Bom, essa fic seria para o concurso de Fics, com tema de escolher uma música. Mas ela acabou não sendo postada (?).
Baseada na música Television Rules The Nation, do Daft Punk, a fic conta a história de José, um pai de família do interior de São Paulo, na década de 70, onde a Tv ainda não teria sido difundida. Leva a fatos que, por ventura, aconteceram muito nessa época, não o fato do que acontece como ficção, mas algumas situações em si. Tentei explorar bastante o tema e principalmente, o fato de se tratar de uma época do passado. Posso ter cometido erros, mas porque não me preocupei com essa parte; apenas deixei fluir. No minimo, tentei passar um pouco do que penso sobre o assunto.
Era verão de 1971. Brasil, um país com clima tropical. As praias de São Paulo ficavam lotadas, mas quem morava no interior tinha que se contentar com as beiras de rios. Era assim, que a maioria das famílias faziam para se refrescar numa época de calor. As crianças ficavam brincando na beira dos rios, jogando água uns nos outros, e os mais soltinhos chegavam a entrar com tudo na água. Era uma diversão e tanto. Os adultos iam preparados: levavam marmita e passavam o dia todo tomando sol. Os homens se exibiam para as mulheres na água e elas ficavam sentadas em cadeiras, com óculos disfarçando os olhares e com um livro em mãos.
Uma vida calma, sem nenhuma pretensão. É claro que as atividades do campo estavam perdendo a força, mas ainda fazia sentido viver ali, regado do prazer e calmaria de uma cidade do interior e com coisas que só o interior trazia em sua ficha.
Mas como em todo o país, idéias novas, de novos idealizadores vieram. Ora isso é uma coisa boa. Ora isso traria consequências irreversíveis. Coisa que só o tempo responde. Propaganda naquela cidade era feita por rádio, e na única estação da cidade. Alguns ainda se aventuravam em ir na cidade vender produtos, mas isso era raridade e quando acontecia, o pessoal acabava recusando ofertas porque julgavam caras.
Eis que um pacato morador da cidade recebe uma visita. José, recebeu a visita mais assustadora que se podia ter naquela época: o vendedor da ilusão. Mas que droga era essa? Porque esse nome?
O vendedor da ilusão é na verdade uma lenda da própria cidade, que foi difundida desde uma morte. Na verdade ninguém sabe o que o vendedor vendia. Mas todos que diziam ter visto o produto, caracterizaram como a caixa preta de ilusões. A morte que ronda a lenda é de uma senhora de 83 anos, que após a visita de um vendedor estrangeiro adquiriu uma caixa mágica, capaz de reproduzir ilusões, uma mais tentadora que a outra. Após possuir o produto, a senhora, viúva e com os filhos crescidos que foram pra cidade grande, não saia mais de casa. Ficava hipnotizada pela caixa. Desde então, a ultima vez que viram a senhora foi no caixão, e a caixa preta estava apagada, teria ela perdido a mágica? É o que diz a lenda.
José estava deixando o homem na porta sem atende-lo, pois tinha medo de que a lenda se repetisse com ele, pois sabia que o vendedor era um estrangeiro que acabará de chegar na cidade. A data estava próxima do Natal também, então a visita de vendedores era aceitável. A mulher dele, Miriam, estava atrás de presentes, para seus filhos, Carlos, Mateus e Lurdes. Ela foi até a porta.
-Oi moço, ao que se trata? - dizia Miriam, ainda na porta.
-Olá, me chamo Andreas, estou de passagem pela cidade, divulgando um novo produto que toda família da cidade grande tem e que é mágico! - dizia o homem, com um carrinho de mão, transportando uma caixa embrulhada enorme - A senhora quer um presente que sirva para toda família? Eu poderia entrar e mostrar como funciona?
-Óia.. - Miriam abria passagem - Pode sim moço.
O homem entra. José aparece no salão da casa.
-Mas que porcaria esse homem tá fazendo aqui dentro? Quem permitiu a entrada de você aqui, seu aproveitador! - José se irritava com a presença do vendedor.
-Eu que deixei, cala essa boca Zé - Miriam ia e abraçava o marido - Ele só veio mostrar uma coisa.
O Homem sem nem mesmo falar nada, desembrulha o pacote. Procura no salão uma tomada e assim que acha, pluga um fio que vinha da caixa; José ficava apreensivo. Era uma caixa preta, com um tampo de vidro, cheio de botões. Logo quando ligou o plug da caixa, uma luizinha vermelha acendeu, ao lado de um dos botões; o botão power. Andreas aperta tal botão, e a caixa liga.
Era uma luz muito reluzente que vinha; de perto era cegante, Miriam começou a chegar seus olhos bem ao encosto do tampo de vidro, mas foi repudiada pelo marido. Ainda só havia uma luz muito forte, sem formas. Até que o homem retira da caixa de papelão uma antena e a conecta na caixa preta. Quando isso acontece, a luz toma forma: Pessoas começam a aparecer através do tampo de vidro. José questiona:
-Mas isso só pode ser algum tipo de bruxaria, isso não é possível! - nisso, José se aproxima de Andreas, o puxando pelo colarinho da camisa - O que você pretende nos fazer com isso homem? Qual sua intensão nos mostrando mágia negra?!
Ele - Andreas, simplesmente não diz nada, apenas tira a mão de José da sua camisa. Por um momento, Miriam se estressa; mostra-se impaciente e nervosa, ficando vermelha.
-Não faça isso com ele Zé, ele só veio verder uma coisa! A próposito, eu me interessei pelo produto - Miriam senta num sofá instalado no salão, e começa a apreciar a imagem das pessoas que vinha da caixa - Eu aceito ficar com isso, você precisa só explicar como funciona e quanto custa!
O vendedor sorri, pega um livro que também estava na caixa de embrulho; enquanto José, envergonhado senta ao lado de sua esposa.
-Pois senhores, o produto na verdade é de graça. Estamos apenas divulgando-o, fazendo as pessoas conhecerem-no, para ver como será a aceitação, para depois vender. Vocês, os unicos da cidade que me entenderam, eu agradeço por isso - Andreas para a fala, coça a cabeça - À princípio, esses botões do lado do vidro da caixa são os comandos da mesma; esse maior é um rolo, onde ao rodá-lo você mudará a estação do aparelho, mudará o canal, já o rolo menor, aumenta e diminui o volume do aparelho, enquanto o power, ao pressioná-lo, você irá ligar e desligar o aparelho. É simples e com relação as estações do aparelho, você escolhe a que mais lhe agradar.
O casal olha um para o outro; José pensa que isso é coisa de outro mundo e Miriam fica fascinada. Miriam apenas balança a cabeça, fazendo a expressão de positivo.
-Aceitamos - José diz - Não temos nenhuma dúvida quanto ao aparelho, só queria saber seu nome. Você já pode ir embora. A proposito, se acontecer algo com o aparelho, o que fazemos?
-Nesse caso vocês devem ir até a cidade grande, e procurar por uma loja chamada "Casas Bahia", e mostrar a nota fiscal do aparelho. A devolução será feita - Andreas já estava extendendo o braço, dando adeus aos dois - Mais uma vez, agradeço a simpatia por terem me atendido, o produto se chama televisor; Feliz Natal!
Após a saída do vendedor, José também sai de casa e a mulher deixa o aparelho ligado, mas vai para a cozinha, fazer a janta. José trabalhava numa lavroura de cana de açucar, mas estava afastado por conta do período de festas que se aproximará. Saiu para chamar seus filhos para casa. O homem parou num bar antes, para tomar uma cachacinha.
-Ôh seu Pedro, como anda? - dizia José com com um sorriso estampado no rosto - a branquinha de sempre!
-Cás perna né - ele já havia colocado com rapidez a cachaça num copo e o entrega.
-Sabe... um daqueles vendedores arrogantes foram lá em casa hoje - pausa para tomar a dose do veneno - deixou de graça um aparelho muito do esquisito, parece até bruxaria o coisa.
-É mesmo? Aquele estrangeiro com uma caixa grandona eu imagino, não o atendi... o achei com pinta de galanteador.
-Pois, eu não tive opção, a mulher quis que ele entrasse - José deixa uma nota em cima do balcão do bar - Isso deve pagar o de hoje e aqueles que eu tava de fiado.
Ele se retira do bar. Vai até uma praça e chama pelos nomes de seus filhos; e os três logo aparecem, bem sujinhos de tanto brincar. Sem dizer uma unica palavra eles vão a casa. Chegando lá, logo quando José abre a porta, sente um cheiro de comida queimada - vinha da cozinha. Sua mulher esquecerá de tirar a comida do fogo; pois ficou assistindo o televisor, ao que aparentava ter acontecido.
-Mas o que você pensa que tá fazendo? Olha bem esse cheiro - ele pega a esposa pelos braços e a arrasta até a cozinha - Você tá ficando doida, maluca, esquecendo das coisas?
-Me D-desculpe... - Miriam fica assustada e triste com a atitude do marido - Isso não vai acontecer de novo, eu prometo. Eu acabei me destraindo com o televisor.
Ele simplesmente se cala - José parece ter ficado apavorado com aquilo; tomou a primeira facada. Olha de relance o salão da casa e seus filhos sentados a frente do televisor; já os havia contaminado também - tão rápido. Calado ele segue para o quarto, sem nem dizer nada a sua mulher, que o observava, com um olhar diferente. Ela parecia estar com receio de algo, manteve-se calada. Ele logo pegou no sono.
Em um delirante sonho ~ A imaginação de José se provará muito grande e vasta. Sonhou coisas horríveis, acordou diversas vezes na cama, notou até que sua mulher e seus filhos haviam pegado no sono, no salão mesmo. Seus devaneios eram os mais assustadores; imaginou a caixa contendo um feitiço, imaginou que sua mulher e seus filhos estavam amaldiçoados. Imaginou até que a vida não ver a caixa tomando forma de gente - mais especificadamente o Andreas, o apunhalando pelas costas, dando um golpe certeiro em seu peito, arrancando seu coração fora; quem dera, uma dor dessas do que viria a se passar.
Os dias iam passando, o Natal mais próximo; mas o real centro das atenções não era nem a data que se aproximaria, nem as visitas de parentes que a família receberia, mas sim, a caixa preta. Maldita caixa, pensava João, ela mesma que estrangando a vida da família estava. A mulher chamava as vizinhas para casa, os filhos levavam os amiguinhos, a casa acabava virando um salão de algazarras.
Miriam era quem fazia as roupas que eles usavam e ela acabou adotando o estilo que ela havia visto na caixa. Tudo, ela copiava e tentava fazer igual. Seu comportamento também mudou muito - começou a fumar, ficou arrogante e preguiçosa. Já não se importava em fazer as tarefas diárias, mas sim em se exibir nas ruas, parecendo uma futurista, uma mulher de cidade grande. Sua filha a imitava. Lurdes ficou arrogante com as amigas, só pensava em garotos - apesar de ter apenas sete anos, fumava escondido dos pais - as bitucas que a mãe jogava no cinzeiro, e começou a bater nos irmãos, mais novos; que dentre os que assistiram o televisor, foram os unicos que não mudaram o comportamento, mas começaram a ter o pensamento de querer ir pra cidade grande; não só os dois, as outras duas também.
Eis que o Natal chega, a família se reune; e a caixa sempre ligada. Os irmãos de José, Carla, com seu marido e cinco filhos, e Umberto, o solteirão da família - que morava na cidade grande, e um amigo, chamado James, a mãe, Dona Marta e o pai, Seu Gomes, como gostava de ser chamado. Já da família de Miriam, apenas sua irmã Doralice apareceu com seus três filhos e marido, pois o restante da família dela era de Pernambuco. Todos estavam com seus sacolões, provavelmente, cheios de presentes.
Foi um tumultuo, todos se abraçando, conversando... cada um tinha seu assunto e novidades para falar, então acabou virando bagunça. As crianças ficaram na parte de trás da casa, brincando. Miriam colocou todos no salão; José ficou nervoso. Se sentaram ali, principalmente os pais de José, ficaram encantados com a caixa preta, pois não conheciam - todos eram do interior, com exceção de Umberto e James. Que estavam acostumados com a caixa, sabiam o que era; não eram viciados nela. Foram ver as crianças; José os acompanhou.
-E como é a cidade grande, Berto? - nessa hora José colocava sua mão no ombro do irmão - É bom de viver lá, emprego bom?
-Ô se é bom, tem muita oportunidade lá, se você souber se relacionar, acaba por ganhar muito dinheiro - Umberto dá um sorriso - Eu pretendia trazer minha namorada, mas ela ficou com os pais dela.
A filha de José, Lurdes, então aparece ali entre os três, chorando, carregando uma boneca de pano rasgada.
-Ô pai - a menina pausa a fala e limpa o narriz com o braço - olha o que o Carlinho fez com ela - e apontava a boneca pro pai.
James, o amigo de Umberto, começa a rir e abraça a menina. Ele se vira pros outros dois e pega a mão da garota.
-Pode deixar que eu resolvo isso.
Não houve nenhuma exclamação sobre essa atitude de James, os dois apenas riram e balançaram a cabeça. E então ele sai andando pelo terreno com a menina. José ainda comenta "Que rapaz educado" e Umberto responde "Ele trabalha comigo desde que fui pra cidade grande, foi quem me acolheu lá, confio muito nele".
O tempo passa, a noite chega. As mulheres preparam a mesa do jantar, já os homens ficam assistindo o televisor; passava futebol. José vai ao terreno e coloca as crianças pra dentro, só não consegue encontrar a própria filha e James. Ele fica preocupado, mas entra em casa, ficando a espera dos dois.
A mesa é posta, todos se sentam. Começam a se servir. O ambiente era alegre, mas ainda assim, José se preocupava com sua filha e acabava ficando desligado. Eis que os dois chegam, Lurdes e James. A menina sai correndo em direção a mesa e se senta ao lado do irmão; o coração do pai se acalma. Ele nota sangue no braço da menina.
-O que foi isso no seu braço, Lurdes?
Ela segue seu olhar ao James - que estava sentando na mesa. Esconde o braço e olha para baixo.
-Caí, pai.
-Ah mas logo hoje filha - José colocava a mão sobre a própria cabeça, tampando os olhos, mas logo muda a posição e começa a se levantar - vamos cuidar desse machucado.
-Não precisa - Umberto cortava a ação de José - Já cuidei, foi o motivo de demorarmos um pouco.
-Fico grato por isso rapaz - José se recompunha na mesa e dava um suspiro, aliviado.
O Jantar continua, mas a menina continuava quieta e com o pensamento distante. Já quando todos haviam acabado de comer e estavam apenas jogando conversa fora, Miriam se levanta.
-Vamos distribuir os presentes pessoal!
Todos se levantam da mesa, as mulheres recolhem os pratos, talheres e taças e levam à cozinha, enquanto as crianças e os homens iam à sala, e pegavam vários pacotes e sacolões; obviamente, os presentes. Quando as mulheres chegam, começam a ver qual pacote pertencia a cada pessoa e assim distribuiram. Risos e mais risos eram soltos pelas crianças, ao ganharem brinquedos, e os adultos faziam brincadeiras com os presentes que ganhavam; como José, que ganhou um casaco "de urso" como apelidou a esposa. Foi um dia inesquecível, cada um com um motivo diferente; mas a felicidade no final tomou conta do nervosismo, dor e preocupação.
[...]
O Natal já havia passado, tudo já voltava a mesma rotina de sempre; Caixa preta ligada, a mulher e seus filhos cada vez mais mudados... E José, ficando cada vez mais de lado, por não aceitar a entrada da ilusão em sua mente. Ele resolveu voltar ao trabalho, mesmo com a data de Ano Novo estando perto; já estava se sentindo sufocado em casa. Estava prestes a sair de casa, só faltava pegar a marmita.
-Miriam... - gritava o nome de sua mulher.
-QUê?! - em resposta, ela grita do salão mesmo, sentada, sem nem levantar do sofá.
José se irrita; mais uma vez. Vai até a sala e pega sua mulher pelo braço. A partir daí, a fala vira gritos intensos de José.
-Por que você não preparou minha marmita? Eu preciso ir trabalhar, sustentar seus vícios loucos - nisso apontava o dedo para o rosto da mulher - Enquanto você fica ai sentada nessa porcaria de sofá, coçando essa coisa cabeluda, tô tendo que me virar sozinho, arrumando a bagunça da casa, e você só fuma, senta o rabo nesse sofá e fica levando nossos filhos para o mal caminho, trazendo essas suas amigas porcas e nojentas pra dentro da minha casa! Vestindo esses trapos horríveis, corrompendo a mente de todo mundo com essa porcaria de televisor...
A mulher fica calada, e olha mais uma vez diferente para o marido; apenas tira a mão dele que estava em seu rosto e volta a sentar no sofá. Ele dá um soco no rosto da esposa e sai de casa, com um triste pensamento - sua mulher não o amou. Ele perdeu a luta contra a caixa. Perdeu a vida sossegada e feliz que tinha. Simplificando tudo; perdeu a vida, estava morto.
Chegando no trabalho, pegou sua ferramenta e foi ferroz no batente o dia inteiro. Não voltou pra casa, foi ao bar, tomou uma branquinha. Saiu de lá e se dirigiu ao rio, que tinha ali perto. Entrou na agua do rio, de corpo nu. João havia morrido por dentro. Mas ainda carregava dentro de si, orgulho; entrou na água para esconder suas lágrimas. Para esconder que estava fraco, que havia sido apunhalado pela própria família. João dormiu, ali, na beira do rio.
[...]
Ele dormiu e não sabia o quanto isso durou; não sonhou, não pensou - tinha morrido. Só foi acordado por um garoto, que brincava ali. Apesar de estar nu, ter gente no lugar, José não se encomodou. Mas colocou suas vestes e decidiu voltar pra casa.
Todos os vizinhos o encarravam na rua. Olhares como se ele fosse uma praga, como se ele fosse um assasino - ele quem havia sido assassinado. Pegou as chaves de casa, que estavam no bolso da calça, para abrir a porta que nunca ficava fechada. Ao entrar no salão, seu coração morto apertou. Ele começou a chorar, desesperadamente. Correu pela casa. Foi na cozinha, nos quartos, no banheiro, e até no fundo do terreno. Chegou a pegar uma escada e olhar no telhado.
Estava ele procurando sua família, dentro da própria casa. Ele então acha um bilhete, amassado, arribiscado, quase não dando pra ler.
"Zé, peço para que entenda as palavras. E não nos procure mais.
Não estamos, porém o motivo não é você, pelo menos não para os teus filhos. Não estamos porque decidimos não estar. Porque não aguentamos mais viver neste lugar. Porque não estamos mais aptos a viver esta vida que temos.
Teus filhos ficarão bem. Andreas ajudará, ele é um grande homem, de ideais maiores ainda. Não se zangue, eu peço. Só quero que seja feliz e encontre alguém que o -
O bilhete acabou nesse ponto. José já estava morto, apenas suspirou, morto. Considerou todas as palavras e já sabia qual foi o momento que tudo realmente acabou. Sua família morreu antes dele. Sua esposa não o amava, sua vida era uma farsa. Seus filhos não reconheciam suas preocupações. Ele construi uma ilusão.
Ele pega uma garrafa de pinga na cozinha. Vai até a caixa; dá um sorriso, de orelha a orelha, ironicamente. Liga o televisor, senta-se no sofá e finalmente: se rende.
Musica - Television Rules The Nation (Daft Punk);
Podem comentar o/; ~
Baseada na música Television Rules The Nation, do Daft Punk, a fic conta a história de José, um pai de família do interior de São Paulo, na década de 70, onde a Tv ainda não teria sido difundida. Leva a fatos que, por ventura, aconteceram muito nessa época, não o fato do que acontece como ficção, mas algumas situações em si. Tentei explorar bastante o tema e principalmente, o fato de se tratar de uma época do passado. Posso ter cometido erros, mas porque não me preocupei com essa parte; apenas deixei fluir. No minimo, tentei passar um pouco do que penso sobre o assunto.
Fic: Black-box! :
O Ditador, Black-box
Era verão de 1971. Brasil, um país com clima tropical. As praias de São Paulo ficavam lotadas, mas quem morava no interior tinha que se contentar com as beiras de rios. Era assim, que a maioria das famílias faziam para se refrescar numa época de calor. As crianças ficavam brincando na beira dos rios, jogando água uns nos outros, e os mais soltinhos chegavam a entrar com tudo na água. Era uma diversão e tanto. Os adultos iam preparados: levavam marmita e passavam o dia todo tomando sol. Os homens se exibiam para as mulheres na água e elas ficavam sentadas em cadeiras, com óculos disfarçando os olhares e com um livro em mãos.
Uma vida calma, sem nenhuma pretensão. É claro que as atividades do campo estavam perdendo a força, mas ainda fazia sentido viver ali, regado do prazer e calmaria de uma cidade do interior e com coisas que só o interior trazia em sua ficha.
Mas como em todo o país, idéias novas, de novos idealizadores vieram. Ora isso é uma coisa boa. Ora isso traria consequências irreversíveis. Coisa que só o tempo responde. Propaganda naquela cidade era feita por rádio, e na única estação da cidade. Alguns ainda se aventuravam em ir na cidade vender produtos, mas isso era raridade e quando acontecia, o pessoal acabava recusando ofertas porque julgavam caras.
Eis que um pacato morador da cidade recebe uma visita. José, recebeu a visita mais assustadora que se podia ter naquela época: o vendedor da ilusão. Mas que droga era essa? Porque esse nome?
O vendedor da ilusão é na verdade uma lenda da própria cidade, que foi difundida desde uma morte. Na verdade ninguém sabe o que o vendedor vendia. Mas todos que diziam ter visto o produto, caracterizaram como a caixa preta de ilusões. A morte que ronda a lenda é de uma senhora de 83 anos, que após a visita de um vendedor estrangeiro adquiriu uma caixa mágica, capaz de reproduzir ilusões, uma mais tentadora que a outra. Após possuir o produto, a senhora, viúva e com os filhos crescidos que foram pra cidade grande, não saia mais de casa. Ficava hipnotizada pela caixa. Desde então, a ultima vez que viram a senhora foi no caixão, e a caixa preta estava apagada, teria ela perdido a mágica? É o que diz a lenda.
José estava deixando o homem na porta sem atende-lo, pois tinha medo de que a lenda se repetisse com ele, pois sabia que o vendedor era um estrangeiro que acabará de chegar na cidade. A data estava próxima do Natal também, então a visita de vendedores era aceitável. A mulher dele, Miriam, estava atrás de presentes, para seus filhos, Carlos, Mateus e Lurdes. Ela foi até a porta.
-Oi moço, ao que se trata? - dizia Miriam, ainda na porta.
-Olá, me chamo Andreas, estou de passagem pela cidade, divulgando um novo produto que toda família da cidade grande tem e que é mágico! - dizia o homem, com um carrinho de mão, transportando uma caixa embrulhada enorme - A senhora quer um presente que sirva para toda família? Eu poderia entrar e mostrar como funciona?
-Óia.. - Miriam abria passagem - Pode sim moço.
O homem entra. José aparece no salão da casa.
-Mas que porcaria esse homem tá fazendo aqui dentro? Quem permitiu a entrada de você aqui, seu aproveitador! - José se irritava com a presença do vendedor.
-Eu que deixei, cala essa boca Zé - Miriam ia e abraçava o marido - Ele só veio mostrar uma coisa.
O Homem sem nem mesmo falar nada, desembrulha o pacote. Procura no salão uma tomada e assim que acha, pluga um fio que vinha da caixa; José ficava apreensivo. Era uma caixa preta, com um tampo de vidro, cheio de botões. Logo quando ligou o plug da caixa, uma luizinha vermelha acendeu, ao lado de um dos botões; o botão power. Andreas aperta tal botão, e a caixa liga.
Era uma luz muito reluzente que vinha; de perto era cegante, Miriam começou a chegar seus olhos bem ao encosto do tampo de vidro, mas foi repudiada pelo marido. Ainda só havia uma luz muito forte, sem formas. Até que o homem retira da caixa de papelão uma antena e a conecta na caixa preta. Quando isso acontece, a luz toma forma: Pessoas começam a aparecer através do tampo de vidro. José questiona:
-Mas isso só pode ser algum tipo de bruxaria, isso não é possível! - nisso, José se aproxima de Andreas, o puxando pelo colarinho da camisa - O que você pretende nos fazer com isso homem? Qual sua intensão nos mostrando mágia negra?!
Ele - Andreas, simplesmente não diz nada, apenas tira a mão de José da sua camisa. Por um momento, Miriam se estressa; mostra-se impaciente e nervosa, ficando vermelha.
-Não faça isso com ele Zé, ele só veio verder uma coisa! A próposito, eu me interessei pelo produto - Miriam senta num sofá instalado no salão, e começa a apreciar a imagem das pessoas que vinha da caixa - Eu aceito ficar com isso, você precisa só explicar como funciona e quanto custa!
O vendedor sorri, pega um livro que também estava na caixa de embrulho; enquanto José, envergonhado senta ao lado de sua esposa.
-Pois senhores, o produto na verdade é de graça. Estamos apenas divulgando-o, fazendo as pessoas conhecerem-no, para ver como será a aceitação, para depois vender. Vocês, os unicos da cidade que me entenderam, eu agradeço por isso - Andreas para a fala, coça a cabeça - À princípio, esses botões do lado do vidro da caixa são os comandos da mesma; esse maior é um rolo, onde ao rodá-lo você mudará a estação do aparelho, mudará o canal, já o rolo menor, aumenta e diminui o volume do aparelho, enquanto o power, ao pressioná-lo, você irá ligar e desligar o aparelho. É simples e com relação as estações do aparelho, você escolhe a que mais lhe agradar.
O casal olha um para o outro; José pensa que isso é coisa de outro mundo e Miriam fica fascinada. Miriam apenas balança a cabeça, fazendo a expressão de positivo.
-Aceitamos - José diz - Não temos nenhuma dúvida quanto ao aparelho, só queria saber seu nome. Você já pode ir embora. A proposito, se acontecer algo com o aparelho, o que fazemos?
-Nesse caso vocês devem ir até a cidade grande, e procurar por uma loja chamada "Casas Bahia", e mostrar a nota fiscal do aparelho. A devolução será feita - Andreas já estava extendendo o braço, dando adeus aos dois - Mais uma vez, agradeço a simpatia por terem me atendido, o produto se chama televisor; Feliz Natal!
Após a saída do vendedor, José também sai de casa e a mulher deixa o aparelho ligado, mas vai para a cozinha, fazer a janta. José trabalhava numa lavroura de cana de açucar, mas estava afastado por conta do período de festas que se aproximará. Saiu para chamar seus filhos para casa. O homem parou num bar antes, para tomar uma cachacinha.
-Ôh seu Pedro, como anda? - dizia José com com um sorriso estampado no rosto - a branquinha de sempre!
-Cás perna né - ele já havia colocado com rapidez a cachaça num copo e o entrega.
-Sabe... um daqueles vendedores arrogantes foram lá em casa hoje - pausa para tomar a dose do veneno - deixou de graça um aparelho muito do esquisito, parece até bruxaria o coisa.
-É mesmo? Aquele estrangeiro com uma caixa grandona eu imagino, não o atendi... o achei com pinta de galanteador.
-Pois, eu não tive opção, a mulher quis que ele entrasse - José deixa uma nota em cima do balcão do bar - Isso deve pagar o de hoje e aqueles que eu tava de fiado.
Ele se retira do bar. Vai até uma praça e chama pelos nomes de seus filhos; e os três logo aparecem, bem sujinhos de tanto brincar. Sem dizer uma unica palavra eles vão a casa. Chegando lá, logo quando José abre a porta, sente um cheiro de comida queimada - vinha da cozinha. Sua mulher esquecerá de tirar a comida do fogo; pois ficou assistindo o televisor, ao que aparentava ter acontecido.
-Mas o que você pensa que tá fazendo? Olha bem esse cheiro - ele pega a esposa pelos braços e a arrasta até a cozinha - Você tá ficando doida, maluca, esquecendo das coisas?
-Me D-desculpe... - Miriam fica assustada e triste com a atitude do marido - Isso não vai acontecer de novo, eu prometo. Eu acabei me destraindo com o televisor.
Ele simplesmente se cala - José parece ter ficado apavorado com aquilo; tomou a primeira facada. Olha de relance o salão da casa e seus filhos sentados a frente do televisor; já os havia contaminado também - tão rápido. Calado ele segue para o quarto, sem nem dizer nada a sua mulher, que o observava, com um olhar diferente. Ela parecia estar com receio de algo, manteve-se calada. Ele logo pegou no sono.
Em um delirante sonho ~ A imaginação de José se provará muito grande e vasta. Sonhou coisas horríveis, acordou diversas vezes na cama, notou até que sua mulher e seus filhos haviam pegado no sono, no salão mesmo. Seus devaneios eram os mais assustadores; imaginou a caixa contendo um feitiço, imaginou que sua mulher e seus filhos estavam amaldiçoados. Imaginou até que a vida não ver a caixa tomando forma de gente - mais especificadamente o Andreas, o apunhalando pelas costas, dando um golpe certeiro em seu peito, arrancando seu coração fora; quem dera, uma dor dessas do que viria a se passar.
Os dias iam passando, o Natal mais próximo; mas o real centro das atenções não era nem a data que se aproximaria, nem as visitas de parentes que a família receberia, mas sim, a caixa preta. Maldita caixa, pensava João, ela mesma que estrangando a vida da família estava. A mulher chamava as vizinhas para casa, os filhos levavam os amiguinhos, a casa acabava virando um salão de algazarras.
Miriam era quem fazia as roupas que eles usavam e ela acabou adotando o estilo que ela havia visto na caixa. Tudo, ela copiava e tentava fazer igual. Seu comportamento também mudou muito - começou a fumar, ficou arrogante e preguiçosa. Já não se importava em fazer as tarefas diárias, mas sim em se exibir nas ruas, parecendo uma futurista, uma mulher de cidade grande. Sua filha a imitava. Lurdes ficou arrogante com as amigas, só pensava em garotos - apesar de ter apenas sete anos, fumava escondido dos pais - as bitucas que a mãe jogava no cinzeiro, e começou a bater nos irmãos, mais novos; que dentre os que assistiram o televisor, foram os unicos que não mudaram o comportamento, mas começaram a ter o pensamento de querer ir pra cidade grande; não só os dois, as outras duas também.
Eis que o Natal chega, a família se reune; e a caixa sempre ligada. Os irmãos de José, Carla, com seu marido e cinco filhos, e Umberto, o solteirão da família - que morava na cidade grande, e um amigo, chamado James, a mãe, Dona Marta e o pai, Seu Gomes, como gostava de ser chamado. Já da família de Miriam, apenas sua irmã Doralice apareceu com seus três filhos e marido, pois o restante da família dela era de Pernambuco. Todos estavam com seus sacolões, provavelmente, cheios de presentes.
Foi um tumultuo, todos se abraçando, conversando... cada um tinha seu assunto e novidades para falar, então acabou virando bagunça. As crianças ficaram na parte de trás da casa, brincando. Miriam colocou todos no salão; José ficou nervoso. Se sentaram ali, principalmente os pais de José, ficaram encantados com a caixa preta, pois não conheciam - todos eram do interior, com exceção de Umberto e James. Que estavam acostumados com a caixa, sabiam o que era; não eram viciados nela. Foram ver as crianças; José os acompanhou.
-E como é a cidade grande, Berto? - nessa hora José colocava sua mão no ombro do irmão - É bom de viver lá, emprego bom?
-Ô se é bom, tem muita oportunidade lá, se você souber se relacionar, acaba por ganhar muito dinheiro - Umberto dá um sorriso - Eu pretendia trazer minha namorada, mas ela ficou com os pais dela.
A filha de José, Lurdes, então aparece ali entre os três, chorando, carregando uma boneca de pano rasgada.
-Ô pai - a menina pausa a fala e limpa o narriz com o braço - olha o que o Carlinho fez com ela - e apontava a boneca pro pai.
James, o amigo de Umberto, começa a rir e abraça a menina. Ele se vira pros outros dois e pega a mão da garota.
-Pode deixar que eu resolvo isso.
Não houve nenhuma exclamação sobre essa atitude de James, os dois apenas riram e balançaram a cabeça. E então ele sai andando pelo terreno com a menina. José ainda comenta "Que rapaz educado" e Umberto responde "Ele trabalha comigo desde que fui pra cidade grande, foi quem me acolheu lá, confio muito nele".
O tempo passa, a noite chega. As mulheres preparam a mesa do jantar, já os homens ficam assistindo o televisor; passava futebol. José vai ao terreno e coloca as crianças pra dentro, só não consegue encontrar a própria filha e James. Ele fica preocupado, mas entra em casa, ficando a espera dos dois.
A mesa é posta, todos se sentam. Começam a se servir. O ambiente era alegre, mas ainda assim, José se preocupava com sua filha e acabava ficando desligado. Eis que os dois chegam, Lurdes e James. A menina sai correndo em direção a mesa e se senta ao lado do irmão; o coração do pai se acalma. Ele nota sangue no braço da menina.
-O que foi isso no seu braço, Lurdes?
Ela segue seu olhar ao James - que estava sentando na mesa. Esconde o braço e olha para baixo.
-Caí, pai.
-Ah mas logo hoje filha - José colocava a mão sobre a própria cabeça, tampando os olhos, mas logo muda a posição e começa a se levantar - vamos cuidar desse machucado.
-Não precisa - Umberto cortava a ação de José - Já cuidei, foi o motivo de demorarmos um pouco.
-Fico grato por isso rapaz - José se recompunha na mesa e dava um suspiro, aliviado.
O Jantar continua, mas a menina continuava quieta e com o pensamento distante. Já quando todos haviam acabado de comer e estavam apenas jogando conversa fora, Miriam se levanta.
-Vamos distribuir os presentes pessoal!
Todos se levantam da mesa, as mulheres recolhem os pratos, talheres e taças e levam à cozinha, enquanto as crianças e os homens iam à sala, e pegavam vários pacotes e sacolões; obviamente, os presentes. Quando as mulheres chegam, começam a ver qual pacote pertencia a cada pessoa e assim distribuiram. Risos e mais risos eram soltos pelas crianças, ao ganharem brinquedos, e os adultos faziam brincadeiras com os presentes que ganhavam; como José, que ganhou um casaco "de urso" como apelidou a esposa. Foi um dia inesquecível, cada um com um motivo diferente; mas a felicidade no final tomou conta do nervosismo, dor e preocupação.
[...]
O Natal já havia passado, tudo já voltava a mesma rotina de sempre; Caixa preta ligada, a mulher e seus filhos cada vez mais mudados... E José, ficando cada vez mais de lado, por não aceitar a entrada da ilusão em sua mente. Ele resolveu voltar ao trabalho, mesmo com a data de Ano Novo estando perto; já estava se sentindo sufocado em casa. Estava prestes a sair de casa, só faltava pegar a marmita.
-Miriam... - gritava o nome de sua mulher.
-QUê?! - em resposta, ela grita do salão mesmo, sentada, sem nem levantar do sofá.
José se irrita; mais uma vez. Vai até a sala e pega sua mulher pelo braço. A partir daí, a fala vira gritos intensos de José.
-Por que você não preparou minha marmita? Eu preciso ir trabalhar, sustentar seus vícios loucos - nisso apontava o dedo para o rosto da mulher - Enquanto você fica ai sentada nessa porcaria de sofá, coçando essa coisa cabeluda, tô tendo que me virar sozinho, arrumando a bagunça da casa, e você só fuma, senta o rabo nesse sofá e fica levando nossos filhos para o mal caminho, trazendo essas suas amigas porcas e nojentas pra dentro da minha casa! Vestindo esses trapos horríveis, corrompendo a mente de todo mundo com essa porcaria de televisor...
A mulher fica calada, e olha mais uma vez diferente para o marido; apenas tira a mão dele que estava em seu rosto e volta a sentar no sofá. Ele dá um soco no rosto da esposa e sai de casa, com um triste pensamento - sua mulher não o amou. Ele perdeu a luta contra a caixa. Perdeu a vida sossegada e feliz que tinha. Simplificando tudo; perdeu a vida, estava morto.
Chegando no trabalho, pegou sua ferramenta e foi ferroz no batente o dia inteiro. Não voltou pra casa, foi ao bar, tomou uma branquinha. Saiu de lá e se dirigiu ao rio, que tinha ali perto. Entrou na agua do rio, de corpo nu. João havia morrido por dentro. Mas ainda carregava dentro de si, orgulho; entrou na água para esconder suas lágrimas. Para esconder que estava fraco, que havia sido apunhalado pela própria família. João dormiu, ali, na beira do rio.
[...]
Ele dormiu e não sabia o quanto isso durou; não sonhou, não pensou - tinha morrido. Só foi acordado por um garoto, que brincava ali. Apesar de estar nu, ter gente no lugar, José não se encomodou. Mas colocou suas vestes e decidiu voltar pra casa.
Todos os vizinhos o encarravam na rua. Olhares como se ele fosse uma praga, como se ele fosse um assasino - ele quem havia sido assassinado. Pegou as chaves de casa, que estavam no bolso da calça, para abrir a porta que nunca ficava fechada. Ao entrar no salão, seu coração morto apertou. Ele começou a chorar, desesperadamente. Correu pela casa. Foi na cozinha, nos quartos, no banheiro, e até no fundo do terreno. Chegou a pegar uma escada e olhar no telhado.
Estava ele procurando sua família, dentro da própria casa. Ele então acha um bilhete, amassado, arribiscado, quase não dando pra ler.
"Zé, peço para que entenda as palavras. E não nos procure mais.
Não estamos, porém o motivo não é você, pelo menos não para os teus filhos. Não estamos porque decidimos não estar. Porque não aguentamos mais viver neste lugar. Porque não estamos mais aptos a viver esta vida que temos.
Teus filhos ficarão bem. Andreas ajudará, ele é um grande homem, de ideais maiores ainda. Não se zangue, eu peço. Só quero que seja feliz e encontre alguém que o -
O bilhete acabou nesse ponto. José já estava morto, apenas suspirou, morto. Considerou todas as palavras e já sabia qual foi o momento que tudo realmente acabou. Sua família morreu antes dele. Sua esposa não o amava, sua vida era uma farsa. Seus filhos não reconheciam suas preocupações. Ele construi uma ilusão.
Ele pega uma garrafa de pinga na cozinha. Vai até a caixa; dá um sorriso, de orelha a orelha, ironicamente. Liga o televisor, senta-se no sofá e finalmente: se rende.
Musica - Television Rules The Nation (Daft Punk);
Podem comentar o/; ~