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Aviso que este capítulo pode ser um pouco pesado.






Capítulo Zero: A noite em que tudo mudou


A noite caiu silenciosa sobre a vasta propriedade da família Solis, e a brisa suave balançava as cortinas do quarto de Raquel e Renata. O céu, tingido em tons de azul profundo, permitia que as estrelas brilhassem com intensidade, enquanto a luz suave da lua refletia nos cabelos ruivos das gêmeas, que estavam espalhados sobre os travesseiros. Elas tinham apenas oito anos, com os olhos roxos cheios de curiosidade e ainda muito acordadas, apesar da hora tardia.

Sua mãe, Luísa Solis, entrou no quarto com um sorriso suave. Seus longos cabelos, da mesma cor vibrante que os das filhas, caíam em ondas sobre seus ombros. Ela puxou uma cadeira e sentou-se ao lado da cama, ajeitando as cobertas ao redor de Raquel e Renata.

"Está na hora de dormir, minhas pequenas," disse Luísa em tom carinhoso, embora soubesse que as gêmeas já esperavam ansiosas pela história da noite.

"Você vai nos contar uma história hoje, mamãe?" perguntou Renata, seu olhar curioso iluminando o rosto.

Luísa riu suavemente e passou a mão pelos cabelos das filhas. "Claro. Hoje vou contar a história de Merlin, o maior mago que já existiu."

As gêmeas se ajeitaram na cama, envoltas em seus cobertores, enquanto sua mãe começava a falar.

"Há muito tempo, antes que as famílias governassem as terras e antes mesmo do surgimento dos conselhos de sábios, existia um mago chamado Merlin. Ele não era como os magos de hoje. Merlin tinha a magia correndo nas veias, uma força tão antiga quanto o próprio mundo. Ele não precisava de fórmulas ou símbolos para usar sua magia. Ele era a própria magia."

Os olhos de Raquel e Renata se arregalaram, e elas estavam completamente imersas na história.

"Dizem," continuou Luísa, com sua voz doce e suave, "que Merlin podia falar com os elementos. As águas dos rios o obedeciam, os ventos sussurravam seus segredos e até mesmo o fogo o respeitava. Mas Merlin era sábio e sabia que com grande poder vinha grande responsabilidade. Ele usava seus dons para proteger os reinos e as pessoas que viviam neles, sempre se assegurando de manter o equilíbrio entre a magia e o mundo."

"Ele era como o Mago Supremo?" perguntou Raquel, franzindo a testa enquanto tentava imaginar o poder de Merlin.

"Mais poderoso ainda," respondeu sua mãe com um sorriso misterioso. "Mas, com todo o seu poder, Merlin enfrentou muitos desafios. Um dos maiores foi uma bruxa poderosa, Morgana, que desejava usar a magia para conquistar e destruir. Ela e Merlin travaram batalhas épicas, em que a própria terra tremia sob seus pés."

"O que aconteceu com ele?" perguntou Renata, ansiosa por mais.

"Merlin sabia que, um dia, sua magia não seria suficiente para manter o equilíbrio sozinho. Então, antes de sua última batalha com Morgana, ele selou um grande poder em um artefato — algo que apenas uma pessoa poderia empunhar. Dizem que esse artefato ainda está escondido, esperando por aquela que é digna de recebê-lo."

Raquel e Renata se entreolharam, seus olhos brilhando de excitação. "Você acha... que nós... vamos achar esse artefato algum dia?" perguntou Renata, quase em um sussurro.

Luísa sorriu e deu um beijo na testa de cada uma. "Talvez, minha pequena. Talvez o destino tenha grandes planos para vocês. Mas, por agora, descansem."

As gêmeas se ajeitaram nos travesseiros, o conto de Merlin girando em suas mentes enquanto o sono finalmente as envolvia. O quarto ficou em silêncio, e a lua continuou sua vigília sobre as meninas que, um dia, seriam parte de algo muito maior.

Luísa olhou para suas filhas por um momento mais longo, seu coração apertado ao lembrar-se de seu próprio passado e do futuro incerto de Raquel e Renata. "Durmam bem, minhas queridas," sussurrou ela ao sair do quarto, fechando a porta suavemente atrás de si.


Algumas horas se passaram


Raquel adormeceu com a história ainda ressoando em seus pensamentos. Seus sonhos a levaram para um mundo onde magia e aventura se entrelaçavam, onde ela e sua irmã Renata desvendavam segredos e artefatos antigos, como o lendário artefato de Merlin. A noite parecia tranquila e silenciosa, mas um som perturbador ecoou pela casa, acordando Raquel abruptamente.

Ela abriu os olhos devagar, ainda meio sonolenta, enquanto um ruído abafado, como se fossem vozes brigando, vinha de algum lugar da casa. Piscando algumas vezes para se certificar de que não estava mais sonhando, ela olhou para o lado e percebeu algo estranho: Renata sumiu.

"Tata?" sussurrou, sentando-se rapidamente e olhando ao redor.

Seu coração acelerou. Renata nunca saía da cama no meio da noite. O som de passos pesados e o estalar de portas ao longe aumentaram a ansiedade em Raquel. Ela sentiu o medo subir pela espinha e desceu da cama em silêncio. De repente, aquele lar que sempre foi tão seguro parecia cheio de sombras e mistérios.

Caminhou devagar até a porta de seu quarto e abriu a porta do quarto com um nó na garganta, e a visão no corredor a fez recuar de horror. Corpos de guardas, empregados, e servos estavam espalhados pelo chão, caídos de maneira desajeitada, como se tivessem sido abatidos sem aviso. O cheiro de sangue encheu o ar, misturado com o silêncio sufocante da mansão. Seus olhos se arregalaram enquanto ela tentava processar o que via. O pânico começando a dominar seus pensamentos.

Ela deu um passo hesitante para fora, com os pés tremendo sob o peso da cena diante de si. Seus lábios murmuravam baixinho, chamando desesperadamente por sua família. "Mãe... Pai... Tata... Tio..."

De repente, um dos guardas no chão, com o rosto pálido e coberto de sangue, moveu a mão lentamente e agarrou o braço de Raquel. O toque inesperado fez seu coração quase parar, e ela se ajoelhou ao lado dele, os olhos arregalados de susto.

"Fuja..." sussurrou o guarda, sua voz fraca e moribunda, enquanto o sangue manchava sua boca. Ele apertou o braço de Raquel com a pouca força que lhe restava, os olhos piscando em um último esforço de alerta.

"Fuja..." repetiu ele, antes que seu corpo tremesse pela última vez, e ele ficasse imóvel, seu braço deslizando suavemente do de Raquel enquanto sua vida se esvaía.

Raquel sentiu as lágrimas ameaçarem cair, mas não havia tempo para lamentar. O desespero se transformou em uma urgência aterrorizante. Ela correu pelo corredor, o coração batendo violentamente no peito, seu corpo movido pelo puro instinto de sobrevivência.

A mansão, que sempre fora seu lar seguro, agora parecia um labirinto de morte e desespero. Conforme passava pelos corredores, tropeçando em mais corpos, ela só conseguia pensar em sua família. Onde estavam?

E então, no fim de um corredor escuro, ela viu.

"Tata!" gritou, ao ver sua irmã gêmea caída ao chão, encostada contra a parede. O coração de Raquel apertou-se com uma dor intensa. Ela correu até Renata, ajoelhando-se ao lado dela, agarrando sua mão fria.

"Tata... por favor..." implorou Raquel, sacudindo sua irmã suavemente. Mas Renata parecia tão fraca, mal conseguindo abrir os olhos. Seu rosto, sempre tão vibrante e cheio de vida, estava pálido e manchado de sangue.

Renata virou a cabeça lentamente para sua irmã, os olhos vidrados de dor. "Kel..." murmurou ela, com a voz quase imperceptível.

Raquel apertou a mão de Renata com força, lágrimas finalmente escapando de seus olhos. "Tata...Não..."

O corpo de Renata cedeu. Sua cabeça tombou suavemente para o lado, e a última centelha de vida deixou seus olhos. Ela estava morta.

O mundo de Raquel pareceu se despedaçar naquele instante. Ela ficou congelada pelo choque e pela dor, segurando a mão de sua irmã, incapaz de acreditar no que tinha acabado de acontecer.

E foi nesse momento que o horror maior a aguardava. Levantando os olhos em direção ao salão principal, com as pernas trêmulas e o coração despedaçado, ela viu as portas da sala parcialmente abertas. Algo a atraía para lá, como se a verdade sombria estivesse esperando além das portas entreabertas.

Lutando para respirar, ela se forçou a seguir em frente, cada passo mais pesado que o anterior. Quando empurrou a porta e entrou no salão, seus piores medos se confirmaram. Os corpos de seus pais jaziam no chão, como as figuras centrais de uma tragédia.

Raquel ficou paralisada. O tempo pareceu parar. Seus olhos se arregalaram em choque, e as lágrimas continuavam a cair silenciosamente. Ela não conseguia respirar. Aquela visão era insuportável.

Mas, antes que pudesse processar o que estava acontecendo, uma figura sombria surgiu diante dos corpos de seus pais. A silhueta era familiar e, ao focar seus olhos, ela o reconheceu.

"Tio...?" A voz de Raquel saiu trêmula, quase inaudível.

Seu tio, que ela sempre acreditou ser um protetor da família, estava ali, na frente de seus pais caídos. Seu rosto estava sombrio, e algo nele parecia diferente, distante. A cena parecia irreal, como se estivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar.

O tio ergueu os olhos lentamente, seu rosto marcado pela culpa e cansaço. Ele não disse nada por um longo momento, apenas a encarou, a distância entre eles preenchida por uma tensão sufocante. Então, finalmente, ele quebrou o silêncio.

"Sinto muito, Raquel," murmurou ele, a voz cheia de tristeza, mas também de algo mais... algo oculto.

Raquel deu um passo para trás, sem entender o que estava acontecendo. "O que... está acontecendo?"

Seu tio abaixou a cabeça, incapaz de encará-la diretamente, mas não tentou se aproximar. Ele sabia que, para Raquel, sua presença naquele momento era mais devastadora do que qualquer resposta que pudesse dar.

Antes que ela pudesse perguntar mais alguma coisa, ele a olhou nos olhos por um último momento e, em seguida, fugiu pelas sombras, desaparecendo na escuridão do salão.

Raquel ficou ali, sozinha, cercada por corpos, pela perda de tudo o que conhecia, e pela traição que não conseguia compreender.

O silêncio retornou, mas agora ainda mais pesado.






Em duas semanas sai o próximo capítulo.

descriptionLegado da Magia EmptyRe: Legado da Magia

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Capítulo Um: Ecos do Passado


Legado da Magia Cemitz10


Raquel, agora 18 anos, com longos cabelos ruivos que brilhavam sob a luz do sol, permanecia em frente aos túmulos. Seus olhos estavam fixos nas lápides, os nomes de seus pais, de sua irmã gêmea, dos guardas, etc esculpidos em pedra fria. Era um ritual anual, mas a dor não diminuía.

Raquel fechou os olhos por um momento, sentindo o peso da ausência daqueles que amava. Os últimos dez anos haviam sido difíceis, marcados pela perda, pelas lembranças fragmentadas daquela noite terrível e pela constante busca por respostas. Embora a dor estivesse sempre presente, Raquel se fortalecia a cada ano, determinada a honrar a memória de sua família.

Atrás dela, a família Serápis observava em silêncio respeitoso. Gavriel, de pé a alguns passos de distância, olhava para Raquel com uma expressão que misturava compreensão profunda e algo mais, algo que ele nunca conseguia dizer em palavras. Seus olhos vermelhos brilhavam levemente, resultado do poder do colar de rubi que agora carregava no pescoço. O rubi, uma relíquia da família, passara para Gavriel após a morte de sua mãe, Iolanda.

A ausência de Iolanda era sentida por todos. Ela havia morrido há pouco tempo, e Gavriel sentia sua perda de maneira profunda, mesmo que raramente expressasse isso em palavras.

O puma, chamado Xena, estava ao lado de Raquel. Xena, uma magnífica criatura de pelagem dourada e olhos penetrantes, havia sido um presente da avó de Gavriel, Teresa. Desde então, o puma se tornara o companheiro leal de Raquel.

Alphonsus, pai de Gavriel, deu um passo à frente. Um homem imponente, olhar sério, ele sempre trazia uma presença de autoridade, mas seus olhos, naquele momento, refletiam empatia. Ele olhou para Raquel por um longo momento antes de falar.

"Raquel..." A voz de Alphonsus era firme, mas havia um toque de gentileza que raramente mostrava. "A cada ano, nos reunimos aqui, e a dor nunca desaparece completamente. Mas saiba que você não está sozinha. A família Serápis está ao seu lado, como sempre esteve. O que aconteceu há dez anos... ainda estamos em busca de respostas. E eu prometo que, um dia, teremos justiça."

Raquel não respondeu de imediato. Ela apenas continuou olhando para os túmulos, seu coração pesado com a saudade e a culpa. Ao longo dos anos, a pergunta sobre o que exatamente aconteceu naquela noite nunca deixou sua mente. O desaparecimento de seu tio após aquela noite fatídica, a traição que sentiu ao vê-lo ao lado dos corpos de seus pais... tudo permanecia como um enigma, um quebra-cabeça que ela ainda não conseguira montar.

Atrás deles, Elizabeth, a tia de Gavriel, observava com atenção. Ela, com seu cabelo castanho preso em um coque apertado e seus olhos sempre atentos. Ao lado dela, Beatrice, a irmã mais nova de Gavriel, estava em silêncio, abraçando o próprio corpo como se tentasse se proteger do peso das lembranças.

Raquel virou-se levemente para olhar para Gavriel. Ele a observava com uma expressão que misturava compreensão e um sentimento que ele nunca conseguira nomear. Havia um entendimento silencioso entre eles, uma ligação forjada por suas experiências compartilhadas de perda e solidão.

“Obrigado por estarem aqui,” Raquel murmurou, sua voz tremendo levemente. “Ainda sinto a ausência deles todos os dias.”

Alphonsus assentiu, seus olhos mostrando uma profundidade de sabedoria que vinha com a idade e a dor. “É importante lembrar e celebrar suas vidas, Raquel. Eles sempre viverão em nossas memórias, em nossos corações.”

O grupo ficou em silêncio por um momento, cada um refletindo sobre suas próprias perdas, até que Raquel se agachou para tocar as flores que havia trazido. Elas eram um símbolo de amor e respeito, uma maneira de honrar aqueles que partiram.

“Vou sempre me lembrar deles,” disse Raquel, levantando-se e olhando para o céu acima. “E um dia, espero encontrar respostas para tudo isso.”

Gavriel deu um passo à frente, seu olhar firme e protetor. “Você não está sozinha, Raquel. Estaremos sempre ao seu lado, não importa o que aconteça.”

Com isso, Raquel sentiu uma pequena chama de esperança surgir dentro dela. Juntos, eles enfrentariam o que viesse pela frente, como sempre fizeram. Ela olhou para os túmulos, determinada a manter viva a memória de sua família, enquanto se preparava para o que o futuro ainda reservava.





Legado da Magia Camelo10

Horas se passaram desde a visita ao cemitério, e agora, Gavriel e Raquel caminhavam pelas ruas de Camelot, uma cidade, onde as pessoas usavam magia para as atividades mais simples do cotidiano. A cidade brilhava sob a luz do sol, suas ruas limpas e organizadas, decoradas com árvores frondosas e flores em vasos que enfeitavam as calçadas. As construções eram majestosas, uma mistura de arquitetura antiga e magia moderna, com pontes que flutuavam no ar e torres que se erguiam acima das nuvens. Camelot era um lugar onde a magia permeava tudo, e cada esquina tinha sua própria vibração, repleta de vida e energia arcana.

As pessoas caminhavam tranquilamente, muitas delas usando magia básica para tarefas do dia a dia, como acender pequenas chamas para iluminar o caminho ou mover objetos com a mente. Era um ambiente onde a magia e a realidade coexistiam em harmonia, e mesmo no meio da multidão, Raquel e Gavriel pareciam em um mundo à parte, imersos em uma conversa que misturava o presente com os fantasmas do passado. Raquel, com seus longos cabelos ruivos, estava pensativa, enquanto Gavriel observando-a com cuidado.

“Então, você está bem?” Gavriel perguntou, os olhos vermelhos ainda brilhando levemente devido ao colar que carregava.

Raquel, andando ao seu lado, suspirou e respondeu, sem olhar diretamente para ele. “Sim, estou bem.”

Ele franziu a testa, claramente não convencido. “Tem certeza?”

Ela parou por um instante, virando-se para olhar Gavriel diretamente. Seu olhar firme e decidido contrastava com a leve tristeza que ele ainda percebia em seus olhos roxos. “Olhe, Gav, eu tenho certeza de que minha família está em paz. Estou ótima.” Havia uma tentativa clara de convencê-lo – e a si mesma.

Gavriel, sempre protetor, tentou continuar. “Só quero saber—”

Mas ela o interrompeu, um pouco mais firme dessa vez. “Gavriel, estou bem. Já passou muito tempo. Não posso viver para sempre naquela noite.”

Ele a olhou por um momento, lutando para encontrar as palavras certas. Queria dizer tantas coisas, expressar sua preocupação, mas sabia que Raquel era forte, mesmo com todas as cicatrizes do passado. Ainda assim, ele não conseguia esconder seu desejo de protegê-la, de estar ao lado dela em tudo. No entanto, ele sabia que insistir demais poderia apenas afastá-la.

Raquel deu um leve sorriso, um que não chegou aos seus olhos, mas que era uma tentativa de tranquilizá-lo. “Vamos lá, Gav. Não precisa se preocupar tanto comigo.”

Antes que Gavriel pudesse responder, um grito chamou sua atenção.

Uma idosa que carregava um vaso de flores pesadas perdeu o equilíbrio e caiu, o vaso escapando de suas mãos e quebrando-se no chão com um estrondo. As flores rolaram pela rua, e a mulher tentou, com esforço, se levantar.

Um dos feiticeiros que passava por ali, Louis, olhou para a cena com desprezo e se aproximou. “Cuidado, senhora. Não devia estar andando por aí carregando coisas pesadas na sua idade,” disse ele com uma voz fria e desdenhosa, sem sequer fazer menção de ajudá-la.

Gavriel, vendo a cena, fechou os punhos, contendo a raiva. Ele deu um passo à frente e, com uma voz firme e controlada, respondeu: “Ela não precisa de julgamentos, Louis. Acho que você deveria guardar seus conselhos para si.” Sua voz soava calma, mas havia uma tensão subjacente em suas palavras, como uma corrente subterrânea prestes a explodir.

Enquanto isso, Raquel já estava ao lado da idosa, ajudando-a a se levantar com um sorriso caloroso. “Deixe-me ajudar, senhora,” ela disse gentilmente, ignorando completamente a arrogância de Louis e focando em acalmar a mulher.

Louis, por outro lado, não parecia disposto a deixar passar. Ele olhou para Gavriel e Raquel com desdém, sua voz escorrendo frieza. “Serápis. Solis.” ele disse, os nomes saindo de sua boca como se fossem insultos.

Outro dos feiticeiros ao lado de Louis, aparentemente mais agressivo, deu um passo à frente. “Louis, vamos mostrar a eles quem manda de verdade.”

Por um breve momento, o ar ficou denso com tensão. Silêncio pairou entre os dois grupos, enquanto as pessoas ao redor, sentindo o clima, começavam a se afastar discretamente.

Finalmente, Louis ergueu a mão, sinalizando para o companheiro parar. “Não, agora não,” ele disse, seus olhos fixos em Gavriel. Havia uma promessa de confronto futuro em seu tom, mas ele sabia que aquele não era o momento.

Os feiticeiros se afastaram lentamente, mas o olhar de Louis permaneceu fixo em Gavriel e Raquel por mais alguns segundos antes de finalmente virar as costas.

Assim que eles se foram, a idosa olhou desolada para os restos quebrados do vaso no chão. “Pelo amor, meu vaso se quebrou,” disse ela, com tristeza na voz.

Gavriel, sem hesitar, levantou a mão, usando sua magia de telecinese. Os cacos do vaso começaram a flutuar no ar, lentamente se recompondo e voltando ao formato original. Em poucos segundos, o vaso estava como novo, repousando suavemente nas mãos da idosa.

Ela olhou para Gavriel com admiração, lágrimas nos olhos. “Obrigado, jovem,” disse ela, tocada pela gentileza inesperada.

Gavriel apenas balançou a cabeça levemente. Ele se afastou para dar espaço à idosa, enquanto Raquel, ainda ao lado dela, acrescentou com um sorriso reconfortante: “Senhora, não se preocupe. Tudo está bem agora.”

A idosa assentiu, apertando as mãos de Raquel em gratidão antes de se afastar, abraçando seu vaso de flores como se fosse um tesouro recuperado.

Enquanto Gavriel e Raquel retomavam sua caminhada pela cidade, o silêncio entre eles era mais confortável agora. Raquel olhou para Gavriel e disse, com uma leve provocação na voz: “Você sempre tem que bancar o herói, não é?”

Gavriel deu de ombros, um leve sorriso brincando em seus lábios. “Alguém tem que manter a ordem, não é?”

Eles riram juntos, a tensão anterior começando a se dissipar.

Enquanto continuavam a caminhar pelas ruas vibrantes de Camelot. Nos telhados de um prédio próximo, dois mantos brancos flutuavam como se estivessem suspensos no ar, os tecidos brancos brilhando à luz do sol, quase etéreos.

O coração de Gavriel acelerou ao sentir a presença deles, que parecia vibrar em harmonia, mas que também transmitia um alerta. Ele se virou rapidamente na direção da presença, com olhos vermelhos mais brilhando, mas, ao olhar, não viu nada. O que deveria ser apenas um vislumbre de algo, agora era apenas uma ilusão, como um eco distante.

“Qual o problema?” Raquel perguntou, percebendo a mudança na postura de Gavriel. Seu tom de voz estava repleto de preocupação.

Gavriel deu de ombros, tentando esconder o que realmente sentia. “Não é nada. Só minha imaginação.” A mentira soou fraca até para ele, mas não queria preocupar Raquel com algo que poderia ser apenas uma ilusão passageira.

Ainda assim, Raquel não estava convencida. “Gav, você sabe que pode me contar se algo estiver errado.” Ela o observou de perto, seu olhar penetrante, tentando decifrar o que se passava na mente dele. “Se você está sentindo algo, talvez seja importante.”

Ele hesitou por um momento, a dúvida lutando contra sua determinação de protegê-la de preocupações desnecessárias.  Ele não queria deixar Raquel mais ansiosa do que já estava.

“Realmente, Raquel, é só a minha cabeça jogando truques. É... só uma sensação estranha,” ele disse, tentando se mostrar confiante. “Camelot é cheia de surpresas e, às vezes, a mágica pode pregar peças em nós.”

Raquel o olhou com uma expressão de compreensão, mas Gavriel podia perceber que ela não estava totalmente convencida. Ele se esforçou para mudar de assunto, dando um sorriso encorajador. “Vamos lá, precisamos aproveitar o dia. Tem algum lugar que você queira visitar?”

Ela hesitou por um momento, mas então seu sorriso voltou. “Que tal a praça central? Ouvi que tem uma nova exposição de arte mágica lá.”

“Perfeito! Vamos lá.” Gavriel respondeu, aliviado por mudar o foco da conversa. Eles começaram a caminhar novamente, mas, enquanto avançavam, a cidade parecia vibrar ao redor deles, mas Gavriel não conseguia se livrar daquela estranha sensação. Ele olhou novamente para o prédio, uma inquietação começando a se formar em sua mente. Algo estava acontecendo, e ele não podia ignorar os sinais, mesmo que Raquel estivesse ali, oferecendo seu apoio incondicional.

Continue...






Próximo mês para o novo capítulo...






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