Sou Diego Henrique Lima, tenho 14 anos. Hoje, 25 de dezembro de 2016, natal. Foi um ano grandioso para mim. Contudo, mesmo que quatro anos tenham se passado, ainda me lembro como se fosse hoje. Me lembro daquela grande noite. Afinal de contas, aquele maravilhoso natal jamais será esquecido...
18:30, 24 de dezembro de 2012...
Santa Luzia, Minas Gerais. Uma pequena cidade próxima à capital Belo Horizonte. 24 de dezembro, vésperas do natal de 2012.
-Vamos depressa, meu filho!!- exclama uma mulher, puxando um garoto pelo braço, em uma rua.
-Calma mãe! Não precisa disso tudo! Os convidados só vão chegar às 20:30 lá em casa. Pra quê tanto desespero?
-Justamente por isso, Diego.- fala sua mãe- Tenho pouco tempo para preparar tudo. Uma festa de natal não pode ser feita assim de qualquer jeito, ainda mais quando toda a família estará presente.
-Toda a família? Mesmo?- ele, espantado.
-Mesmo.- confirma- Inclusive alguns amigos meus. Hoje a casa estará cheia, querido. Bem cheia!
Rebecca e seu filho Diego correm pelas ruas do bairro. Ambos os dois segurando inúmeras sacolas, cheia de presentes e preparativos para o natal.
-Isso que dá deixar tudo para a última hora.- pensa ela.
Apressadamente, os dois chegam em casa. Trancam o portão e fecham a porta. Os dois colocam algumas das sacolas ao redor da árvore de natal , no centro da sala. As demais sacolas, sobre a mesa da cozinha.
-Diego, arrume os presentes e os embrulhe direitinho. Eu preparo a comida e os aperitivos, tudo bem?- pergunta Rebecca- Posso contar com a sua ajuda?
-Pode deixar comigo, mãe!- exclama o garoto.
Diego , atendendo o pedido de sua mãe, inicia o seu "trabalho" .Se assenta em frente a árvore de natal e retira os presentes das sacolas, embrulhando-os com cuidado e dedicação. Tranquilamente, o jovem analisa cada presente e, por consequência, pensa em cada membro da família que será presenteado. Sem saber o porquê, o filho de Rebecca começa a se lembrar de fatos antigos, alguns que ele jurava ter esquecido. Após terminar tudo, em pouco mais de 10 minutos, resolve se entregar a essas lembranças...
-Mãe, vou dar uma saidinha bem rápida e volto já!- grita ele da sala.
-Já terminou por aí??- pergunta Rebecca, da cozinha.
-Sim! Posso ir?
-Pode! Tome cuidado e não demore!!
Com a permissão da mãe, o garoto se levanta do chão e abre a porta da sala. Passa pelo portão e caminha pelas ruas do bairro. Com as mãos nos bolsos , observa a "movimentação urbana", olhando para todos os lados. As lembranças quais sua mente havia revivido navegavam na cabeça de Diego.
Seu pai, Guilherme, jamais chegou a se casar com sua mãe. Ela engravidou por um deslise de ambos, enquanto eram namorados. Iludida, Rebecca imaginou que Guilherme a amava e fizeram grandes planos juntos. Entretanto, no natal do ano de 2001, pouco antes do nascimento de Diego, Guilherme foi pego pela mãe do garoto com outra mulher. Desde então, mãe e filho vivem juntos. Sem nenhum apoio de Guilherme, Rebecca cuidou do seu filho com todo o amor e carinho que uma mãe pode oferecer. E ele jamais demonstrou ter interesse em ver seu filho.
A noite cai. Refletindo, Diego continua caminhando. Contudo, ao ver uma garotinha chorando debaixo de uma árvore, ele resolve se aproximar dela.
-Por quê você está chorando?- pergunta.
-E por quê você não está?- ela, ainda chorando, não se incomoda com a presença de Diego.
-Qual o seu nome?
Ela, antes cabisbaixa, ergue seu rosto e encara o garoto.
-Clarice.- responde.
-Me chamo Diego.- ele, sorrindo- Me diz ,Clarice...
Diego curva o corpo para ficar face a face com ela.
-Quantos anos tem e por que uma menininha tão linda chora em pleno natal?
-Tenho 8 anos. Eu choro por que não tem motivos para não chorar...
-Como assim?- pergunta o garoto.
Clarice se assenta na terra. Ele faz o mesmo, pronto para ouví-la.
-Meu pai morreu antes do meu nascimento. Minha mãe me abandonou faz 2 semanas. Ela não me quer mais e foi embora para bem longe. Só por que somos pobres e ela não tem condições de cuidar de todos os 5 filhos. Ela tinha me deixado na casa de um senhora, mas ela é muito rabujenta e má comigo. Fugi há 3 dias. Duvido que tenha notado minha falta...Não tenho ninguém, não tenho importãncia nem motivo para viver. Logo, não há motivo para deixar de chorar.
-Errado.- fala ele, espantando_a- Tem motivos para você deixar de chorar sim. E eu vou lhe mostras que motivos são esses. Confia em mim?
Ela sorri, falando:
-Sim, eu confio.
Diego toma o trajeto de volta para casa, acompanhado da menina. Chegando em seu lar com ela, Rebecca se espanta com seu filho trazendo consigo uma criança de rua. Entretanto, ele lhe explica a situação e ela entende, permitindo a permanência de Clarice ali. A menina toma um banho caprichado e recebe roupas aconchegantes, que foram usadas pela prima de Diego quando a mesma passou um período de suas férias ali. Assim que possível, Rebecca pretendia comprar tudo do bom e do melhor para que a garotinha pudesse recuperar a alegria de viver.
Minutos depois, finalmente os convidados chegam. Parentes e amigos, preenchendo o espaço daquela casa. Todos alegres e sorridentes, conversando com felicidade e entusiasmo. Porém, olham com frieza para Clarice. A rejeitam com esses simples olhares de desprezo e preconceito. Vários são os comentários pela casa. Para todos, uma jovem de rua ser recebida na casa dessa forma era inaceitável. Percebendo o clima de rejeição pairando no ar,Diego se levanta e declara, gritando:
-Quantas pessoas não têm um lar? Quantas pessoas não possuem entes queridos para compartilhar a alegria do natal? Quantos são aqueles que não têm motivos para comemorar, nem razões para se encher de felicidade? E , por outro lado, quantos se esquecem de ajudar o próximo? Ignoram o sofrimento alheio, fechando o olhos para a dor de quem nada tem? Por quê ...as pessoas são assim?
Todos ficam em silêncio. Um silêncio que reina por longos e duradouros segundos, que mais parecem horas e horas em um período sem fim. Até que ele o interrompe novamente:
-Eu nunca tive a figura de um pai na minha vida. Porém, nunca me queixei. Nunca reclamei da vida ou cheguei a me revoltar. Por que minha mãe sempre esteve comigo, me guiando e me amando. Isso foi o suficiente. Mas será que todos que passam por dor e sofrimento são assim?
Mais uma vez, segundos de silêncio.
-Acordem para a vida!!!- furioso- Está na hora dessa hiprocisia de vocês ter fim!
Todos, pensativos, ficam calados. As palavras do filho de Rebecca foram como um tapa na cara de cada um. Refletiram sobre seus própios ideais, seus conceitos e suas ações. Perceberam que estavam errados. Decidiram então serem amáveis e solidários com o sofrimento de Clarice. Foi de fato uma noite feliz.
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Foi então, nesse maravilhoso natal, que o melhor das nossas vidas aconteceu: Clarice encontrou a sua família. Esse foi o presente para ela. Ela foi o presente para nós. Após todos os processos legais, ela pode por definitivo encher nossas vidas de felicidade. Naquele momento que eu pude entender o verdadeiro significado do espírito de natal. Com o tempo, os demais membros da família foram se acostumando com a presença dela. Hoje, já é tão amada quanto eu. Não são os presentes, a fartura da ceia ou a animação da festa que mais importam. O mais valioso é o cultivo dos sorrisos verdadeiramente alegres que enfeitam e decoram essa época tão especial. Algo que, de fato, não tem preço...
Natal. O arder da chama da esperança.