(Imagem 1)
(As lutas deflagradas na Primeira Guerra Mundial.)
(As lutas deflagradas na Primeira Guerra Mundial.)
Marcada como o primeiro grande conflito internacional da Era Contemporânea, a Primeira Guerra Mundial foi responsável por uma grande reviravolta. Os valores de racionalistas tão celebrados pelo século XIX, entraram em crise mediante o clima de contendas fomentadas pela intensa disputa econômica da fase concorrencial e financeira do capitalismo.
A Inglaterra já não era aquela nação imbatível economicamente. A formação de novos estados nacionais na Europa concebeu novos concorrentes comerciais. Áustria, França e Alemanha implementaram uma violenta política de expansão econômica. Ao mesmo tempo, essas nações disputaram regiões no continente africano e asiático. Tais regiões eram de vital importância para que as potências econômicas européias tivessem grande disponibilidade de matéria-prima e grandes mercados consumidores.
As regiões periféricas da Europa também eram alvo dessa mesma contenda. A Península Balcânica foi motivo de brigas que, na verdade, escamoteavam a disputa econômica dessas nações. Por fim, no início do século XX, a Tríplice Entente (formada pela Inglaterra, França e Rússia) e a Tríplice Aliança (formada pela Alemanha, Áustria e Itália) eram os dois blocos que representavam a discórdia política e econômica do período.
Os horrores dessa guerra não foram suficientes para acabar com esse problema. O mundo foi obrigado a suportar mais uma guerra mundial, que somada à primeira, na verdade demonstrava um triste quadro de um mundo subordinado ao interesse econômico e às armas.
O início da Primeira Guerra Mundial
(Imagem 2)
(O arquiduque Francisco Ferdinando momentos antes de ser assassinado em Sarajevo.)
(O arquiduque Francisco Ferdinando momentos antes de ser assassinado em Sarajevo.)
Após a queda do Império Turco-Otomano, um grupo de novas nações surgiu na Península Balcânica. Durante a definição de seus limites territoriais ocorreram sérios desentendimentos diplomáticos entre os Estados ali formados. Apoiada pelo Império Austro-húngaro, a Bulgária – em 1913 – acabou entrando em conflito contra a Sérvia, Romênia, Grécia e Montenegro. Nessa mesma época, os povos eslavos da Bósnia-Herzegovina, apoiados pela Sérvia, tentaram dar fim à dominação austro-húngara na região.
Para tentar contornar o conflito, o Império Austro-húngaro decidiu elevar a Bósnia-Herzegovina à condição de parte integrante de seu Estado. Foi quando o arquiduque Francisco Ferdinando, príncipe do Império Austro-Húngaro, foi até Sarajevo, capital da Bósnia, para anunciar a elevação política destes territórios. Porém, Francisco Ferdinando acabou vítima de um assassinato tramado pela facção nacionalista sérvia Mão Negra.
Em resposta, o Império Austro-Húngaro exigiu que o governo sérvio punisse duramente os autores do crime e reprimisse todas as facções radicais do país. Sem obter respostas satisfatórias o Império Austro-Húngaro decidiu, com o apoio da Alemanha, declarar guerra à Sérvia. A Rússia, contrária à ocupação austríaca, concedeu apoio aos sérvios. Logo em seguida, a Alemanha declarou guerra contra a Rússia e, posteriormente, contra a França.
Itália e Inglaterra não mostraram clara definição política frente aos conflitos. Porém, a força dos acordos diplomáticos firmados e os interesses econômicos obrigaram ambos os países a se envolverem na guerra iniciada. A generalização do conflito contou com a posterior adoção de outras nações, entre elas o Brasil. De forma geral, o conflito dividiu as potências européias em dois blocos: Tríplice Entente, formada por França, Inglaterra e Rússia; e Tríplice Aliança, formada pela Alemanha, Itália e Império Austro-Húngaro.
O desenvolvimento da Primeira Guerra Mundial
(Imagem 3)
(Tropas alemãs em combate contra os exércitos britânicos.)
Os conflitos iniciados em 1914 foram, ao longo do tempo, tomando um contorno diferente do programado pelas nações envolvidas. A “Grande Guerra”, envolvendo as grandes potências do mundo ocidental, não contava com uma projeção de longo prazo. Nenhuma das nações esperava ou tinha condições para sustentar um conflito que se estendesse anos a fio. No entanto, a Primeira Guerra Mundial se desenvolveu ao longo de quatro anos e três meses, o que acabou exigindo maiores esforços e diferentes estratégias militares.
Os esforços mobilizados para o conflito deram aos Estados o controle massivo sobre suas economias e exigiu o recrutamento de pessoas para lutarem ou trabalharem em prol da guerra. Várias novas tecnologias começaram a ser empregadas, mostrando ao mundo uma tecnologia de destruição nunca antes observada. Encouraçados, tanques de guerra, obuses, submarinos e aviões inauguravam um novo conceito aos conflitos bélicos até então conhecidos. Além disso, com o desenvolvimento da guerra, outras nações foram trazidas aos campos de batalha.
Várias das nações colonizadas na África e na Ásia foram obrigadas a dispor de homens e recursos para a guerra. O Império Turco-Otomano e a Bulgária resolveram apoiar as tropas alemãs. Isso porque essas duas nações nutriam contendas com a Rússia e a Sérvia. No ano de 1915, assinando o Tratado de Londres, a Itália resolveu apoiar a Tríplice Aliança. Seduzidos pela promessa de ganhos territoriais na Turquia e na Áustria, os italianos mudaram sua posição no conflito.
Somente em 1917, uma importante aliança começou a definir os rumos da Primeira Guerra. Nesse ano, os Estados Unidos resolveram aliar-se à Tríplice Entente. A adesão norte-americana deu-se graças à saída dos russos e o interesse em preservar suas possessões imperialistas. Envolvendo uma complexa trama de alianças e interesses, a Primeira Guerra também se dividiu em duas diferentes etapas militares.
A primeira foi a guerra de movimento, quando as tropas alemãs fizeram um ataque incisivo sobre a França. Com essa estratégia os alemães esperavam vencer a guerra sem maiores dificuldades. No entanto, a vitória francesa na batalha do Marne conteve a estratégia dos alemães. Passado esse primeiro momento, os conflitos entraram em uma nova fase que ficou conhecida como a guerra de posições ou guerra de trincheiras. Esse período envolveu batalhas grandes e penosas, que não resultou em nenhum avanço militar significativo para ambos os lados.
Apenas com o emprego das novas tecnologias e a chegada de 1,2 milhão de soldados estadunidenses os conflitos seguiram novos rumos. Os alemães, que até então venciam boa parte das batalhas, foram contidos com uma segunda derrota em território francês. A Inglaterra conseguiu subjugar as forças turco-otomanas e a Itália derrotou os exércitos austríacos. Estava assim decretada a vitória da Tríplice Entente.
Em novembro de 1918, os alemães foram obrigados a assinarem o armistício de Compiègne. Logo em seguida, o tratado dos Catorze Pontos Para a Paz Mundial, elaborado pelo presidente norte-americano Woodrow Wilson, prometeu o estabelecimento de uma “paz sem vencedores”. Mesmo com o fim da Primeira Guerra, várias marcas foram deixadas na Europa, local predominante dos combates.
Os vários confrontos foram responsáveis pela morte de cerca de 8 milhões de pessoas e a mutilação de quase 20 milhões de soldados e civis. Além disso, a capacidade econômica européia sofreu um baque que reduziu em quase 40 % a produção agro-industrial do continente. A dívida externa sofreu um aumento exorbitante e as moedas européias sofreram forte desvalorização. Os Estados Unidos, outros países emergentes (como Japão, Suíça, Dinamarca e Espanha) e nações agro-exportadoras saíram ganhando com o caos sócio-econômico instalado no Velho Mundo.
O Brasil na Primeira Guerra Mundial
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(Alguns membros da equipe médica designada para a Primeira Guerra Mundial.)
Discreta e tardia. Essas poderiam ser as duas palavras que resumiriam a participação do Brasil nos conflitos da Primeira Guerra Mundial. Quando o conflito estourou na Europa, em julho de 1914, as autoridades políticas e militares da nação preferiram deixar que o Brasil fosse neutro em relação ao combate. Em pouco tempo, a decisão seria sistematicamente criticada pela Liga de Defesa Nacional, movimento liderado por Ruy Barbosa que defendia a participação tupiniquim ao lado da Tríplice Entente.
Contudo, a posição política adotada pelo país, apoiada por alguns congressistas simpáticos à Alemanha e ao Império Austro-Húngaro, teve que ser reavaliada em 1917. Nesse ano, alguns navios mercantes brasileiros foram afundados por submarinos pertencentes às forças alemãs. O primeiro ataque aconteceu em abril, com o afundamento do navio Paraná. No mês seguinte, foi a vez do navio Tijuca.
Em resultado desses primeiros episódios, o Brasil resolveu romper suas relações diplomáticas com a Alemanha e realizou o confisco imediato de quarenta e duas embarcações de origem germânica. No dia 23 de outubro, o cargueiro brasileiro Macau foi atingido por um submarino alemão e teve seu capitão feito como prisioneiro. Sob forte pressão popular, as autoridades brasileiras declararam guerra contra a “aliança germânica”.
Apesar de tomar uma ação mais contundente, a declaração de guerra dos brasileiros não significou a organização de poderoso exército. A participação brasileira se manifestou no envio de médicos e aviadores auxiliados pela patrulha das forças inglesas. Na verdade, o maior inimigo responsável pela maioria das baixas do destacamento nacional atacou durante a viagem. Enquanto atravessavam o Atlântico, cerca de 180 tripulantes das embarcações brasileiras morreram por conta da gripe espanhola.
Após o fim da guerra, onde nenhum brasileiro morreu em batalha, as nações da Tríplice Entente convidaram o governo para participar da reunião que selou o Tratado de Versalhes, em 1919. Por fim, o governo do Brasil acabou sendo agraciado por um acordo que reconheceu o direito de posse sob as embarcações germânicas aprisionadas e o resgate de valores referentes à venda de sacas de café, ocorrido em 1914.
Os tratados do pós-Primeira Guerra
(imagem 5)
(Lloyd George (ENG), Vittorio Orlando (ITA), Georges Clemenceau (FRA) e Woodrow Wilson (EUA) reunidos para o Tratado de Versalhes.)
(Lloyd George (ENG), Vittorio Orlando (ITA), Georges Clemenceau (FRA) e Woodrow Wilson (EUA) reunidos para o Tratado de Versalhes.)
A rendição alemã e a assinatura do Tratado dos “Catorze Pontos para a Paz” não selaram definitivamente as questões abertas com o conflito da Primeira Guerra. Algumas potências ainda buscavam um tratamento mais rigoroso às nações derrotadas na guerra, principalmente a Alemanha. Por isso, em 28 de junho de 1919, as principias nações vencedoras do conflito reuniram-se no Palácio de Versalhes, em Paris, para novas negociações de paz.
Preocupados com a possibilidade de outra desgastante guerra, os Estados Unidos pleitearam a criação da Sociedade das Nações. Esse órgão teria caráter internacional e deveria julgar as tensões militares na esfera internacional. Em outro lado, França e Inglaterra queriam proteger seus interesses econômicos à custa dos povos vencidos. Os ingleses exigiam o controle sobre as colônias e rotas marítimas alemãs. Já a França, pleiteava a reconquista da região da Alsácia-Lorena e o pagamento de indenização pela Alemanha.
Depois das negociações, o Tratado de Versalhes previa os benefícios e punições a cada um dos lados envolvidos na guerra. A Polônia foi colocada como um Estado independente e livre do anterior domínio russo. A França conseguiu reaver a região da Alsácia-Lorena. As colônias alemãs na África foram divididas entre ingleses, belgas, franceses. As colônias alemãs no Pacífico foram entregues ao domínio do Japão e da Inglaterra.
Além das perdas territoriais, a Alemanha, considerada principal culpada pela guerra, foi obrigada a reduzir seus exércitos, extinguir sua marinha e foi impedida de produzir qualquer tipo de material bélico. Finalizando o rigor das punições contra a Alemanha, o tratado ainda previu uma indenização de 132 bilhões de marcos-ouro às nações vitoriosas. Tal dinheiro seria utilizado para a recuperação de bens públicos e privados, e o pagamento de pensões às vítimas da guerra.
Naquele mesmo ano, o Tratado de Saint-German redesenhou o mapa político-territorial da Europa. O império Austro-Húngaro foi desmembrado em novas nações. A Áustria perdeu suas saídas marítimas e foi obrigada a reconhecer a independência da Iugoslávia, da Hungria, da Tchecoslováquia e da Polônia. O Império Turco-Otomano assinou os tratados de Sèvres e Lausanne, que previa a perda de territórios da Mesopotâmia e da Palestina para a Inglaterra, e o domínio francês sobre a Síria e o Líbano.
Os tratados assinados, ao contrário do que diziam defender, não asseguraram a paz e o equilíbrio entre as nações européias. De acordo com diversos historiadores, a pesadas punições estabelecidas contra a Alemanha prepararam todo o clima de ódio e revanche que alimentaram os preparativos da Segunda Guerra Mundial. Com a ascensão dos regimes totalitários ítalo-germânicos e a crise econômica de 1929, as rivalidades políticas e econômicas seriam reascendidas na Europa.
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Créditos (fonte):
Imagem/foto: Imagem 1
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/ Imagem 5
"O Brasil na Primeira Guerra Mundial por Rainer Sousa (Graduado em História)"
Equipe Brasil Escola