Ele corria o máximo que podia. Cruzava a mata em busca de seu precioso amor que fora pego por seus opositores de cargo. Estava desesperado. Ela era sua guarda-costas, amiga e muito mais do que podia imaginar. Ela era seu tudo.
Chegou a uma parte mais íngreme do terreno. Suas roupas tinham se rasgado enquanto corria por entre árvores e arbustos. Desceu apressadamente a ladeira e acabou torcendo o tornozelo, mas ignorava a dor lacerante. Sua maior obrigação para si mesmo era chegar a tempo, antes que fosse tarde demais.
Viu uma torre de um relógio em sua frente e na praça abaixo desta estava um corpo de uma mulher de vestido vermelho que ainda estava de olhos abertos, como se esperasse sua salvação que nunca chegou. O rímel destacava os olhos vidrados da moça e sua pele estava tão pálida que era impossível que estivesse viva.
O homem desabou, ajoelhando-se. As pessoas da cidade não ousavam abrir as janelas para ver a cena. Elas tinham medo de tudo que estivesse relacionado com o império. Tinham medo dos opositores e do próprio imperador, mas tinham pena do homem de cabelos negros que estava agora se aproximando lentamente do corpo da mulher.
O homem, de nome Leon Excelcius, que por um destino cruel era filho do imperador, agarrou o corpo da mulher morta e gritou. Gritou com todas as amarguras que sentia naquele momento que nunca poderia ser esquecido. A morta, de nome Wendy Astarion, chefe da guarda pessoal do príncipe e amor secreto do mesmo, tinha se encontrado com um traidor que ninguém nunca soube quem era. O guarda tinha a atraído para uma armadilha.
E esse era o desfecho.
Leon, tomado de ódio, se levantou com o corpo em suas mãos e se dirigiu para a torre do relógio. Opositores do imperador tentaram matá-lo, mas, por alguma força estranha, as balas não atingiam o corpo do príncipe. Em vez disso, elas refletiam, matando quem tinha atirado-as contra ele.
Deixou o corpo da mulher na porta da torre do relógio e se virou, localizando seus inimigos. Sacou uma espada e partiu em direção aos opositores que sobraram. Em dez minutos havia matado um total de trinta pessoas. Voltou à porta da torre e pegou o corpo da mulher morta, adentrando o saguão do prédio. Um padre estava lá, rezando seu terço, quando foi surpreendido por Leon.
- O que deseja, caro príncipe?
O padre não devia ter mais que trinta anos, tinha um cabelo castanho que fora raspado no meio de sua cabeça. Usava uma bata marrom e segurava o terço com força.
- Quero que faça uma coisa para mim, padre.
Nessa época, todos os líderes religiosos eram chamados de padres, mesmo não sendo exatamente padres. Era a cultura no planeta Etherion.
- Aquilo, não?
Leon afirmou com a cabeça. O padre desceu até o porão e pegou dois colares finos, um com o símbolo que representa o gênero masculino e o outro que representa o gênero feminino. Colocou o colar feminino na mulher morta, falando algumas palavras em língua desconhecida. Depois se voltou para o homem de cabelos negros.
- Você realmente quer fazer isso? Sabe que não tem mais volta.
- Sim, eu quero.
O padre apenas fez um sinal de negação enquanto colocava o colar no príncipe. Disse algumas palavras em língua estranha e fez um sinal.
- Agora vocês estão unidos. Na próxima encarnação, quando você a ver, será ligado por ela de corpo e alma. Se deixá-la morrer...
- Morrerei e aí nunca mais... Eu sei disso.
- Até mais príncipe. Espero que você seja feliz.
O padre se retirou para ir dormir. Leon subiu os degraus com Wendy no colo. Lembrou-se de quando a conheceu, das brigas que tiveram e do relacionamento de grandes amigos que tinham, mesmo ele querendo algo a mais. Chegou ao topo da torre e olhou para baixo. Uma queda e com certeza ele estava morto. Olhou para a hora.
Era quase meia-noite.
Ele era egoísta e ela sabia disso. Será que algum dia ela o amou de verdade. Ela iria dizer algo para ele naquela noite, mas morreu antes que pudesse encontrá-lo. Será que ela diria para ele se afastar da vida dela? Era isso que ele mais temia.
Tick, Tack e eram onze e cinquenta e nove.
Mas ele já fez o trato e não podia voltar atrás. Ele iria protegê-la até o fim. Era o único modo de amá-la. Pulou da torre. Foi a queda mais lenta que houve em sua vida e também teve a dor mais latente que um dia poderia ter.
Tick, Tack e faltavam dez segundos para a meia-noite.
Não sentia dor, mas um sono muito forte que acalmava seus sentidos. Antes de fechar os olhos, agarrou o mais forte que pôde a mão da mulher que amava. Sentiu se afundar no sono profundo e sua última visão foram pés correndo para aonde estava.
Tick, Tack. Era meia-noite e o herdeiro do trono estava morto.
**
Tick Tack 1: Pietro
- ...E assim termina a história. - Disse um garoto ruivo enquanto ajeitava a coberta da garotinha a qual estava contando a história.
- Eles morrem, mas eles não vão reencarnar? - Pergunta a menina de cabelos morenos.
- Sinceramente, não acho que eles vão reencarnar. Como disse, é só uma lenda, Giovanna.
- Mas irmão Pietro...
- Nada de mas. Hora de dormir, certo?
A garota se ajeita nas cobertas e, antes de dormir, fala:
- Ainda acho que eles vão reencarnar.
Quando ouviu a respiração calma da irmã, Pietro saiu da cama e foi para seu quarto, que era ao lado do da garota. Tirou a bata de dormir e observou a nova cicatriz que havia ganhado tentando defender sua ferraria dos ladrões. Era bem destacável, já que estava bem no meio de seu torso cheio de cicatrizes iguais a esta. Tinha músculos definidos o suficiente para poder realizar seu trabalho de ferreiro.
E este era Etherion. Um planeta como outros no espaço. Seus habitantes tinham poderes diferentes de todo tipo. Alguns, obviamente, mais fortes que outros. Os opositores estavam no poder com a Rainha Selena, uma jovem muito bonita que governava com o punho firme o império dos Salt.
Pietro deitou-se na cama de pedra e tentou dormir. Mas, pesadelos envolvendo pessoas que ele não conhecia atormentavam suas noites de sono precioso. Ainda não se acostumara aos corpos caindo no chão e a sangue em todo o lado, além de gritos onde não deveria tê-los.
Resistiu a estes sonhos, já que tinha que dormir para que, no outro dia, pudesse trabalhar. Não tinha regalias de nobres e do imperador para faltar um dia no trabalho. Precisava sustentar a família, já que seus pais adotivos estavam velhos e sua irmã não podia trabalhar, pois era só uma criança.
Já não aguentando mais, acordou sobressaltado, piscando diversas vezes os olhos e tentando se acalmar gradativamente. Ainda não era dia, mas o céu dava indícios de que a luz iria chegar naquela terra brevemente. A estrela que ilumina Etherion era chamada Astaris, que brilhava com um branco forte e sua luz refletida no céu, acabava o tornando azul-limão, quase verde.
Pietro vestiu-se. Tomou seu banho e fez sua higiene pessoal. Comeu e saiu para trabalhar. O dia ainda não chegou quando o ferreiro começou a esquentar o forno para o longo trabalho do dia. Eram várias armas para fazer, mágicas, não-mágicas, pequenas como um pingente, grandes como um tridente. Seu trabalho era árduo e muitas vezes ao dia ele parava para tomar um ar puro.
Seu ajudante chegou. Dian, um jovem mago de 13 anos, o ajudava a resfriar as barras de metal, enquanto ele usava seus músculos para modelá-la de acordo com o que iria fazer. Pietro nunca descobriu seus poderes, não importa o que ele fizesse. Quando criança, ele sonhava em ter um poder raro, mas hoje só queria ter algo que pudesse ajudá-lo em seu trabalho.
- Dian, chegue aqui, por favor, preciso de uma ajudinha pra tirar esta espada quase pronta.
Os dois homens puxaram até que a espada saiu voando e, por muita sorte, acabou caindo no barril de água que usavam para resfriar as barras de metal.
- Tire a espada daí, antes que ela resfrie demais! - Disse Pietro, desesperado.
O ajudante tirou a espada do barril e a entregou para o ferreiro, que fez o últimos retoques rapidamente e a resfriou de uma vez.
Os dois homens passaram as mãos na testa, retirando o suor que ali havia, quando ouviram um barulho.
Um dos tesouros secretos do reino havia sido roubado...
Chegou a uma parte mais íngreme do terreno. Suas roupas tinham se rasgado enquanto corria por entre árvores e arbustos. Desceu apressadamente a ladeira e acabou torcendo o tornozelo, mas ignorava a dor lacerante. Sua maior obrigação para si mesmo era chegar a tempo, antes que fosse tarde demais.
Viu uma torre de um relógio em sua frente e na praça abaixo desta estava um corpo de uma mulher de vestido vermelho que ainda estava de olhos abertos, como se esperasse sua salvação que nunca chegou. O rímel destacava os olhos vidrados da moça e sua pele estava tão pálida que era impossível que estivesse viva.
O homem desabou, ajoelhando-se. As pessoas da cidade não ousavam abrir as janelas para ver a cena. Elas tinham medo de tudo que estivesse relacionado com o império. Tinham medo dos opositores e do próprio imperador, mas tinham pena do homem de cabelos negros que estava agora se aproximando lentamente do corpo da mulher.
O homem, de nome Leon Excelcius, que por um destino cruel era filho do imperador, agarrou o corpo da mulher morta e gritou. Gritou com todas as amarguras que sentia naquele momento que nunca poderia ser esquecido. A morta, de nome Wendy Astarion, chefe da guarda pessoal do príncipe e amor secreto do mesmo, tinha se encontrado com um traidor que ninguém nunca soube quem era. O guarda tinha a atraído para uma armadilha.
E esse era o desfecho.
Leon, tomado de ódio, se levantou com o corpo em suas mãos e se dirigiu para a torre do relógio. Opositores do imperador tentaram matá-lo, mas, por alguma força estranha, as balas não atingiam o corpo do príncipe. Em vez disso, elas refletiam, matando quem tinha atirado-as contra ele.
Deixou o corpo da mulher na porta da torre do relógio e se virou, localizando seus inimigos. Sacou uma espada e partiu em direção aos opositores que sobraram. Em dez minutos havia matado um total de trinta pessoas. Voltou à porta da torre e pegou o corpo da mulher morta, adentrando o saguão do prédio. Um padre estava lá, rezando seu terço, quando foi surpreendido por Leon.
- O que deseja, caro príncipe?
O padre não devia ter mais que trinta anos, tinha um cabelo castanho que fora raspado no meio de sua cabeça. Usava uma bata marrom e segurava o terço com força.
- Quero que faça uma coisa para mim, padre.
Nessa época, todos os líderes religiosos eram chamados de padres, mesmo não sendo exatamente padres. Era a cultura no planeta Etherion.
- Aquilo, não?
Leon afirmou com a cabeça. O padre desceu até o porão e pegou dois colares finos, um com o símbolo que representa o gênero masculino e o outro que representa o gênero feminino. Colocou o colar feminino na mulher morta, falando algumas palavras em língua desconhecida. Depois se voltou para o homem de cabelos negros.
- Você realmente quer fazer isso? Sabe que não tem mais volta.
- Sim, eu quero.
O padre apenas fez um sinal de negação enquanto colocava o colar no príncipe. Disse algumas palavras em língua estranha e fez um sinal.
- Agora vocês estão unidos. Na próxima encarnação, quando você a ver, será ligado por ela de corpo e alma. Se deixá-la morrer...
- Morrerei e aí nunca mais... Eu sei disso.
- Até mais príncipe. Espero que você seja feliz.
O padre se retirou para ir dormir. Leon subiu os degraus com Wendy no colo. Lembrou-se de quando a conheceu, das brigas que tiveram e do relacionamento de grandes amigos que tinham, mesmo ele querendo algo a mais. Chegou ao topo da torre e olhou para baixo. Uma queda e com certeza ele estava morto. Olhou para a hora.
Era quase meia-noite.
Ele era egoísta e ela sabia disso. Será que algum dia ela o amou de verdade. Ela iria dizer algo para ele naquela noite, mas morreu antes que pudesse encontrá-lo. Será que ela diria para ele se afastar da vida dela? Era isso que ele mais temia.
Tick, Tack e eram onze e cinquenta e nove.
Mas ele já fez o trato e não podia voltar atrás. Ele iria protegê-la até o fim. Era o único modo de amá-la. Pulou da torre. Foi a queda mais lenta que houve em sua vida e também teve a dor mais latente que um dia poderia ter.
Tick, Tack e faltavam dez segundos para a meia-noite.
Não sentia dor, mas um sono muito forte que acalmava seus sentidos. Antes de fechar os olhos, agarrou o mais forte que pôde a mão da mulher que amava. Sentiu se afundar no sono profundo e sua última visão foram pés correndo para aonde estava.
Tick, Tack. Era meia-noite e o herdeiro do trono estava morto.
**
Tick Tack 1: Pietro
- ...E assim termina a história. - Disse um garoto ruivo enquanto ajeitava a coberta da garotinha a qual estava contando a história.
- Eles morrem, mas eles não vão reencarnar? - Pergunta a menina de cabelos morenos.
- Sinceramente, não acho que eles vão reencarnar. Como disse, é só uma lenda, Giovanna.
- Mas irmão Pietro...
- Nada de mas. Hora de dormir, certo?
A garota se ajeita nas cobertas e, antes de dormir, fala:
- Ainda acho que eles vão reencarnar.
Quando ouviu a respiração calma da irmã, Pietro saiu da cama e foi para seu quarto, que era ao lado do da garota. Tirou a bata de dormir e observou a nova cicatriz que havia ganhado tentando defender sua ferraria dos ladrões. Era bem destacável, já que estava bem no meio de seu torso cheio de cicatrizes iguais a esta. Tinha músculos definidos o suficiente para poder realizar seu trabalho de ferreiro.
E este era Etherion. Um planeta como outros no espaço. Seus habitantes tinham poderes diferentes de todo tipo. Alguns, obviamente, mais fortes que outros. Os opositores estavam no poder com a Rainha Selena, uma jovem muito bonita que governava com o punho firme o império dos Salt.
Pietro deitou-se na cama de pedra e tentou dormir. Mas, pesadelos envolvendo pessoas que ele não conhecia atormentavam suas noites de sono precioso. Ainda não se acostumara aos corpos caindo no chão e a sangue em todo o lado, além de gritos onde não deveria tê-los.
Resistiu a estes sonhos, já que tinha que dormir para que, no outro dia, pudesse trabalhar. Não tinha regalias de nobres e do imperador para faltar um dia no trabalho. Precisava sustentar a família, já que seus pais adotivos estavam velhos e sua irmã não podia trabalhar, pois era só uma criança.
Já não aguentando mais, acordou sobressaltado, piscando diversas vezes os olhos e tentando se acalmar gradativamente. Ainda não era dia, mas o céu dava indícios de que a luz iria chegar naquela terra brevemente. A estrela que ilumina Etherion era chamada Astaris, que brilhava com um branco forte e sua luz refletida no céu, acabava o tornando azul-limão, quase verde.
Pietro vestiu-se. Tomou seu banho e fez sua higiene pessoal. Comeu e saiu para trabalhar. O dia ainda não chegou quando o ferreiro começou a esquentar o forno para o longo trabalho do dia. Eram várias armas para fazer, mágicas, não-mágicas, pequenas como um pingente, grandes como um tridente. Seu trabalho era árduo e muitas vezes ao dia ele parava para tomar um ar puro.
Seu ajudante chegou. Dian, um jovem mago de 13 anos, o ajudava a resfriar as barras de metal, enquanto ele usava seus músculos para modelá-la de acordo com o que iria fazer. Pietro nunca descobriu seus poderes, não importa o que ele fizesse. Quando criança, ele sonhava em ter um poder raro, mas hoje só queria ter algo que pudesse ajudá-lo em seu trabalho.
- Dian, chegue aqui, por favor, preciso de uma ajudinha pra tirar esta espada quase pronta.
Os dois homens puxaram até que a espada saiu voando e, por muita sorte, acabou caindo no barril de água que usavam para resfriar as barras de metal.
- Tire a espada daí, antes que ela resfrie demais! - Disse Pietro, desesperado.
O ajudante tirou a espada do barril e a entregou para o ferreiro, que fez o últimos retoques rapidamente e a resfriou de uma vez.
Os dois homens passaram as mãos na testa, retirando o suor que ali havia, quando ouviram um barulho.
Um dos tesouros secretos do reino havia sido roubado...