O som suave de metal ecoa pela minha loja enquanto reviso cada uma das armas que coletei ao longo dos anos. A tranquilidade e o silêncio do lugar, repleta de espadas, lanças, e correntes penduradas meticulosamente nas paredes, é o reflexo perfeito da minha vida nos últimos tempos. Isolamento. Não que eu me importe — a solidão é, de certa forma, familiar. Já me acostumei a essa solidão, a viver entre aço e lâminas afiadas, a ouvir apenas o eco da minha própria respiração. A vida de ninja parece tão distante agora. Tenten, a mestra das armas, a ninja renomada da Vila Oculta da Folha, hoje é só uma lojista, uma sombra do que costumava ser.

Era esse meu mundo agora, um refúgio longe da sociedade ninja e da agitação que ela traz. Mas mesmo aqui, no meu refúgio, a solidão é uma espada de dois gumes. Há dias em que o silêncio é reconfortante. Hoje, no entanto, o peso é insuportável.

Deslizo os dedos pela superfície de uma espada longa, observando o reflexo da lâmina como se procurasse respostas. Faz tanto tempo que deixei de lutar lado a lado com os meus companheiros. A guerra acabou, mas a minha luta interior continuou. Afastada de tudo, deixei o tempo me consumir, e, talvez, me acomodei nesse ciclo. O que há de errado em me afastar de tudo, quando o que me resta é a solitude?

As ferramentas de um passado agitado, de guerras e missões, ainda estão aqui. Elas esperam, como eu, por um propósito que talvez nunca chegue. Reviro uma kusarigama nas mãos, sentindo o peso da lâmina curvada. Tudo isso sempre pareceu tão claro para mim. Em batalha, sempre soube o que fazer, onde estar, qual arma usar. Mas agora, longe de tudo e todos, o vazio é mais desafiador do que qualquer oponente.

Você está sozinha por escolha ou porque tem medo?” A pergunta me persegue, mas eu me recuso a enfrentá-la de verdade.

Mas, claro, a paz nunca dura. Três batidas firmes à porta me arrancam desse pensamento. Suspiro, deixando a kusarigama sobre a mesa e limpando as mãos no kimono. Era cedo demais para clientes, e algo no fundo da minha mente já me alertava que aquele não seria um dia qualquer.

— Eu sei que é uma loucura, mas... — A porta desliza, revelando três figuras que eu reconheço imediatamente.

Chōchō Akimichi, magra como sua mãe, com seu cabelo loira claro em um tom vermelho-morango que puxam ao pai e contrastam com sua pele escura, sempre com um ar confiante, quase provocativo. Inojin Yamanaka, silencioso, os olhos avaliando cada detalhe do lugar. E por fim, Shikari Nara, a versão feminina e jovem do Shikamaru, observando calmamente como se já estivesse planejando cada movimento. Os três são jovens, mas cada um carrega consigo uma presença impressionante, moldada pela herança de seus clãs. Chūnin’s agora, mas com habilidades promissoras.

Não posso evitar o sorriso que se forma em meu rosto, mas ele desaparece rapidamente quando me questiono sobre o que os trazem aqui.

— Precisamos falar com você, Tenten-san. — É Inojin quem quebra o silêncio, direto ao ponto. — Minha mãe disse que deveríamos vir falar com você. Que você poderia nos ajudar a melhorar nossas habilidades.

— Não estou dando aulas. — Corto antes que ele pudesse ir além. — Se foi isso que Ino pediu, diga a ela que...

— Ela insistiu! — Chōchō interrompe, cruzando os braços. — Disse que ninguém mais seria capaz de nos treinar como você. Precisamos melhorar nossas sinergias em combate.

— E por que Ino achou que eu seria a pessoa certa para isso? — Solto um suspiro, me afastando da mesa de armas.

— Ela disse que precisamos de alguém com sua experiência e habilidade polivalente para lidar com nossas divergências de estilo de combate. Precisamos melhorar nosso trabalho em equipe. Precisamos que nos desafie. — Inojin, sempre direto, observa o salão atrás de mim, seus olhos claros examinando os detalhes como um artista prestes a criar uma obra-prima. Ele sempre tem aquele olhar distante, como se estivesse traçando os contornos do campo de batalha antes mesmo de a luta começar.

Havia uma época em que essas palavras inflariam meu ego, mas agora, elas soavam como um peso. Treiná-los? Isso não era o que eu esperava. A ideia de liderar, de orientar... Não tenho certeza se sou a pessoa certa para isso. Nos últimos anos, evitei qualquer responsabilidade que me colocasse de volta na vida de ninja.

— Vocês não precisam de mim. — Desvio o olhar, minhas mãos pousando sobre uma guandao encostada próximo a porta. —  Eu já cumpri minha parte no mundo ninja. — Eu não sou a mesma ninja de antes. Há muitos outros ninjas qualificados que podem ajudá-los. E vocês três já são Chūnin. O que mais precisam de mim? — Murmuro, me afastando da porta e voltando ao interior da loja. Eles me seguem, os olhos percorrendo o ambiente. Armas estão por toda parte, penduradas nas paredes, dispostas em suportes. Me sinto exposta ali, mais vulnerável do que gostaria.

— Acho que está errada, porque não foi isso que ouvimos.  — A voz de Shikari corta o ar, calma e calculada, como sempre. — Sabemos que está evitando o mundo ninja, mas não viemos aqui por acaso. Seu nome ainda é mencionado em todos os cantos da vila.

O peso da responsabilidade parece esmagador. Liderança nunca foi meu ponto forte. A batalha, sim, mas ser um exemplo para os outros... isso sempre me pareceu um fardo. Lembro-me dos tempos de equipe, da luta ao lado de Neji, Lee, e Gai-sensei. Eu sempre fui a que se adaptava, a que blindava seus pontos fracos e respondia ao caos com precisão letal, mas nunca a líder.

Chōchō se aproxima, seu cabelo loiro vibrante contrastando com a pele escura, os acessórios em seu cabelo brilhando como vários ornamentos estilizados e alguns até pareciam radicais. —  Você pode não perceber, Tenten, mas a gente quer ser como você. Queremos alcançar esse nível.

Paro em frente a uma coleção de kusarigamas, refletindo sobre as palavras dela. Elas me tocam em um lugar profundo, mas também levantam um muro de resistência. O peso da responsabilidade, de falhar com eles, é algo que não posso ignorar. No entanto, enquanto os três me encaram, esperando minha resposta, vejo algo familiar neles. Determinação. Vontade. Eles me lembram de quem eu costumava ser.

Você já falhou antes, Tenten. Lembra?” O pensamento me invadiu como uma lâmina afiada.

Dou de ombros, tentando dissipar a hesitação. — Se realmente querem aprender, não vou facilitar para vocês. — Começo, girando a guandao entre os dedos antes de cravá-la de volta no chão. — Vocês vão ter que me mostrar do que são capazes. Provem que eu sou a pessoa certa para ensinar vocês. Se conseguirem me superar, eu os aceito como alunos..

Os três me encararam com curiosidade e, por um breve segundo, vi um brilho de entusiasmo nos olhos deles.

— O teste é simples. — Continuei. — Invadam a loja. Tudo aqui é território de batalha. Armadilhas, corredores apertados, um cenário que pode virar contra vocês a qualquer momento.

Eu sabia que eles não recuariam. A determinação em seus rostos já dizia tudo. Então, movi-me em direção ao centro da loja, as armas dispostas ao redor prontas para serem usadas. Respirei fundo. Era hora de ver se esses jovens realmente tinham o que era necessário. — Eu serei o alvo. Vocês terão que me derrotar. Aqui e agora, nesta loja. Se conseguirem, aceito treiná-los. Se não... podem voltar e procurar alguém mais 'qualificado'.

Antes que possam responder, desapareço em um salto rápido, fundindo-me com as sombras dos corredores. Se querem um mentor, terão que mostrar que estão à altura.

Começo a distribuir minhas armas. Pego o Manriki-gusari, uma corrente fina, mas mortal, com pesos nas extremidades, que posso usar para prender ou arremessar com precisão. Sansetsukon, um bastão tripartido, flexível e rápido.

— Não esperamos que facilite. — Chōchō grita ao longe, confiante.

Eu os estudo por um momento. Talvez eu possa testar o quão sérios estão sobre isso.

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A loja, com seus corredores estreitos e paredes cobertas de armas, não era apenas um lugar de negócios. Era um campo de batalha perfeito. Enquanto me posicionava em uma das salas superiores, já comecei a planejar a minha abordagem, e enquanto Chōchō, Inojin e Shikari tomavam suas posições, preparei-me mentalmente.

Os sons de suas movimentações ecoam pela loja, cada um com uma abordagem diferente. Chōchō é a primeira a fazer sua presença ser sentida. De algum lugar à distância, ouço o som de algo pesado, girando no ar. Quando me aproximo, vejo o brilho de esferas de aço expandindo-se, emergindo entre os fios de seu cabelo, e o que antes pareciam apenas um acessório estiloso, de repente se movimentou com precisão letal.

As esferas que pendiam nas pontas cresceram rapidamente, expandindo-se com o chakra, transformando-se em armas pesadas, presas às mechas de seu cabelo. Com um movimento ágil, ela lançou uma das esferas na minha direção, controlando-a como uma arma de arremesso usando o cabelo com uma corrente. O peso da arma era imenso, mas não era nada que eu não pudesse lidar.

Dou um passo para o lado, girando o Manriki-gusari em um arco perfeito para entrelaçar a esfera. A força do ataque fez o chão tremer sob nossos pés, e eu senti a tensão na corrente, enquanto Chōchō tentava puxá-la de volta. A fricção do metal ecoa pelo corredor, enquanto outra esfera voa em minha direção. Solto a primeira e pulo para trás, desviando no último segundo, estilhaçando a parede atrás.

— Seu controle é impecável, Chōchō. — Constatei, observando-a manipular as esferas e lançando-as contra mim com quase a mesma precisão que eu possuo no uso de kusarigamajutsu, enquanto expande e retraí o tamanho das esferas. Ela com seu controle sobre as técnicas de manipulação de cabelo e manipulação de tamanho, seria uma ameaça tanto em combate de longo alcance quanto ao cercar áreas estratégicas.

As esferas voltaram a voar em minha direção, girando como projéteis pesados. Sorri ao sentir o desafio. O Manriki-gusari em minha mão, serpenteando no ar, envolveu uma das esferas que vinha diretamente em minha direção, usando a força dela contra si mesma para lançá-la de volta. O impacto ecoou pela sala, e Chōchō desviou por pouco de seu próprio ataque.

Ela é agressiva e impetuosa. Interessante.

De repente, senti o leve sussurro de algo afiado se aproximando. Inojin. Ele estava à espreita, como eu suspeitava. Sua Tantō deslizou na minha direção, e por pouco consegui desviar. Ele não desperdiçava movimentos, sempre buscando uma abertura. Mas eu não era tão fácil de acertar.

— Boa tentativa. — Murmurei, enquanto ele saltava e girava em seu próprio eixo no ar para evitar meu contra-ataque. Inojin, com sua destreza silenciosa, lembrava-me um predador à espreita, sempre calculando o próximo movimento. Movia-se com furtividade, deslizando entre as sombras, preciso e veloz.

Com sua tantō em mãos, ele avançou mais uma vez. Um desenho havia sido traçado ao longo da lâmina com tinta preta, brilhando intensamente sob a luz fraca do corredor, quando uma energia espiritual começou a emanar dele.

—  Mukade (蜈, Centopeia)! — Ele sussurrou, e de sua lâmina emerge o desenho de uma centopeia gigante. A criatura desenhada se materializa, se enroscando ao redor dele, enquanto Inojin avança pelas paredes como uma besta viva.

Sou forçada a recuar quando cada golpe que ele desfere geram cortes a distância de forma caótica e imprevisível. Cada movimento, é acompanhado por múltiplas lâminas mudando de direção, tamanho e velocidade. Cada corte era impossível de ler, cada movimento produzia um efeito letal e por conta disto não fui capaz de evitar alguns ferimentos em meu corpo. Esquivei-me o máximo que pude, mas a sucessão de ataques era constante, implacável.

É a técnica do Sai. Ele anima seus desenhos infundindo e amplificando a energia espiritual a tal ponto que os desenhos nadam para fora de seu pergaminho, mas...

— Nada mal. Vocês utilizam as técnicas de seus pais, mas de um jeito próprio e totalmente único. — Murmurei, desviando de uma investida rápida. Minhas mãos pegaram o sansetsukon, a vara de três seções. Era perfeito para controlar o caos que Inojin estava criando.

Usei o Sansetsukon para me impulsionar no ar, girando em meu próprio eixo e desviar do frenesi de cortes e, com um movimento rápido ao pousar no chão, ataquei Inojin. Ele saltou para trás, seus olhos concentrados, mas percebi um leve brilho de admiração em seu olhar. “Ainda está aprendendo a ler os movimentos alheios, mas tem potencial.

No meio do caos, noto a presença de Shikari. Ela não ataca diretamente. Suas sombras se movem furtivamente, bloqueando minhas rotas de fuga, forçando-me a me engajar com os outros dois. Suas ações são metódicas, calculadas. Ela espera o momento certo para atacar, controlando o campo de batalha de longe.

— Impressionante! — Admiti. — Vocês realmente estão trabalhando em equipe. —  Mas ainda parecia faltar algo.

Chōchō voltou à carga, suas esferas de guerra girando com força devastadora. “Ela não se cansa fácil.” Agarrei um machado de guerra nas proximidades, sentindo o peso familiar. Bloqueei o ataque dela com o lado plano da lâmina, o impacto reverberando pelo meu braço.

A luta se intensifica. O som de metal contra metal, respirações pesadas e o impacto de cada golpe reverberam pelo ar. Por um momento, há uma pausa — aquele breve segundo antes de o próximo ataque começar.

A cada passo, sinto a pressão aumentar. Minha respiração acelera, enquanto esquivo dos golpes de Inojin e Chōchō simultaneamente. Vejo sombras se espalharem pelo chão, buscando controlar minhas ações. Mas sou mais rápida.  Eu recuei, esquivando-me com precisão. Eles estavam me pressionando, mas eu podia sentir o desgaste neles. Cada golpe tinha menos força que o anterior. O suor escorria de suas testas, enquanto seus movimentos começavam a desacelerar. O teste era tanto físico quanto mental, e eu sabia que estava perto de vencer.

Por fim, quando estou prestes a encurralá-los, vejo algo mudar. Eles começam a trabalhar juntos mais uma vez. Shikari me encurrala em um corredor com suas sombras, enquanto Inojin me pressiona com seus ataques que liberam profusões de cortes para todos os lados, e Chōchō prepara o golpe final. Mas antes que possam finalizar o ataque, libero toda minha força sobre o machado de guerra, golpeando a parede ao lado com força, criando uma onda de impacto que laçam detritos contra os Chūnin e os afasta.

Quando finalmente os três recuaram para reavaliar suas estratégias, sorri. — Vocês passaram. — Declarei, quebrando o silêncio. — Vou treiná-los!

Eles se entreolham, satisfeitos. Talvez, só talvez, eu possa ensinar algo a eles — e quem sabe aprender algo no processo. E assim, sem que eles soubessem, também aceitei meu próprio desafio.

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28 Dias depois


O sol brilhava intensamente sobre a arena de treino, cercada por árvores que lançam sombras suaves sobre uma plataforma circular de pedra. As armas de treino – fixas e móveis – estão dispostas ao redor, prontas para qualquer situação de combate. Uma brisa leve agita as folhas, mas no centro da arena, o ar é tenso.

Tenten estava parada no centro da plataforma circular, uma figura calma, porém, imponente. Seus olhos afiados observam o trio diante dela: Chōchō Akimichi, Inojin Yamanaka e Shikari Nara. A expressão de Tenten é séria, mas há uma faísca de curiosidade em seus olhos. Apesar de ter abandonado o campo de batalha, momentos como este despertam algo dentro dela. Algo que ela pensou estar adormecido.

Ela empunha uma naginata em uma mão e um guandao na outra, duas armas poderosas e com grande alcance. O brilho da lâmina da naginata capta a luz do sol, refletindo em um arco ameaçador.

Ela deu um leve sorriso e, com um movimento gracioso, assumiu sua posição de batalha. Eles se entreolharam brevemente. Cada um deles sabendo de suas próprias forças, mas, sabiam que Tenten não era uma oponente comum, e apesar de seus anos de afastamento, a experiência acumulada dela era incomparável.

.......

Eles ainda são novos, mas têm potencial. Se trabalharem juntos, podem se tornar uma força a ser reconhecida.” — Pensei.

— O teste é simples. — Meu olhar alternando entre os três. — Vocês três precisam me desarmar ou me controlar. Quero ver o quanto conseguem trabalhar em equipe. Se falharem em atuar juntos, falharão em me vencer. Se conseguirem, talvez estejam prontos para missões de alto nível.

Chōchō é a primeira a se mover. Ela se posiciona com confiança, estimulando o crescimento de suas mechas de cabelo, transformando-as em múltiplos chicotes de alcance e velocidades extremas. Os fios loiros avermelhados brilham, como chamas dançando no ar, e agora conectados a pequenos pesos metálicos com espinhos afiados cortam o ar ferozmente, tentando cercar e neutralizar a Jōnin. Eu sabia que ela herdara mais do que o vigor e força de seu clã; havia um nível de controle calculado e quase artístico em seus movimentos. Ela gira, movimenta e redireciona os chicotes de cabelo usando mãos, cotovelos, pescoço, ombros e pernas para mover os pesos de forma circular ao redor de seu corpo, aumentando a velocidade e o alcance. O tamanho e peso dos projéteis é muito maior que antes.

— Impressionante... — Desviei do ataque por pouco, sentindo o vento causado pelo peso passando de raspão. A pressão imposta por seus ataques aumentara expressivamente. — Vocês está se saindo bem, mas está apenas arranhando a superfície.

Ela se dedicou bastante. Já posso perceber que os pesos aumentaram de tamanho, embora... seus níveis de chakra sejam bem modestos se comparado ao Chōji.

Os pesos avançam rapidamente, criando uma teia de ataques que vinha de todos os ângulos, tentando ganhar controle do campo e me forçando a recuar ou se posicionar de forma desfavorável. Mas não é fácil me pressionar. Movimento-me executando acrobacias ágeis para desviar dos ataques, enquanto giro ambas as armas em minhas mãos, rebatendo e redirecionando alguns dos chicotes que avançam espalhafatosamente em minha direção.

Ela também tem muita força, mas ainda não entende que força bruta não basta.

— Chōchō, seus ataques são poderosos, mas previsíveis. — Tenten aponta com naturalidade, saltando graciosamente para longe de um golpe que poderia tê-la machucado. — Precisamos trabalhar na imprevisibilidade.

Ela sorriu de canto, enquanto outra esfera se lançava na minha direção. — Obrigada, Sensei. Mas ainda não terminamos.

Antes que eu pudesse reagir, Inojin entrou em ação sem fazer alarde. Esgueirando-se pelo meu ângulo morto, o loiro me ataca com uma precisão letal, surgindo em meio aos ataques contínuos de Chōchō. Como era de se esperar dele, ele não era do tipo que atacava abertamente. Ao invés disso, movia-se como uma sombra, aguardando o momento certo para agir.

Ele se move rapidamente, procurando desferir golpes em pontos estratégicos do corpo, visando articulações para limitar minha mobilidade. Sempre silencioso, observador. Seus olhos se estreitam, concentrando-se, analisando cada pequeno movimento. Estilo diferente do de Chōchō; onde ela é toda força e impacto, ele é velocidade, eficiência e furtividade.

— Ele é rápido, mas... — Disse, enquanto desviava agilmente de cada golpe. — É um bom movimento, mas precisa ser mais decisivo.

Ele avança novamente em ziguezague, buscando uma abertura, enquanto os ataques de Chōchō não cessam. Com um movimento rápido, ele tentou cortar pela lateral, enquanto Chōchō mantinha a pressão de frente. Enquanto sua lâmina descia em minha direção, um zumbido pesado ressoou no ar. Porém, o impacto nunca aconteceu como eles planejaram.

O primeiro golpe vem do lado direito. Com um giro ágil do Guandao, interceptei o golpe de Chōchō. A força do choque fez faíscas saltarem, causando um leve formigamento em meu braço por conta do impacto, mas a resistência do aço em minha mão era inquebrável. O segundo golpe vem pela esquerda, de baixo, visando minhas pernas. Mas eu movo minha Naginata em um arco circular frontal, repelindo-o. Inojin salta para trás, evitando o corte.

Ele é habilidoso... e não desperdiça movimentos.” Penso, esquivando-me de mais uma série de golpes rápidos de Chōchō. Enquanto a lâmina brilhante do Yamanaka volta a me perseguir, mas dessa vez noto uma atmosfera diferente em torno de sua investida.

Quase não tive tempo de reagir quando o jovem loiro se lançou subitamente mais rápido sobre mim. Sua pequena tantō refletindo o brilho do sol, enquanto desferia um golpe rápido e preciso. Sinto a lâmina passar rente ao meu braço e uma descarga de eletricidade passar por meu corpo.

— Bom movimento, novamente. — Murmuro, sentindo o formigamento em meus músculos.

Com um giro do corpo, afasto Inojin com um chute de força moderada, mas não sem antes ser atingida por um soco rápido que ele direcionou ao meu flanco, visando me desestabilizar. O impacto foi preciso, cambaleei ligeiramente, embora rapidamente retomasse a postura.

Mesmo em meio ao caos dos ataques de Chōchō a distância, percebo uma nova aproximação de Inojin. Noto, desta vez, a criatura semelhante a uma enguia elétrica enrolando-se em torno de seu braço, envolvendo todo o seu corpo em eletricidade, como uma armadura elétrica viva, antes de se lançar para frente, serpenteando pelo campo de batalha enquanto ele avançava junto. A eletricidade crepitava no ar, sua tantō novamente buscando pontos vulneráveis.

Unagi (鰻, Enguia)— Ele pronunciou. De repente, o som do trovão ecoou no ambiente, enquanto ele se movia pelo campo de batalha.

Com um movimento ágil, bloquiei o ataque com o Guandao. No entanto, uma descarga elétrica correu pelo cabo da arma, atingindo-me de surpresa. Seus golpes eram diretos, calculados, e cada vez que sua lâmina se aproximava, eu pudia sentir o choque percorrer o metal de sua arma, retardando ou enfraquecendo meus movimentos. É quando começo a tentar evitar os ataques com uma leveza quase dançante. Entretanto, mesmo com velocidade e técnica, algumas faíscas elétricas escapavam, e sinto o impacto de uma descarga em meu ombro, forçando-me a recuar brevemente.

Agora!” O Yamanaka pensou, avançando rapidamente em um arco lateral. Ele desferiu um corte rápido e direto com sua Tantō, visando minha lateral, incapacitando-me com o ataque elétrico. Ou pelo menos era o que ele esperava.

No entanto, eu me movi com uma velocidade que ele mal podia acompanhar. Com um giro ágil, interceptei o golpe com o Naginata, a lâmina ressoando contra a Tantō, enquanto faíscas de eletricidade se espalhavam no ar. Apesar disso, senti a descarga elétrica percorrer meus braços e pernas, causando um leve formigamento, quase não me permitindo desviar de uma bola de espinhos descendo sobre minha cabeça e estilhaçar o chão com a violência do impacto.

Esse garoto... seus ataques são perigosos. Ele sabe bem o que está fazendo a cada movimento." Refleti, vendo como Inojin se movia para longe rapidamente, já preparando seu próximo ataque.

— Nada mal, sensei. Mas você sabe que estamos só começando.  — Falou, dando um suspiro leve.

Ele deu um passo para trás, sinalizando algo com os olhos para Shikari, que ainda estava em segundo plano, aguardando pacientemente o momento certo. A movimentação estratégica já estava em curso.

Eu percebi a mudança de dinâmica quando a sombra de Shikari começou a se espalhar pelo chão, ligando-se às sombras produzidas pelos cabelos de Chōchō para aumentar seu alcance, sorrateira e rápida, tentando me cercar. Eles estavam coordenando seus ataques de uma maneira que eu não via há anos.

Ela está controlando o campo. Estão tentando me encurralar.

Chōchō estreitou os olhos, agora mais determinada do que antes. Enquanto isso, Inojin aproveitou a distração para avançar. No entanto, a verdadeira estratégia de Inojin ainda está por ser revelada.

Ele ativa o “Shindenshin no Jutsu”, estabelecendo uma conexão mental com seus companheiros de equipe, permitindo-lhes uma visão compartilhada da percepção de Inojin sobre o campo de batalha. Eles agora poderiam coordenar melhor seus ataques, sabendo exatamente onde cada um está e o que farão em seguida.

De repente, as sombras de Shikari avançaram. As sombras me cercavam rapidamente, quase como se conseguissem prever para onde eu desviaria e mesmo com a minha agilidade, percebi que precisaria mais do que evasão para superar essa estratégia.

Por sua vez, os passos de Inojin eram leves, quase imperceptíveis, como um predador à espreita. Usava sua furtividade para tentar me pegar desprevenida. Faço-me ciente de sua presença, enquanto, por um momento, pareço mais focada em evitar as correntes a combinação de Chōchō e Shikari.

As nossas lâminas se chocam mais uma vez, faíscas voando no ar. Mas antes que ele pudesse recuar, desfiro um chute lateral, atingindo Inojin no estômago e jogando-o para trás com uma força que ele não esperava.

— Você é rápido, Yamanaka. — Comento, desviando o golpe de um peso prestes a atingir minha sombra. — Mas não o suficiente.

Inojin se levantou, limpando o suor da testa, seus olhos afiados e determinados. Ele sabia que eu estava testando mais do que suas habilidades físicas – observando como eles trabalhavam em equipe, procurando brechas e momentos de sinergia. Ele precisava pensar mais rápido, ser mais inteligente.

Eles estão planejando algo maior. Agora é quando eles realmente vão me pressionar.

Apesar disso, eu senti o peso da batalha aumentar. A respiração estava mais rápida, os músculos começando a sentir a tensão de ter que desviar e contra-atacar constantemente. Mas havia algo mais – eu me se sentia viva de novo. A adrenalina de estar no campo de batalha, de ser desafiada, me fez lembrar de quem eu era.

Foi nesse momento que Shikari, sempre observando, fez seu movimento. Enquanto seus companheiros me distraíam, ela já havia escolhido sua tática. Seus dedos se moveram levemente, e o “Kagenui no Jutsu" foi ativado. Sombrias agulhas de sombra emergiram de todos os ângulos onde os cabelos da Akimichi geravam sombra, tentando me imobilizar.

Vi as sombras a tempo, saltando e girando no ar com o Guandao erguido. As sombras se alongaram rapidamente, mas, com um movimento fluido, girei o Guandao em um arco largo, tentando cortar as sombras, mas Shikari foi mais rápida. As sombras envolveram uma parte da arma, criando uma tensão entre nós.

Mas Inojin estava logo atrás, aproveitando a abertura. Ele se aproximou rapidamente, sua arma brilhando com eletricidade. Até tentei erguer a Naginata para bloquear, mas, com um movimento rápido e calculado, Inojin girou para o lado, desviando a lâmina de sua arma e deslizando um golpe em direção ao flanco.

— Droga! — Verbalizei, torcendo o corpo no último segundo. Mesmo assim, a lâmina o atingiu de raspão, e isso me fez sentir uma dormência temporária causada pela eletricidade. Embora não fosse um ataque fatal, foi nesse momento que eu percebi o verdadeiro plano. Enquanto ela estava distraída com os dois ataques, Shikari já havia posicionado suas sombras embaixo dela, restringindo seus movimentos por completo.

Agora, Chōchō!” Ordenou a Nara, transmitiu seu comando em pensamento.

Com um grito de esforço, Chōchō lançou seus cabelos para me enlaçar por completo, imobilizando-me com os pesos gigantes que caíram no meu redor. Foi então que cedi, respirando fundo, observando os três jovens à minha frente. Um sorriso orgulhoso se formou em meu rosto.

— Vocês conseguiram. — Disse, voz mansa, mas cheia de respeito. — Trabalharam como um verdadeiro time.

Os três respiraram aliviados, ainda tentando recuperar o fôlego. Eles haviam vencido, mas sabiam que aquele era apenas o começo de sua jornada.

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Naquela noite


A mansão de Tenten se erguia imponente sob o céu noturno, suas paredes de pedra refletindo as luzes trêmulas das tochas espalhadas pelo terreno. O céu é envolto em nuvens espessas, e a lua brilha apenas intermitentemente entre as brechas. As sombras que dançavam no vento criavam formas distorcidas, como se o próprio ambiente conspirasse para desafiar os limites dos que ali treinavam. O ar estava carregado de tensão e expectativa.

Tenten mantinha-se nas sombras, observando de longe enquanto seus alunos treinavam intensamente. Os olhos dela seguiam cada movimento deles, analíticos e afiados, mas seu coração carregava uma leve melancolia. O isolamento que ela se impusera por anos parecia mais pesado sob a luz vacilante das tochas.

Será que essa solidão era mesmo necessária?” Tenten pensava, enquanto os olhos fixos sobre os alunos traíam a sua mente em conflito. Ela sempre havia se orgulhado de sua independência, de sua força solitária, mas vendo Chōchō, Inojin e Shikari juntos, sentia uma pontada de dúvida. “Talvez... eu esteja me isolando demais?

Chōchō, depois de um longo dia de treinamento, havia finalmente se permitido uma pausa. Sentada em uma grande pedra, ela respirava fundo, os olhos seguindo Inojin. O esforço dele era palpável, a cada golpe e movimento, ela via o quão dedicado ele estava em dominar sua nova técnica. Sentiu-se inspirada, mas ao mesmo tempo, preocupada. O suor escorria pelo rosto de Inojin e, mesmo à distância, era possível perceber a tensão em seus músculos.

De repente, Chōchō se inclinou para frente, os olhos arregalados ao ver o resultado. — Isso é incrível! — Ela exclamou, sua voz carregada de admiração. — Essa técnica... ela não precisa nem de uma linha de visão!

.......

No campo de treinamento, Inojin estava de pé, seus pés firmemente plantados no chão de terra batida, o corpo ligeiramente inclinado para frente, concentrado em sua espada que brilhava com uma energia intensa. Ele havia desenhado com cuidado e delicadeza, moldado as “asas” e “olhos” de sua técnica nos últimos dias pela superfície de sua lâmina, e agora estava tentando mais uma vez aperfeiçoá-la.

— Concentre-se… controle... respire…

Sua espada irradiava uma energia espiritual que aumentava de intensidade à medida que ele manipulava a técnica com precisão. O corte voador disparou pelo ar, um arco invisível de poder que percorreu o campo com uma velocidade assustadora.

De repente, Inojin parou, engasgando-se, levando a mão à boca para conter o sangue que subia. Um fio vermelho desceu pelo canto de seus lábios, pingando no chão.

Inojin, com a voz rouca e trêmula, falou consigo mesmo: — Isso não... é suficiente… preciso ir além.

Ele limpou o sangue da boca com as costas da mão, determinado a continuar, mesmo com a pressão física e mental ameaçando derrubá-lo. Ele segurava firmemente sua pequena espada, seu braço tremendo com o esforço. As sombras das tochas dançavam ao seu redor enquanto ele tentava mais uma vez liberar o poder da técnica que estava aperfeiçoando, a “Taka” (鷹, Falcão).

— Vamos, de novo... — Murmurou ele para si mesmo, concentrando-se. O cansaço estava evidente, mas seu espírito guerreiro não lhe permitia desistir.

Ele balançou a espada em um arco largo, e no momento exato em que liberou o golpe, as "asas" de falcão desenhadas na espada emergiram de suas costas, criando uma ventania poderosa que sacudiu a vegetação ao redor. Ao mesmo tempo, os "olhos" do falcão, desenhados com precisão, apareceram diante dele. Era como se a própria visão do falcão tivesse se fundido a ele, e com esse novo senso de percepção aguçada, ele lançava seu corte voador.

A massa de energia espiritual na lâmina disparou através da noite, cortando o ar com um silvo mortal, percorrendo os 30 metros de distância com precisão. As folhas no caminho foram rasgadas como se o próprio vento estivesse impregnado de lâminas invisíveis.

No entanto, enquanto a técnica se manifestava com sucesso, o corpo de Inojin sofria as consequências. As veias em seu rosto saltaram, e uma dor aguda atravessou sua cabeça. Ele cambaleou um pouco, o nariz começando a sangrar.

— Eu preciso... manter o foco. Só mais uma vez... mais uma vez... — Ele sussurrou, determinado.

De repente, o gosto de ferro invadiu sua boca. Inojin tossiu, cuspindo uma grande quantidade de sangue no chão. A pressão sobre seu corpo e mente era intensa. “Essa técnica... está me destruindo por dentro?” A dúvida começou a crescer em sua mente, mas ele se forçou a ignorá-la.

Nas sombras, perto de uma árvore robusta, Shikari observava silenciosamente. Seu olhar calculista não perdeu nenhum detalhe do que acontecia com Inojin. Os olhos de falcão que ele havia desenhado não só expandiam sua visão, mas também permitiam que ele visse além das defesas comuns, uma vantagem tática assustadora. No entanto, os efeitos colaterais estavam começando a se acumular.

— Asas para voar e olhos para ver o inimigo... uma técnica poderosa, mas está destruindo-o por dentro. A pressão neural é extrema, sobrecarregando seus sistemas sensoriais. —  Shikari murmurou para si mesma, cruzando os braços. Seus olhos estavam fixos nas veias saltadas ao redor dos olhos de Inojin e na forma como ele tentava mascarar o mal-estar.  — Essa técnica exige uma concentração absurda. O controle de energia espiritual está além do que você consegue sustentar por muito tempo. Está pressionando demais o próprio corpo... e se continuar assim, não vai durar muito tempo.

Ela desceu suavemente da plataforma de madeira onde estava, se aproximando de Inojin, mas ainda o suficiente para que ele pudesse ter seu espaço.

—  Inojin, já é o bastante por hoje. Forçar além disso vai acabar te prejudicando mais do que te ajudar.

Inojin a olhou brevemente, com um sorriso cansado. —  Eu estou perto, Shikari... quase lá. Só mais uma tentativa, prometo.

Ela com a voz calma e calculada: — Inojin... você está ultrapassando seus limites. Se continuar assim, não vai ser só sangue. Seu corpo pode não suportar a próxima tentativa.

— É exatamente isso que eu preciso... superar meus limites. Não posso falhar... não posso ter falhas. — Inojin, com um sorriso cansado.

Shikari suspirou. Ela compreendia o desejo de se aperfeiçoar, mas também sabia quando era hora de parar. Ela observou o céu, as nuvens densas bloqueando a lua. "Você está sob muita pressão. Está tentando enxergar como um falcão, mas não pode ignorar seus próprios limites. A técnica é poderosa, mas o custo... o custo é alto demais. Não adianta ter uma espada afiada se suas mãos não conseguirem mais segurá-la."

.......

Mais tarde, quando a lua estava alta no céu e o cansaço começava a pesar sobre todos, Shikari se aproximou de Tenten. Havia algo que ela precisava falar, algo que vinha observando desde o início daquele treinamento.

Silenciosa como a noite, sempre observadora. Eu podia sentir seus olhos sobre mim, como se pudesse ver além das minhas ações, além das minhas palavras... direto para o vazio que eu mantinha escondido dentro de mim.

Ela não disse nada de imediato, mas seu silêncio já estava falando mais do que qualquer um dos meus alunos jamais ousaria.

Finalmente, ela quebrou o silêncio, a voz baixa, mas cheia de uma percepção desconcertante para alguém tão jovem: — Você sabe, Sensei. — Começou ela, o tom dela leve, mas firme. — Você tem medo.

Senti o impacto de suas palavras como se ela tivesse acabado de lançar uma kunai diretamente no centro do meu peito. O ar à minha volta pareceu mudar de repente, tornando-se mais denso. Eu? Medo? De quê? Por quê? Nunca admiti isso para ninguém. Nem para mim mesma.

Fiquei em silêncio por um momento, tentando encontrar palavras que não soassem vazias ou defensivas, mas nada saiu. Eu sempre fui a mestra, a que os guiava, mas agora parecia que ela estava me analisando, me desvendando com uma precisão que poucos, ou ninguém, jamais tiveram.

Ela continuou, sem me dar tempo de reagir: — Você nos treina, nos empurra para sermos mais fortes, para enfrentarmos nossos medos, mas... e o seu medo? Quem está te ajudando a enfrentá-lo?

Suas palavras ecoaram em minha mente. Eu podia sentir algo profundo se agitando dentro de mim, uma verdade que eu evitei confrontar por tanto tempo.

— Você acha que eu tenho medo? — Minha voz saiu mais fraca do que eu queria, quase um sussurro.

Ela cruzou os braços, ponderando suas palavras antes de continuar. — Eu vejo você, sabe? Não como nossa professora, mas como uma pessoa. E você tem medo... de ficar sozinha. Mas tenta se convencer de que não. Como se... como se a solidão fosse sua única escolha.

Ela havia percebido. Ela enxergava através da minha fachada de força.

— Eu penso que, talvez, você tenha começado a acreditar que não vale mais a pena tentar se conectar com as pessoas. Que todos os outros estão se distanciando, ficando mais fortes, enquanto você... enquanto você se afasta. É isso que você acredita, não é? —  Shikari deu um passo à frente, e a intensidade em seu olhar aumentou.

Meu coração apertou. Como ela podia saber disso? Como ela podia entender algo que eu escondi por tanto tempo, até de mim mesma?

— Você está tentando ser perspicaz demais para sua idade, Shikari. — Tentei desviar, mas sabia que era inútil.

Ela balançou a cabeça, não me deixando escapar. — Você se isolou porque pensou que nunca poderia alcançar o nível deles. Seus companheiros. Você foi a primeira a perceber que não conseguiria acompanhar... e isso te abalou. Você acha que ser uma ninja que não está no mesmo nível dos outros te torna um elo fraco. Então, decidiu que, se não podia ser como eles, ao menos não seria um fardo.

As palavras dela ecoaram nas sombras ao nosso redor. Era como se ela tivesse aberto um portal para meus próprios pensamentos, aqueles que eu evitava confrontar por anos. Lembrei-me de Neji, de Lee, Guy, até mesmo de Naruto e os outros, do quanto cada um deles havia crescido. Seus nomes me assombravam.

— Conexões só atrapalham... quando você não pode acompanhar. — Minha voz saiu como um murmúrio, quase involuntário.

Shikari assentiu, como se esperasse por aquela confissão. — É o que você pensa. Que, por não poder acompanhar o crescimento deles, se tornar próxima das pessoas apenas resultaria em frustração. Isolamento pareceu a única solução. Mas, sensei... isso realmente te faz feliz?

Felicidade... uma palavra que há tempos eu não associava a mim mesma. Treinar esses jovens me dava uma sensação de propósito, mas felicidade? Essa sensação de vazio, de estar sempre observando de longe, sem realmente fazer parte, era sufocante.

Shikari deu mais um passo, se aproximando ainda mais, e baixou o tom, como se estivesse me confidenciando um segredo. — Você não precisa ser a mais forte para estar conosco. Não precisa ser como eles para se conectar. — Seus olhos me fixaram de uma maneira que me impedia de desviar o olhar. — Você nos ajuda a superar nossos limites, mas... talvez precise de ajuda para superar os seus próprios.

Mas, Shikari estava certa. Talvez fosse mais do que isso. Talvez eu tivesse desistido de mais do que apenas minha carreira. Talvez eu tivesse desistido de mim mesma.

— E o que eu ganho se não conseguir acompanhar, Shikari? Se eu... me permitir estar mais perto de vocês e, no fim, não for suficiente? Vocês já melhores do que jamais pensei ser na mesma idade. — A pergunta saiu mais emocional do que eu planejava.

Ela ficou em silêncio por um momento, considerando suas palavras com cuidado antes de responder. — Você ganha a chance de estar com aqueles que se importam com você, mesmo que você não seja a mais forte. Você ganha a oportunidade de não carregar esse fardo sozinha. — Shikari deu um sorriso suave, mas firme. — E, sensei, talvez descubra que você é mais forte do que pensa. Mas, mesmo que não seja, isso não muda o fato de que você importa e cada peça de um quebra-cabeça é essencial, por mais insignificante que pareça.

Eu senti o peso daquelas palavras. Importar... essa palavra soava distante. Era estranho, mas reconfortante. Shikari tinha uma sabedoria incomum para a idade, e ela estava me dando algo que eu nem sabia que precisava: a permissão para me reconectar.

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60 Dias após o início do treinamento

O campo de treino estava devastado. Árvores caídas, cortadas em pedaços, estendiam-se como corpos derrotados. Armas de todos os tipos estavam espalhadas pelo chão, algumas quebradas, outras encravadas em troncos e pedras. O terreno irregular, marcado por crateras e rastros de explosões, testemunhava os combates anteriores. Era um campo de batalha, mas também um palco de aprendizado. Eles estavam prontos para o último desafio.

No centro desse cenário caótico, Tenten estava parada, com sua postura firme e olhos afiados, os observava com atenção. Ela segurava firmemente uma lâmina segmentada em 24 partes, uma de suas armas mais complexas e perigosas, com lâminas longas e flexíveis que se moviam como serpentes no ar, prontas para fatiar qualquer coisa em seu caminho. O trio, Ino-Shika-Chō, estava à sua frente, preparados, suados e feridos, mas unidos.

.......

Tenten avançou primeiro, sua espada ziguezagueando no ar em movimentos imprevisíveis, criando um véu de aço ao seu redor. O chicote da lâmina assobiava, cortando o vento com precisão assustadora, obrigando o trio a se espalhar para evitar o ataque.

— Fiquem atentos! Ela vai tentar nos separar! — Gritou Shikari, com a voz firme e calculista, enquanto lançava várias kunais com tarjas explosivas. As explosões foram sincronizadas, criando uma cortina de fumaça para cobrir os movimentos do time.

Chōchō, mais confiante e forte do que nunca, estava posicionada ao lado de Inojin. Ela sentiu a conexão mental que o loiro havia criado entre eles através da técnica dos Yamanaka. Era como se pudessem sentir os pensamentos uns dos outros, sincronizados como nunca.

Estamos nisso juntos agora.” Ela pensou, apertando as mãos em punhos enquanto preparava suas esferas de guerra.

A jovem Akimichi tomou a dianteira. Ela lançou uma de suas grandes esferas de metal diretamente na direção de Tenten. A Jōnin, com movimentos precisos, orientando-se através do som, fez as lâminas flexíveis de sua espada envolverem a esfera, tentando desviá-la. Mas Chōchō sorriu. “Ela caiu na minha armadilha.

De repente, a esfera se expandiu em pleno ar, tornando-se ainda maior e mais pesada. Tenten arqueou as sobrancelhas por um momento de surpresa, pois o impacto foi maior forte do que ela esperava. A lâmina flexível tremeu em sua mão, e ela foi forçada a recuar momentaneamente.

Boa jogada. Você está muito mais forte do que antes.” Pensou, enquanto saltava para trás, a tempo de evitar que a esfera esmagasse o chão onde estava. As esferas pesadas rasgaram o solo, criando crateras e deslocando pedras e terra em sua trajetória. Pareciam meteoros, destruindo qualquer obstáculo em seu caminho.

Das sombras da poeira, Inojin surgiu em alta velocidade, dois pares "asas" de libélula manifestadas em suas costas, brilhando suavemente com a energia de sua técnica “Tonbo” (蜻, Libélula). Ele se movia rápido, mais rápido do que Tenten esperava. O campo de batalha parecia desacelerar ao redor dele, enquanto ele desferia golpes rápidos e precisos com sua pequena espada.

Ele sentiu a velocidade e a leveza do vento ao seu redor. Suas reações se tornaram instantâneas, seus reflexos amplificados a níveis sobre-humanos. Cada movimento de Tenten era captado em detalhes, como se o tempo estivesse desacelerando para ele. As lâminas flexíveis de sua espada seccioanando-se chicotearam na direção do Yamanaka, mas ele desviava de cada uma com movimentos fluidos, quase dançando entre os ataques mortais.

Ele a atacava de múltiplos ângulos, suas asas lhe permitindo mudar de direção no último segundo. Cada golpe era rápido, afiado e preciso, obrigando sua tutora a entrar totalmente na defensiva.

— Você está ficando mais rápido, Yamanaka. — Tenten disse em um tom sério e tenso, girando sua espada com destreza para criar um vendaval de lâminas que bloqueiam seus ataques. No entanto, mesmo ela estava surpresa com a eficiência e velocidade de Inojin. Cada corte que ele lançava, mesmo quando bloqueado, criava uma pressão intensa ao redor, fazendo a lâmina de Tenten vibrar ao mesmo tempo em que ela precisava tomar com os ataques potentes de Chōchō.

No entanto, a pressão crescente em sua mente começava a dar sinais em seu aluno. Uma dor aguda atravessou sua cabeça. Seu corpo, empurrado ao limite pela técnica, estava começando a ceder. “Preciso terminar isso rápido...

Enquanto Inojin mantinha a pressão sobre Tenten e Chōchō lançava suas esferas, Shikari, sempre a estrategista, observava cada movimento com cuidado. Ela havia observado atentamente todos os movimentos de Tenten e sabia exatamente onde atacar. Com um movimento rápido das mãos, ela lançou uma série de kunais com tarjas explosivas em um padrão específico, criando uma rede de destruição ao redor de Tenten.

Agora, Inojin!” Exclamou. Sua voz ecoando na mente do Yamanaka, guiando-o para o próximo movimento.

Com uma explosão de energia, Inojin saltou para trás, enquanto Shikari assumia o controle da batalha. Foi então que ela usou sua técnica de sombras. As sombras no campo de treino, alongadas pela luz das tochas, se moveram como serpentes sob o comando de Shikari. Lançando uma bomba de luz para cegar temporariamente Tenten e ampliar o alcance de suas sombras.

A explosão foi instantânea, e uma luz brilhante preencheu o campo de batalha. Ao mesmo tempo, ela manipulava as sombras ao redor, conectando-as com sua técnica Nara. As sombras se enroscaram nas lâminas da Jōnin, tentando restringir os movimentos de Tenten.

Ela, por sua vez, sentindo o perigo iminente, tentou usar a flexibilidade de sua espada para cortar através das sombras, mas já era tarde demais. As sombras de Shikari haviam se infiltrado, conectando-se sutilmente à de Tenten através da espada em sua mão. Ela agora estava presa, mesmo que por um breve momento.

— Agora, Chōchō! Inojin! — A Nara gritou, seu controle sobre a situação impecável.

Chōchō saltou à frente, suas esferas girando em torno de Tenten. Com um movimento calculado, ela as lançou todas de uma vez, criando uma barreira de ataques de múltiplas direções. Inojin, com suas asas de libélula, subiu aos céus e desceu rapidamente, sua espada pronta para o golpe final.

Tenten sabia que estava encurralada, definitivamente, mas um sorriso se formou em seus lábios. “Eles finalmente...

Ela forçou seu corpo a se mover, mesmo com as sombras de Shikari tentando restringi-la. Com um movimento final, Tenten girou sua espada com enorme poder em um turbilhão de lâminas seccionadas girando em um vórtice a frente de seu corpo, na tentativa de rebater maior parte do ataque. No entanto, a força imposta pela barragem de ataques de Chōchō era tremenda, e ela não conseguiu desviar as esferas. E as esferas de Chōchō, então, a atingiram diretamente com uma força esmagadora, jogando-a a dezenas de metros e causando um impacto devastador no terreno. Tudo o que ela pôde fazer, foi expelir uma massa de chakra por todo o seu corpo na tentativa de mitigar os danos.

Uma dor excruciante se espalhou por todo o seu corpo, enquanto ela tentava recobrar os sentidos e abrir os olhos. Ao fazê-lo, observou Inojin, em pé sobre ela. E, com um último movimento, desferiu um golpe rápido e preciso com sua espada, parando a poucos centímetros de Tenten.

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FINAL


A batalha terminou. Ofegante e toda dolorida, ergui uma mão em rendição. — Vocês venceram!

Chōchō, Inojin e Shikari pararam diante de mim, ofegantes, mas claramente orgulhosos de seu trabalho em equipe. Eles haviam finalmente me superado em uma luta realmente séria, algo que parecia impossível há poucas semanas.

Olhei para cada um com orgulho. — Vocês passaram... Estão prontos para enfrentar o mundo ninja. O que está lá fora... será muito mais difícil do que qualquer coisa que enfrentaram aqui. Mas eu sei que vão conseguir.

Chōchō sorriu, flexionando os braços com entusiasmo. — Sabia que poderíamos vencer!

Inojin, ainda ofegante, limpou o suor de sua testa e comentou com um sorriso cansado. — Só espero que as próximas lutas não me façam guspir tanto sangue...

Shikari, com um leve sorriso, ajustou suas luvas e apenas assentiu com sua cabeça.

Olho para o horizonte, minhas mãos relaxadas ao lado do corpo, pensando: "Eu nunca pensei que poderia ensinar assim, que poderia guiar outros como vocês. Me isolei... e me convenci de que era melhor assim. Mas... vocês me mostraram que eu possa encontrar meu valor em mais do que apenas aprender técnicas de combate para me tornar mais forte."

Viro-me para os três, o orgulho brilhando em meus olhos. Sinto um peso se levantar de meus ombros, aceitado meu papel no mundo. “Eu não estou mais sozinha.