Nos primórdios do movimento punk, mais exatamente em abril de 1977 – mesmo mês do lançamento do auto-intitulado do The Clash, e no exato ano em que estreavam também os Sex Pistols – os Misfits começavam a se formar, tendo como mentores o baixista Jerry Only (nome verdadeiro: Gerald Caiafa) e o vocalista Glenn Danzig. Anos se passaram, álbuns clássicos como o debute “Walk Among Us” (1982), e “Earth A.D./Wolfsblood” (1983) vieram, os fãs ganharam nome próprio – fiends –, e a reputação do conjunto atingiu um nível muito provavelmente não esperado por eles mesmos. O Horror Punk encabeçado pelos Misfits tornara-se uma realidade. Porém, nada disso impediu o descambo de problemas que estavam por vir... muito pelo contrário. Meses após o segundo disco, o baterista Robo decide abandonar o grupo, seguido por Glenn, que montaria então o Samhain (posteriormente nomeado Danzig). No outro grande pólo de criação dos Misfits, Jerry Only seguia ao lado de seu irmão e guitarrista, Doyle, mas com novas idéias. Desanimado pelo rompimento de sua primeira banda, e religioso como nunca, Only cria outro codinome para si, Mo The Great, e monta o projeto de rock cristão Kryst The Conqueror, no qual tinha a seu lado The Murp (bateria) e Kryst (vocais – na verdade ninguém menos que Jeff Scott Soto, ex-Yngwie J. Malmsteen). A banda, contudo, não vingou. Após longa batalha com Glenn Danzig - à época já mundialmente famoso pelo ‘hit’ “Mother” – os direitos de nome e imagem dos Misfits voltam a Jerry, o qual reconstrói o grupo com Michale Graves (vocais), Doyle (guitarras), e Dr. Chud (bateria), e grava “American Psycho” (1997) e “Famous Monsters” (1999), além da coletânea de raridades e demos “Cuts From The Crypt” (1999). Se em meados dos anos noventa, a nova encarnação dos Misfits já era vista como o projeto solo de seu baixista, a comemoração das bodas de prata da banda com Marky Ramone na bateria e Dez Cadena na guitarra, não deixou qualquer dúvida. Tampouco o álbum “Project 1950” (2003), com regravações de músicas dos anos cinqüenta e sessenta. Beirando as três décadas, os Misfits voltam ao Brasil com Robo (bateria), Dez Cadena (guitarras), e Jerry Only (baixo / vocais), para shows em São Paulo e Curitiba. Confira abaixo entrevista exclusiva com o líder do conjunto poucos dias antes das apresentações em nosso país:
Whiplash! – Os Misfits estão começando a turnê de 2006 na América Latina, e fazem seu sexto show no ano aqui no Brasil. Como está essa nova formação? O que os fãs podem esperar?
Jerry Only – A formação atual é provavelmente a mais crua que tivemos em muitos anos, e esperamos realmente detonar com tudo. A química entre nós está no máximo. É empolgante e novo ao mesmo tempo, um sentimento diferente. A volta de Robo é uma grande adição ao grupo, e transforma a atual formação nos Misfits em seu melhor. Levamos na bagagem músicas de nossa era thrash / hardcore para enlouquecer os ‘fiends’, além de todos os clássicos dos Misfits, inclusive os mais novos.
Whiplash! – Parece que foi ontem que os Misfits celebraram 25 anos de história, e agora vocês já estão beirando os 30! Fazendo uma breve retrospectiva, como o líder e grande responsável pela conservação da banda vê essas três décadas que se passaram?
Jerry Only – Ninguém espera trabalhar numa mesma coisa por tanto tempo, mas acho que os Misfits criaram algo muito especial, inovador e empolgante ainda hoje – talvez mais do que nunca. No final das contas, tudo isso é pela música. Sempre tentei manter a banda em sua forma original. Todavia, mudanças acontecem. No campo musical, as transformações têm muito mais relação com a percepção do público e a maneira como ele nos vê, do que com o que realmente fazemos e tocamos. O mais impressionante que acredito que fizemos é ter influenciado toda uma nova geração na música. É gratificante ver o impacto que você e seu trabalho são capazes de ter na vida de outras pessoas.
Whiplash! - A influência dos Misfits no meio artístico em geral é realmente impressionante; não apenas na música. Dentre estes célebres fãs da banda, há algum que te surpreendeu mais quando chegou a você e falou da admiração pelo seu trabalho?
Jerry Only – Um dos meus maiores heróis foi George Romero [N. do E.: autor de filmes como “A Metade Negra" (1993), "Dia dos Mortos" (1985) e o recente "Terra dos Mortos" (2005)] e um dia ele me disse que a única banda para a qual ele gravaria um vídeo clip seria a minha, os Misfits. Aquilo me emocionou muito. Lembro-me também quando tocamos no Madison Square Garden em Nova York no Halloween, e Alice Cooper nos apresentou ao público dizendo que era fã dos Misfits há muito tempo. Pra mim aquilo foi uma grande honra, pois certamente Alice Cooper foi uma de nossas maiores fontes de inspiração.
Whiplash! – Voltando às formações da banda, temos hoje Robo de volta à bateria. Apesar de admirá-lo, os fãs brasileiros ficaram com enorme expectativa de ver os Misfits com Marky Ramone. Porém, entre o cancelamento dos shows em 2005 e a nova turnê, ele acabou saindo da banda. O que houve?
Jerry Only – Marky é um exímio profissional, muito técnico, e alguém com o qual sempre tive vontade de tocar em minha carreira. Curtimos muito este período em que ele esteve com os Misfits, tanto é que a idéia era de tê-lo apenas para a turnê do aniversário de 25 anos, mas continuamos com Marky por muito mais tempo do que imaginávamos. A verdade é que sempre tivemos em mente que ele estava ali como um convidado especial, e nunca teve a intenção de ser um membro permanente dos Misfits. É por isso que Robo está de volta atrás do kit de bateria dos Misfits, onde é o seu lugar.
Whiplash! – Ao mesmo tempo que muitos apreciaram os Misfits com Marky Ramone (Ramones) e Dez Cadena (ex-Black Flag), uma outra parte da base de fãs parece não ter entendido muito bem a proposta. Como você vê isso e qual seria sua resposta àqueles que disseram que o álbum “Project 1950” nunca poderia vir sob o nome dos Misfits?
Jerry Only – O que eu sei é que o CD “Project 1950” dos Misfits gravado com Marky Ramone e Dez Cadena foi o lançamento mais bem-sucedido de toda a nossa carreira, no total de 30 anos. Acho que isso mostra que tivemos mais pessoas que gostaram do álbum, do que aqueles que o depreciaram. Minha resposta àqueles que disseram que este álbum não poderia vir com o nome dos Misfits é: para realmente saber onde você está indo, é preciso que você saiba primeiro de onde veio. Este foi o ponto em “Project 1950”.
Whiplash! – Fale-nos mais sobre as razões de “Project 1950”, e a idéia de regravar músicas antigas, que acabaram pegando alguns fãs de surpresa...
Jerry Only – Os anos cinqüenta foram definitivamente uma grande influência à cena punk, e poder tocar essas músicas para toda uma nova geração de garotos que sequer chegaram a ouvi-las antes foi uma honra. Sempre sonhei em gravar um álbum como “Project 1950” e coincidentemente Marky e Dez sentiam o mesmo que eu, e compartilhavam dessa idéia. Então aproveitamos a oportunidade e gravamos o disco. Todos os músicos envolvidos são ótimos, e eu não poderia estar mais orgulhoso por tê-los num trabalho dos Misfits. Fazer algo com Ronnie Spector [N. do E.: legendária vocalista das The Ronettes. Nome verdadeiro: Veronica Bennett) também era um sonho, pois ela foi uma grande influência quando eu era mais novo, uma das minhas vocalistas favoritas. Nunca pensei que cantaria com ela, foi uma honra.
Whiplash! – Às vezes, parece-me que as respostas negativas àquela formação de estrelas dos Misfits tiveram relação também com o aspecto visual da banda. Digo, apesar da música ser o principal elemento no trabalho de vocês, a imagem também foi essencial na efetivação do grupo. Como você vê e pensa essa questão?
Jerry Only – Quando você entretém alguém, está entretendo a todos os seus sentidos. Não apenas seus ouvidos, mas seus olhos também. A música, em qualquer banda, é o primeiro de tudo. Porém, se sua imagem tiver um encontro exato com o som, aí então você realmente passa a ter uma combinação poderosa. A imagem dos Misfits veio de antigos filmes B de horror que amávamos quando jovens. Esse contexto serve perfeitamente à nossa música, e ficamos felizes em poder homenagear esses antigos clássicos do cinema B.
Whiplash! – Falando em homenagens, uma das mais fantásticas que vi aos Misfits foi através do álbum “The Fiend Club Lounge”, gravado pelo The Nutley Brass. O que você acha daquele disco, digamos, ultrajante?
Jerry Only – O “The Fiend Club Lounge” foi primoroso, simplesmente extraordinário. É muito engraçado e mostra que a música pode ser traduzida e repassada em diversas maneiras, e qualquer formato. Acho que é um trabalho obrigatório a qualquer coleção de verdadeiros fiends [N. do E.: apelido criado para os fanáticos pelos Misfits. Também o nome dado à caveira que se tornou o símbolo oficial da banda].
Whiplash! – Muitas pessoas se perguntam sobre o futuro dos Misfits. O que você tem em mente para os próximos anos?
Jerry Only – Temos planos de lançar um novo CD, também um DVD e, obviamente, seguir fazendo nossos shows, tocando em mais e mais turnês.
Whiplash! – Para finalizar, como você se vê daqui a dez anos? Podemos dizer que a banda Misfits acaba quando seu coração parar de bater?
Jerry Only – Como me vejo daqui a dez anos? Essa resposta é difícil. Acho que mais velho (risos). Mas talvez seja mesmo o batimento do meu coração que venha mantendo esta banda viva atualmente. No entanto, mesmo muito depois do meu fim, haverá gerações e mais gerações de corações dos nossos fãs batendo, e garantindo os Misfits como um grupo imortal.
Whiplash! – Os Misfits estão começando a turnê de 2006 na América Latina, e fazem seu sexto show no ano aqui no Brasil. Como está essa nova formação? O que os fãs podem esperar?
Jerry Only – A formação atual é provavelmente a mais crua que tivemos em muitos anos, e esperamos realmente detonar com tudo. A química entre nós está no máximo. É empolgante e novo ao mesmo tempo, um sentimento diferente. A volta de Robo é uma grande adição ao grupo, e transforma a atual formação nos Misfits em seu melhor. Levamos na bagagem músicas de nossa era thrash / hardcore para enlouquecer os ‘fiends’, além de todos os clássicos dos Misfits, inclusive os mais novos.
Whiplash! – Parece que foi ontem que os Misfits celebraram 25 anos de história, e agora vocês já estão beirando os 30! Fazendo uma breve retrospectiva, como o líder e grande responsável pela conservação da banda vê essas três décadas que se passaram?
Jerry Only – Ninguém espera trabalhar numa mesma coisa por tanto tempo, mas acho que os Misfits criaram algo muito especial, inovador e empolgante ainda hoje – talvez mais do que nunca. No final das contas, tudo isso é pela música. Sempre tentei manter a banda em sua forma original. Todavia, mudanças acontecem. No campo musical, as transformações têm muito mais relação com a percepção do público e a maneira como ele nos vê, do que com o que realmente fazemos e tocamos. O mais impressionante que acredito que fizemos é ter influenciado toda uma nova geração na música. É gratificante ver o impacto que você e seu trabalho são capazes de ter na vida de outras pessoas.
Whiplash! - A influência dos Misfits no meio artístico em geral é realmente impressionante; não apenas na música. Dentre estes célebres fãs da banda, há algum que te surpreendeu mais quando chegou a você e falou da admiração pelo seu trabalho?
Jerry Only – Um dos meus maiores heróis foi George Romero [N. do E.: autor de filmes como “A Metade Negra" (1993), "Dia dos Mortos" (1985) e o recente "Terra dos Mortos" (2005)] e um dia ele me disse que a única banda para a qual ele gravaria um vídeo clip seria a minha, os Misfits. Aquilo me emocionou muito. Lembro-me também quando tocamos no Madison Square Garden em Nova York no Halloween, e Alice Cooper nos apresentou ao público dizendo que era fã dos Misfits há muito tempo. Pra mim aquilo foi uma grande honra, pois certamente Alice Cooper foi uma de nossas maiores fontes de inspiração.
Whiplash! – Voltando às formações da banda, temos hoje Robo de volta à bateria. Apesar de admirá-lo, os fãs brasileiros ficaram com enorme expectativa de ver os Misfits com Marky Ramone. Porém, entre o cancelamento dos shows em 2005 e a nova turnê, ele acabou saindo da banda. O que houve?
Jerry Only – Marky é um exímio profissional, muito técnico, e alguém com o qual sempre tive vontade de tocar em minha carreira. Curtimos muito este período em que ele esteve com os Misfits, tanto é que a idéia era de tê-lo apenas para a turnê do aniversário de 25 anos, mas continuamos com Marky por muito mais tempo do que imaginávamos. A verdade é que sempre tivemos em mente que ele estava ali como um convidado especial, e nunca teve a intenção de ser um membro permanente dos Misfits. É por isso que Robo está de volta atrás do kit de bateria dos Misfits, onde é o seu lugar.
Whiplash! – Ao mesmo tempo que muitos apreciaram os Misfits com Marky Ramone (Ramones) e Dez Cadena (ex-Black Flag), uma outra parte da base de fãs parece não ter entendido muito bem a proposta. Como você vê isso e qual seria sua resposta àqueles que disseram que o álbum “Project 1950” nunca poderia vir sob o nome dos Misfits?
Jerry Only – O que eu sei é que o CD “Project 1950” dos Misfits gravado com Marky Ramone e Dez Cadena foi o lançamento mais bem-sucedido de toda a nossa carreira, no total de 30 anos. Acho que isso mostra que tivemos mais pessoas que gostaram do álbum, do que aqueles que o depreciaram. Minha resposta àqueles que disseram que este álbum não poderia vir com o nome dos Misfits é: para realmente saber onde você está indo, é preciso que você saiba primeiro de onde veio. Este foi o ponto em “Project 1950”.
Whiplash! – Fale-nos mais sobre as razões de “Project 1950”, e a idéia de regravar músicas antigas, que acabaram pegando alguns fãs de surpresa...
Jerry Only – Os anos cinqüenta foram definitivamente uma grande influência à cena punk, e poder tocar essas músicas para toda uma nova geração de garotos que sequer chegaram a ouvi-las antes foi uma honra. Sempre sonhei em gravar um álbum como “Project 1950” e coincidentemente Marky e Dez sentiam o mesmo que eu, e compartilhavam dessa idéia. Então aproveitamos a oportunidade e gravamos o disco. Todos os músicos envolvidos são ótimos, e eu não poderia estar mais orgulhoso por tê-los num trabalho dos Misfits. Fazer algo com Ronnie Spector [N. do E.: legendária vocalista das The Ronettes. Nome verdadeiro: Veronica Bennett) também era um sonho, pois ela foi uma grande influência quando eu era mais novo, uma das minhas vocalistas favoritas. Nunca pensei que cantaria com ela, foi uma honra.
Whiplash! – Às vezes, parece-me que as respostas negativas àquela formação de estrelas dos Misfits tiveram relação também com o aspecto visual da banda. Digo, apesar da música ser o principal elemento no trabalho de vocês, a imagem também foi essencial na efetivação do grupo. Como você vê e pensa essa questão?
Jerry Only – Quando você entretém alguém, está entretendo a todos os seus sentidos. Não apenas seus ouvidos, mas seus olhos também. A música, em qualquer banda, é o primeiro de tudo. Porém, se sua imagem tiver um encontro exato com o som, aí então você realmente passa a ter uma combinação poderosa. A imagem dos Misfits veio de antigos filmes B de horror que amávamos quando jovens. Esse contexto serve perfeitamente à nossa música, e ficamos felizes em poder homenagear esses antigos clássicos do cinema B.
Whiplash! – Falando em homenagens, uma das mais fantásticas que vi aos Misfits foi através do álbum “The Fiend Club Lounge”, gravado pelo The Nutley Brass. O que você acha daquele disco, digamos, ultrajante?
Jerry Only – O “The Fiend Club Lounge” foi primoroso, simplesmente extraordinário. É muito engraçado e mostra que a música pode ser traduzida e repassada em diversas maneiras, e qualquer formato. Acho que é um trabalho obrigatório a qualquer coleção de verdadeiros fiends [N. do E.: apelido criado para os fanáticos pelos Misfits. Também o nome dado à caveira que se tornou o símbolo oficial da banda].
Whiplash! – Muitas pessoas se perguntam sobre o futuro dos Misfits. O que você tem em mente para os próximos anos?
Jerry Only – Temos planos de lançar um novo CD, também um DVD e, obviamente, seguir fazendo nossos shows, tocando em mais e mais turnês.
Whiplash! – Para finalizar, como você se vê daqui a dez anos? Podemos dizer que a banda Misfits acaba quando seu coração parar de bater?
Jerry Only – Como me vejo daqui a dez anos? Essa resposta é difícil. Acho que mais velho (risos). Mas talvez seja mesmo o batimento do meu coração que venha mantendo esta banda viva atualmente. No entanto, mesmo muito depois do meu fim, haverá gerações e mais gerações de corações dos nossos fãs batendo, e garantindo os Misfits como um grupo imortal.