Capítulo Primeiro
Estava sentado num banco. A leve brisa que se fazia sentir era bastante fria, e parecia cortar a pele a quem não estivesse bem agasalhado. Da boca das pessoas que por ali passavam, podia-se ver vapor de água a sair, quando estas expiravam. Era de noite, e o sol já se havia posto á algum tempo. Os olhos verdes do rapaz que se encontrava sentado naquele sombrio banco de rua, miravam a entrada para o Metro que estava á sua frente. Muito raramente saíam pessoas de lá, umas mais sinistras do que outras. O rapaz já ali estava desde as 22 horas, e o relógio já batia as duas badaladas. Batia com o pé direito no solo e tremia com o joelho, parecendo estar impaciente, contudo, o que ele estava á espera parecia nunca mais aparecer. A luz ali presente provinha apenas de um candeeiro de forma redonda que se encontrava mesmo ao lado daquele banco. Mais uma vez, o rapaz, este tinha as mãos dentro dos bolsos do seu casaco de cor azul marinha, um carapuço sobre a sua cabeça, um cachecol a tapar-lhe a boca, e umas calças de ganga, terminando a sua vestimenta com umas sapatilhas de cor negra.
Umas gargalhadas começaram a ouvir-se vindas da entrada do Metro. Aos poucos e poucos, três vultos surgiram das escadas subterrâneas. Todos vestiam roupas largas, estavam cheios de piercings, principalmente nas orelhas, lábios e sobrancelhas. O personagem do centro era o mais alto dos três, e era o único de cor negra. Á medida que iam passando pelo passeio, as atenções desse rapaz foi focada no nosso rapaz de olhos verdes que se encontrava sentado. O negro bateu nos ombros dos seus amigos que sorriam ironicamente de imediato e colocando os seus carapuços sobre as suas cabeças avançaram na direcção do rapaz de casaco azul marinho.
-Oy… Tens algo para nós?
As pupilas dos olhos verdes do rapaz dilataram-se um pouco e os globos oculares deslocaram-se um pouco para cima. A cabeça dele nem se moveu. Não proferiu qualquer som e ficou a mirar o rapaz mais alto que havia falado para si. De repente, uma lâmina fora encostada á bochecha do rapazinho, enquanto os outros dois agarram cada um dos seus braços. A cabeça encapuçada do rapaz caiu e uma voz suave e sombria foi ouvida, vinda de baixo:
-Não me toquem.
Um silêncio incomodativo dominou o local. Naquele momento, ninguém passava na rua, muito menos no passeio. A lâmpada do candeeiro que iluminava aquele banco de rua, começou a piscar de maneira intermitente, parecendo que ia falhar. Pequenos sorrisos irritantes e irónicos surgiram, vindos dos três “atacantes” do rapaz de olhos verdes. O mais alto dos “atacantes” mexeu devagar e ligeiramente a lâmina que estava encostada á face do rapaz e um pequeno corte surgiu, saindo de imediato algum sangue deste, que começou a escorrer lentamente, pingando para a perna do rapaz. Os seus olhos verdes focaram-se agora nas gotas que caíam desfasadas. Começara a cerrar lentamente os punhos.
-É melhor dares o dinheiro que tens antes que te faça um rasgão até á orelha. Telemóveis e relógios também são bem-vindos. Hoje em dia vende-se de tudo. – disse o mais alto, lambendo o lábio superior de uma maneira nojenta.
Os outros dois continuaram a rir-se. O rapaz de olhos verdes havia cerrado os punhos, mas relaxou-os de seguida. De repente, a luz do candeeiro desapareceu, deixando aquele local às escuras. A lâmpada voltou a acender logo de imediato, continuando com as piscadelas intermitentes. Os olhos dos atacantes estavam agora arregalados, olhando para o banco, onde já não se encontrava o rapaz encapuçado.
-Eu disse para não me tocarem.
A voz veio de trás do rapaz mais alto. As atenções de todos foram viradas para esse lugar, ouvindo-se alguns palavrões pelo meio, contudo, era tarde demais. Com um veloz movimento, a mão direita do rapaz de olhos verdes assentou na nuca do rapaz mais alto, levando esta em direcção ao banco de rua. Os olhos verdes estavam arregalados e os dentes do mesmo rapaz estavam cerrados. O embate ocorreu, provocando um grande estrondo. A cara do atacante mais alto afundou-se nos destroços de madeira do banco, ficando este último destruído. Os outros dois rapazes começaram a choramingar, colocando os braços á frente da cara e começando a recuar, um para cada lado, preparando-se para fugir. Respirando ofegante, o personagem de olhos verdes olhava para os outros dois, ainda com a sua mão aberta na cabeça desmaiada de quem lhe havia feito um corte. De imediato, apoiou a outra mão ainda na nuca do jovem e elevou o tronco e as pernas, fazendo com estas duas paralelas ao chão. Com balanço, enterrou ainda mais a cabeça do mais alto no chão e começou a rodopiar, dando um pontapé ao primeiro e ao segundo atacantes. Projectados com grande força, depois de caídos no chão, levantaram-se começando a correr como se não houvesse amanhã.
Zaiko colocou-se na posição bípede, e assustado olhou para as suas mãos, começando meio a chorar. Não pensou duas vezes e começou a correr pelo passeio fora em direcção a uns prédios um pouco afastados daquela entrada do Metro. Pequenos passos foram ouvidos, e da entrada do metro surgiu uma figura com um manto totalmente negro. Ficou a mirar o rapaz de olhos verdes a correr, e apenas se conseguiu ver a boca do sujeito a esboçar uma espécie de sorriso – “Humph.” De seguida, o vulto desapareceu como que por magia daquele local, enquanto que flyers esvoaçaram pelo ar.
Cortando pelo ar frio que se fazia sentir naquele mês de Inverno, naquela gélida cidade, Zaiko respirava ofegante, enquanto que o cachecol lhe ia caindo da boca aos poucos. Ao que parecia, o rapaz queria chorar mas estava a controlar-se para não o fazer. Avistava já a entrada de um prédio grandioso. Parou de imediato na entrada do mesmo e rapidamente, meio atrapalhado, tirou do seu bolso esquerdo um porta-chaves e por conseguinte, a chaves do prédio. Não demorou muito até que o rapaz de olhos verdes entra-se no mesmo e se pusesse dentro de casa. Ainda a arfar ficou parado na entrada do seu apartamento, com a cabeça voltada para baixo e com os braços estendidos para os lados, como se estivesse a “guardar” porta. Baixou os mesmo e começou a retirar os agasalhos e o casaco, ficando apenas com uma t-shirt justa sem mangas, de cor preta. Atirou a restante roupa para o chão já da sala que se encontrava logo a seguir á entrada e dirigia-se agora para uma outra divisão da casa. O apartamento de Zaiko não era muito grande, tendo apenas um quarto, uma sala, uma cozinha, uma casa-de-banho e uma pequena varanda. Era um pouco escura e não estava lá muito arrumada. Pouco tempo passava na cozinha e na sala. O que era de notar é que a casa estava cheia de jornais por todo o lado, espalhados, e alguns colados nas paredes, e imensas fotografias de família também pela casa toda. Com o seu dedo indicador, ligou o interruptor do seu quarto. Nesta divisão podemos ver uma cama grande, desfeita, roupa pelo chão, no canto direito do quarto existem alguns Halteres, uns com pesos maiores que os outros, mas ainda são bastantes. O rapaz de cabelos pretos adentra pelo seu quarto, em direcção ao armário que estava do lado esquerdo. Abrindo a porta do mesmo, coloca a sua mão direita cerrada sobre o seu peito e em seguida dá um beijo no seu dedo indicador e o seguinte e encosta-os a uma fotografia de uma jovem mulher, que sorria. Feito isto, Zaiko fecha a porta do armário e estende o seu braço para trás, puxando uma toalha de cor branca, trazendo-a consigo.
Ligou a luz da sua casa de banho e bateu com força a porta da mesma, ficando a olhar-se ao espelho, enquanto abria a torneira do lavatório. Esticou os braços e colocou-os em cima do lavatório, baixando novamente a cabeça. Vários pensamentos começaram a surgir na sua mente, principalmente imagens de algo que havia acontecido naquela passagem de metro. Queria chorar mas ao mesmo tempo não queria. Era uma mistela de sentimentos que nem sabia aguentar nem como os expressar. Abriu lentamente a torneira, fazendo a água jorrar com pressão para dentro do lavatório. Com as duas mãos juntas, encheu-as com o líquido transparente e molhou a cara, escorrendo alguns fios de água pelo pescoço de Zaiko, indo para dentro da t-shirt cabeada. Fechou a torneira, e ficou a ouvir os pingos que caíam da sua face baterem na pequena “poça” que se encontrava no lavatório branco. Cerrou os dentes e deu um soco na parede. O som do embate ecoou na casa, mas não houveram estragos. Olhando de lado, vislumbrava um símbolo preto que parecia uma espécie de serpente, pequeno, tatuado no seu ombro esquerdo.
-Outra vez aparece. Mas que raio…
Num estado um pouco enraivecido, o rapaz de olhos verdes e de cabelos pretos abre o armário que se situa por cima do lavatório e agarra firmemente num frasco laranja. Eram calmantes, e só isso é que o conseguia acalmar naquele momento, principalmente quando aquela marca surgia no seu ombro. Abriu a tampa do mesmo e deixou caírem na palma da sua mão alguns. Não demorou muito tempo para os colocar na boca e engolir. Sabia que aquilo o ia fazer conseguir dormir bem pelo menos. Recolocou o frasco no armário com espelho e fechou-o. Os seus olhos focaram-se no mesmo. Arregalaram-se.
[Moment Soundtrack]
De repente, uma figura feminina havia surgido atrás dele, e estava o seu reflexo no espelho. Empunhava já uma espécie de lança de cor azulada e com adornos dourados, em direcção á cabeça do rapaz. Num rápido movimento, Zaiko desvia-se para o lado, e a lança destrói o armário espelhado.
-What the?!
Os olhos da rapariga focaram-se novamente em Zaiko. Eram frios e estavam sérios. Tinham também uma cor azul, assim como os seus cabelos e vestes. Esta, deu um salto no ar e com uma rapidez tremenda, desferiu um pontapé na zona peitoral do rapaz, que foi projectado para fora da casa de banho, contra a parede do seu quarto que se situava mesmo em frente. Um enorme estrondo foi ouvido, e Zaiko estava sentado no chão, a queixar-se de dor no peito. Olhou para cima, estava a ficar furioso. Mas quem era aquela gaja que aparecera na casa dele, e o começara a atacar? Era estranha e ainda por cima possuía uma lança. Cerrando os dentes e os punhos, Zaiko via a figura feminina a correr na direcção dele com a lança na sua mão direita. Tinha o corpo um bocado curvado, e agora podia ver que era de média estatura. Rápido e obstinente, o rapaz que estava a ser atacado surge de imediato atrás da rapariga com o seu punho cerrado em direcção ás costas da mesma. Um sorriso irónico surge na face da estranha á medida que levava a sua mão aberta á frente da sua cara. Uma espécie de tatuagem que se assemelhava a uma mulher com um pote na mão a jorrar água brilhou numa cor azul.
-Mizu Sutora.
De repente, o lavatório que estava atrás de Zaiko rebentou e a água foi em direcção a ele, fazendo uma espécie de chicote, agarrando os punhos, pernas e pescoço dele. Ficou em pé, levando de imediato as mãos ao pescoço numa tentativa de não se esganar. A rapariga fincou o seu pé direito no solo de tacos do quarto do atacado, e de uma volta de 180 graus, ficando cara a cara com o seu adversário. Fez um movimento com a mão para cima e os “chicotes” de água mandaram Zaiko contra a parede, ficando este imóvel, tentando ainda soltar-se.
-Então, achavas mesmo que conseguias elevar-te ao nível de um Guardião? Está errado. Não é nada pessoal, mas não podes existir neste mundo por mais tempo. Peço desculpa.
A rapariga corou de imediato, e com a sua mão direita, empunhou a lança e preparava-se para desferir um golpe mortal no pescoço de Zaiko. O rapaz continuava a lutar contra os chicotes de água, e cada vez ficava mais furioso. A estranha tatuagem no seu ombro esquerdo cintilou numa cor roxa, e os olhos verdes do rapaz perderam as pupilas, ficando totalmente brancos, com um raio arroxeado.
-Hebiu~iru.
De repente, os chicotes de água perderam a sua força e caíram no solo como se fossem baldes de água, encharcando todo o solo. Com os olhos daquela forma, os seus músculos estavam ainda maiores, e encaminhava-se agora para a rapariga. Ia destrui-la. Elevou o punho e desferiu um potente golpe na face da mesma, fazendo com que esta varre-se o chão todo, e embate-se contra a banheira, destruindo esta também.
-Kuh…
A rapariga tentava levantar-se, mas com uma velocidade brutal, Zaiko já estava á frente dela com o seu braço levantado e com a sua mão numa estranha posição, parecendo os dentes de uma cobra. Estendeu-a para a rapariga. Um som de embate foi ouvido. Uns cabelos de tons vermelhos esvoaçavam assim como um cachecol verde, e uma espada reluzia. Tinha um olho tapado com uma palete preta e o outro olho esverdeado focava-se no olho com o raio roxo de Zaiko. Espantado, as pupilas começaram a voltar á sua normalidade e deu alguns passos para trás.
-Go…Gomennasai – disse Zaiko, desaparecendo logo em seguida, saltando pela janela do seu quarto.
O rapaz que havia salvado a rapariga de cabelos azuis colocou-se na posição bípede e olhava agora para a janela aberta por onde Zaiko havia saído. A aragem que se fazia sentir fez os cabelos dele e o cachecol esvoaçarem ainda mais. Nem sequer olhando para a rapariga que se levantava com a cabeça baixa, falou:
-Não devias de ter vindo atrás dele, Aquarius.
A rapariga tremeu um pouco e em seguida cruzou os braços á frente do seu corpo, tentando responder, estando envergonhada.
-Desculpa, Lavi-chan.
Lavi fez a sua espada desaparecer, e continuava a olhar para a janela, dando alguns passos.
-Não esperas pela demora, Hebikuiwashi.