade que se aproximava era tanto interna quanto externa, e os dois amigos estavam prestes a enfrentar uma guerra que só eles conheciam.

........

O despertar foi um choque brutal. Abriu os olhos lentamente, a visão turva se ajustando gradualmente à luz difusa que preenchia o espaço ao seu redor. O frio intenso e a dor excruciante que dominava seu corpo o forçaram a consciência, arrancando-o do torpor. Estava suspenso dentro de um pilar cilíndrico de vidro, rodeado por um líquido viscoso que pressionava seu corpo por todos os lados, tornando difícil respirar.

Ao redor, dezenas de outros cilindros gigantes preenchiam a sala, cada um contendo uma criança inconsciente. Eles flutuavam inertes, conectados a fios e injetores que se enfiavam em suas costas. O garoto observou essa visão aterrorizante, seu coração batendo freneticamente. A visão dos tubos e das crianças adormecidas era uma cena saída de um pesadelo, um pesadelo do qual ele desesperadamente queria acordar.

Ele tentou mover os braços, mas nada aconteceu. Olhando para baixo, o horror tomou conta dele quando percebeu que seus membros não estavam mais lá. Em vez de braços e pernas, ele viu pequenas protuberâncias metálicas se projetando dos tocos onde seus membros deveriam estar. O pânico cresceu, uma onda de terror absoluto o dominou. Ele tentou gritar, mas nenhum som saiu de sua garganta. O vidro e o líquido abafavam qualquer tentativa de vocalização, tornando sua angústia ainda mais sufocante.

A dor era constante, uma tortura que não permitia trégua. Cada movimento que tentava fazer resultava em uma pontada de agonia que irradiava por todo o seu corpo. Ele sentia os fios e injetores perfurando sua pele, administrando substâncias que ardiam e queimavam como fogo líquido. A sensação era de estar sendo lentamente consumido por dentro, como se seu corpo estivesse sendo transformado contra a sua vontade.

A impotência era esmagadora. Ele estava preso, incapaz de se mover, de gritar, de fazer qualquer coisa além de suportar a dor e o medo. As lágrimas misturavam-se ao líquido dentro do cilindro, sua visão embaçada pelo choro silencioso de desespero. Cada segundo que passava parecia uma eternidade, uma tortura interminável sem nenhuma esperança de salvação.

Ele se lembrou vagamente de sua vida antes deste inferno. Imagens fragmentadas de risos, de sol, de liberdade. Tudo aquilo parecia um sonho distante agora, uma lembrança que só tornava sua situação atual ainda mais insuportável. Ele queria voltar, queria acordar desse pesadelo. Mas cada tentativa de fuga era frustrada pela realidade brutal de sua situação.

Observou, através das lágrimas e da dor, as outras crianças nos cilindros ao seu redor. Elas também estavam presas em seu próprio inferno pessoal, inconscientes do tormento que as aguardava quando acordassem.

Aos poucos, a exaustão começou a tomar conta, a dor tornando-se uma constante entorpecente. Ele sentiu-se deslizar de volta para a inconsciência, o corpo cedendo à exaustão. Mas antes de sucumbir completamente, uma última imagem ficou gravada em sua mente: a visão do próprio reflexo no vidro, os olhos arregalados de terror e dor, um testemunho mudo do horror inimaginável que estava vivendo.

........

A chuva caía suavemente em Amegakure, transformando as ruas desertas em riachos espelhados que refletiam as poucas luzes remanescentes nas construções desoladas.  Apesar das construções arrasadas e das cicatrizes de guerras passadas naquela área, as crianças brincavam alegremente pelas ruas do distrito isolado, suas risadas ecoando em meio ao som da chuva. Dentro de uma humilde instalação, Karin e Suigetsu encontravam-se descansando, e uma inquietante melancolia pairando sobre os dois.

Karin estava perdida em pensamentos, os olhos fixos em algum ponto, enquanto Suigetsu a observava com paciência. Ele sabia bem quem rodeava seus pensamentos e, embora isso o entristecesse, respeitava o silêncio dela, numa sensação de resignação amarga. O silêncio, embora confortável, carregava uma carga emocional que parecia prestes a se romper.

Finalmente, o Hōzuki decidiu quebrar o silêncio. Ele sabia que precisava tocar em um assunto delicado, mas também sabia que era necessário. Com um tom suave, ele chamou a atenção dela para si.

— Karin, ... — Hesitante, sua voz cortando suavemente o som da chuva lá fora. — ...você ama tanto assim o Sasuke?

A Uzumaki piscou, surpresa, e virou-se para olhar nos olhos de Suigetsu. A pergunta pairou no ar por um momento, e ela pareceu lutar para encontrar as palavras certas, até que um pequeno sorriso de tristeza despontou em seus lábios.

— Eu o amo. — Respondeu, sua voz cheia baixa, mas carregada de emoção e dor. — Eu o amo tanto que dói. Eu o amo de muito longe, escondida nas entrelinhas de sua jornada. Eu amo sua existência de todas as formas possíveis e absolutamente tudo em mim deseja estar com ele a cada segundo dos meus dias.

Ela fez uma pausa, respirando fundo antes de continuar.

— Mas eu percebi que o amo o suficiente para deixá-lo partir, para querer que ele seja feliz, mesmo que essa felicidade não inclua a mim. Mas sim, ele ainda está presente em mim, mesmo que como algo que dói sempre que eu quero tê-lo por perto. Só que devo aceitar que não posso.

Suigetsu a observou atentamente, seu rosto uma mistura de compreensão e leve frustração.

— Não entendo como você pode continuar amando alguém que ama outra pessoa, outra família. — Disse, a irritação na voz agora evidente.

Karin desviou o olhar, seu rosto ficando sombrio.

— A gente nunca sabe o porquê amamos mesmo quando não somos amados. Talvez você nunca entenda, Suigetsu. Alguém como você...

Ela hesitou, percebendo o impacto de suas palavras, mas já era tarde demais. Suigetsu endureceu, sua expressão magoada, mas ele manteve a compostura.

— Talvez seja verdade. — Ele admitiu, sua voz mais baixa quase sussurrante. — Talvez um demônio como eu jamais possa compreender o amor de verdade. Mas, se você é tão conhecedora sobre o que é o amor, por que não consegue se ver como digna do mesmo amor que está disposta a dar a ele?

As palavras de Suigetsu atingiram Karin como um golpe. Ela ficou paralisada, tentando processar o que ele dissera. Um turbilhão de emoções a envolveu, engolindo a muito custo suas palavras, e as lágrimas começaram a escorrer descontroladamente por seu rosto.

Suigetsu se moveu com cuidado, a dor que ele vira nela o motivando a agir com delicadeza. Sem dizer uma palavra, ele foi até Karin e a envolveu cuidadosamente em seus braços, oferecendo conforto e carinho.

Ela se deixou ser acolhida, soluçando contra o peito dele, enquanto Suigetsu a mantinha firme, oferecendo um apoio silencioso. Ele sabia que ela precisava chorar, precisava colocar para fora anos de dor reprimida e lágrimas guardadas.

Karin chorou por tudo que perdera, por todas as vezes que precisou ser forte quando não tinha forças, por assistir o amor de sua vida construir uma família sem ela. E, nesse momento, nos braços de Suigetsu, ela finalmente permitiu que a fachada se desfizesse.

E, naquele momento, a chuva continuou a cair, uma trilha sonora suave para o momento de catarse.

— Eu, escutei uma vez que “não conseguir o que se quer também te direcionar para onde você precisa estar” e faz total sentido! — Ele disse em tom baixo, enquanto afagava os cabelos dela, oferecendo carinho ao corpo frágil, tremendo e soluçando abaixo dele. — Eu sei que é difícil a gente aceitar as mudanças e fechar ciclos, mas, às vezes, nem tudo que a gente quer é o que a gente precisa. Nem sempre o que damos é igual ao que esperamos receber. Mas se dermos o que somos, um dia, a vida há de devolver o que merecemos. Só é preciso se manter um pouco mais atento aos arredores.

Após algum tempo, quando as lágrimas começaram a diminuir, um senhor de idade e aspecto simples entrou no quarto. Ele de forma gentil, observava a cena com um sorriso divertido. A presença dele fez os dois se afastarem um pouco, expressando uma leve vergonha pela proximidade.

O Hōzuki pigarreou, tentando recuperar a compostura, enquanto a ruiva enxugava as lágrimas que restavam do rosto. — Bom... acho que estávamos... discutindo. — Comentou Suigetsu, tentando se levantar despreocupado.

O senhor riu baixinho, com um olhar divertido. — Ah, juventude... sempre tão dramática. Mas é bom ver que vocês têm um ao outro.

— Sim, sim... temos um ao outro. — O Hōzuki respondeu com firmeza.

Karin lançou um olhar irritada para Suigetsu, mas havia um leve sorriso despontando nos lábios dele. — Ei... Não... Não é o que o senhor está pensando. — Ela disse, a voz ainda rouca pelo choro recente. — Cale a boca, Suigetsu.

Suigetsu sorriu travesso. — Sim, senhora.

Karin e Suigetsu, agora mais compostos, vestiram capas de chuva e se prepararam para sair. A chuva continuava a cair suavemente sobre o distrito, o céu estava cinzento, como de costume, cobrindo a cidade com uma melancolia silenciosa. Mas eles seguiram o velho homem pela paisagem devastada do distrito, um cenário repleto de cicatrizes que pareciam ainda mais evidentes sob a chuva. Eles caminhavam pelas ruas desertas, observando feridas de batalhas antigas: prédios com fachadas destruídas, vigas de metal torcidas pelo fogo e pelo tempo, marcas de explosões nas paredes, e árvores mortas, suas raízes entrelaçadas com o concreto quebrado. Edifícios desmoronados, paredes rachadas e ruas parcialmente destruídas eram comuns por onde passavam. Algumas estruturas estavam há tanto tempo abandonadas que a natureza já começava a reivindicá-las, com ervas daninhas crescendo em meio às fendas dos muros e trepadeiras subindo pelas fachadas desgastadas.

O ambiente era sombrio, o cheiro de terra molhada e ferrugem preenchia o ar, e cada passo que davam ecoava nas poças d'água que refletiam o céu encoberto. À medida que caminhavam, Suigetsu, sempre atento, observava com curiosidade as ruínas.

— Esse lugar parece uma pintura pós-apocalíptica. — Ele comentou, com um leve sorriso irônico.

Karin, ainda um pouco introspectiva após a conversa anterior, assentiu.

— A guerra faz isso. Transforma lugares cheios de vida em... bem, isso. — Comentou, um tanto pensativa.

O senhorzinho, liderando o caminho, sorriu calorosamente, sem perder o bom humor.

— Ah, mas não se deixem enganar pela aparência! Há mais vida aqui do que os olhos podem ver. O povo de Amegakure é resistente, não perece com um simples chuvisco de acontecimentos ruins. — Disse, guiando-os com passos leves, sorrindo e cumprimentando todos que cruzavam seu caminho com uma energia quase jovial. A presença dele parecia iluminar o caminho, em contraste ao cenário desolado.

Conforme caminhavam, cruzaram com algumas pessoas chegando ou saindo de suas casas, envoltas em capas de chuva gastas, suas expressões variando de curiosidade a desconfiança. Algumas eram mais receptivas, acenando de volta ao senhor com sorrisos gentis, enquanto outras demonstravam um claro desconforto com a presença de estranhos, especialmente com os olhares curiosos de Suigetsu e Karin.

— Bom dia, Sr. Hinawa! — O senhorzinho saudou o homem com um olho biônico, que respondeu com um grunhido baixo, sem esconder sua antipatia. Enquanto uma mulher com um braço robótico observava de um prédio próximo, mantendo um olhar cauteloso.

— E quem seriam esses dois, velhote? — Hinawa perguntou com um tom mal-humorado, cruzando os braços.

O senhorzinho deu um risinho. — Ah, claro, claro. Um casal de namorados, sabia? — Ele disse isso com a maior naturalidade, acenando para Karin e Suigetsu.

O rosto de Karin imediatamente corou, suas bochechas ficando de um vermelho vivo. —Não! Ele só está brincando, nós não somos...

Ela começou a protestar, mas Suigetsu, com um sorriso largo e travesso, a interrompeu.

— Casal? É, por que não? Eu poderia me acostumar com isso. — Ele deu uma piscadela para Karin, que, por sua vez, bufou e cruzou os braços, virando o rosto para esconder o constrangimento ainda maior.

Hinawa soltou um suspiro e deu de ombros, aparentemente desinteressado. — Casal ou não, mantenham-se fora de encrenca por aqui.

O senhorzinho, no entanto, os apresentava como "um adorável casal de namorados" para todos que paravam. Isso fez com que o rosto de Karin fosse ficando cada vez mais vermelho, enquanto Suigetsu, sem perder a chance de provocá-la, abria um sorriso largo, exibindo seus dentes afiados.

Enquanto continuavam andando, algumas crianças passaram correndo pela rua, seus risos contrastando com a tristeza do cenário. Uma delas, chutava uma bola de couro desgastada. Ela parou um momento para olhar curiosa para Karin e Suigetsu, antes de correr novamente em direção ao grupo de amigos.

A dupla começou a notar algo peculiar sobre alguns dos habitantes. Muitos deles possuíam próteses robóticas: um olho biônico que emitia um brilho frio, uma mão metálica de movimentos precisos, ou mesmo um braço completamente mecânico que se conectava ao corpo através de implantes sob a pele. As próteses, algumas rudimentares e outras de tecnologia avançada, sugerindo um vínculo misterioso com as inovações tecnológicas de Amegakure.

Depois de caminhar por um bom tempo sob a chuva persistente, chegaram a um pequeno orfanato escondido entre as ruínas. Crianças encharcadas de chuva e lama estavam jogando bola no pátio. A visão foi um contraste agradável com o ambiente sombrio ao redor. Corriam e gritavam alegremente. Suas risadas ecoavam pelo ar e traziam uma inesperada sensação de calor e vida àquele canto esquecido de Amegakure. Karin não pôde deixar de sorrir ao ver a cena — era uma visão bonita em meio à devastação ao redor. Havia algo de reconfortante em ver que, mesmo em um lugar tão marcado pela dor, ainda havia espaço para a inocência e a felicidade infantil.

Quando viram o mais velho, correram até ele, cercando-o com gritos de alegria. Ele riu e se abaixou para abraçá-los, sua capa de chuva ficando ainda mais suja enquanto as crianças pulavam em cima dele. Ele correspondia com igual entusiasmo, brincando e se deixando envolver pelas pequenas mãos sujas de lama que puxavam suas roupas. As crianças pareciam adorá-lo, e ele, por sua vez, irradiava alegria ao estar em meio a elas. Karin observava a cena, sentindo um calor suave em seu peito. Ela não esperava encontrar algo tão genuíno e afetuoso em um lugar como aquele, e a visão das crianças felizes, mesmo com tão pouco, a tocou profundamente.

— Essas crianças parecem adorar você. — Comentou Suigetsu, cruzando os braços e observando a comoção com um sorriso mais discreto.

— Ah, elas são como netos para mim. — Ele respondeu, rindo. — Cada uma delas tem uma história, e eu tento fazer cada uma delas mais significativas.

—  Bem, quem diria que um velho tem fãs por aqui. — Comentou Suigetsu com um sorriso leve, ainda observando as crianças enquanto o senhor tentava se libertar da pequena multidão de braços estendidos.

Então, a porta do orfanato se abriu, revelando uma mulher alta, vestida de preto, que parecia se destacar sobre todos os outros. Seu guarda-chuva estava inclinado, protegendo-a da chuva, mas ela não disse nada, apenas acenou com a cabeça em um gesto de boas-vindas.

Karin e Suigetsu trocaram olhares, ambos sentindo a seriedade na presença da mulher. Algo nela parecia desconcertante, mas não havia hostilidade em sua postura. Apenas um silêncio firme que deixava claro que eles estavam sendo convidados a entrar e eles a seguiram para o interior do orfanato.

........

A mulher à frente com sua postura imponente e presença calma, conduzia o trio por um longo corredor, que parecia se estender infinitamente, com uma iluminação baixa e opressiva, como se quisesse sufocar qualquer esperança de saída. O ambiente ao redor do trio se tornava cada vez mais opressivo à medida que caminhavam. Cada passo parecia mais pesado que o anterior, criando uma sensação inquietante que começava a tomar conta do ambiente. E o silêncio desconfortável entre os quatro apenas aumentava a tensão.

Suigetsu, sempre atento, começou a franzir as sobrancelhas, sua paciência se esgotando. — É impressão minha ou já estamos andando por esse corredor há um bom tempo? Esse lugar não parecia tão grande por fora quanto é por dentro...

Antes que o silêncio se fizesse presente novamente, Karin, que até então estava introspectiva mergulhada em pensamentos, interrompeu-o com um tom amargo em sua voz. A raiva e a tristeza transpareciam de maneira nítida. — Isso porque não é grande. Desde o momento em que cruzamos a porta, eu percebi a técnica de barreira. O lugar está impregnado com chakra... Esse orfanato é só uma fachada. As crianças não passam de bodes expiatórios ou escudos para uma base secreta sob este orfanato.

Suigetsu lançou-lhe um olhar surpreso, ainda que ele também tivesse suas suspeitas. O velho senhor, por outro lado, continuava em silêncio absoluto, seu rosto inexpressivo enquanto seguiam em frente.

O senhorzinho, um dos membros mais velhos do clã Ugatsu, caminhava em silêncio ao lado deles, seu olhar fixo à frente, como se as palavras de Karin caíssem em ouvidos surdos. Ele continuou a caminhar, os olhos fixos no chão. Não houve resposta ou nenhum fato a acrescentar, apenas um olhar distante, talvez de resignação ou vergonha, que ele mantinha enquanto seguiam adiante.

Após mais alguns minutos de caminhada, a mulher de altura impressionante parou abruptamente. Em frente a uma parede lisa no final do corredor, seus dedos se entrelaçaram em um selo de mão com uma precisão quase ritualística e murmurou “Gyakuten” (逆転, Reverter). O ambiente tremeu, e a realidade ao redor deles começou a distorcer e mudar. As paredes do corredor se retraíram, tremularam, como se fossem feitas de fumaça, antes de revelarem a verdadeira natureza do lugar. À frente deles, as linhas entre o real e o ilusório se misturando, as paredes se tornaram de aço reforçado e revelaram uma imensa porta de aço maciço que se materializou. O som metálico de engrenagens ressoou pelo corredor, rangendo quando a porta se abriu, revelando uma sala bem ornamentada, com prateleiras cheias de livros e uma grande mesa redonda ao centro, onde algumas figuras desconhecidas já os esperavam.

Karin e Suigetsu trocaram olhares, tensos. Ao atravessar a entrada, Karin e Suigetsu ficaram momentaneamente paralisados pela mudança repentina do ambiente. O interior da sala era quase surreal. Diferente do corredor sombrio, o espaço era ricamente ornamentado com tapeçarias antigas e lustres que brilhavam com uma luz suave, cercado por prateleiras repletas de livros, transbordando de antigos pergaminhos e tomos empoeirados que exalavam um leve aroma de papel antigo. O cheiro de incenso pairava no ar, misturado com o aroma dos livros velhos e o ferro frio da porta que se fechava atrás deles.

No centro, uma grande mesa redonda, onde várias figuras de aparências diversas estavam sentadas, suas expressões transmitiam sentimentos complexos e, por vezes, indecifráveis. Vários rostos desconhecidos os encaravam, mas havia um que a dupla identificou de imediato: Yume, a velha senhora líder do clã Ugatsu. Seus olhos antigos, mas ainda penetrantes, estavam fixos neles, avaliando cada detalhe com um olhar que parecia atravessar suas almas.

Yume os saudou com um sorriso sarcástico brincando em seus lábios, suas palavras gotejando numa ironia cortante como uma lâmina fina. — Espero que estejam bem alojados dentro do humilde distrito do clã Ugatsu. —  Ela fez uma pausa, observando as respostas dos dois antes de continuar, o tom de sua voz denunciando um desdém mal disfarçado.  — Um distrito humilde, é verdade, mas onde estão protegidos de serem localizados pelas forças militares de Amegakure. Contudo, ... curiosamente, Soga já está bem ciente da presença de vocês aqui. Estranho, não? Ele não parece ter qualquer intenção em querer suas cabeças... Tampouco retaliar o clã subordinado a ele que claramente traiu sua confiança.

Suigetsu, com um sorriso cínico e com um ar de indiferença deliberada, respondeu: — Aquele gordo tem interesses maiores. Ele precisa de nós vivos, pelo menos por enquanto.

Yume inclinou a cabeça levemente, dando um leve sorriso, concordando em partes. — De fato... Soga é um homem que sempre enxerga brechas onde ninguém mais vê. Um estrategista nato, mas ainda assim... não é de forma alguma confiável. Ele continua sendo tão confiável quanto uma serpente astuta à espreita.

A velha senhora, então, voltou-se para o recado que deveria entregar. Yume endireitou-se na cadeira, seus olhos fixos nos dois, transmitindo os próximos passos que a dupla deveria seguir.

— Vocês serão guiados por Kanemori... — Ela direcionou seus olhos para a mulher alta de cabelos azulados os trouxera até ali — ...até Chárōn, onde Soga os aguardar para o embarque.

Antes que qualquer um pudesse reagir, a atmosfera já pesada foi entrecortada quando um homem com longos cabelos negros e uma grande franja cobrindo um dos olhos se clamou bruscamente, a indignação em sua voz clara e vibrante, irrompendo em uma explosão de raiva e fúria.

— Você pretende simplesmente deixar os assassinos de seu neto continuarem a transitar livremente por aí? E, ainda por cima, dentro do distrito do clã?! — Bradou. — Temos aqui os melhores ninjas do nosso clã, é o momento perfeito para um olho por olho!

Alguns dos presentes na sala consentiram silenciosamente, a tensão crescendo à medida que a indignação do homem se espalhava. Mas antes que a situação pudesse sair do controle, o murmúrio de concordância foi logo seguido por uma voz feminina, uma kunoichi do outro lado da mesa, com uma expressão fria e indiferente, que entreveio.

— Giyu morreu porque era fraco. Assim como todos aqui, nenhum de nós tem chance contra ele numa luta direta. — Disse a kunoichi com o rosto coberto de bandagens. Suigetsu esboçou um sorriso de escárnio, divertindo-se com o comentário sobre sua força, mas o caos começou a se instalar, com cada um defendendo seu ponto de vista.

— Finalmente, alguém aqui com bom senso. — O Hōzuki disse, em um tom que beirava o desprezo, mas não podendo de deixar de expor seu pensamento. — Mas se quiserem um confronto, estou pronto.

O ambiente na sala se tornou ainda mais tenso, Yume, porém, pediu a mão com uma autoridade inegável, e o tumulto cessou instantaneamente.

— Basta! — Disse, mantendo seu ar sereno, mas sua voz autoritária cortando o ar como uma lâmina afiada abrandando os ânimos. — Este não é o momento para derramamento de sangue inútil.

A sala mergulhou em um silêncio tenso, ninguém ousando contrariar o líder do clã.

— Estou cansada de ver nosso povo impotente diante da força opressiva de outras nações e vilas. — Disse ela, sua voz agora carregada de um cansaço profundo. — Mas nunca pensei que teria que sacrificar o meu próprio povo para alcançar um poder capaz de se opor à tirania deles. Não estou disposta a pagar esse preço, tornar-me tirana com os meus para combater a tirania deles. Mas, talvez, a chegada de Karin e Suigetsu seja o evento que precisávamos.

O homem de longos cabelos negros acatou as palavras da mais velha, ainda tremendo de raiva, mas ciente de que não havia ganho nenhum apoio significativo para sua causa. Com um aceno de mão, Yume deu o comando a Kanemori para que os levasse para fora.

Kanemori, caminhando até a porta, abriu sua guarda-chuva de forma lenta e deliberada, obscurecendo a visão de Suigetsu e Karin sobre a mesa e os rostos ao redor dela. O espaço, antes luxuoso e adornado, simplesmente desapareceu. Agora, eles estavam de volta ao hall de entrada do orfanato, como se nunca tivessem saído do local.

Karin, espantada, expandiu rapidamente seus sentidos de chakra, percebendo várias assinaturas espalhadas por diferentes locais do prédio. Várias assinaturas de chakra estavam presentes no prédio, algumas reconhecíveis como aquelas da sala em que acabaram de estar. Mas a assinatura de chakra de Yume, no entanto, não estava em lugar nenhum.

— Uma técnica de barreira mais complexa do que eu pensei... Nunca estivemos fisicamente na mesma sala que aquelas pessoas. Nem elas entre si. — Ela murmurou, quase em descrição. — Uma ilusão refinada, uma barreira que manipula a percepção.

Suigetsu, ainda confuso, lançou-lhe um olhar intrigado. — Então... tudo isso foi uma ilusão?

Karin balançou a cabeça, ainda processando o que acabara de acontecer. — Não é uma ilusão. Algo mais profundo, mais intrincado. Nunca estivemos lá... E, ao mesmo tempo, estivemos. É uma técnica de barreira avançada que cria um espaço onde as pessoas possam interagir sem realmente estarem fisicamente presentes.

Kanemori, sem uma palavra, começou a conduzi-los novamente, desta vez em direção ao que parecia ser a verdadeira saída do orfanato. Ela, mantendo sua postura fria e controlada, sem olhar para trás disse: — Se preparem... Irei levá-los antes do amanhecer.

........

A chuva lá fora batia com força contra o telhado da velha choupana, criando uma melodia sombria que ecoava no ambiente já pesado. Ugatsu Oze, o senhorzinho que os havia guiado pelo distrito, servia chá quente em pequenas xícaras de cerâmica, suas mãos calejadas e trêmulas executando o gesto com uma calma ensaiada ao longo de muitos anos. O vapor subia das xícaras, misturando-se ao ar úmido da casa, mas o clima entre os três estava longe de ser reconfortante.

Karin, normalmente tão cheia de energia e pronta para disparar um comentário sarcástico ou uma observação cortante, mantinha-se em um silêncio tenso. Seus punhos estavam cerrados sobre os joelhos, os nós dos dedos brancos, enquanto ela encarava fixamente o chão de madeira desgastada. Qualquer um que olhasse para ela naquele momento poderia sentir a raiva borbulhando sob a superfície, um vulcão prestes a entrar em erupção. Suigetsu, normalmente despreocupado, estava ao seu lado, mantendo-se quieto, respeitando o espaço dela. Ele sabia o suficiente para não tentar forçar uma conversa nesse momento.

Oze, por sua vez, sentia o peso do silêncio que se formara, um silêncio que parecia ameaçar esmagá-los. Após o que pareceu ser uma eternidade, ele finalmente quebrou o gelo, sua voz suave:

—  Eu entendo sua revolta, Karin. —  Ele começou, fixando seus olhos na jovem com um misto de tristeza e resignação nos olhos. — Mas já vivi tempo o suficiente para saber que a guerra não tem sexo, idade, cor ou raça... Todos somos afetados, de uma forma ou de outra. E isso nos obriga a tomar decisões difíceis, muitas vezes com consequências que nos assombram pelo resto de nossas vidas.

Suigetsu, que até então havia mantido a boca fechada, não conseguiu conter uma risada seca e debochada. Ele olhou para o velho com aquele sorriso cínico que lhe era tão característico. —  Sabe, Oze, você usa de palavras bonitas, mas isso não muda o fato de que você é um hipócrita. Lembro-me bem do que você disse antes, sobre como aquelas crianças são como seus netos, como cada uma tem uma história e como você tenta fazer cada uma delas mais significativa. Mas a verdade é que você não passa de um monstro fingindo dar amor a elas, enquanto no final, elas não são nada além de descartáveis escudos humanos para desencorajar ataques à base de vocês.

As palavras de Suigetsu pairaram no ar, pesadas e acusatórias, e o sorriso irônico em seus lábios nunca vacilou. Ele esperava uma reação, qualquer reação, do velho. Talvez indignação, raiva, ou até mesmo uma tentativa de justificar suas ações. Mas Oze, para sua surpresa, não mostrou nenhum desses sentimentos. Ele apenas suspirou, um suspiro profundo e cansado, como se o peso dos anos e das decisões que havia tomado o esmagasse um pouco mais.

— Você está certo, Suigetsu. — Oze admitiu, sua voz desprovida da força e energia que eram características suas. — Talvez eu seja um monstro. Talvez eu tenha feito coisas que nenhum ser humano deveria fazer. Mas diga-me... o que vocês fariam no meu lugar? São só crianças, pena que nasceram em um mundo onde o valor de uma vida é determinado por quão útil ela pode ser em batalha?

Karin, que até então havia mantido os olhos fixos no chão, finalmente levantou o olhar, encarando Oze. Havia uma chama intensa em seus olhos, mas também algo mais... algo que ela mesma não queria admitir: uma sombra de compreensão. Lembranças do seu próprio passado viam a mente.

—  Não pense que sua justificativa diminui o que você fez, Oze. — Ela murmurou. A voz ainda carregada de raiva, mas também tingida com um traço de amarga aceitação. — Vocês fizeram suas escolhas, e ela é imperdoável. Mas não sou cega a ponto de não ver a realidade cruel desse mundo.

Oze assentiu lentamente, aceitando as palavras de Karin como um veredicto. — E é essa realidade que todos nós somos forçados a encarar, de uma forma ou de outra.

Suigetsu, observando a troca, cruzou os braços e se recostou na cadeira, ainda mantendo aquele ar de desprezo. — Então, o que fazemos agora, senhor “avô amoroso”? Continuamos fingindo que tudo isso é normal?

Oze olhou para ele, seus olhos cansados. — Vocês continuam fazendo o que sempre fizeram. Sobrevivam. E talvez, apenas talvez, um dia encontrarão uma maneira de quebrar esse ciclo, porque vocês ainda possuem muito tempo que eu para isso. Até lá, tudo o que podemos fazer é viver com as escolhas que fizemos... e suportar o peso delas. — Mirou seus olhos na Uzumaki antes de continuar: — Você mais do que ninguém entende isso, não é Karin?

A perguntou ficou suspensa no ar, enquanto a chuva lá fora continuava a cair de forma intensa. E enquanto o chá esfriava nas xícaras intocadas, os três permaneciam ali, presos em uma teia de realidades amargas

........

Orochimaru estava mergulhado em um silêncio confortável, o ambiente ao seu redor preenchido apenas pelo leve crepitar das velas que iluminavam a sala. Ele estava imerso em sua leitura, o livro nas mãos sendo sua única companhia. A expressão no rosto do Sannin era serena, quase pacífica, enquanto seus olhos escaneavam as páginas com interesse. Mas, por trás dessa fachada de tranquilidade, sempre havia uma vigilância constante, uma consciência afiada de tudo ao seu redor.

Quando ele ergueu o olhar, seus olhos dourados se fixaram na figura em pé diante dele. O subordinado, um homem de aparência neutra, mantinha-se imóvel há horas, esperando pacientemente por uma autorização que só agora, após uma eternidade de silêncio, parecia iminente. O homem sabia que qualquer movimento antes do momento certo poderia significar sua morte. O Sannin, conhecido tanto por sua impaciência quanto por sua crueldade, era uma figura a ser temida por aqueles que serviam a ele.

Com um gesto quase imperceptível, Orochimaru permitiu que o homem se aproximasse. O subordinado deu um passo à frente com cautela, depositando o pergaminho na pequena mesa de canto ao lado da poltrona e saiu com ânsia. Mas o Sannin sequer lançou um olhar ao pergaminho. Em vez disso, ele fechou o livro calmamente, colocando-o ao lado do pergaminho, e se levantou.

Orochimaru moveu-se com a graça de uma serpente, sua silhueta alta e magra deslizava pelo quarto em direção ao anexo oculto. Ele atravessou o corredor de estantes, cada uma repleta de pergaminhos e artefatos coletados ao longo de suas inúmeras experiências e aventuras. Ao final do corredor, uma parede que à primeira vista parecia sólida se moveu, revelando uma passagem secreta. O ambiente que se revelou era mal iluminado, a luz principal emanando de um cilindro de vidro no centro da sala.

Dentro do cilindro, uma figura flutuava em um líquido viscoso e esverdeado. A mulher loira parecia estar à beira da morte, sua pele outrora vibrante e saudável agora enrugada e pálida. Fios e injetores estavam conectados ao seu corpo, mantendo-a em um estado de suspensão entre a vida e a morte. O olhar de Orochimaru, que geralmente refletia apenas ambição e frieza, suavizou-se enquanto ele se aproximava do cilindro.

Ele tocou a superfície de vidro com uma ternura incomum, seus dedos finos e pálidos acariciando o vidro como se pudesse de alguma forma alcançar a mulher lá dentro. Seus olhos penetrantes observavam cada detalhe, cada marca de sofrimento que o tempo havia deixado nela. Havia algo na visão daquela mulher que provocava nele uma melancolia rara, um sentimento que ele dificilmente permitia transparecer.

Suas palavras saíram como um sussurro, o tom sôfrego, carregado de uma determinação que parecia quase dolorosa. — Você ainda tem muito que cumprir nesta terra, princesa. — ele disse, sua voz reverberando levemente no espaço restrito. — Não ouse morrer antes de eu lhe ver sorrir de felicidade genuína mais uma vez.

Por um breve momento, Orochimaru ficou em silêncio, apenas observando a figura inerte de Tsunade. Ele sabia que sua sobrevivência estava por um fio, mas havia algo dentro dele que recusava aceitar sua morte iminente. Talvez fosse o peso da história que compartilhavam, as incontáveis batalhas travadas juntos, ou talvez fosse simplesmente a ideia de que alguém como ela ainda tinha um propósito maior a cumprir.

Ele fechou os olhos por um segundo, permitindo-se sentir a vulnerabilidade do momento, antes de recuar, recompondo-se. Orochimaru sabia que, por mais que seus planos fossem grandiosos, o tempo era seu maior inimigo. E ali, naquele ambiente onde a ciência e a obsessão se entrelaçavam, ele estava disposto a desafiar o próprio tempo para garantir que Tsunade sobrevivesse, não apenas como um peão em seus planos — de sorrir, não por ele, mas por si mesma.

E ali, sozinho com o corpo inerte de Tsunade, o silêncio ecoou.

descriptionA NÉVOA RUBRA E OS MISTÉRIOS DA VILA DA CHUVA  EmptyRe: A NÉVOA RUBRA E OS MISTÉRIOS DA VILA DA CHUVA

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CAPÍTULO 12: O MESTRE DAS MENTIRAS


A madrugada em Amegakure era um palco sombrio, onde uma chuva suave caía incessantemente, lavando as ruas silenciosas da vila. Na escuridão, a cidade, que já era conhecida por sua atmosfera opressiva, tornava o clima de tensão que pairava no ar mais intenso e venenoso. A fina neblina que se afasta do solo úmido parecia se disfarçar com as sombras, criando um cenário fantasmagórico.

Na entrada do distrito do clã Ugatsu, Kanemori, destacando-se na escuridão, não apenas por sua altura impressionante, mas também por seu estilo gótico singular, aguardava sob a proteção de seu guarda-chuva. Sua figura era ao mesmo tempo imponente e estranha, trajada em preto com um toque gótico que parecia fora de lugar até mesmo em Amegakure. Seu rosto, marcado por uma maquiagem intensa e lábios tingidos de roxo, realçando um olhar que transmitia uma mistura de indiferença e autoridade.

Karin e Suigetsu, ambos abrigados sob capas de chuva, se aproximaram dela, suas expressões ocultas pela sombra das vestimentas. Ela, sem trocar palavras com a dupla, começou a caminhar à frente, guiando-os por um caminho que apenas os privilegiados do clã Ugatsu conheciam. As ruas escuras e desertas de Amegakure logo foram deixadas por um labirinto de túneis e dutos, um mundo à parte, longe dos olhares indiscretos da superfície. A viagem foi longa, e o silêncio entre eles só aumentou a tensão. O silêncio era quebrado apenas pelo som das botas pisando na água acumulada e pelos pingos constantes da chuva. Era como se passasse atravessando o ventre de um monstruoso adormecido.

A caminhada parecia interminável, e o ambiente opressivo da vila, com seus prédios altos e cercados de escuridão, apenas contribuiu para a sensação de isolamento. Depois de algumas horas, eles finalmente emergiram em uma área da vila cercada por prédios baixos e austeros. O lugar era incomum, quase oculto, como se estivesse protegido por uma camada de sombras que parecia esconder algo mais do que simples edifícios. Mas, mesmo ali, não estavam sozinhos.

Ao longo de sua trajetória, Karin não pôde deixar de notar o número crescente de figuras sombrias ao redor. Suigetsu, por sua vez, foi o primeiro a comentar a presença de algumas dezenas de homens vestidos de terno branco em vários pontos estratégicos. Eles estavam em todos os lugares, vigiando o trio atentamente. Seus olhares eram incisivos, observando a passagem do grupo com uma dedicação que beirava o fanatismo.

Karin logo corrigiu a percepção de Suigetsu, sussurrando que, revelando a magnitude da presença ao redor, notou a presença de muitos mais do que estava à vista:

— Há centenas... — Murmurou ela, sua voz contendo tons de preocupação e frustração.

Kanemori, sem parar sua marcha, cortou o silêncio que emparelhava pesado entre eles.

— Esses são os homens de Soga, os mais fiéis e leais subordinados dele. — Com uma voz calma, ela explicou que: — Os Caminhantes ou Abutres Brancos, como são conhecidos por toda a vila. Eles podem parecer intimidadores, mas estão aqui para garantir que esta área permaneça segura e isolada, e que nenhum olhar indesejado, especialmente Yurei com seus robôs, interferissem nas negociações. Yūrei não pode nos alcançar aqui.

Enquanto ela falava, o cenário ao redor deles se abria para revelar um pequeno e modesto porto, parcialmente oculto pelas construções ao redor. Mas antes que pudessem se aproximar mais, três figuras emergiram das sombras, bloqueando o caminho. A figura central, um homem alto de longos cabelos negros e uma expressão tomada pela raiva, se destacava. Seu olhar era frio e penetrante, e sua presença carregava um peso opressivo e desafiador, como se cada movimento que ele fizesse pudesse derrubar montanhas.

Ele trazia consigo outros dois homens. Um deles, um homem careca com a mandíbula marcada por queimaduras, tinha uma aparência aterrorizante e desfigurada, enquanto o outro, com parte do seu rosto coberto por um respirador e um grande tanque de oxigênio, exalava uma aura de perigo e mistério com suas feições escondidas atrás do chapéu kasa.

Kanemori parou abruptamente, seu corpo tenso, e seus olhos se estreitaram ao considerar o homem que liderava o grupo.

—  Kirihara. —  Constatou, o nome saindo como uma frase entre os dentes cerrados. Ela não esperava encontrá-lo ali, e a tensão não ar tornou-se palpável.

Kirihara deu um passo à frente, seus olhos fixos em Kanemori antes de se desviar para Karin e Suigetsu.

—  Vejo que finalmente nos encontramos de novo. —  Ele disse, sua voz afiada impregnada de um desdém venenoso. — O tempo, em vez de trazer sabedoria à minha velha mãe, apenas a tornara uma tola, enfraquecida diante dos inimigos. Mas eu vou fazer o que ela se mostra incapaz e restaurar a honra do clã vingando a morte de meu filho.

Ele então se dirigiu diretamente a Kanemori, oferecendo-a escolher entre seguir as ordens de Yume ou se unir a ele para vingar a morte de Giyu. Seu tom era ácido, carregado de uma fúria contida. Suigetsu trocou um olhar com Karin, ambos cientes de que estavam à beira de um confronto iminente.

Ela, no entanto, manteve-se firme. Seus olhos, geralmente calmos e impassíveis, agora brilhavam em determinação. — Uma missão me foi dada por meu superior, Kirihara. —  Disse ela. — E eu irei cumpri-la a todo custo. Posso não ter dimensão da dor de perder um filho querido, muito embora Giyu fosse sangue do meu sangue também, mas há coisas muito maiores em jogo. Suas ações a partir deste momento, Kirihara, podem implicar em consequências graves. Levar ao colapso do clã por divergências ideológicas, enfraquecendo a autoridade de Yume, também trará o precedente de desconfiança e divisão para o nosso ceio, o que arruinara todos nós no final.

As palavras de Kanemori reverberaram pelo espaço, criando um silêncio pesado. Os homens de Kirihara, embora leais a ele, estavam bastante hesitantes, percebendo as implicações do que estava sendo sugerido. A chuva continuou a cair, como se refletisse a tensão crescente entre os grupos. Ela estava disposta a lutar se fosse necessário, mas esperava que sua firmeza fosse suficiente para evitar um confronto que poderia ser devastador para todos os envolvidos.

Karin e Suigetsu se entreolharam, suas mãos instintivamente se preparando para qualquer eventualidade. Mas Kanemori, percebendo a gravidade da situação e que, mesmo diante de suas palavras, ele não recuara, estendeu o guarda-chuva, um gesto que, ao mesmo tempo, sinalizava o início de uma intensa batalha.

—  Eu, como irmã mais velha, e sua gêmea também, gostaria de evitar esse confronto... — Disse ela, entoando uma tristeza condescendente na voz. —  Mas vejo que você chegou a um ponto sem retorno, onde não há mais como evitar sua sede de sangue.

O silêncio retornou, pesado e ameaçador, enquanto a chuva caía incessantemente, como se o próprio céu estivesse em sintonia com a tensão que se desenrolava naquele beco escuro. Suigetsu, sempre preparado para o combate, recolheu um pergaminho de sua bolsa de acessórios, pronto para invocar uma de suas espadas. Ao mesmo tempo, Karin, ciente do perigo, vestiu suas luvas de combate, seus olhos fixos nos inimigos à frente.

Ele, com um sorriso debochado, não pôde deixar de provocar.

— Vamos eliminar os mais fracos antes de irmos para o prato principal. —  Disse ele, a ameaça clara em suas palavras. Em resposta, o homem mascarado equipado com um aparelho mecânico de jato em seu pulso deu o primeiro golpe, liberando uma enchente de líquido que rapidamente transbordou pelo campo de batalha. A água parecia inundar tudo ao seu redor.

Kanemori, porém, não hesitou. Com um movimento ágil, abriu seu guarda-chuva e o girou rapidamente, criando um vórtice de ar que agiu como uma barreira, espalhando o líquido pelos lados. Mas o que parecia ser uma simples dispersão de água se revelou algo muito mais perigoso. O líquido que tocava o solo começava a congelar quase instantaneamente, formando grandes rastros de gelo que cercavam o grupo de todos os lados.

—  Esse é Yukio. —  Informou ela. — Ele é um especialista em combates de média distância, usando oxigênio em estado líquido para neutralizar seus adversários. De longe, é o oponente que requer maior atenção.

Enquanto estavam distraídos com a ação de Yukio, Karin percebeu tarde demais uma presença movendo-se furtivamente pelo solo. De repente, uma figura feminina emergiu, agarrando as pernas de Suigetsu e recitando uma técnica de barreira.

Suigetsu apenas teve tempo de soltar um sonoro:

— Droga! — Ele só teve o tempo de verbalizar o palavrão antes de arremessar seu pergaminho para Karin, perguntando-lhe com urgência se ela ainda se lembrava do que ele a havia ensinado. Então, um pilar de luz o cercou, e em um instante, ele desapareceu do campo de batalha.

Karin, agora tomada pelo medo e preocupação, ativou sua técnica sensorial, expandindo sua percepção sensorial por toda a vila, desesperada para localizar a assinatura de chakra de Suigetsu. A técnica a permitia sentir até as mais sutis flutuações de chakra, mas para seu desespero, ela não conseguia encontrar nenhum sinal dele.

A mais velha, percebendo a angústia de Karin, tentou tranquilizá-la.

— Ele está bem. — Disse ela. — Essa é uma técnica de barreira que apenas o isola do mundo aparente. Nosso clã sempre foi notado por suas técnicas de barreiras, Manoma, então, é uma verdadeira especialista neste tipo de técnica.

No instante seguinte, a jovem que havia aprisionado Suigetsu emergiu do solo perto do trio de adversários. Com seus cabelos raspados e uma máscara respiratória cobrindo seu rosto, sustentava um olhar penetrante fixo em Karin.

— Minha barreira vai manter o Hōzuki afastado por pelo menos 15 minutos. — Ela informou, sua voz sem emoção. — Talvez menos, dependendo da resistência dele.

Kirihara, com um olhar de determinação cruel, respondeu: — Isso é tempo suficiente para matarmos a Uzumaki e neutralizarmos minha irmã. Depois, nós quatro focaremos em eliminar o espadachim.

Ele, então, atacou com uma velocidade impressionante, suas manoplas metálicas cortando o ar em direção a Karin. O movimento foi tão rápido que parecia uma sombra ameaçadora avançando sobre ela. No entanto, sua irmã gêmea, com reflexos apurados, interveio habilmente, usando seu guarda-chuva como uma espécie de bastão para defletir o golpe. O choque do impacto reverberou pelo ar, e por um breve momento, Karin viu uma brecha.

Sem hesitar, ela liberou seus fios envoltos em chakra, que serpenteavam pelo ar, prendendo Kirihara com rapidez e precisão, que se entrelaçaram ao redor dele, na tentativa de imobilizá-lo e atravessar sua carne. No entanto, para sua surpresa e frustração, os fios, que normalmente cortariam com facilidade, não conseguiram penetrar sua pele. Era como se o corpo dele estivesse protegido por uma armadura invisível. Karin, perplexa, arregalou os olhos, impressionada.

Antes que pudesse reagir, ela percebeu uma alteração de chakra se aproximando. Uma leve neblina fria começou a envolver Kirihara, e ela logo percebeu a presença de Yukio, que havia se aproximado furtivamente. Com sua presença fria e calculada, estava logo atrás de seu líder, liberando uma neblina gelada que envolveu o corpo do seu líder. A neblina começou a corroer os fios de aço de Karin, desintegrando-os em segundos. Ela tentou recuar, mas mal teve tempo de processar essa nova ameaça antes de sentir outra perturbação no chakra, desta vez vinda de cima.

O adversário careca apareceu no alto, lançando tarjas explosivas em sua direção. O ambiente, já saturado em oxigênio, amplificou a explosão, gerando uma onda de calor e destruição que engolfou a área. Karin sentiu o calor intenso e a pressão crescente, mas, no último segundo, Kanemori a puxou para perto, protegendo-a atrás de seu guarda-chuva. O escudo improvisado absorveu o impacto direto, mas ao final, estava em frangalhos, mal conseguindo manter sua estrutura.

Quando a fumaça se dispersou, a Uzumaki começou a sentir um desconforto crescer em seu peito, tornando difícil respirar. Kanemori, sempre alerta, notou sua dificuldade e a advertiu:

— Cuidado com a sobrecarga de oxigênio em seu corpo. —  Disse ela, mantendo a compostura. — Yukio está querendo manipular o fluxo da batalha considerando que você não possui a capacidade de aclimatação que alguns de nós temos. Ele é astuto, e você não pode subestimá-lo.

A batalha atingiu um ponto crítico quando Kirihara, com um sorriso sádico estampado em seu rosto e seu poder massivo em Liberação de Terra (土遁, Doton), ergueu uma massa gigantesca de terra, lançando-a com uma força brutal enquanto recitava o nome de sua técnica, "Liberação da Terra: Bolinho de Terra Sepulcral" (土遁・土陵団子¬, Doton: Doryō Dango). A sombra colossal engoliu Karin e Kanemori, que se dispersaram rapidamente para evitar o ataque. No entanto, Karin não podia prever que, no meio do ar, a imensa massa de terra começaria a se comprimir e colapsar em si mesma, implodindo, a área inteira foi tomada por uma chuva de rochas de variados tamanhos em alta velocidade, disparando uma chuva mortal de pedregulhos e rochas em alta velocidade.

A Uzumaki foi atingida em cheio. Os detritos também atingiram prédios ao redor, que começaram a desmoronar com o impacto violento. Ela tentou ao máximo se envolver com seu chakra para amortecer o impacto, mas os estilhaços de pedra a atingiram com força brutal. O sangue escorria por seu rosto, obscurecendo sua visão, enquanto ela cambaleava, tentando se levantar com dificuldade. Seu corpo estava machucado, e a dor parecia latejar por todas as fibras de seu ser. Tremendo, Karin tentou se levantar, apoiando-se em uma parede próxima, mordendo o antebraço em um esforço desesperado para curar seus ferimentos mais graves.

Antes que pudesse reagir completamente, Manoma surgiu através da parede, agarrando-a de surpresa com uma força opressiva. Com uma risada debochada, Manoma zombou de sua vulnerabilidade.

— Que patética! — disse ela, apertando Karin contra si, restringindo seus movimentos. — Você realmente pensou que poderia vencer? —  Manoma sussurrou ao ouvido de Karin, sua voz gotejando desprezo.

Kirihara, por sua vez, se aproximava lentamente, o sorriso diabólico em seu rosto crescia a cada passo, como um predador que se deleitava com a fraqueza de sua presa. A ruiva, encurralada e em desvantagem, sentiu o desespero crescendo, enquanto a morte parecia iminente.

Ela sabia que, se não fizesse algo rápido, o fim estava próximo. Em um ato final de pura determinação, começou a concentrar seu chakra com intensidade assombrosos. O fluxo de chakra dentro dela aumentava a níveis alarmantes, seu corpo brilhando com uma energia vibrante alimentando-se com seu desespero e sua vontade de viver. Com uma explosão de poder, ela liberou o Kongō Fūsa, as lendárias correntes de chakra da Uzumaki, em um turbilhão devastador.

As correntes emergiram de seu corpo como serpentes de energia dourada em uma força cataclísmica, destroçando o chão ao seu redor em todas as direções e devastando os prédios próximos. O impacto foi tão poderoso que tremores enormes se espalharam por toda a área, derrubando estruturas e fazendo o solo tremer sob seus pés. Manoma desapareceu entre os escombros, enquanto Kirihara, pego de surpresa, foi atingido diretamente de forma brutal, arremessando-o para longe com uma força colossal.

Karin, agora cercada pelas correntes brilhantes e pulsantes, estava furiosa.  O caos que ela havia desencadeado transformou a área ao redor em um campo de destruição. Kanemori, que havia se posicionado à distância, assistiu a cena com uma mistura de admiração e surpresa. O poder latente da Uzumaki estava muito além do que ela havia imaginado, e por um breve momento, até mesmo os adversários ficaram atônitos com a fúria destrutiva que testemunhavam.

Quando a poeira finalmente começou a baixar, Karin, agora ajoelhada no chão, respirava com dificuldade. Suas feridas ainda estavam visíveis, mas a força das correntes havia dado a ela um momento de vantagem. Kirihara, no entanto, emergia da nuvem de poeira como se nada tivesse acontecido, suas palavras e o sorriso sarcástico em seu rosto a atingindo como um golpe psicológico.

As correntes do Kongō Fūsa, que deveriam ter destruído qualquer adversário comum, não tiveram o efeito esperado. A ruiva ficou imóvel por um momento, tentando processar o que acabara de testemunhar. Ela notou com perplexidade as camadas translúcidas e brilhantes que cobriam algumas partes do corpo dele, fragmentando-se em pequenos cristais luminosos que começavam a cair ao chão.

Ele não perdeu tempo em esclarecer sua habilidade, enquanto seu tom de voz mantinha um tom calmo e quase arrogante. — O poder dos Uzumaki é, de fato, impressionante. Mas você não é a única aqui com um poder oculto capaz de aterrorizar os outros. — Disse. — Sou um hábil usuário de Doton e Fūton, mas a minha verdadeira força se revela na minha Kekkei Genkai.

Kirihara recolheu uma rocha do chão e, com uma facilidade inquietante, pressionou-a entre suas manoplas por alguns segundos. Quando ele a arremessou na direção da ruiva, a velocidade e precisão foram tão repentinas que ela mal teve tempo de se esquivar. O projétil passou raspando por ela, e, ao olhar para trás, viu que a rocha havia se transformado em uma lança cristalina translúcida.

— A ‘Liberação de Pressão’ (圧遁, Atton), ... — Disse ele com orgulho. — ...me permite manipular a pressão ao meu redor, seja distribuindo-a para anular o impacto de golpes ou concentrando-a para transformar objetos em algo muito mais resistente. Eu posso aplicar e controlar a pressão da maneira que desejar. Isso me torna invulnerável a ataques convencionais.

A Uzumaki sentiu um calafrio percorrer sua espinha. A habilidade dele não era apenas rara, era assustadora. Manipular a pressão para redistribuir o impacto de ataques ou até criar diamantes a partir de rochas? Isso significava que suas defesas eram quase intransponíveis, e suas ofensivas, devastadoras.

— Você pode ver agora o porquê sou o ninja mais poderoso de uns dos clãs nobres da vila da chuva. — Ele continuou, aproximando-se lentamente.

Karin, já exausta pela luta até então, agora enfrentava algo além de sua compreensão. Ele, coberto por uma aura de poder avassalador, demonstrava o verdadeiro potencial de sua Kekkei Genkai. De repente, a atmosfera ao redor dela parecia estar comprimindo seu corpo, tornando cada respiração um esforço monumental. Seus ouvidos latejavam, e o som ao seu redor se tornou abafado, um sinal claro de que a pressão atmosférica estava afetando seus órgãos internos. Ela podia sentir sua pressão arterial aumentar drasticamente, e o sangue escorria levemente de seus ouvidos.

A ruiva cambaleou, tentando entender como lidar com um adversário que podia manipular o ambiente de maneira tão esmagadora. O que antes parecia ser uma luta difícil agora se transformava em uma batalha pela própria sobrevivência.

Ele, porém, não cessa os seus ataques de maneira alguma, mais uma vez erguendo uma massa de terra muito maior do que a anterior, lançando-a com força e velocidade em direção a Uzumaki. Nesse espaço, ela consegue ver todo o processo de formação dos cristais durante o trajeto da massa de terra. A terra se compactando até se tornar uma bola incandescente de magma que, num piscar de olhos, expande-se e cristaliza em cristais prismáticos alongados e translúcidos, como um agregado de lanças ou espinhos que se espalham por todos os lados e por uma vasta área a partir do centro. Assolando tudo o que encontra pela frente com violência.

Kirihara observava a devastação com um sorriso cruel e diabólico, enquanto a "Liberação de Pressão: Técnica do Bolinho de Cristal Sepulcral" (圧遁・水晶墓団子, Atton: Suishōbo Dango) devastava tudo ao redor, os cristais prismáticos expandindo-se com violência, cravando-se no solo, destruindo edifícios e formando um campo de espinhos letais por toda parte. A devastação causada por sua técnica parecia definitiva, como se qualquer coisa no raio de impacto fosse obliterada sem chance de sobrevivência. Ele estava confiante de que a Uzumaki, já enfraquecida pelos seus ataques anteriores, não teria como sobreviver a uma investida de tal magnitude. A fumaça subia, misturando-se com os destroços e o brilho cintilante dos cristais, criando uma cena quase surreal.

........

No topo de um dos arranha-céus de Amegakure, Kaho repousava contra o parapeito de um quarto escuro e sombrio, seu corpo meio oculto pela penumbra que preenchia o cômodo. Ela segurava com uma mão frágil um copo de líquido escuro, provavelmente álcool, cuja superfície tremia levemente a cada vez que a chuva incessante tamborilava no vidro da janela. O líquido, tão denso e opaco quanto seus pensamentos, refletia a luz mínima que atravessava as cortinas, enquanto ela observava, em silêncio, a movimentação caótica da vila abaixo.

Seus olhos brilhavam na escuridão, capazes de ver com clareza cada detalhe, por mais distante ou insignificante que fosse, como se ela fosse uma testemunha solitária de tudo o que acontecia. Mas hoje, havia uma sombra em seu olhar, uma tristeza sutil, uma melancolia invulgar que parecia obscurecer qualquer propósito ou desejo em sua alma.

Ela via pessoas apressadas, movendo-se como autômatos pelas ruas molhadas, incapazes de dedicar um segundo a olhares ou cumprimentos. Tudo parecia sem vida, um desfile apático de rostos vazios que se cruzavam e se perdiam, indiferentes uns aos outros. Mais ao longe, uma briga de bar irrompia em socos e gritos abafados pela chuva. Uma senhora gritava com um menino desobediente, enquanto cachorros reviravam latas de lixo em busca de qualquer migalha. Kaho via pássaros se abrigando sob uma árvore, fugindo da chuva com uma urgência quase instintiva.

Nada daquilo despertava emoção em seu peito. A vida que pulsava ao redor dela, de alguma forma, parecia distante, inatingível. Sua alma estava isolada, presa em um vazio que nenhuma cena cotidiana poderia preencher.

Foi então que seus olhos, acostumados a vagar sem foco, se detiveram em algo diferente. Uma mãe, em meio ao caos de Amegakure, acariciava suavemente o rosto de sua filha, que chorava copiosamente. A mulher a envolvia em um abraço caloroso, tão íntimo e acolhedor que parecia desafiar a frieza da chuva e da própria vila. Havia ternura naquela cena, uma conexão profunda que contrastava brutalmente com a apatia que dominava o resto da cidade.

Kaho observou aquilo com uma sensação incômoda crescendo dentro dela. Algo a desconcertava, algo que ela não conseguia nomear, mas que reverberava em seu coração com força. Seus lábios tremeram ligeiramente, como se quisesse dizer algo, mas as palavras ficaram presas. Os "por quês" começaram a se amontoar em sua mente, perguntas que não encontravam respostas, sentimentos que ela não compreendia.

A cena da mãe e filha permaneceu em sua mente por mais tempo do que ela gostaria. Sentiu-se exposta, como se tivesse testemunhado algo que não deveria. Por que aquele gesto simples, aquele amor evidente entre mãe e filha, mexia tanto com ela? Kaho afastou o olhar, incomodada consigo mesma, e foi apenas então que notou algo mais — um robô coruja a observava.

Seus olhos metálicos brilhavam com uma curiosidade imperturbável, seus movimentos eram suaves e quase imperceptíveis enquanto mantinha o foco em Kaho. Era evidente que estava ali já há algum tempo, mas ela não tinha se dado conta. Não demonstrou qualquer surpresa ou alarme ao perceber o robô, como se já esperasse ser observada, mas uma irritação silenciosa crescia em seu peito.

Sabia, inconscientemente, quem a estava vigiando, mas naquele momento, não era aquilo que a perturbava. O desconforto em sua mente ainda pulsava, a cena da mãe e filha assombrando sua consciência. Sem expressar nenhuma reação óbvia, Kaho afastou-se do parapeito com um movimento brusco e cansado, virando as costas para o robô e adentrando ao quarto escuro.

No entanto, antes que pudesse afundar de vez em seus pensamentos, algo chamou sua atenção um tremor de proporção sem precedentes na vila, seguido de um forte clarão no céu. Uma luminosidade repentina rasgou as nuvens, trazendo uma série de descargas elétricas que iluminavam o horizonte com frequência assustadora. Ela parou e olhou para cima, observando o céu se tornar uma massa agitada de nuvens carregadas, raios serpenteando com violência incomum.

Kaho, agora com seus sentidos aguçados, podia sentir uma concentração de energia em um ponto distante da vila, isolado e remoto. Era uma força perturbadora, algo que estava acontecendo longe demais para que seus olhos enxergassem, mas que sua intuição já reconhecia. A melancolia que a envolvia foi, por um momento, sobreposta por uma curiosidade involuntária e um sentimento de que algo grande estava por vir.

Sem hesitar, ela se virou e foi para o interior de seu quarto. Vestiu sua capa, pegou suas kunais e ajustou seu equipamento. Aquele desconforto persistente em seu peito era o suficiente para movê-la naquela noite.

........

Ao abrir os olhos, Karin se viu ajoelhada em uma área devastada pelo gigantesco ataque de cristais de Kirihara, se dando conta de que ainda estava viva. Ela estava longe do epicentro da destruição, ao lado de Kanemori, sua guia, cuja roupa estava em algumas partes cobertas por gelo e as mãos, visivelmente geladas. A expressão serena de Kanemori contrastava com a fúria e o desconforto evidentes de Karin.

Ela com seu rosto impassível escondido em parte pelas sombras que a envolviam, disse:

— Faltam ainda dez minutos para a barreira ceder e libertar o Hōzuki, mas não acho que a gente vá durar tanto tempo, Karin.

O estrago causado pela técnica colossal de Kamenori é evidente, e o caos ainda paira sobre a cena. Ele se aproxima ao longe com um semblante arrogante, seu sorriso desdenhoso e impiedoso claramente visível. Seus olhos, que normalmente refletiriam uma crueldade cruel, agora mostravam uma mistura de curiosidade e desdém. Ele comenta, com um tom cheio de desprezo, sobre o quão impressionante era a resistência da Uzumaki, mas seu interesse parece aguçado pelo que ela poderia fazer a seguir.

Karin também observa a aproximação dos outros dois adversários vindos de outra direção. Ela nota que sua guia havia encontrado uma brecha para salvá-la do ataque de Kirihara, mesmo enquanto lutava contra dois inimigos ao mesmo tempo.

A sensação de desamparo era palpável, mas Karin estava determinada a não sucumbir. Sua postura é digna e ameaçadora, um contraste marcante com a sua condição debilitada. Com um esforço, ela segurou o pergaminho de Suigetsu e o abriu diante de si, com força e imponência. Pressionando a mão envolta de chakra sobre o nome Kyokutō (曲刀, Espada Retorcida), uma onda de choque brilhante e dourada se estendeu por centenas de metros ao redor, deslocando poeira que envolvia o campo de batalha.

Quando a poeira assentou, Karin estava empunhando duas espadas: uma longa com um padrão serpentino que ondula ao longo da lâmina, com a palavra "Mova" (動, Dō) gravada várias vezes, e uma grande lâmina curva em forma de meia-lua, com a palavra "Retorça" (捻, Neji) gravada ao longo da lâmina; parecem lâminas cortantes e eficientes, prontas para o combate. Kirihara observa com um sorriso arrogante, seus olhos brilhando com uma mistura de interesse e superioridade. Ele, que normalmente se deleita em menosprezar seus adversários, não pode esconder a intriga diante das novas armas de Karin.

— Ah, a Uzumaki decidiu finalmente fazer algo interessante? — Ele zombou, seus olhos brilhando com uma malícia calculada. — Vamos ver o que você tem para oferecer com uma das ‘Sete Espadas da Névoa’?

A seriedade no rosto da ruiva era palpável. Ela manteve um silêncio imperturbável, ignorando as provocações dele, enquanto permanecia com uma postura altiva e amedrontadora. Quando ele estava prestes a executar mais um movimento de ninjutsu, Karin surpreende a todos ao aparecer repentinamente à sua frente, movendo-se com uma velocidade quase etérea, como um fantasma. Kirihara, com reflexos rápidos, desviou de um golpe de decapitação, mas não conseguiu sair ileso e evitar um corte profundo na lateral de seu pescoço.

Antes que ele pudesse contra-atacar, Karin já não estava mais à sua frente. Em vez disso, ela estava novamente ao lado de sua aliada, Kanemori, longe da linha de fogo do trio adversário. Ela comenta com sua guia que não detém a destreza de Suigetsu, ao contrário o gêmeo mais novo estaria morto em um piscar de olhos.

Kirihara, perplexo e furioso, esbraveja:

— O que…? — Disse ele, tentando entender o que acabara de acontecer. — O que diabos é isso? Você é uma usuária de Jikuukan Ninjutsu? Nunca ouvi falar de uma das Espadas da Névoa teletransportar seu usuário livremente!

A Uzumaki não responde, mas levanta sua espada longa em sinal de desafio. O gêmeo mais novo, agora visivelmente alterado, deu sinal para que um ataque coordenado entre seus aliados começasse.

Yukio evoca o nome Inoue, sinalizando para que ele inicie a investida. Inoue, o homem careca, avançou à frente lançando várias kunai anexadas com selos, recitando o nome da técnica:

— Liberação de Fogo: Florescer da Clematis (火遁 ・鉄線花の開花, Katon: Tessenka no Kaika)!

Os selos se inflamaram no ar, se espalhando em grandes bolas de fogo, resultando em uma saraivada gigantesca de chamas direcionadas à posição da dupla. Kanemori saltou para longe, ficando visivelmente chocada ao ver que a Uzumaki permaneceu imóvel. Todos esperavam que Karin fosse consumida pelas chamas, mas para a surpresa de todos, os projéteis, quando estavam praticamente acertando-a, congelaram no ar, como se o tempo houvesse parado.

Ela, então, usou a ponta da espada curva na mão esquerda para tocar um dos projéteis suspensos a sua frente, e ao girar em seu próprio eixo, capturando o fogo na ponta da espada, ela reflete o projétil de volta com força e velocidade aumentadas, causando um impacto devastador onde atinge. Ela repete o processo com todos os projéteis, lançando chamas intensas de volta aos adversários. Yukio é forçado a erguer uma parede de gelo para se proteger, enquanto Inoue é atingido com força brutal, sendo arremessado através de prédios por sua própria técnica.

Kirihara, agora impressionado e ainda mais enfurecido, gritou:

— Que demônios de poder é esse? Está controlando o tempo e o espaço?!

Ela, no entanto, está mais focada em uma assinatura de chakra que surge à distância: Manoma, ensanguentada, o braço esquerdo dilacerado e com o osso da perna direita exposto. A ruiva observa o campo de batalha, percebendo que a jovem está prestes a realizar uma manobra. Ela encosta sua mão restante no chão, transformando-o a terra abaixo da ruiva em lama, fazendo com que as pernas de Karin começassem a afundar.

Yukio, no outro lado do campo de batalha, despontou numa investida, lançando uma torrente de líquido que avançou sobre Karin como uma onda violenta. Mas, de repente, Manoma se vê frente a frente da ruiva. A jovem, em choque, percebe estar magicamente na linha de fogo de Yukio. Yukio, por sua vez, atônito, observa a onda de oxigênio líquido engolfar sua companheira ao invés de sua adversária.

Mas assim como os projéteis de antes, a técnica simplesmente cessa seu avanço. A onda fica paralisada no lugar e o oxigênio naturalmente resfria, congelando. Enquanto isso, Karin, observa de perto Manoma desacordada a sua frente, quase completamente submersa, apenas com a cabeça e os ombros expostos para fora do gelo.

Yukio tentar reagrupar-se com Kirihara, mas antes que pudesse reagir, mechas escarlates estavam ao lado dele, desferindo um golpe em seu rosto e destruindo sua máscara, deixando um corte profundo. Ele, atônito, tentou com dificuldade contra-atacar, mas ela havia desaparecido novamente.

— É melhor pensar bem antes de usar seus ataques a partir de agora. — Karin, a partir da mesma posição de antes, ao longe, comentou calmamente, como se nunca tivesse saído do lugar. — Palpite meu: você e aquela mulher usam essas máscaras, porque ainda não despertaram a capacidade de aclimatação do seu clã. Correto?

Yukio a olha com uma expressão de terror em seus olhos.

A Uzumaki, porém, sentiu uma grande massa de chakra se aproximando e uma sombra gigante se formou sobre ela. Quando ela olhou para cima, era mais uma daquelas massas gigantes de terra que o gêmeo mais novo lançava sobre ela. Ele, ao longe, sorria de forma desdenhosa. Jamais esperando que uma sombra gigante se fizesse sobre ele, e quando olhasse para cima: sua própria técnica caindo sobre si mesmo.  

Ele tentou se mover, mas seu corpo não movia, paralisado. O impacto da técnica sobre ele foi devastador, o campo de batalha se tornou um caos de poeira, detritos e tremores violentos, sentidos a quilômetros ao redor.

Quando a poeira assentou, Kirihara surgiu entre rochas e pedras gigantes, com parte de suas roupas rasgadas e sujas, visivelmente abalado, mas sem ferimentos graves devido à sua habilidade de distribuir a pressão do golpe pelo ambiente. Karin, então, decidiu revelar a natureza de suas habilidades.

— Essas duas espadas são conhecidas como Jabi” (蛇尾, Caudas de Serpente). A espada longa em minha mão direita cria uma barreira com um raio de pelo menos 300 metros. Dentro dessa barreira, a distância se torna um mero conceito intelectual, assim, eu posso distorcer a percepção e a realidade da distância da forma que eu bem entender. Se eu quiser, posso fazer com que o espaço entre nós, por um breve momento, não exista e assim surgir na sua frente sem nem mesmo sair do lugar. Eu posso criar tanto espaço entre nós que você nunca poderá me alcançar, não importa o quão próximo pareça.

Ela, então, surge diante de Ugatsu Kirihara. Ele tenta golpeá-la, mas quando seu soco estava a centímetros do rosto dela, seu corpo não se move mais. Ela, assim, continua: — O espaço atua como o limite para matéria e todo movimento precisa de espaço para acontecer. Se não há espaço à frente ou atrás, acima ou abaixo, tudo simplesmente congela no lugar.

Kirihara, nervoso, mas ainda soberbo, deu uma gargalhada sonora.

— A habilidade dessa espada é realmente impressionante, indo muito além das minhas expectativas. Mas isso não será suficiente para superar a minha Kekkei Genkai. Você nunca conseguirá me ferir!

Karin sorriu levemente e encostou a ponta de sua lâmina curva de sua mão esquerda no braço estendida de Kirihara. E, embora não tenha conseguido feri-lo, marcas douradas começaram a se espalhar do ponto de contato com o braço.

— A outra espada me permite interagir com toda e qualquer matéria, manipulando a direção, orientação e movimento de tudo o que toca.

O braço de Kirihara começou a girar com velocidade e violência em seu próprio eixo, deformando-o e eventualmente decepando-o. Ele gritou de dor, enquanto Karin, com uma expressão impassível, continuava a olhar para ele com uma frieza calculada. O campo de batalha estava em ruínas, a poeira se assentando lentamente.

O gêmeo mais novo, atônito e ferido, caiu de joelhos, a fúria e a derrota em seus olhos. Porém, a Uzumaki, ofegante, recua em instinto quando a energia ao redor dele atinge um nível aterrador. Ele, tomado pelo desespero, começa a inflar seu chakra de forma assustadora, gerando uma pressão tão intensa que o solo sob seus pés começa a rachar, as ruas e prédios ao redor cedendo à força esmagadora que emanava de seu corpo. Uma cratera gigante se formou ao redor dele, enquanto fendas surgiam rasgando as ruas por centenas de metros. A tensão no ar aumentou, tremores poderosos eram sentidos por toda a vila, e, antes que qualquer um pudesse reagir, Kirihara rugiu o nome de sua técnica final com uma voz carregada de ódio e desespero:

— Liberação de Pressão: Grande Campanário Insólito: Canção Fúnebre de Anunciação da Vinda de Deus (圧遁 ・大鐘楼異様: 神の降臨の告知葬歌, Atton: Dai Shōrō Iyō: Kami no Kōrin no Kokuchi Sōka)!

Cristais negros irromperam violentamente do solo incandescente que se formara abaixo de seus pés, crescendo em um ritmo frenético, como uma infestação que se espalhava em todas as direções. As formações tomavam a forma similar de gigantescos campanários, erguendo-se acima dos edifícios de Amegakure e envolvendo Kirihara em uma fortaleza impenetrável. A área rapidamente foi dominada pela gigantesca estrutura, com cristais afiados sendo lançados em todas as direções. As construções ao redor eram perfuradas como papel, e Karin e Kanemori mal conseguiram se proteger atrás dos escombros.

Karin cerrou os dentes, sentindo a adrenalina pulsar por seu corpo. Sabia que, se não encontrasse uma forma de lidar com aquilo, todos ali morreriam. A situação parecia desesperadora, mas, antes que Karin fosse atingida por uma lança de cristal que surgiu inesperadamente do solo, um vapor quente envolve o local e, de repente, Suigetsu apareceu ao lado dela, com um sorriso no rosto.

— Surpresa, não é? — Ele disse, segurando a cintura de sua companheira e puxando-a para longe de uma lança de cristal que surgiu perigosamente próxima do solo.

Karin olhou surpresa para ele, sem palavras com a súbita aparição de Suigetsu. Ela assente com a cabeça, exausta, mas aliviada por tê-lo de volta.

— Bom trabalho, ... — Comentou com um tom relaxado, estendendo a mão para pegar o pergaminho que ele havia confiado a ela. — ...mas agora é minha vez de assumir a responsabilidade.

Com um movimento rápido, Suigetsu invocou a Espada-Relâmpago, que brilhou com uma energia intensa. Ele a ergueu em direção ao céu, e um fio de energia partiu da lâmina, subindo até as nuvens. A atmosfera muda drasticamente quando o céu chuvoso começa a escurecer ainda mais, relâmpagos brilhando violentamente entre as nuvens, enquanto nuvens negras se aglomeravam sobre Amegakure. Os trovões ribombavam, como um prenúncio de uma catástrofe iminente, e então os relâmpagos começaram a cair incessantemente na área de batalha.

Dos locais de cada raio que atingia o solo, lobos gigantes formados de pura energia elétrica se erguiam, seus corpos brilhando com eletricidade crua. Suigetsu observou satisfeito enquanto o número de lobos aumentava rapidamente, até que o campo de batalha estava cercado por centenas, talvez milhares deles.

— Vamos acabar com isso de uma vez. — Suigetsu murmurou, os olhos brilhando de excitação quando sua técnica “Miríade de Lobos — Formação de Guerra” (大捕食者: 狼の群れ戦陣, Dai Hoshokusha: Ōkami no Mure Senjin) é invocada no campo de batalha.

Com um comando, os lobos começaram a se unir, formando um gigantesco lobo de energia que se elevava ao céu, tão grande quanto os prédios ao redor. Ele avançou com uma velocidade surpreendente, seus movimentos erráticos e imprevisíveis, enquanto rasgava a fortaleza de cristais.

A explosão de energia elétrica que se seguiu foi tão intensa que iluminou toda a área, cegando por um breve momento todos os presentes. Quando a luz e o caos cessaram, o que restava era uma visão de completa devastação.

Kirihara estava caído no meio dos destroços, completamente nocauteado e nu, com o corpo coberto de queimaduras. Ao redor, pedaços minúsculos de cristais suspensos no ar brilhavam intensamente, como poeira de diamante que flutuava em meio à destruição. Ele mal parecia o mesmo homem arrogante que outrora acreditava ser invencível.

Suigetsu abaixou a espada, respirando pesadamente, enquanto o campo de batalha finalmente silenciava. Ele olhou para Karin e deu um sorriso satisfeito. Ela, por sua vez, ainda segurando as espadas Jabi, observou a cena com uma expressão séria. Ela fitou o inimigo derrotado, mas sua mente já alçava problemas maiores que estariam por vir.  

O Hōzuki, alheio as questões que enevoavam a mente de Karin, estava pronto para ceifar a vida de Kirihara, sua espada relampejante erguida e prestes a cravar no peito dele, que jazia desacordado e vulnerável. Porém, antes que ele pudesse dar o golpe final, a mão de Karin agarrou seu braço, interrompendo o movimento.

— O que você está fazendo, Karin? — Ele a olha confuso, tentando entender sua motivação.

A Uzumaki, por um momento, não responde. Seus olhos fixam-se no corpo inconsciente de Kirihara, respirando pesadamente e coberto de feridas.

—  Não é nossa responsabilidade lidar com ele. — Ela sussurra, com uma convicção que parece surpreender até a si mesma. — Querendo ou não, ele ainda é um membro do clã que está nos auxiliando em nossa missão. Ele... ainda é o irmão de Kanemori, e herdeiro da Yume.

Em seguida, ambos olham para ela, esperando uma resposta definitiva. A expressão da mulher, que até então se mantivera estoica, agora mostrava sinais de tristeza e cansaço. Havia algo no olhar de Kanemori que ela entendia, algo que a fazia hesitar em deixar que o pior acontecesse, mesmo depois de toda a destruição que ele causara.

Suigetsu bufa, relutante em baixar sua arma. — Esse cara quase assolou uma parte da vila, levando você e a irmã dele junto. Você realmente acha que ele merece ser poupado? Ele vai voltar atrás de nós assim que tiver chance.

Kanemori suspira profundamente, seu olhar vazio, refletindo um fardo emocional que parecia pesar mais que o próprio combate. — As ações do meu irmão... já desencadearam consequências que não se podem mais controlar. —  Sua voz soa calma, muito embora perceba-se sua apreensão. — Há coisas piores que a morte, e ele vai descobrir isso da pior maneira, lidando com as consequências de suas ações.

Suigetsu relutantemente abaixa a espada, seus olhos ainda fixos na mulher a sua frente, mas ele sabe que a decisão já foi tomada. Ela, então, caminha até o corpo de seu gêmeo, parando ao lado dele por um instante. Seus olhos percorrem o campo de batalha, as ruínas e destroços espalhados ao redor, antes de se voltarem para Karin e Suigetsu. —Vocês dois devem ir ao porto, e eu cuidarei de todo o resto por aqui. Ficarei para verificar a situação e garantir que eles não causem mais problemas.

O tom de sua voz sugere mais do que ela expressa, um fardo pessoal e uma tristeza profunda. Suigetsu e Karin trocam olhares, percebendo que não havia muito mais a ser discutido.

— Certo! — Suigetsu finalmente diz, dando de ombros, sem a habitual irreverência. — Se você diz. Só espero que essa escolha não volte para nos morder mais tarde.

Ele conclui, ainda irritado, guardando sua espada em um movimento brusco, e lançando um último olhar para o corpo do Kanemori antes de virar as costas. A ruiva toca levemente em seu braço numa tentativa de transmitir calma, enquanto ele assente, ainda contrariado, mas pronto para seguir em frente.

Eles caminharam em direção ao porto, abandonando sua guia. Ela, por sua vez, observou os dois se afastarem por um momento antes de voltar sua atenção para seu gêmeo, ainda imóvel no chão.

........

No salão de reuniões da Vila Oculta da Folha, a tensão estava no auge. O ar carregado reflete a gravidade da situação. As vozes de Shizune e Ibiki Morino reverberavam pelas paredes, enquanto eles expressavam suas preocupações em relação a Sasuke Uchiha. A suspeita de que o Uchiha estava realizando ações por debaixo dos panos e, potencialmente, pavimentando o caminho para um novo conflito entre as nações, foi suficiente para alarmar os líderes da vila.

— Precisamos ser realistas, Naruto. Sasuke pode ter voltado, mas as sombras do seu passado não se dissipam tão facilmente. — Disse Shizune, seus olhos fixos em Naruto, enquanto Ibiki, com uma expressão séria, acenava em concordância. — Ele tem a liberdade que poucos possuem, considerando seu histórico como desertor e assassino. Para piorar, suas ações estão se tornando imprevisíveis. O que impede que ele, mais uma vez, se volte contra nós?

Nara Shikamaru, calmo, mas decidido, acrescentou de forma pensativa: — Sasuke usufrui de uma autonomia quase irrestrita. Não podemos ignorar que, no passado, ele já representou um risco para a vila e para o mundo. Ainda que tenha salvo a todos no final, ele permanece um enigma. A sua ausência prolongada e suas decisões solitárias podem facilmente ser mal interpretadas... ou piores.

— Shizune e Shikamaru estão certos. Eu, mais do que ninguém, compreendendo o peso da traição de um grande herói nas marcas em meu rosto. Sasuke tem poder e influência, e não podemos nos dar ao luxo de ignorar o que isso pode significar para a segurança da vila. — Disse Ibiki, com sua expressão sombria habitual, cruzando os braços e apoiando-se na mesa, sua voz cortante e implacável.

Naruto, sentado à mesa, estalou o punho contra a superfície, claramente irritado. — Vocês estão falando de Sasuke como se ele fosse o mesmo de antes! — A voz do Hokage ecoou pelo salão, contendo frustração. — Ele é meu amigo, e eu confio nele mais do que em qualquer outra pessoa! Ele está lá fora, protegendo a vila e o mundo de ameaças que vocês nem sabem que existem. Como podem duvidar dele depois de tudo que ele fez e ainda faz pela vila? Depois de tudo o que ele perdeu, e continuou sacrificando na busca de sua rendenção?

O rosto de Shikamaru Nara era uma mistura de frustração e resignação.

—  Naruto, não é uma questão de não confiar em você, mas de olhar para o panorama maior. Sasuke foi um criminoso, um vingador... Ele já esteve no lado oposto e, sim, ele ajudou a salvar o mundo, mas isso não apagou seu histórico. Ele recebeu muita liberdade para quem já foi um desertor E agora ele está sozinho e livre por aí, sem prestar contas a ninguém.

A tensão crescia à medida que Naruto se levantava abruptamente, seu rosto vermelho de indignação, seu punho cerrado sobre a mesa.

— VOCÊS ESTÃO FALANDO SÉRIO?! Sasuke salvou o mundo, assim como eu! Ele colocou a vida dele em risco inúmeras vezes por Konoha e por todos nós! E agora vocês ousam duvidar dele?! — A voz de Naruto é mais alta do que o habitual, uma mistura de frustração e fervor.

Sakura, sentada ao lado de Naruto, manteve uma postura mais comedida, mas seus olhos revelaram o mesmo ardor. Inclinou-se progressivamente para frente, tentando controlar as emoções que borbulhavam dentro dela. Mesmo assim, ela optou por uma abordagem mais equilibrada, intercedendo de maneira mais diplomática. — Sasuke pode ter sido um desertor, um criminoso, sim, ... — Ela admitiu. — ...mas o homem que ele é hoje está claro para todos que o conhecem. Ele não tenta apagar o que fez, mas se reconstruir a partir das ruínas de sua própria história.

Ela dirigiu-se diretamente para Shikamaru, cuja expressão continuava neutra, mas atenta ao que Sakura dizia.

— Sasuke é um herói que salvou toda a humanidade de seu fim. E hoje, ele é mais do que um protetor para Konoha. Ele é um guardião das nações, enfrentando perigos que sequer conseguem conceber, sejam eles externos ao nosso mundo... — e Sakura fez uma breve pausa, escolhendo cuidadosamente as palavras — ou internos.

— E ninguém aqui está questionando isso, Sakura. — Respondeu Shizune com calma, mas com um ar de preocupação. — O ponto é que as recentes missões secretas que Sasuke está conduzindo estão nos deixando no escuro. Ele age sem prestar contas à vila. Essa falta de transparência nos deixa vulneráveis.

Naruto balançou a cabeça com frustração. — Ele não precisa ficar explicando cada movimento que faz! Sasuke está fora protegendo a todos nós! Confio nele com minha vida, e vocês deveriam fazer o mesmo.

Ibiki, com seu semblante frio e calculista, contrapõe-se novamente. — Naruto, você pode confiar, mas nosso trabalho é proteger a vila. E, como conselheiro da vila, é meu dever alertá-lo quando vir sinais de perigo. Sasuke já se voltou contra nós uma vez. O que impede que ele faça isso de novo, caso decida que seus objetivos são mais importantes que Konoha?

Kakashi, que estava sentado na cabeceira, manteve a calma, como sempre. Ele sabia que aquela discussão não seria resolvida de maneira impetuosa. — Antes de tirarmos conclusões precipitadas, devemos dar a Sasuke a oportunidade de se defender. —  Sugeriu o ex-Hokage, cruzando os braços. — Ele é alguém que já demonstrou sua lealdade de formas que poucos podem sequer entender. Sugiro que o convoquemos para que esclareçamos essas questões.

Naruto concordou veementemente, já se preparando para defender seu amigo mais uma vez, enquanto Sakura o observava com uma expressão de gratidão e confiança. — Sasuke não está escondendo nada. — Ela afirmou com certeza. — Ele está enfrentando ameaças que, aqui, tornam toda essa discussão patética mediante a importância de sua missão. Se ele persiste em ir sozinho, é porque essa é a sua forma de proteger tudo o que importa para ele, para todos nós.

— E você acha que ele seria totalmente honesto conosco, Kakashi? O peso de suas palavras devem valer mais que ações?

— Isso é injusto, Shizune! Sasuke sempre foi direto e honesto comigo e suas ações até o presente momento se revelam importantes para vila. Mas vocês continuam tratando ele como um inimigo! — Disse o loiro.

Shikamaru cruzou os braços cansando, respirando fundo antes de falar novamente.

— Naruto, não é uma questão de tratá-lo como inimigo. É sobre responsabilidade. Sasuke está atuando sem qualquer supervisão, e isso nos torna vulnerável, uma vez que ele é um ninja que levanta sua espada por Konoha. O que acontece se alguém de fora interpretar suas ações de forma errada? Ou se ele realmente estiver pavimentando o caminho para algo maior? Precisamos pensar em Konoha, nas alianças que lutamos tanto para manter.

O silêncio se instalou brevemente na sala, enquanto os membros presentes ponderavam as palavras de Shikamaru. A sala caiu em silêncio por um momento. Sakura então voltou a falar, sua voz agora mais suave, mas cheia de emoção.

— Eu sei que vocês têm dúvidas. E eu também entendo que Sasuke não é um santo. Ele não tenta ser. Mas o que é visível para os que o conhecem, e para todos que lutaram ao lado dele, é que ele não é mais movido pela vingança ou ódio, mas o mesmo vigor de querer proteger a vila que seu irmão, que sacrificou tudo para proteger Konoha também. E Sasuke está protegendo algo muito maior do que apenas Konoha agora. Ele protege o equilíbrio das nações. Ele já salvou o mundo uma vez, e faz isso todos os dias sem esperar reconhecimento. O mínimo que a vila pode fazer por ele, por sua dívida eterna com o clã Uchiha, é lhe dar a oportunidade de defesa.

Kakashi concordou.

— Ela está certa. Trazer ele para esta conversa é a única maneira de resolvermos isso de forma justa.

Shikamaru, no entanto, não cedeu tão facilmente. — Sasuke sempre foi assim, Sakura. Ele age sozinho, toma decisões com base em seu próprio julgamento. E a questão não é sobre o que ele protege, mas sobre a confiança de que a vila deve ter nele.  Entendo sua lealdade, mas você precisa admitir que é perigoso dar tanta liberdade a alguém que já mostrou ser... imprevisível.

Sakura estreitou os olhos, o tom de sua voz se tornou mais ameaçadora. — Imprevisível, Shikamaru?

Ibiki cruzou os braços, seus olhos afiados fixos em Naruto. — É exatamente isso que nos preocupa, Hokage. A falta de limites, de transparência... Sasuke já andou por um caminho escuro antes. Mas não é nem uma questão de considerar o que ele fez no passado tampouco negar o que ele tem feito por nós no presente. É sobre proteger o futuro da vila e garantir que não fiquemos cegos quanto aos riscos de suas ações.

Sakura fechou os punhos, mas manteve a calma. — Eu entendo que vocês têm suas preocupações. Só que vocês acham que podem controlar tudo, mas nem sempre é assim. Às vezes, confiar em alguém é o único caminho que podemos percorrer.

Shikamaru respirou fundo, consciente de que o debate estava se prolongando. — Talvez você tenha essa certeza no fundo do seu coração, Sakura. Mas confiar cegamente nunca foi uma estratégia inteligente neste mundo. O mundo shinobi é marcado por traições e surpresas desagradáveis. Se estivermos errados, que Sasuke venha e nos prove isso. Só precisamos garantir que ele ainda esteja do nosso lado.

........

Karin e Suigetsu caminham pelo porto oculto de Amegakure. Eles perceberam a presença de mais dos fiéis subordinados de Soga, posicionados de forma estratégica, vigiando o porto em silêncio, seus olhos observando cada passo dos recém-chegados.

Uma figura distinta surge em meio à neblina e à chuva. Uma mulher de pele pálida, quase translucida, e cabelos castanhos com toques dourados que brilhavam mesmo sob a chuva, vestida com elegância, se aproxima com um sorriso afável. Ela parecia deslocada naquele ambiente sombrio, mas sua presença irradiava uma certa moda que contrastava com o clima severo de Amegakure. Seu cinza e longo sobretudo parecia feito sob medida, e um chapéu largo cobria parte de seu rosto, protegendo-a das gotas de chuva. A expressão dela era cordial, quase como se estivesse recebendo convidados esperados para um evento social. Seu sorriso, no entanto, parecia iluminar a atmosfera do lugar.

— Sejam bem-vindos! — Disse a mulher em um tom calmo e acolhedor, apesar da tensão evidente no ar. — Parece-me que trouxeram o sol com vocês! — Ela comentou com um humor irônico, olhando de Suigetsu para Karin. Seus olhos percorreram Karin de cima a baixo, e ela brilhou com malícia. — Você é mesmo uma mulher muito bonita e sexy. Quase me faz esquecer o clima terrível desta vila.

Karin bufou, revirando os olhos, mas Suigetsu soltou uma risada contida, aproveitando o momento.

— Soga está esperando. Por favor, sigam-me.

Sem esperar por uma resposta, ela começou a caminhar em direção a uma fileira de embarcações atracadas. Karin e Suigetsu trocam olhares, cientes de que entrariam em território perigoso. Mesmo assim, seguem a mulher sem hesitar, mantendo suas guardas altas.

O porto estava repleto de barcos, a maioria deles de médio porte, alguns parecendo robustos e bem mantidos, outros menos confiáveis. Ela os conduz por entre as embarcações do porto até um barco de madeira de aparência destoante. A madeira estava visivelmente apodrecida, cheia de buracos, e o odor que emanava dali era repulsivo — uma mistura de mofo, sal e algo podre que subia da água ao redor. O som das ondas batia suavemente contra o casco cheio mal disfarçava o desconforto de estarem chegando naquele lugar.

A embarcação diante deles era... deplorável. Sua madeira estava escura, apodrecida, e o casco, cheio de buracos, exalava um cheiro insuportável de podridão e decadência.

— Você está brincando, né? — Murmurou Suigetsu, tapando o nariz e olhando com desgosto para o barco.

Era um barco de aparência repulsiva, quase uma relíquia esquecida no tempo, o que contrastava fortemente com a elegância da guia.

Antes que possa comentar mais, um homem magro e esguio surgiu da neblina. Olhos perolados e cabelos que refletiam o mesmo tom, o que dava a ele uma aparência quase espectral. Usava um chapéu kasa, tradicional de muitos ninjas da Vila da Chuva, e portava um bastão grande, com um arco ornamentado na ponta. Ele os fitou com olhos vazios e indicou o interior da embarcação com um gesto simples, parecia estar ali com o único propósito de ser um guardião do lugar.

— "O Pai das Farsas" os aguarda lá dentro. — Disse ele com uma voz arrastada, apontando para o interior do barco. Seu tom era apático, como se a visão de estranhos não fosse nada além de uma rotina enfadonha.

Karin trocou um olhar desconfiado com Suigetsu antes de dar um passo à frente. Eles adentraram o barco, atravessando o convés sujo e deteriorado. O cheiro repulsivo parecia se intensificar conforme desciam pelas barbas instáveis, mas, à medida que avançavam, a atmosfera mudou. O interior do barco, embora velho e mal-conservado, abrigava uma cena inesperada.

Sob uma tenda improvisada, resguardada da chuva, Soga estava recostado em uma espreguiçadeira, saboreando tranquilamente chá e biscoitos, como se aproveitasse de um momento de lazer. O contraste entre a decrepitude do ambiente e a postura relaxada de Soga era quase cômico, mas ao mesmo tempo perturbador. Seu rosto exibia um sorriso largo e cruel, e seus olhos obscurecidos brilhavam de uma maneira perturbadora. Perto dele, duas caçadoras — figuras imponentes e letais — permanecem de pé, seus olhares vigilantes e corpos prontos para agir a qualquer sinal de ameaça.

Suigetsu recostou sua mão no bolso de acessórios, enquanto Karin observava a cena com cautela.

Soga, percebendo a chegada de seus “convidados”, olhou para eles com um sorriso irônico, seus olhos brilhando com malícia antes de lançar uma gargalhada estrondosa, que ecoou pelo interior do barco com uma vibração quase sinistra. Ele parecia se deliciar com a estranheza da situação.

— Ah, mas que surpresa agradável! —  Ele exclamou ainda rindo, enquanto colocava uma xícara de chá de volta na bandeja. — Que prazer ver que vieram ao meu convite. Espero que o cheiro não os incomode. Este barco é uma peça rara, sabem? Tem suas... particularidades.

Suigetsu cerrou os dentes, visivelmente irritado, enquanto Karin se mantinha impassível, seus olhos cravados em Soga.

— A luta anterior foi realmente... emocionante, para dizer o mínimo! Vocês dois me proporcionaram um espetáculo. Nunca pensei que uma batalha contra os membros do clã Ugatsu fosse tão envolvente. Fiquei genuinamente... deliciado. Um show inesperado! — Ele afirmou com um sorriso largo no rosto.

Suigetsu e Karin se mantiveram em silêncio, observando atentamente cada movimento do homem. Eles sabiam que Soga não era alguém de se subestimar, mesmo em um momento aparentemente casual como aquele.

— Kirihara realmente me pediu minha permissão para que pudesse matar vocês dois, sabe? —  Contínuo Soga, tomando um gole de seu chá com calma, como se discutindo o clima. — Mas, é claro, deixei claro que ele poderia fazer o que quisesse. Só que eu, por razões políticas... bem, eu não iria intervir em sua defesa caso as coisas não saíssem como ele esperava. E bem... parece que as coisas realmente não saíram. De qualquer forma, foi divertido observar o desenrolar dos eventos. — Ele riu novamente, saboreando o biscoito em sua mão.

Karin cruzou os braços, sem se impressionar com a provocação. — Soga, poupe-nos das formalidades. Estamos aqui pelos termos do acordo.

Soga riu suavemente, o som quase como o de uma serpente sibilando. — Sempre direto ao ponto, vocês dois. Admiro isso. Mas, saibam, os melhores negócios nunca são feitos com pressa. E quanto ao que vocês querem... Ah, ele está seguro, mas irei levá-los até lá. Mas as coisas mudaram. Temos alguns detalhes novos a discutir antes que eu os entregue ao seu destino.

Karin estreitou os olhos. — Que tipo de detalhes? Não estamos aqui para negociar de novo. Já temos um acordo.

Soga mostrou-se enigmático. — Ah, mas o que seria de uma farsa sem uma reviravolta inesperada?

O silêncio que se seguiu foi subjugado pelo som da chuva, criando uma tensão quase insuportável. Soga sorriu de maneira enigmática, seu olhar brincando entre os dois. Ele gesticulou para a figura do homem que os recebera na entrada do barco. — Este barco pode parecer um tanto... modesto, mas garanto que ele os levará a lugares que jamais imaginaram. Discutiremos os detalhes durante o percurso.

Suigetsu, ainda desconfiado, deu um passo à frente, seus olhos apertados em Soga. — E por que devemos confiar em você?

Soga inclinou-se para frente, ainda sorrindo, mas seus olhos adquiriram uma seriedade gélida. — Porque, meu jovem demônio, neste momento, confiar em mim é sua única opção.

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CAPÍTULO 13: NO LIMITE DO ABISMO PT.1


A chuva, que já era forte, caiu de forma cada vez mais implacável, lavando os destroços do campo de batalha e transformando a paisagem devastada em um cenário ainda mais sombrio, melancólico e desolador. Kanemori, encharcada, seus cabelos grudando na testa e a maquiagem tragicamente borrada, observava a imensidão diante dela. Onde antes eram construções belíssimas e prédios imponentes, agora restavam apenas escombros onde quer que seus olhos alcançassem. Quarteirões inteiros foram obliterados, transformados em ruínas, tudo engolido pela fúria do combate que havia se desenrolado ali, e o ar carregava o cheiro metálico de sangue.

O sentimento de desolação a envolvia, e, à medida que seus olhos percorriam a destruição, uma tristeza profunda aflorava em seu peito. Ela se agachou perto de seu irmão, Kirihara, cuja respiração irregular a mantinha em alerta, observando com tristeza a situação deplorável em que ele se encontrava.  Ele estava gravemente ferido. Seu corpo coberto de queimaduras severas e seu braço decepado ainda sangrava, enquanto ela começou a tratar seu irmão com os poucos conhecimentos médicos que possuía, usando o que restava de suas forças para tentar estancar o sangue que não parava de escorrer. Suas mãos tremiam levemente, não só pela dor física, mas pela dor emocional que a situação lhe impunha.

Ela sabia que as marcas resultantes da batalha, físicas e emocionais, seriam permanentes. Kirihara havia sido o grande orgulho do clã Ugatsu, desde o momento em que despertou ainda muito jovem a habilidade única de aclimatação, uma técnica rara e essencial para a sobrevivência do clã. Mais que isso, ele alcançou uma transformação de natureza avançada, rara e imbatível, que o fez vencer inúmeras batalhas e defender com força e poder a existência do seu clã. Agora, estava limitado a uma sombra de si mesmo. As queimaduras espalhadas por sua pele seriam uma lembrança eterna do confronto com a reencarnação do demônio da névoa oculta, um inimigo que ela sabia ser formidável e brutal.

— Você sempre foi tão orgulhoso. — Murmurou, seus olhos se enchendo de lágrimas silenciosas.

Com um gesto suave, ela deslizou o dedão pelo corte que se abriu na comissura dos lábios de seu gêmeo. Ele estava desfigurado, parte dos seus dentes expostos pela ferida. O olho esquerdo estava gravemente ferido e, muito provavelmente, ele ficaria cego daquele lado.

Ela sentiu o peso esmagador da culpa e da responsabilidade. E a cada vez que ela passava os dedos sobre as cicatrizes e feridas de Kirihara, lembranças de batalhas passadas ecoavam em sua mente, e o sentimento de impotência começava a se instalar em seu peito, por mais que não tenha partido dela as decisões tolas que o levaram aquele destino cruel.

Ela sentiu a presença de Yukio ao longe, sua energia tensa e ansiosa. Ele estava cavando freneticamente em meio aos escombros, tentando localizar Inoue, preso debaixo dos destroços. O rapaz estava desesperado, escavando com as próprias mãos, ignorando tudo ao seu redor. Kanemori inspirou por um momento e olhou para Kirihara uma última vez, antes de se aproximar de Yukio. Ele não parecia sequer notar sua presença, absorvido em sua missão, quando ela encostou a mão em seu ombro.

Tentando oferecer ajuda, ela se ajoelhou ao lado dele, estendendo a mão. — Deixe-me ajudá-lo.

Yukio a ignorou, seu rosto distorcido pela raiva e desespero. Ele não queria sua ajuda, não naquele momento, não depois de tudo o que havia acontecido. Na primeira tentativa de ajudá-lo, ele apenas balançou a cabeça em negativa, recusando a oferta. Na segunda tentativa de Kanemori, ele a empurrou com força, um gesto brusco e cheio de raiva, mas sua força era inconsistente, debilitada pelo desespero.

— Eu não preciso de você! — Ele comentou, sua voz rasgando o ar, mas sem a verdade de quem realmente acreditava nisso.

Na terceira vez em que ela se aproximou, Yukio ameaçou Kanemori com seu equipamento de jatos de oxigênio, mas ela não recuou. Em vez disso, imóvel, com os olhos fixos nos dele, até que, finalmente, ele desmoronou emocionalmente. Yukio começou a chorar, suas lágrimas se misturando com a chuva pesada, e sua resistência se desfez. Seu corpo tremia de exaustão, física e emocional.

Kanemori, em silêncio, se ajoelhou ao lado dele. Juntos, nenhuma palavra a ser dita, conseguiram remover os pedaços de destroços que cobriram Inoue, pedra por pedra, metal retorcido por metal retorcido, enquanto o cheiro de sangue e morte os envolvia. Entre os escombros, corpos de subordinados do Soga apareciam, muitos deles vestidos de branco, agora cobertos de sangue, esmagados pelas construções que deveriam protegê-los. Eles ficaram presos no fogo cruzado, soldados sem sorte que não obtiveram a autorização para evacuar a tempo.

O silêncio entre eles era interrompido apenas pelo som da chuva e pelo ocasional grunhido de esforço. Depois de algum tempo, eles finalmente encontraram Inoue, seu corpo preso sob uma pilha de detritos, com o rosto pálido e ensanguentado. Yukio caiu de joelhos, exausto, enquanto Kanemori imediatamente começou a prestar os primeiros socorros, utilizando seus conhecimentos médicos para estabilizar sua condição. Havia feridas profundas, fraturas visíveis, mas o coração de Inoue ainda batia, embora fraco.

—  Ele vai ficar bem. — Murmurou ela, mais para si mesma do que para Yukio.

Ela limpou e fechou as feridas, enquanto Yukio, ainda choroso, olhou para o corpo frágil daquele que ele tinha como seu mentor. Após o tratamento, ela também cuidou de um corte profundo no rosto de Yukio, que sangrou incessantemente desde a luta contra a Uzumaki.

Com Inoue estabilizado, eles se dirigiram em silêncio até a área onde Manoma, outro jovem e talentosa membro do clã Ugatsu, foi aprisionada em uma formação de gelo. A cena que se desdobrou diante deles, no entanto, foi mais um golpe brutal. Suas mãos experientes examinaram o corpo frio, e seu coração afundou ao perceber que Manoma não havia sobrevivido. Mais uma vida perdida por decisões insensatas. Uma vítima das circunstâncias, alguém com tanto potencial, agora perdida para sempre.

A culpa e a raiva se misturaram em seu peito, uma dor profunda e difícil de suportar. Seus olhos começaram a se nublar de tristeza quando, de repente, seus reflexos aguçados a alertaram de algo. Um guarda-chuva foi lançado em sua direção, que ela interceptou no ar com reflexos rápidos, agarrando-o com facilidade.

Ao longe, emergia uma figura familiar: Yume, sua mãe. A velha senhora mantinha o semblante impassível de sempre, mas, Kanemori, como uma especialista em assassinatos, não deixou de notar pequenos detalhes que escapariam à maioria. O coração descompassado, os olhos perdendo foco, a respiração levemente alterada e o tremor sútil nas mãos da mulher revelaram a ansiedade e o desespero que Yume escondia por trás de sua fachada.

— Mãe?! — Kanemori murmurou, abaixando o guarda-chuva.

Yume manteve o silêncio por um momento, seu olhar fixo em sua filha. As palavras não eram necessárias. Kanemori sabia que, por trás daquela fachada, sua mãe estava inquieta, compartilhando de sua dor e preocupação. Essa batalha deixou cicatrizes não apenas no corpo de seu irmão, mas também nas almas daqueles que estavam ao seu redor.

Agora, à medida que a chuva caía com mais força, a sensação de perda e arrependimento era quase tangível. E, enquanto a chuva continuava a cair implacável, o silêncio entre mãe e filha era o único som além da batida incessante da água contra os escombros.

........

A bordo da embarcação envelhecida e em péssimas condições, o clima muda drasticamente quando o misterioso rapaz de cabelos e olhos perolados, entra em ação. Com um movimento gracioso, ele sopra uma bolha de sabão gigante que rapidamente envolve toda a embarcação. A superfície da bolha, inicialmente translúcida, começa a adquirir uma tonalidade opaca, enquanto se eleva suavemente ao céu, flutuando acima do porto de Amegakure. Por dentro, a visão externa é bloqueada, como se uma névoa espessa encobrisse a realidade ao redor. Por fora, a bolha faz algo ainda mais impressionante: começa a dobrar a luz ao seu redor, apagando completamente a presença da embarcação e de tudo o que ela contém. A sensação de desaparecer no meio da chuva constante era estranhamente claustrofóbica, mas ao mesmo tempo surreal, como se o mundo exterior deixasse de existir.

Soga, reclinado em sua espreguiçadeira, observava o espetáculo com seu habitual sorriso cínico no rosto, saboreando mais um gole de chá. Ele quebrou o silêncio com uma risada rouca e assombrosa, aproveitando a oportunidade para esclarecer à dupla quem era o enigmático rapaz.

— Este é Chárōn. — Começou ele, gesticulando com leveza. — Ele não é tão jovem quanto aparenta. Uma peça antiga no grande tabuleiro de jogos de poder de Amegakure. Um sobrevivente das purgações de Nagato... aquele a quem muitos chamaram de Deus. Chárōn é, de certo modo, uma sombra entre as sombras.

Chárōn, por sua vez, permaneceu impassível, focado em sua tarefa. A bolha gigante que envolvia a embarcação distorcendo a luz ao redor, apagando completamente sua presença do mundo exterior. De fora, a embarcação e todos a bordo se tornaram invisíveis, ocultos em uma barreira impenetrável.

Soga continuou, detalhando a história do rapaz. — Durante a era de Hanzō, Chárōn foi um dos membros mais temidos do batalhão pessoal do Salamandra. Quando Nagato decidiu que todo aquele que já servira a Hanzō deveria desaparecer... ele foi o único de uma era já esquecida a escapar do julgamento de Deus. Suas habilidades de ocultação sobrenaturais permitiram que ele se escondesse por anos, além dos olhos de Deus, até que Deus não estivesse mais entre nós.

O tom de Soga era casual, quase como se estivesse contando uma história trivial, mas a tensão no ar era palpável. Chárōn, por sua vez, ouvindo sua história ser narrada, soprou uma série de bolhas menores que se espalharam pelo interior da embarcação, suas superfícies refletindo a luz de forma hipnótica. Cada uma delas flutuava com uma leveza etérea, mas à medida que se moviam, algo peculiar começava a acontecer. Marcas iridescentes apareciam na superfície de algumas bolhas, palavras se formavam em suas superfícies, como "禁" (Kin, Proibido).

O que aconteceu em seguida, no entanto, causou uma reação imediata em Karin. Ela ficou rígida, seus olhos se arregalando de surpresa e um certo medo tomando conta de suas feições. O que quer que Chárōn estivesse fazendo, afetou diretamente suas habilidades sensoriais, uma parte essencial de sua natureza shinobi.

— Eu... não consigo sentir nada! — Disse ela, sua voz tensa, enquanto seu corpo entrava em um estado de alerta máximo. Karin, que até então havia mantido sua habilidade sensorial ativa, mesmo com um alcance limitado, não conseguia mais sentir nada. Nenhuma presença, nenhuma assinatura de chakra. Era como se o mundo sensorial ao seu redor tivesse sido apagado por completo.

Era a primeira vez em muito tempo que sua habilidade sensorial falhava de forma tão abrupta e total. Sua respiração ficou mais curta, e o desconforto rapidamente se transformou em tensão. Karin olhou em volta, tentando entender o que estava acontecendo, mas nada além da opacidade da bolha e do silêncio enervante a rodeava. Tudo parecia inócuo demais, mas o fato de sua percepção sensorial estar completamente bloqueada a deixava intimidada. Suigetsu, notando a mudança em sua parceira, lançou um olhar cuidadoso para Chárōn.

Soga, agora divertindo-se com o desconforto de Karin, deu um leve sorriso. — Ah, sim! — Disse ele com uma voz provocativa. — Ele tem alguns truques interessantes. E, como você pode ver, ele pode esconder sua presença de qualquer um, até mesmo dos melhores tipos rastreadores do mundo, como você, Karin.

Karin tentou manter a compostura, mas era difícil ignorar a sensação esmagadora de impotência que a envolvia. Para alguém que confiava tanto em suas habilidades sensoriais, perder esse sentido era como estar cega em plena batalha.

Ele pausou para deixar suas palavras se assentarem, antes de continuar: — Você não encontrará muitos com habilidades como as dele. Uma verdadeira relíquia de tempos de guerra, perdido entre as sombras... até agora. Não há ninguém mais capaz para garantir que cheguemos ao nosso destino... invisíveis e intocados.

Chárōn, sem dizer uma palavra, continuava seu trabalho. A forma como ele manipulava as bolhas era quase artística, movendo seu bastão com precisão enquanto o brilho das bolhas piscava levemente ao redor. As bolhas não apenas bloqueavam a percepção sensorial, mas também criavam uma barreira de isolamento, tornando aquela embarcação, agora invisível ao mundo, um pequeno universo à parte.

Contudo, a tensão a bordo da embarcação parecia crescer com cada palavra que saía da boca de Soga, “o Pequenino”. Ele, aproveitando a atenção da dupla, se inclinou para frente, seus olhos brilhando com uma mistura de satisfação e cinismo ao introduzir as duas ‘Caçadoras’ que o acompanhavam. Suigetsu observava com um olhar crítico, enquanto Karin mantinha-se em silêncio, com o desconforto crescendo visivelmente em sua expressão.

— Ah, permitam-me apresentar minhas... meninas. — Soga começou, a voz serpenteante, envolta em um tom sarcástico e desdenhoso. — A primeira, ... — Ele gesticulou para a mais jovem de cabelos brancos, como um maestro apresentando sua orquestra. — ...um modelo baseado no Lytta vesicatoria ou escaravelho-verde-das-verrugas.

A garota deu um passo à frente, sua pele pálida quase espectral, enquanto suas franjas dançavam suavemente com o movimento. O capacete que cobria seus olhos crepitava com uma energia inquietante. Ela, por sua vez, com uma lentidão calculada, expôs a língua, revelando uma marca com o número "77" bem destacado.

— Esta é a modelo 77. — Anuncia ele com um tom quase reverente, prosseguindo, com o mesmo tom indiferente: — O que ela pode fazer é verdadeiramente fascinante. Capaz de afetar vastas áreas com um odor inebriante que emana de suas glândulas sudoríparas. Mas o verdadeiro toque de gênio é sua hemolinfa venenosa, que... bem, é um presente mortal que escorre de seus ferimentos em meio ao combate.

Karin sentiu um arrepio de repulsa percorrer sua espinha. Cada palavra de Soga soava como um eco de desumanidade, e a ideia de que essas mulheres eram meras ferramentas em suas mãos a fazia sentir um embrulho no estomago.

A atenção de todos, então, voltou-se para a outra Caçadora, uma mulher alta de pele escura, com longos cabelos bagunçados de tom castanho-claro acobreado. — Agora, ... — Continuou ele, apontando para ela. — ...essa aqui é uma das minhas joias mais preciosas.

Ela, com um gesto lento, começou a desabotoar a camisa, revelando o número “06” entre seus seios. Enquanto ele continua, seu tom agora carregado de entusiasmo. — O modelo número 06. É uma das minhas criações mais poderosas, baseado no Brachinus crepitans, o Besouro-Bombardeio. Ela é capaz de gerar explosões químicas devastadoras e nivelar o campo de batalha. Uma máquina de combate letal e altamente destrutiva.

Ele não parou por aí. — Segundo o último combate que vocês tiveram com elas, esses dois modelos foram os únicos que conseguiram causar incomodo ao nosso querido espadachim.

O Hōzuki, que até então havia escutado em silêncio, não pôde deixar passar a oportunidade de responder com seu sarcasmo afiado. — Entendo a sua preocupação, então você trouxe só quem conseguiu nos dar dor de cabeça da última vez? Com medo de mim, gorducho? — Ele riu, zombando. — Mas, me diga, qual o lance com essas numerações, afinal? 77 e o 06?

Soga inclinou a cabeça levemente, com aquele sorriso típico de quem estava sempre à frente em seus jogos.

— Ah, claro, você quer entender como as coisas funcionam! O número que cada modelo carrega é uma indicação de sua eficiência em combate. Quanto mais próximo de '0', mais poderosos são. Simples, não é? — Ele deu uma risada suave. — Todos os modelos existentes atualmente são baseados no DNA de artrópodes, criaturas que a natureza aprimorou ao longo de milênios. Com um pouco de engenharia, eles se tornaram a chave para transformar corpos humanos em armas vivas. Mas... — E aqui ele fez uma pausa dramática, olhando para o espadachim nos olhos. — ...meu corpo de pesquisa está sempre explorando novos horizontes. Imagine o que poderíamos alcançar com organismos ainda mais... poderosos.

Enquanto falava, seu tom quase sedutor, envolto em mistério e enigma, carregava uma camada de desprezo mal disfarçado por qualquer noção de moralidade ou empatia. Para ele, tudo e todos eram peças em seu tabuleiro, meras ferramentas para atingir seus objetivos.

Karin sentia a bile subir em sua garganta a cada palavra que saía da boca daquele homem. Era como se ele falasse de peças de xadrez, de forma tão fria e calculista, que a desumanização era palpável. Ela lutava para controlar sua crescente repulsa. A cada palavra, sentia uma onda de ódio fervente subir em seu peito, por ele falar das mulheres como se fossem propriedades, corpos manipulados e adaptados para satisfazer suas ambições cruéis. Ela olhou para as Caçadoras, imaginando o que as havia levado a essa situação terrível.

Finalmente, não aguentando mais, ela perguntou, sua voz tremendo de indignação: — O que levou elas a esse fim?

— Ah, isso é um detalhe fascinante. — Proferiu ele, olhando de soslaio para a ruiva, como se já antecipasse sua reação. — A mais nova,... foi entregue a mim como moeda de troca. Seu pai tinha contraído uma dívida que não podia pagar, então ela se tornou... meu pagamento. Simples, não?

Seu sorriso ampliou de maneira escarnecedora, como se estivesse prestes a contar uma piada. — Quanto à outra, ... ela foi, durante muito tempo, minha agente mais leal. Trabalhou para mim nos cantos mais sombrios do submundo de Amegakure. Mas... como sempre, a vida tem suas tragédias, não é? — Ele riu em depravação, continuando. — O filho adoeceu, ficando entre a beira da vida e a morte. Ela precisava de dinheiro, muito dinheiro, para mandá-lo para fora da vila, que não conta com muito suporte médico, e tentar conseguir algum tratamento. Foi aí que entrei com uma proposta irrecusável. Agora, vejam onde ela está.

A frieza com que ele proferiu aquelas palavras fez o sangue de Karin gelar. Ela apertou os punhos com força, mas manteve o olhar firme, tentando não deixar transparecer o nojo que sentia.

O sorriso dele se alargou, enquanto ele observava a reação da Uzumaki com fascínio. —Algumas escolhas... são fáceis de fazer, quando se está desesperado.

Cada palavra de Soga era uma faca cravada na alma de Karin. Ela sentia não apenas ódio por ele, mas uma indignação profunda por aqueles que haviam sido usados e descartados por sua vontade inescrupulosa.

— Monstro! — Ela murmurou baixinho, quase imperceptível, mas o Usuzumi, com seus instintos aguçados, ouviu perfeitamente.

Ele riu, um som seco e cortante.

Karin sentiu uma onda avassaladora de raiva e repulsa, sentindo o corpo inteiro tremer com o impulso de atacar ele. Seus punhos se apertaram, as unhas cravando-se nas palmas das mãos enquanto o olhar da ruiva queimava de raiva e, por um momento, seu chakra pulsou, quase saindo de controle. Mas justo quando estava prestes a agir, a mulher que os havia recepcionado anteriormente, a conteve suavemente. A moça sorria, um sorriso cálido, balançando a cabeça com suavidade, como se estivesse avisando-a para não cometer tal erro. Karin hesitou, o ódio queimando em seu olhar, mas algo na expressão daquela mulher a fez parar por um momento.

Suigetsu, por outro lado, reagiu com brutalidade. Com um gesto brusco, ele afastou a mão da mulher, quase como se estivesse repelindo algo sujo.

— Tire as mãos dela. — Ele murmurou, seu temperamento impulsivo. Mas a mulher não parecia se incomodar com sua reação. Ela permaneceu ali, imóvel, o seu sorriso permaneceu imperturbável, como se aquele gesto violento não fosse nada.

Foi nesse momento que Soga se levantou, aproximando-se lentamente, trazendo consigo uma atmosfera sufocante. A aura opressiva e repulsiva que emanava dele gerava uma pressão invisível, opressiva, e imunda. O ar ao redor dele era denso, asfixiante, como um miasma venenoso que impregnava o ambiente com uma energia que se prendia à pele. Cada passo que ele dava fazia com que o ambiente ao redor parecesse mais pútrido, e tanto Karin quanto Suigetsu sentiram a desagradável presença se intensificar.

— Deixem-me apresentar. — Ele disse, sua voz gotejando sarcasmo, enquanto um sorriso perturbador se espalhava por seu rosto. — Esta... é minha adorável esposa, Usuzumi Sagiri. A mãe dos meus preciosos filhos.

A forma como ele pronunciava as palavras era carregada de um desdém doentio, mas caminhava com a confiança perturbadora de quem sabia exatamente o impacto que causava.

Ele se posicionou atrás de Sagiri, e o que fez a seguir causou uma onda de repulsa imediata na dupla. Com um gesto vulgar e repulsivo, ele lambeu o pescoço de Sagiri, subindo até o lóbulo da orelha, a saliva brilhando grotescamente enquanto ele a devorava com um prazer perverso e intencionalmente provocativo. Ela manteve o sorriso, mas havia algo profundamente errado com ela. Algo em seus movimentos, na rigidez de seu corpo, sugeria que aquele sorriso não era fruto de contentamento. Um brilho nos olhos que indicava que talvez aquela submissão fosse forçada, ou pior, que tenha sido quebrada ao ponto de aceitar tudo o que ele fazia.

A Uzumaki sentiu o estômago revirar ao ver aquilo. Era um espetáculo grotesco e cada parte dela gritava para atacar, para acabar com aquela monstruosidade. Hōzuki, por sua vez, lançou um olhar de puro desprezo, mas manteve-se calado embora a tensão em seus músculos era evidente.

— Agora, vamos ao que interessa. —  Disse Soga, abraçando Sagiri ainda mais forte, como se ela fosse uma posse. Seus olhos, brilhando com um perverso prazer, fixaram-se na dupla. —  Vocês vieram até aqui atrás de Kyōkō, não é? A misteriosa mulher que dizem possuir um poder além da imaginação. Mas... me digam, vocês realmente entendem o que significa encontrá-la? Porque, bem, ... tecnicamente, já cumpriram seu objetivo.

Ele fez uma pausa dramática, observando as reações deles, alimentando-se da tensão que se acumulava no ar. Sorriu, um sorriso perturbador e provocativo. — Ela está em toda parte. Literalmente. Não há um canto de Amegakure que não tenha sido tocado pela influência dessa mulher.

Soga prosseguiu com cinismo.

— Vocês passaram alguns dias no distrito de Ugatsu, não é? Imagino que tenham notado alguns dos moradores... as melhorias tecnológicas, as partes mecânicas. Especialmente os mais velhos.

A ruiva franziu o cenho, confusa e perturbada pelas palavras dele. Havia um toque de verdade no que ele dizia, algo que ela e Suigetsu de fato notaram durante os dias que passaram no distrito Ugatsu. As pessoas ali... estavam diferentes. Melhorias tecnológicas que não pareciam naturais, e agora Soga sugeria que aquilo era de alguma forma ligado à Kyōkō.

Mas antes que pudessem processar totalmente a informação, de repente, Soga agarrou o rosto de Sagiri com brutalidade, forçando-a a encará-lo. Karin deu um passo à frente, impulsionada por puro instinto. Então, com um gesto grotesco, ele virou novamente o rosto dela e enfiou a língua em sua orelha, lambendo-a com uma lentidão perturbadora, antes de deslizar pela lateral do rosto dela, deixando um rastro de saliva que escorria até o queixo. Ele murmurou perto do ouvido de Sagiri, mas seus olhos estavam fixos em Karin e Suigetsu, saboreando cada reação que provocava.

—  Por que não conta a eles, amor... — Sua voz carregada de sarcasmo doentio. —  ...sobre Kyōkō? Sobre a mulher que, à beira da morte, ressurgiu como uma santa em tempos de dor e sofrimento?

Sagiri, ainda mantendo o sorriso perturbadoramente calmo, abriu a boca lentamente, como se estivesse prestes a obedecer a ordem dele, enquanto Soga ria silenciosamente, aguardando a resposta de sua esposa. A cada palavra, a cada gesto grotesco, Soga estava destruindo qualquer vestígio de paciência que Karin ainda tinha. E Suigetsu, por mais sarcástico e imperturbável que fosse, agora parecia estar à beira de explodir também. O mestre das farsas e mentiras não era apenas um vilão, era o pior tipo de monstro.

........

A velocidade de Kaho era deslumbrante se movendo como um vulto através de Amegakure, seus passos eram suaves, quase etéreos. Civis gritavam xingamentos ao que parecia ser uma presença invisível e fugaz passando por eles. Cada vez que seus pés tocavam uma superfície, ela já estava longe, saltando de uma estrutura a outra, deslizando pelas paredes de edifícios e tubulações entre os gigantescos arranha-céus da vila. Contudo, conforme se aproximava de uma área afastada do centro, o caos se tornava inegável.

Ao se aproximar de uma área distante do centro de Amegakure, ela notou a evacuação em massa. As pessoas corriam em desespero, carregando o que podiam, abandonando uma trilha de brigas e pânico que explodiam entre aqueles desesperados para fugir da área afetada. Gritos de agonia se misturavam com súplicas por misericórdia, e uma voz ao longe perguntava se a Vila da Chuva estava, mais uma vez, mergulhando em guerra.

"Estamos sendo atacados?!" Uma mulher falou ao longe, enquanto um homem ao seu lado murmurava, desesperado, “Não... não de novo, por favor... não outra guerra...".

Ao longe, a jovem da casa Ubume avistou uma imensa fenda no chão, devorando uma parte de um prédio onde ela planejava usar como próximo ponto de apoio. A estrutura restante tremia, instável, e os gritos de civis presos dentro ecoavam, pedindo por ajuda. Foi então que ela pode perceber de forma mais evidente o tamanho do desastre, pois a enorme e profunda fenda que havia se formado no solo, rasgando a terra com brutalidade, havia engolido uma série de prédios por seu caminho e até alguns enormes arranha-céus pereceram diante de sua violência.

"Ajudem-nos! Por favor..." Uma mulher implorava lá embaixo, sua voz dilacerada pela angústia, "Pelo amor dos Deus! Salvem meu filho!" Mas Kaho já havia se movido novamente.

Fria e impassível, analisou a cena por um instante, mas resolveu ignorar os pedidos de socorro e continuou seu caminho, deslizando ao longo da fenda, determinada a encontrar sua origem. À medida que avançava pela borda da fenda, o cenário se tornava cada vez mais caótico: a terra havia sido rasgada violentamente, com crateras enormes abrindo-se como bocas famintas, engolindo qualquer coisa em seu caminho. Elas se multiplicavam, rasgando a vila de dentro para fora. Prédios inteiros caíam como cartas, arranha-céus eram reduzidos a pilhas de escombros. O cenário ao redor dela era um verdadeiro campo de morte: corpos de civis, homens, mulheres e crianças espalhados como peças descartáveis em meio ao caos. O fogo consumia o que restava de muitas estruturas, e a poeira, densa no ar, sufocava a visão e os pulmões. Mesmo a chuva intensa não conseguia abrandar o cenário caótico.

Ela, no entanto, permaneceu inabalável. Ao subir uma pilha de destroços, seus olhos de Kaho repousaram sobre a mão de uma criança, despontando por entre os escombros. Um vislumbre de algo que outrora fora humano, agora uma pequena parte exposta de uma tragédia maior. Mas nenhuma emoção transpareceu em seu rosto, nem mesmo o menor sinal de compaixão. Ela continuou a subir pelos destroços com a mesma indiferença de antes, nem mesmo hesitando ao pisar próximo ao braço da criança soterrada, deixando para trás aquele vislumbre de tragédia como se fosse apenas mais um detalhe no cenário desolador.

Ao contrário, os ninjas de Amegakure se desdobravam ao longe, desesperados, tentando conter o caos. Eles ajudavam civis feridos, lutavam contra o desespero e a confusão, enquanto as equipes de defesa e proteção sob o comando de Yurei trabalhavam freneticamente para salvar vidas. Equipes inteiras se espalhavam pela área tentando socorrer os feridos, os olhos carregados de angústia e cansaço.  As vozes eram permeadas de exaustão e temor:

"Precisamos de mais reforços aqui!"
"Essa área está prestes a colapsar, tirem essas pessoas daqui!"
"Meu Deus, ele não vai sobreviver... alguém me ajude!"
"Os civis estão morrendo! Isso... isso é impossível de controlar!"

"Isso não pode estar acontecendo..." Um ninja sussurrou com a voz falha, as mãos tremendo ao tentar tirar uma mulher soterrada dos escombros, o rosto sujo de lama e suor. Um outro, ao lado dele, apenas sacudiu a cabeça, o olhar perdido no vazio, murmurando baixinho, "Por que nós? Sempre nós...". O desespero corroía suas almas enquanto o caos tomava conta de tudo ao redor.

Cadáveres estavam espalhados entre os escombros, alguns cobertos de poeira e lama, outros ainda semi-enterrados. Mas tudo aquilo parecia distante para ela, como se o caos fosse uma cena desconectada da sua própria realidade, sem olhar para os rostos deformados pela dor e pela agonia ao seu redor.

Conforme avançava mais e mais em direção à fonte do desastre, a paisagem ficava ainda mais sinistra. Os altos arranha-céus que haviam sobrevivido ao impacto inicial do terremoto agora estavam longes, e o caos dos civis e dos ninjas começava a se distanciar, o som de gritos e o clangor da destruição gradualmente se tornaram ecos ao longe. Tudo o que restava era uma vasta área de destruição total. Edifícios estavam reduzidos a escombros, e uma cratera colossal, de metros de profundidade, dominava o centro, de onde as profundas fendas pareciam irradiar daquela imensa cavidade e se estendiam por quilômetros vila adentro como teias de aranha. O epicentro de toda aquela catástrofe, como se a própria terra tivesse sido rasgada por uma força brutal.

Seus olhos perscrutaram a distância, até que avistou Yun envolto em um confronto iminente. Mais à frente, ela notou membros do clã Ugatsu reunidos no centro da destruição, mas decidiu primeiro se aproximar de seu companheiro. Ele estava furioso, visivelmente à beira de explodir, faíscas de eletricidade brilhando entre seus lábios trincados de raiva.

Kaho se aproximou em silêncio, ouvindo de longe as palavras dos agentes da casa Jorōgumo. Quando Kaho finalmente o alcançou, ela o chamou, sua voz fria cortando o ar caótico:

— Yun!? —  Ela evocou seu nome interessada na situação. — O que está acontecendo?

Yun, sem tirar os olhos de seus oponentes, respondeu, os olhos brilhando de frustração e raiva: — Esses abutres estão bloqueando minha passagem. Estão encobrindo o que quer que tenha causado toda essa destruição!

Ele estava sendo barrado por homens de Usuzumi Soga, o ‘Arquidemônio da Manipulação’ da casa Jorōgumo. Muitos deles estavam vestidos com algo que outrora fora branco, mas suas roupas agora estavam manchadas de sujeira e sangue, como fantasmas de guerra.

Um dos homens de Soga, despreocupado, sorriu com escárnio. Sua voz gotejando desprezo e zombaria:

— Ninguém está autorizado a entrar nesta área sem a permissão de Usuzumi-Sama. E vocês, ratos de laboratório, vão ficar aqui... ou morrerão tentando passar.

Kaho percebeu o brilho no olhar do homem, enquanto Yun intercepta no mesmo momento o pensamento dele referindo-se a eles como "aberrações". O insulto foi suficiente para acender ainda mais a fúria de Yun e fazê-lo explodir de raiva.

— Desgraçado!!! — Ele gritou a plenos pulmões, já armado com uma lâmina curta e letal. O agente, por sua vez, também revelou uma tantō, afiada e mortal. Ambos se preparavam para o confronto, prontos para cravar as lâminas um no outro. Mas antes que o embate pudesse acontecer, eles foram impedidos.

Kaho se moveu, rápida e precisa. Segurou firmemente o braço de seu companheiro no momento exato em que ele se preparava para golpear. Ao mesmo tempo, um outro agente com uma presença imponente segurou a mão armada do companheiro, impedindo que ambos se matassem ali mesmo. O silêncio momentâneo que seguiu foi sufocante, o clima entre eles era de pura tensão.

— Isso não vai nos levar a lugar nenhum, Yun. — Ela olhou para ele com um olhar sério e controlado. As faíscas de eletricidade nos lábios começaram a se dissipar lentamente, enquanto a mão dela, firme, mantinha o braço dele sob controle.

O agente imponente, com uma presença que irradiava autoridade, rapidamente repreendeu seu companheiro com um tom firme. — Não é o objetivo da Casa Jorōgumo entrar em conflito com a Casa Ubume, apenas no caso deles forçarem uma entrada ao perímetro. — Sua voz era profunda e autoritária, ecoando mesmo meio à chuva torrencial que martelava o chão ao redor com olhar afiado e calculista. Seus olhos se fixaram em Yun e Kaho, oferecendo uma sugestão velada, porém clara — Sugiro que recuem.

— E por que deveríamos recuar? — Yun, retrucou cerrando os dentes, sem esconder sua frustração com a fúria ainda queimando em seus olhos.

O homem continuou, olhando ao redor, onde outros agentes da Casa Jorōgumo estavam espalhados. — Vocês podem ser poderosos, mas estão em menor número aqui. A vantagem é claramente nossa. — Ele gesticulou indicando a volta.

Foi nesse momento que Yun e Kaho perceberam a realidade da situação. Entre os escombros e as sombras projetadas pela tempestade, agentes da casa Jorōgumo estavam por toda parte. Embora muitos estivessem feridos e ensanguentados, era evidente que os números eram esmagadores. Armas de fogo eram empunhadas com determinação. O ambiente então se preenchia por tensão opressiva, como se algo grande estivesse prestes a desmoronar sobre todos.

De repente, o céu escureceu ainda mais, não apenas pela chuva pesada, mas pelo surgimento de um novo elemento que entrava em cena. Uma revoada de robôs, controlados por Yurei. Eles deslizavam pelo céu, como uma tempestade metálica, como pássaros mecânicos em formação, prenunciando mais caos e destruição. As máquinas vinham em uma onda implacável, trazendo uma visão aterrorizante.

Tão de repente quanto, o céu explodiu em um show de luzes e destruição. Disparos de todos os lados atingiam os robôs, que se partiam em pedaços no ar. Explosões iluminavam a chuva, espalhando destroços e peças metálicas para todos os lados. Os agentes da casa Jorōgumo rapidamente mudaram o foco, e eles se voltaram para os robôs, temendo que essas máquinas pudessem bisbilhotar o que estava acontecendo na área. O ambiente, que já era de alta tensão, tornou-se um campo de batalha entre homens e máquinas. Os robôs no céu começaram a ser alvejados por uma chuva de balas, disparadas pelos subordinados de Soga.

O som dos tiros ressoava. Pedaços de metal, faíscas e engrenagens caíam como chuva metálica enquanto os robôs eram abatidos, mas a quantidade deles parecia interminável. Por terra, a situação não era menos caótica. Robôs em forma de cães, gatos, ratos e outros pequenos mamíferos surgiam de todas as direções, correndo como uma onda furiosa em direção ao coração do território. Agentes armados com katanas especiais, revestidas com um brilho que cortava a chuva, enfrentavam as máquinas com movimentos precisos e acrobáticos. Um dos agentes girava no ar, desferindo golpes elegantes e letais que faziam as cabeças dos cães robóticos voarem, enquanto outro, em um salto espetacular, cravava sua lâmina em um robô felino, antes de usá-lo como trampolim para saltar em direção a outro inimigo.

Apesar da coragem e habilidade, a pressão era enorme. Por cada robô destruído, dois outros surgiam, avançando incansavelmente como uma maré incontrolável. O céu era um mosaico de explosões, balas e destroços de robôs. A terra tremia com o impacto das lutas.

E foi em meio a essa tempestade de caos e metal que Tetsuji finalmente apareceu, como uma sombra impiedosa, avançado com uma determinação feroz. Ela caminhou em meio à crescente onda de robôs, seu olhar fixo no agente chefe, um olhar que poderia cortar o ar. Sua chegada foi marcada por uma confrontação direta, sua voz cortando o barulho ao redor como um trovão quando ela o desafiou diretamente. — Me dê um único motivo, Kishibe... apenas um único motivo para eu não te matar aqui e agora.

Kishibe, com uma expressão fria e sem perder tempo, apenas respondeu com um movimento rápido.

— Esse! — Ele apontou uma pistola na direção de Tetsuji e disparou sem hesitar. No entanto, antes que a bala pudesse atingi-la, Yun, com reflexos sobre-humanos, posicionou-se na frente dela. Uma barreira eletromagnética surgiu diante dele no último instante, desviando o projétil que ricocheteou no ar.

Tetsuji aproveitou a abertura. Ela avançou com a lâmina preparada, desferindo um golpe feroz contra Kishibe. Ele tentou se defender, erguendo o braço para bloquear o ataque, mas a lâmina perfurou seu antebraço, atravessando sua carne. Sangue escorreu, misturando-se à chuva, mas ele, com uma expressão de aço, não demonstrou dor. Seus olhos fixaram-se nos dela por conta da proximidade mortal, expressão gélida e o confronto tornou-se mais do que físico — era uma batalha de vontades, uma luta entre a lealdade cega e a fúria incontrolável.

Os dois se encararam, a tensão entre eles quase palpável. Tetsuji, agora a poucos centímetros de Kishibe, olhou diretamente em seus olhos e perguntou, sua voz carregada de desprezo.

— Então, aquela 'víbora de língua suja' ... — Ela murmurou com desdém, referindo-se a Soga. — ...finalmente pirou? Ele acha que pode causar toda essa desgraça e sair impune? Que plano doentio é esse, Kishibe?

Enquanto isso, os robôs de Yurei continuavam a chegar em números crescentes, e os agentes de Soga, mesmo sobrecarregados, lutavam ferozmente para proteger a área a qualquer custo. Yun e Kaho, ainda em estado de alerta, sentiram um leve chiado em seus comunicadores de ouvido antes de ouvirem a voz bem-humorada de Saki.

— Que festa é essa aí? — Ela perguntou com uma risada que soava estranhamente fora de lugar no meio daquele caos. — Tá rolando tanto barulho que me pergunto o que diabos vocês aprontaram... Tô curiosa!

A loira sempre com aquele tom despreocupado, falava com um sorriso claramente audível na voz. Enquanto Kaho, tentando manter a calma, respondeu: — Algo grande está acontecendo. Mas os subordinados da casa rival estão nos barrando.

A gargalhada de Saki ecoou ainda mais alta pelo comunicador. — Deixa comigo. Tô chegando pra abrir caminho. Mas vai um aviso: a 'Viper' tá num dia bem temperamental. Tomem cuidado!

Antes que Yun ou Kaho pudessem responder, um estrondo ensurdecedor ressoou ao longe. O chão tremeu sob seus pés, e uma enorme cortina de poeira se ergueu, mesmo sob a intensa chuva, obscurecendo a visão. Mas logo, emergindo das sombras da poeira e da tempestade, uma serpente colossal se revelou, de proporções monstruosas. Suas escamas alvas, quase como neve, refletiam a luz que escapava entre as nuvens escuras. Algumas partes de seu corpo estavam expostas como componentes robóticos despontando entre as escamas, e seus olhos biônicos brilharam em um vermelho intenso e ameaçador, fixando-se na direção da batalha. As presas, não mais naturais, foram substituídas por lâminas metálicas gigantes, afiadas como guilhotinas.

A serpente deslizou entre os escombros com uma velocidade surpreendente e uma violência assustadora. O solo rachava sob seu peso, criando ondas de choque que deslocavam o ar ao seu redor, gerando ventanias que espalhavam destroços e levantam massas de poeira.

Essa era a Viper, um verdadeiro tanque de guerra biotecnológico. Algumas de suas escamas modificadas ao redor do capuz brilharam em um tom vermelho ameaçador, e, com um estrondo ensurdecedor, lançaram uma saraivada de mísseis com alto poder destrutivo. Eles caíram como uma chuva de meteoros sobre os robôs de Yurei e os subordinados de Soga, reduzindo tudo em seu caminho a destroços e caos. No topo da cabeça da serpente, com a pose relaxada de quem está em um passeio, Saki, empunhando uma minigun que cuspia balas, ria enquanto seu cabelo loiro encharcados de chuva tremulava ao vento.

— Essa mulher é louca... — Kaho murmurou, atônita, enquanto Yun a puxava para desviar por pouco do serpentear voraz da serpente. Os mísseis da serpente explodiam ao redor deles, transformando o campo de batalha em um verdadeiro inferno de destruição indiscriminada.

Viper avançava com tal rapidez que qualquer movimento em falso significaria ser esmagado ou atingido pelos mísseis. A serpente era uma força implacável, uma entidade quase indestrutível serpenteando entre os escombros e destroços, abrindo caminho por entre os robôs de Yurei e os subordinados de Soga sem piedade.

Kishibe, com o rosto crispado de irritação, observou o caos se desenrolando. Ele gritou ordens para seus subordinados, enquanto desviava por pouco de ser esmagado pela grande serpente: — Todos, ataquem! Use suas vidas se for preciso, mas parem essa coisa!

Os agentes tentaram cumprir suas ordens desesperadas, lançando-se em direção à serpente em uma tentativa de ataque. Mas o simples deslocamento de ar causado pelos movimentos rápidos da criatura os repelia, jogando-os de volta com uma força implacável. A cada movimento, a serpente devastava mais e mais, enquanto os robôs de Yurei eram destruídos sem esforço por seus mísseis e seu corpo maciço.

Yun, com sua maestria sobre o eletromagnetismo, conseguiu se agarrar à superfície metálica da serpente, arrastando Kaho consigo. Os dois subiram rapidamente pelo corpo da serpente colossal enquanto ela devastava tudo em seu caminho.

— Você foi atraído pelo terremoto também? —  Kaho perguntou, enquanto se segurava firmemente, o vento e a chuva tornando cada palavra um esforço.

Yun, mantendo seu foco, respondeu com seriedade. — Não. Eu detectei um chakra invasor se tornando hipersensível... foi tão intenso que consegui senti-lo do outro lado da vila.

Enquanto conversavam, a serpente avançava implacável, penetrando a barreira montada pelos agentes rivais como se fosse nada. À medida que a Viper avançava, com Saki liderando o ataque de cima, os adversários restantes eram esmagados ou jogados para longe. Era um monstro imparável, e sua força descomunal levou a criatura direto ao epicentro do desastre, onde os membros do clã Ugatsu se encontravam reunidos.

Lá, vários membros do clã Ugatsu se reuniam, um círculo de figuras reconhecíveis, de poder palpável, aguardando o confronto final. À frente de todos, Yume, a líder do clã Ugatsu, com sua presença serena, aguardava o inevitável confronto. Seus olhos analisavam a serpente gigante com uma calma quase sobrenatural, mesmo diante da ameaça imensa que se aproximava. Seus olhos eram firmes, como se já estivesse preparada para o que viria a seguir.

A serpente colossal se ergueu diante deles, sua presença ameaçadora dominando o campo de batalha, enquanto, suas preses metálicas prontas para iniciar um ataque brutal eram expostas como um sinal de ameaça. Algumas de suas escamas destacadas em vermelho emitia uma luz intensa a partir de seu capelo, prestes a liberar outra chuva de destruição.

A velha senhora, sem se mover um centímetro, fitava a gigantesca serpente com frieza, como se desafiasse a máquina monstruosa a atacar. Enquanto a jovem loira, ainda sobre a cabeça da serpente, observava o campo de batalha com uma mistura de diversão e curiosidade.

O céu acima começou a adquirir uma tonalidade ainda mais sinistra. Os robôs de Yurei finalmente romperam a resistência dos agentes e agora sobrevoavam a área como uma verdadeira nuvem de sombras metálicas. Por terra, a paisagem logo também foi tomada por um exército de robôs animalescos, seus movimentos precisos e frios avançando pelo solo, preenchendo o horizonte como uma maré de máquinas predatórias.

Kanemori, Yukio e os outros membros do clã Ugatsu que haviam chegado tardiamente se movimentaram rapidamente, preparando-se para o inevitável, armados e prontos para qualquer eventualidade. O ambiente tornava palpável a tensão. Kaho e Yun, próximos, conseguiam sentir o peso do momento. A jovem observava atentamente as figuras que compunham o clã, não podendo deixar de notar que entre os membros havia dois gravemente feridos e uma jovem, aparentemente sem vida, repousava no chão coberta por uma capa que mal escondia a dor estampada nos rostos dos que a cercavam. A visão daqueles corpos, a expressão de dor e desolação no rosto de todos, ampliava o sentimento de impotência no ar.

O silêncio que pairou entre os dois lados era sufocante. Era como se o mundo tivesse parado, esperando que algo quebrasse a quietude sombria daquele momento. Então, um pequeno robô felino emergiu da massa metálica de máquinas, avançando com passos leves e calculados, sem emitir um único som. Ele se posicionou de forma casual entre os dois lados, seus olhos mecânicos encarando diretamente a líder do clã, Yume.

Os olhos da matriarca não desviaram por um segundo. Havia uma firmeza inabalável em seu olhar, uma determinação silenciosa que falava mais alto do que qualquer palavra. Com um tom sereno, mas cheio de uma autoridade impossível de ser questionada, expressou seu desejo:

—  Recue! — Ela ordenou, a voz firme, mas com um tom que traía um profundo pesar. —  Voltem todos para o distrito.

Os rostos dos membros do clã se entreolharam em incerteza. A ordem de recuar parecia impensável diante da ameaça iminente. Kanemori, a filha mais velha de Yume, hesitou por um breve momento, seu olhar carregado de contestação e preocupação. Ela tentou argumentar, mas sua mãe foi rápida e incisiva. A voz da matriarca se elevou, mas não com fúria; era a voz de uma líder que sabia que sua decisão seria a última.

— Eu sou a líder do clã, ... — Ela afirmou com uma firmeza que cortou o ar. — ...e pela minha autoridade vocês irão recuar.

O momento foi de dor silenciosa e aceitação amarga. Yume, com um tom mais suave, agora dirigia suas palavras diretamente à filha:

— Acima de tudo, por ser minha filha, eu espero que cuide bem de todos. Cuide de seu irmão principalmente, Kanemori...

Essas palavras pareciam perfurar Kanemori de forma mais profunda do que qualquer ferida física. Ela, por fim, levantou-se, escondendo a tristeza e a angústia por trás de sua franja desordenada. Em um movimento lento, mas resoluto, ela abriu seu guarda-chuva e começou a girá-lo no ar. A neblina densa que emanava de suas bordas se espalhou rapidamente, envolvendo todos os membros do clã Ugatsu. Em questão de segundos, a névoa os engoliu por completo, e quando se dissipou, não restava mais ninguém e não era mais possível detectar a presença deles.

O silêncio que se seguiu era carregado de uma tristeza quase palpável. Yume, agora completamente só, deu alguns passos à frente, aproximando-se do pequeno robô felino. Em seus olhos, a determinação misturada com dor e resignação, enquanto ela afirmava, destemida:

— Eu sou a grande culpada por tudo isso. — Declarou, como se estivesse se dirigindo diretamente a Yurei, sua voz carregada de uma tristeza profunda, mas também de uma aceitação destemida. Não havia arrependimento em suas palavras, apenas a certeza de que o destino que a aguardava era inevitável.

A chuva continuava a cair, misturando-se com o sangue e o óleo dos robôs destruídos, enquanto o céu, escurecido, parecia refletir o luto silencioso de um clã que acabara de perder sua matriarca.

........

Sagiri começou a narrar a história de Kyōkō, sua voz imersa em um tom sombrio, mas solene. —  Não há muitos registros sobre seu passado. —  Ela disse, a tristeza evidente em seu olhar, transportando todos para um passado obscuro. — Tudo o que se sabe é que, assim como muitos outros, ela não é apenas uma figura trágica, mas um símbolo persistente do horror que permeou a vila durante a guerra civil.

Enquanto suas palavras se desenrolavam, as imagens de Kyōkō surgiam como um pesadelo vívido. Cenas de esgoto e escombros, onde as sombras se arrastavam entre as pilhas de lixo e a podridão. Crianças, olhos grandes, vazios e desalentados, perambulavam entre corpos em decomposição, enquanto os ecos de gritos distantes ressoavam em um ambiente sufocante. A fome e o frio pareciam moldar seus pequenos corpos, fazendo-os definhar como sombras de quem já foram. Sagiri continuou: — Ela era, como muitos, uma vítima das circunstâncias. Relegados à marginalidade, eles sobreviviam à mercê do que os esgotos podiam oferecer, buscando abrigo contra os conflitos que se espalhavam como uma praga durante o expurgo de Pain.

Imagens de corpos se acumulando nos dutos e galerias abaixo de Amegakure invadiam a mente de quem ouvia. Montanhas de carne em decomposição revelavam o horror indizível, uma verdadeira infâmia que tinha se instalado no coração da vila. — A praga infernal se espalhou, arrastando consigo cada vida miserável que tentava se agarrar ao frágil fio da existência.

— Os cães foram os primeiros a sentir a chegada deste horror. — Continuou, sua voz agora mais carregada de emoção. — Os pássaros vacilaram em seus voos e caíram das nuvens negras; e, em seguida, os homens caíram, um por um. — As lembranças mudavam, mostrando pássaros se alimentando dos corpos em decomposição e não muito tempo após despencando do céu, seus corpos inertes batendo no chão como se fossem meras folhas secas.

Kyōkō aparecia naquelas imagens, uma figura cadavérica se arrastando por entre os cadáveres que se amontoavam, bebendo da água suja que escorria pelos dutos de esgoto, esperando por tal morte. Seu corpo magro e desnutrido estava coberto de feridas infectadas, enquanto baratas e ratos se alimentavam de sua carne exposta. A visão era tão grotesca que qualquer um que a visse se sentiria enojado e triste.

— Fome, sede, frio... — Prosseguiu. — ...expostos a todo tipo de contaminação e violência apenas para continuar a existir. O resultado foi um número inimaginável de vidas perdidas. — A tela mental se preenchia com imagens de corpos empilhados, um verdadeiro cemitério sob a terra, onde a vida tinha se tornado um fardo e a morte, uma bênção.

— Nesse cenário de desolação, foi assim que Nagato a encontrou. — Kyōkō estava ali, uma mera espectadora, aguardando sua vez de sucumbir à morte que parecia um alívio, cercada pelo fedor insuportável de decomposição. — Ela esperava ser morta. — Sagiri narrou. — Livrada de uma vez por todas daquele sofrimento. Mas, por misericórdia ou mero capricho...

A imagem de Pain (Shuradō) surgia, uma figura imponente em meio à devastação, sua presença emanando poder. — Ele a viu em meio ao horror, arrastando-se entre os corpos, e, em vez de dar-lhe a morte que tanto desejava, decidiu conceder-lhe algo além de qualquer entendimento.

— Kyōkō foi trazida de volta a superfície. — Disse Sagiri. — Não mais como uma humana, uma alma perdida, mas como uma extensão de Deus, transformada em uma de suas seguidoras mais fiéis, que, em sua reinterpretação, era a desesperança e a infâmia de um povo que havia sido esquecido.

Soga se manifestou, um sorriso de escárnio curvando seus lábios enquanto suas palavras atravessavam o ar pesado da narrativa.

— As guerras... — Começou ele, com o tom característico de quem gosta de brincar com as tragédias. — ...sempre foram o grande motor do progresso. E é irônico, não é? Enquanto matamos uns aos outros, criamos ao mesmo tempo as ferramentas para nos elevar além. — Ele balançou a cabeça, rindo de forma debochada, como se encontrasse um prazer amargo na verdade que estava prestes a compartilhar.

— Ninguém quer admitir, mas é simples: a guerra, paradoxalmente, força a humanidade a ultrapassar os próprios limites. Nações desesperadas pela vitória despejam suas riquezas em pesquisas e inovações, tudo na esperança de superar seus inimigos. E qual o resultado? Novas tecnologias, armas, estratégias… e às vezes, até mesmo algo útil para a vida civil, claro, se você sobreviver para vê-la. — Ele lançou um olhar zombeteiro, como se esperasse que alguém discordasse, mas a realidade dura de suas palavras pairava no ar.

Enquanto ele falava, era como se o peso histórico de séculos de conflito se manifestasse diante de todos. — O ‘Reino de Guerra’ (修羅道, Shuradō), ou melhor, Asura, não é apenas sobre o campo de batalha. — Continuou ele, com a voz envenenada de sarcasmo. — É sobre o caminho interminável de conflitos e competição. Uma luta eterna por poder, prestígio, e claro, o aperfeiçoamento. Quanto mais você luta, mais forte você se torna, certo? É assim que funciona... Ou morre tentando, tanto faz. — Ele fez um gesto indiferente, rindo mais uma vez.

— O ponto é que guerra não apenas destrói, mas também cria e aperfeiçoa. O conhecimento gerado durante esses períodos transforma profundamente a sociedade, moldando um futuro que, ironicamente, busca evitar o mesmo destino. — Soga então voltou seus pensamentos para o foco de todo aquela conversa, Kyōkō. — E então, temos ela, uma extensão perfeita desse poder. O Rinnegan não só a trouxe de volta, mas a moldou no poder do Shuradō, um exemplo perfeito dessa intersecção de conflito e progresso. Agora, capaz de transformar matéria orgânica e tecnológica como se fossem uma só. Uma bênção, certo?

Nesse momento, Sagiri interveio, sua voz suave e reverente, como se falasse de uma lenda sagrada. — No passado, Kyōkō usou esse dom de forma benéfica. Ela se tornou algo próximo de uma santa milagrosa, uma curandeira em meio a guerra.

As palavras dela evocavam imagens de Kyōkō em um passado distante, curvando-se sobre os feridos, suas mãos tocando suavemente corpos quebrados, enquanto seu poder restaurava a carne e a alma dos que sofreram as piores agruras da guerra.

Karin e Suigetsu trocaram olhares ao ouvirem as palavras do casal, suas memórias rapidamente preenchidas pelas inúmeras pessoas que haviam encontrado com evidentes modificações tecnológicas. A conexão entre elas e o poder de Kyōkō agora parecia mais clara. Nesse momento, um som leve, quase imperceptível, fez com que ambos voltassem a atenção para Soga.

Ele sorriu, o gosto de veneno em seus lábios, antes de continuar sua narrativa com um tom frio e irreverente. — A notícia da morte de Nagato se espalhou como fogo em grama seca. A Vila da Chuva foi abalada, assim como Kyōkō. Algo mudou nela. Sem Nagato, o mundo em que ela havia sonhado começou a ruir.

O ar ficou pesado, carregado de tensão, enquanto todos ouviam com atenção. — Não muito depois disso, Konan desapareceu. Sem Nagato e sem Konan, Amegakure ficou à mercê das disputas por poder entre os mais fortes, mais uma vez. Mas Kyōkō... — Ele fez uma pausa. — Kyōkō não estava disposta a deixar isso acontecer novamente. Ela se recusava a ver Amegakure afundar no caos que a moldou.

Antes que Soga pudesse dizer mais, Chárōn se aproximou, interrompendo a conversa com sua postura indiferente. — Estamos descendo agora. — Anunciou, sua voz ressoando com precisão. — Avisarei quando começarmos a submergir.

Soga riu novamente, seu riso reverberando pelo ambiente, ecoando de forma despudorada e perturbadora. Ele se afastou lentamente, mantendo seu sorriso maligno, como se tivesse sido desperto por Chárōn para uma piada vil, mas não antes de insinuar, que Kyōkō estava por toda parte, de forma direta ou indireta. Suas palavras pairaram no ar.

Com um gesto autoritário e enigmático, ele ordenou que Sagiri revelasse sua "benção", a dádiva que os poderes da ‘Santa’ eram capazes de proporcionar. A reação de Sagiri foi instantânea, um espanto inumano a tomou, e um medo profundo se refletiu em seus olhos. A Uzumaki, que observava tudo de perto, ficou visivelmente abalada pela reação de Sagiri. Havia algo terrivelmente errado. A tensão no ar era quase palpável, mas ela ainda não conseguia entender o motivo de todo aquele pavor.

Soga, impaciente e implacável, elevou o tom: — Eu não dou segundas ordens, meu bem. Se você não mostrar por conta própria, eu mesmo irei expor minha obra-prima.

Sagiri, tremendo, começou a se despir lentamente, e cada movimento parecia carregado de dor e resignação. A máscara de sorrisos e bom humor que ela sempre ostentava estava completamente destruída. À medida que as roupas caíam ao chão, o horror se revelava. Karin, observando tudo, viu seu rosto se deformar em espanto e descrença. O corpo de Sagiri, que outrora fora humano, havia sido transformado em uma máquina grotesca. Abaixo do pescoço, não restava mais traço algum de carne ou humanidade. Tudo havia sido substituído por metal, circuitos e engrenagens, o resultado das perversões distorcidas de Soga.

— Por quê...? — A voz da ruiva saiu trêmula, sua perplexidade estampada em cada palavra.

Sagiri tentou falar, mas sua voz estava sufocada pelas lágrimas que agora desciam torrencialmente por seu rosto. Ela se lembrou apenas de fragmentos, imagens desconexas de um passado doloroso.

— Eu só lembro de flashes... — Ela murmurou entre soluços. — De estar em constante torpor... de acordar e já não ser eu mesma... de precisar ser resiliente, pelos meus filhos...

Lentamente, Sagiri começou a secar suas lágrimas. Um sorriso forçado, quase grotesco, curvou seus lábios, mas era visivelmente uma máscara. Soga, de longe, observava satisfeito, enquanto bebericava seu chá com um sorriso nos lábios.

Suigetsu, incomodado com a cena, quebrou o silêncio se dirigindo a ela. — Como você ainda consegue sorrir?

Sagiri virou o rosto, a expressão congelada em um sorriso forçado e a voz trêmula. — Se eu parar de sorrir, talvez eu perca o controle de vez...  Ou talvez eu só sorria porque já estou louca... Mas não, não é divertido.

Nesse momento, um estrondo cortou o ar. Ao lado de Suigetsu, a madeira da embarcação explodiu em estilhaços, enquanto uma sombra se projetou rapidamente acima de Soga. A velocidade era estonteante, nem mesmo Soga viu o golpe vir. O impacto foi brutal, e ele cambaleou, sentindo o gosto metálico de sangue encher sua boca. Seu sorriso se torceu em surpresa, mas ele foi rápido o suficiente para bloquear o segundo golpe.

Foi então que ele a viu: a expressão de pura ira no rosto de Karin. As Caçadoras, alertas, se reposicionaram ao redor de Soga, prontas para eliminá-la com um único sinal. No entanto, ao invés de raiva ou medo, um sorriso desafiador se formou nos lábios de Soga.

— Há tanta fúria aqui. — Ele provocou, o sangue escorrendo pelo canto de sua boca, enquanto suas criações ficaram em alerta a espera de seus comandos. Mas pela primeira vez, ele deixou transparecer sua irritação, se aproximando de Karin, quase encostando seu rosto no dela, permitindo que ela visse seu sorriso desalinhado e sentisse o hálito pútrido que emanava de sua boca. — Você realmente quer ver o meu pior lado?

De repente, uma presença ameaçadora irrompeu na tensão do momento, como uma pressão esmagadora que sufocava a atmosfera ao redor. Uma sombra assassina surgiu ao lado deles, e o brilho da Kubikiribōchō cortou o ar, posicionando-se perigosamente na altura do pescoço de Soga. Suigetsu, com um sorriso ameaçador, declarou: — Sua cabeça rolar antes que consiga levantar um único dedo contra ela. E não se preocupe... — Ele continuou, a lâmina brilhando sob a luz fraca. — ...a Kubikiribōchō está bem alimentada. O corte será tão limpo que você nem sentirá dor, o que é muito mais do que você realmente merece.

As Caçadoras, institivamente, se posicionaram em alerta, prontas para atacar. Sagiri, desesperada, se moveu para perto tentando usar seu próprio braço para bloquear e repelir a lâmina suspensa sobre a cabeça de seu marido, seus olhos cheios de pânico e súplica.

A situação parecia prestes a explodir quando a voz calma de Chárōn cortou o ar, anunciando: — Estamos submergindo. — O aviso cortou o ar tenso. Soga, então, recuou, soltando o punho de Karin, ajeitou suas roupas e sorriu com desdém, afastando-se do centro da confusão.

— Abaixem a guarda! — Ele gesticulou para as Caçadoras, que o seguiram sem pestanejar.

Karin e Suigetsu também pareciam relaxar, embora o ódio ainda ardesse em seus olhares. Porém, todos a bordo sentiam a embarcação balançar sob os seus pés. Observaram, então, Chárōn a soprar pequenas bolhas que se espalhavam no ar. Quando as bolhas tocaram a superfície interna da bolha que envolvia o barco, repeliram a cor opaca que vedava a visão do lado de fora, revelando um mundo abaixo.

A dupla observara surpresos enquanto a embarcação submergia nas profundezas do lago que cercava Amegakure. Chárōn, por sua vez, continuou a exalar mais bolhas, que traziam um efeito enigmático, mas o que era exatamente, ninguém poderia decifrar. Eles começaram a descer em direção à escuridão profunda.

A sensação de descida para a escuridão profunda do lago era opressiva e encantadora ao mesmo tempo, mas Soga interrompeu a apreciação, sua voz rouca e pesada chamando a atenção de ambos.

— Agora é hora de esclarecer os termos adicionais do nosso acordo. — Disse ele com seus olhos mutados fixos no casal, o sorriso de desdém reaparecendo em seus lábios.
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