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description[ANTIGO] [Aventura/Medieval/Fantasia] A Canção da Raposa Empty[ANTIGO] [Aventura/Medieval/Fantasia] A Canção da Raposa

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A Canção da Raposa
Aryella é uma princesa no reino de Kallyen, no extenso país de Bëhanor - país este onde vivem elfos, anões, dragões, feiticeiros e outras criaturas místicas. Após a sua família ser raptada e assassinada, ela tem que fugir numa batalha pela sua vida, ao lado do jovial cavaleiro Fernand Wheynn, filho daquele que comandou o massacre à família da princesa. Quando tudo se revela uma revolta dos humanos que vai muito além de um massacre familiar, todas as raças do país tornam-se expostas ao cruel poderio humano e tanto Fernand como Aryella estão sujeitos à tortura, uma vez que decidem se por contra a sua própria raça. Juntos, eles percorrerão todos os cantos de Bëhanor, à procura de segurança e de um exército para marchar contra as forças dos homens e saciar um sentimento que tomou conta da donzela e a transformou numa verdadeira raposa predadora: vingança.
Prólogo

As chuvas caíam sobre o piso de pedras, no pátio leste do castelo. O barulho das gotas se chocando com o chão e com as folhas das árvores que circundavam o octógono rochoso aprazia à princesa Aryella. A jovem donzela de dezesseis anos gostava dos dias chuvosos, pois eles lhe traziam doces memórias de sua infância. Antigamente, eram raros os dias que a chuva não vinha visitar a fortaleza de Kallyen e, toda vez que aparecia, trazia junto os primos que moravam em seus pequenos fortes ao redor do castelo principal. Juntos, corriam pelos vinte andares que compunham a torre central e principal de Kallyen.

Claro, algumas vezes essas chuvas também traziam tristeza, como era o caso das chamadas Chuvas Vermelhas. As guerras ocorriam, como é de se esperar, e também, como sempre acontece, tinham as baixas. Os corpos que conseguiam ser resgatados eram levados de volta às suas terras - vale ressaltar que só os nobres tinham essa dádiva - e, como que por sinal, as chuvas vinham fortes e as rajadas de vento sopravam todas as folhas cor-de-sangue dos bordos vermelhos do pequeno reino de Greeven. Fora em uma das Chuvas Vermelhas que seu avô tinha voltado da guerra e dormido no suave sono da eternidade.

Aryella saiu da janela onde estava debruçada e caminhou para o salão de entrada do castelo. Naquele dia, o local estava com velas penduradas pelas paredes e o enorme lustre de duzentas velas, aceso; o gigantesco tapete preto com traços de esmeralda, que se estendia da porta principal ao topo da escadaria, tinha sido trocado por um outro, ligeiramente maior, cujos tons de anil e turquesa pareciam brilhar e refletir nos altos tetos do salão como se fosse um rio iluminado por baixo. Estendia-se do topo das escadarias de dentro até o pátio de entrada, outrora chamado apenas de pátio sul.

"Alguém importante vem aí" pensou consigo mesma, tentando lembrar a que família aquelas cores pertenciam. "Seriam os Lime ou os Weynn?"

Ela soube, então, quando o príncipe entrou, molhado, em sua armadura anil com um grande corcel detalhado em turquesa na placa de peito e outros desenhos semelhantes, porém em menor tamanho, espalhados pelo resto do equipamento de guerra. Seu elmo jazia sob o braço direito, permitindo que a donzela pudesse admirar seu belo rosto. O rapaz faria dezessete em algumas semanas, no entanto, tinha o corpo e o comportamento de um nobre lorde. Era alto, de ombros largos, com cabelos curtos, negros como a escuridão pode ser e levemente enrolados, maxilar quadrado e o nariz um pouco longo. Ah, sim... E seus olhos, duas pedras brilhantes, oscilando entre tons de ciano e violeta. Aqueles olhos magníficos deixavam a maioria das garotas derretidas, sempre deixaram, mas não Aryella. Esta, particularmente, detestava tais olhos e, se não fosse por uma questão de cortesia e segurança, teria arrancado os olhos daquele ali em sua frente.

- Príncipe Weynn. - disse, docilmente, a donzela, enquanto segurava os lados de sua saia e curvava os joelhos, numa rápida e suave graciosidade. - Bela armadura, senhor.

O cavaleiro curvou-se, em cortesia, e retornou à posição ereta que estava, porém, agora mais próximo da princesa.

- Fico contente por admirar a armadura, Lady Greeven. - ele sorriu. - Como as coisas estão indo no reino?

- Relativamente boas. Vez ou outra temos uma Chuva Vermelha, mas, deuses, agradeço quando essas chuvas vêm. As chuvas, num geral, têm ficado escassas nos últimos anos.

- Isso é bem verdade, nas terras de Waterbright, vizinhas às nossas terras Weynn, todos os rios, lagos e cachoeiras com as águas brilhantes têm secado cada vez mais. Mas um sol cairia bem agora. - o cavaleiro soltou um risinho.

Só então ela tinha notado o quão molhado o jovem estava e, por maior antipatia que ela pudesse manter por ele, tinha que ser educada.

- Perdão, príncipe Weynn! Por favor, siga-me até o quarto de hóspedes. Lá há uma banheira, mandarei os criados a encherem com água quente. - "Se possível, fervendo. E por um momento eu pensei que pudessem ser os Lime. As cores deles são lima e prata, sua estúpida!".

- Não há problemas, princesa. Agradeço, antes de mais nada. E pode me chamar de Fernand. - e, outra vez, deu o sorriso malicioso.

Seguiam até o quarto andar, onde ficavam todos os quartos de hóspedes, e, durante o caminho, foram conversando.

- Veio de tão longe, prin... Fernand. Como estão as estradas?

- Como sempre foram: cheias de ladrões, esfomeados, sem-tetos, corvos e lama.

- Oh, essa chuva deve ter piorado a situação - comentou Aryella. - Deseja que o cavalariço limpe seu corcel, imagino.

- Ficaria agradecido, senhora.

Estavam subindo as escadas para o quarto andar, quando Aryella percebeu uma coisa.

- Onde estão os outros?

- Que outros?

- O resto da sua família. Minha mãe e meus irmãos tinham ido encontrá-los nos portões do reino e até então não voltaram...

O príncipe parou de súbito, na frente dela, e soltou uma risada de deboche. Em seguida, puxou a espada da bainha numa velocidade incrível, ao passo que Aryella jogou-se para o lado, puxando um punhal de uma pequena bainha presa à sua canela.

- Eles estão tomando o seu reino. Já devem ter acabado com a sua família e em breve estarão aqui para matar você também. Pode guardar esse punhal, eu vim ajudar você.

- Mas porque demorou tanto...?! - ela gritou. Não era fácil acreditar no que ele dizia, muito menos quando ele era irmão de quem era.

- Eu sei que há uma saída no quarto andar que leva para um calabouço que dará fora do reino.

- C-como você sabe disso? - nem ela própria tinha conhecimento daquilo.

- Seu pai confindenciou a mim antes de morrer.

- M-m-meu pai... Está... morto?! - ele tinha saído para batalhar junto aos Lime, Wheynn, Allcanter e Wolfend há um mês, prometeu que voltaria.

- Sim, e é melhor você se apressar agora, se não quiser juntar o seu cadáver ao dele, princesa.

E assim, príncipe e princesa fugiam para o fim do corredor direito no quarto andar, pulando dentro de um alçapão no chão. A última coisa que vislumbrou, por entre as lágrimas, foram os olhos brilhantes de Fernand, e então a escuridão do calabouço tomou conta.

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Capítulo 1 - Marvin I

Marvin subia as escadas de pedra em espiral da Torre da Luz, com seus livros pesando sob o braço direito e seu manto roxo raspando suavemente nos degraus abaixo do estudante dos Artifícios Mágicos de Lanzzor. Ao chegar no topo da escadaria, abriu a porta de madeira escura e entrou na sala de estudos. Era um ambiente escuro, com apenas uma janela, com um formato de meio-sol e meia-lua juntos, escrivaninhas de pinheiro seguidas por bancos negros com espaço suficiente para duas pessoas. Na frente da sala, um altar servia de base para uma longa mesa repleta de ônix, cuja superfície encontrava-se quase que totalmente ocupada por grossos livros, pergaminhos e penas, e para um grandioso trono escarlate. A janela ficava posicionada na parede, atrás e um pouco acima do trono.

Naquele momento, não havia ninguém na sala. Marvin Lywers tinha o costume de chegar mais cedo, para ver o que poucos da classe viam: o lado solar da janela ser iluminado. A tal janela possuía um certo misticismo, uma certa magia, se as lendas estivessem certas. Dizia-se que há 400 anos, quando a Fundação de Ensinos Místicos fora criada, Dylanos, o feiticeiro-mestre e fundador, lançara um feitiço na única janela da Torre da Luz que faria com que, durante o dia, apenas a metade solar brilharia, refletindo a luz para dentro da sala no topo da torre e armazenando a energia branca do sol; durante a noite, o lado lunar libertaria toda a energia branca armazenada, acendendo os candelabros e lustres da torre. Esse ciclo não permitia que a torre ficasse escura em nenhum momento, por isso o nome Torre da Luz. A Torre só era usada à noite pelos estudantes dos Artifícios Mágicos de Lanzzor e, durante o dia, pelos mestres e por estudantes já consagrados com a benção Lanzzoriana.

Algum tempo depois da chegada de Marvin, os demais estudantes chegavam, barulhentos, como de costume. Todos os dias os jovens chegavam conversando sobre os mais diversos assuntos e notícias. Naquele dia, um acontecimento, em especial, era comentado pela maioria das vozes.

- Os Weynn invadiram Kallyen - disse uma voz grave.

- O castelo dos Greeven? - uma garota falou, em resposta.

- Sim, e, pelo que eu soube, tomaram o reino e mataram todos eles - respondeu o dono da primeira voz, em resposta.

A porta de madeira rangeu, e o grupo de estudantes jorrou para dentro. As pessoas continuavam a conversar, e sentavam-se nos bancos. Ao lado de Marvin, sentou-se uma garota de cabelos ruivos, com o rosto escondido sob a sombra do capuz. Ela não falava nada, e ele nunca tinha a visto antes.

"Uma principiante" pensou o jovem estudante.

A conversa na sala perdurou por um tempo, falando sobre massacres de famílias, traições e fugitivos, porém, terminou abruptamente, quando o som do cajado do Mestre tocando os degraus de pedra ecoou pela sala. Não tardou, o professor apareceu à porta e caminhou até seu trono.

Mestre Lan Piwters era um homem velho, porém de costas retas, era branco como a mais pálida das neves, possuía grandiosos cabelos e barba, ambos cinzentos e na altura da cintura, e possuía olhos laranjas, num tom flamejante. Em segredo, alguns alunos diziam que ele era mais velho do que a Múmia de Eygor e usava magia para manter os olhos jovens e intactos. Para aquela aula, trajava um manto vermelho, que cobria todo o seu corpo e dava um certo realce ao seu olhar. Era tão alto como um velho pode ser, ainda que pudesse passar pela porta da sala sem ter que se abaixar, mas continuava assombrosamente alto.

Sentou-se no trono, colocou as mãos, ossos puros com amareladas e pontudas unhas nas extremidades, sobre a mesa, pigarreou e, então, vociferou:

- Noite, seres imersos na escuridão do desconhecido e iluminados pela sabedoria.

Em uníssono, todos os estudantes, exceto pela garota ao lado de Marvin, responderam:

- Noite, Mestre, fonte de nosso saber, nossa chama e salvação da escuridão.

O velho passou a mão pelos livros sobre a mesa, puxou um, o mais grosso, o abriu, e deu inicio à aula.

- Hoje, alunos, aprenderemos a não aprender. Saberemos como não saber. - fez uma pausa, folheou o livro e continuou - De modo mais preciso, aprenderemos sobre os perigos e consequências de saber demais.

Marvin mirou de relance a estranha iniciante ao seu lado. Ela permanecia rígida como uma estátua, e seu rosto permanecia escondido nas sombras. Achou estranho uma iniciante entrar àquela altura, quando, para uma grande maioria da turma, a vida de aprendiz estava próxima do fim. Marvin estava incluído nessa maioria, faltando apenas as aulas sobre Desencanto de Feitiços de Fadas, Feitiçaria Branca Ofensiva e, por fim, sobre Sabedoria, a qual estava ocorrendo no momento. Iniciantes tendiam a entrar nas aulas de Feitiçaria Branca Básica, História de Lanzzor ou Introdução à Magia - Marvin entrara nessa última. De qualquer modo, não era totalmente incomum que alguém chegasse nas aulas "finais", ainda que, claramente, aquela garota tivesse algo de errado.

- Esta noite, trago um desafio vital - disse Mestre Lan Pewters. O desafio vital ocorria pelo menos três vezes na vida de um aprendiz. O professor ditava uma tarefa, uma ordem para os alunos e quem a descumprisse era expulso e impedido de retornar à Fundação. - Há, entre vocês, quinze novos aprendizes. Cada um deles possui um segredo intrigante, e caberá a vocês não descobrir o segredo. Assim, saberão o quão terrível é saber além do que se deve.

Alguns alunos começaram a sussurrar, outros se entreolharam e uns poucos se puseram a soluçar. Lywers sentiu um frio na barriga e tirou os olhos da garota ao seu lado, evitando olhar, tocar e pensar nela.

"Meu futuro está nas mãos dessa garota" pensou. "Não posso permitir que ela jogue fora tudo aquilo pelo que eu batalhei".

- Nas estradas e na maioria dos reinos, nós, praticantes e estudantes das artes de Lanzzor, somos referidos como "os Sábios". De fato, somos, em nossa maioria, sábios, entretanto, não somos sábios por saber demais, mas sim por saber o necessário e por usar corretamente a nossa sabedoria - a voz do Mestre ressoava pelo recinto. - Há diferença entre aquele que sabe tudo e aquele que sabe o que deve saber. Um se exaltará, mas não passará de um grão de areia; o outro não usará a sabedoria para se idolatras, mas sim para viver e aconselhar, este forma um deserto.

Uma rajada de vento frio entrou pelo lado solar apagado da janela, fazendo com que as luzes tremessem levemente.

- A sabedoria bem medida lhe levará para um caminho certeiro: a luz ou a escuridão. Como estudantes dos Artifícios Mágicos de Lanzzor, tendemos à luz, mas os estudantes da Magia de Hanzzor pendem muito mais às trevas. Quando se é um sabedor excessivo, você não caminha para nenhum destes caminhos, segue um ramo vazio e eterno, com palavras e sabedorias vazias. Mas sempre há a salvação. Aprenda a sabedoria do esquecimento, e esqueça toda a sabedoria desnecessária. Então, e somente então, poderá escolher, por uma segunda e última vez, entre a luz e a escuridão.

"Sim, você tem a chance de se tornar um sábio de verdade, mas a sabedoria excessiva deixa marcas profundas e eternas que continuarão ali, independente de escolher luz, trevas ou permanecer no vazio." - ele se levantou, desceu do altar, desatou os nós de seu manto e o deixou cair - "Essas são as minhas marcas, por uso de magias não necessárias, que conheci sem ter de conhecer, que consumiram minha alma e meu corpo, como vocês podem ver."

O jovem Marvin quis chorar. O corpo do Mestre era demasiado magro, muitíssimo esquelético, de modo que os ossos pareciam prestes a rasgar a fina camada de pele a qualquer momento. Pele esta que possuía inúmeras marcas vermelhas, algumas das quais ainda escorria sangue, que davam um aspecto ainda mais fantasmagórico à palidez do velho. Essas marcas, profundas feridas, espalhavam-se pelo tronco, pelas pernas e pelos braços. Um pano cobria as intimidades, um pouco manchado de vermelho, o que indicava que haviam feridas ali também.

A garota ruiva começou a soluçar e virou-se para Marvin. Ele viu seus olhos, tão alaranjados quanto seus cabelos e, por um momento, uma luz percorreu seu rosto e ele viu a pele pálida como só vira em uma pessoa antes...

- Ele é seu p... - ia dizer, quando lembrou-se do desafio vital.

... Mas era tarde demais. A menina compreendeu o que ele queria dizer e acenou positivamente com a cabeça.

- E estas serão suas marcas, ex-aprendiz Marvin Lywers, sabedor excessivo e mais recente exilado da Fundação de Ensinos Místicos.

"Não, não, não!" ele pensou, querendo gritar. "Não está acontecendo!"

- Você ousou saber demais e agora ruma ao vazio. Levante-se agora, deixe seu manto e abandone a Fundação.

Ele levantou-se, tremendo, tirou seu manto (que mais parecia uma capa, ao contrário do manto do Mestre, que era como um vestido) roxo. Pegou seus livros e saiu da sala, ainda sem acreditar no que estava acontecendo.

"Por quê estou saindo sem questionar? Claro, uma das magias do Mestre" pensou "O que farei agora?"

Saiu do gigantesco castelo que era a Fundação e passou pela vila que o cercava. Quando adentrou a floresta, uma chuva começou. Continuou a caminhar, com seus cabelos loiros grudando na face e os livros bem apertados contra o peito. Mais a frente, encontrou uma ponte sobre uma grande catarata. Pensou em pular dali, acabar com tudo. Desde sua infância, esteve decidido que seria um Mestre de Magia Branca e que lideraria batalhas contra elfos noturnos, fadas da morte e outras criaturas das trevas. Uma pequena fada do rio passou por cima da ponte e caiu sobre a catarata, rapidamente sumindo de vista.

Decidiu-se e colocou o primeiro pé na ponte, quando ouviu um barulho no matagal a sua direita.

E então, um homem arfante e uma donzela em prantos surgiam de algum buraco escondido sob o mato.

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Capítulo 2 - Minerva I

O bosque jazia numa doce calmaria. Os sons do rio Carzzo, do farfalhar das folhas ao serem tocadas pelo vento, dos pássaros e gaernukes voando por entre as árvores...

A fada caminhava sob os raios de sol que perfuravam as árvores, com seus grandiosos cabelos rosados passando pela terra. Ela inspirou o suave ar natural e sentiu-se poderosa uma vez mais.

Minerva fora uma fada natural, isto é, possuía força sobre os elementos naturais - fogo, água, ar e terra - e outros derivados. No entanto, como qualquer fada natural, ela chegou à idade em que um dos elementos primordiais predominam. É um processo comum, inevitável e de resultado imutável, de modo que a fada nasce predestinada a ter dominação daquele elemento. No caso de Minerva, o elemento predominante foi o pior que poderia ter dominado-a.

Ela sempre brincava no bosque, banhava-se no rio e usava a brisa forte para impulsionar suas coloridas asas. Temia as fogueiras da noite, elas faziam-na se lembrar de seu antigo povoado e de sua família, todos tomados pelas chamas. O fogo a repelia e ela repelia ao fogo.

Desde sua Primavera Natural - o momento em que o elemento dominante se mostra efetivamente -, mantivera-se presa dentro de sua árvore por dias e dias, até se conformar com o fato. Não se acostumou, mas seus instintos à obrigaram a sair e retornar para o mundo.

Após a Primavera, era comum que os sentidos das fadas ficassem mais aguçados, Minerva estava gostando disso, sentia-se mais viva do que nunca. Quase esquecera que fora acolhida pelas chamas.

Se pôs a caminhar na trilha central do bosque, vendo outras pequenas fadas correrem e brincarem, felizes, com suas asas multicolores. As asas de Minerva já tinham começado a se avermelhar, a perder toda aquela vida que uma vez possuíram. Ela podia sentir seu interior mais fervoroso, como se uma fogueira começasse a se acender dentro de si.

Por um momento, manteve-se perdida em seus pensamentos, enquanto seus olhos, abertos porém sem nada ver, miravam as crianças, e, então, algo chamou sua atenção, incomodou seu sensor natural. Vinha do leste, do outro lado do rio, na direção dos humanos. Não era algo preciso, algo definido, parecia uma mistura de forças, de poderes...

Levantou-se do chão, sacudindo as asas e apressou-se a voar na direção de onde o poder era emanado. O mundo passava em forma de vultos ao seu redor, de suas asas saltavam pequeninas bolas de luz e seus cabelos esvoaçavam para trás de um jeito majestosamente esplêndido. Pousou num campo aberto, cercado por poucas e pequenas árvores e repleto de rochas cercando o solo arenoso.

"O Círculo de Daryna" pensou. "A ameaça está aqui, posso sentir..."

Ia voltar a voar para procurar mais avante, quando a sentiu.

Uma enorme bola de fogo passou por ela e teria a queimado, se não tivesse desviado rapidamente. Virou-se e viu um negro vulto, que logo desapareceu. O chão começou a se abrir sob seus pés, ao passo que ela ergueu-se no ar.

- Quem é você? - gritou, para qualquer lugar.

"Não, não posso me apossar das chamas agora..." pensou.

Um tornado surgiu de dentro do buraco, com tamanha força que a fada foi sugada para dentro dele.

"Não... posso... Não... posso... Não..."

E então ela se viu sem alternativa. O calor aumentou gradativamente dentro de si, ela mirou o céu e forçou as chamas para fora de si. Como fosse uma tocha, um círculo flamejante circulou o corpo de Minerva, que se impulsionou para fora do círculo de vento, fazendo um arco no ar e mantendo-se em voo. Sua visão parecia ainda melhor, de modo que conseguiu sentir com maior precisão a localização do vulto.

"As chamas... Me sinto tão forte. Por quê estou assim?"

Levantou uma mão na direção onde ela pressentia o vulto e focalizou ali. As espirais de fogo passaram do corpo todo para seu braço direito e dali seguiram, rápidas e fortes, para o espasmo escuro. Uma explosão no solo levou uma grande porção de areia para cima, mas o alvo não fora atingido.

Rochas foram levantadas do solo e unidas de modo a formar um grande punho. O vulto parou no centro do campo, de mãos erguidas. Vestia um manto azul escuro, e tinha um sorriso malicioso no rosto. O punho girou no ar repetidamente e, então, desceu com uma força descomunal sobre Minerva. A fada de fogo projetou um pequeno escudo flamejante em sua frente, e, ao chocar-se com o punho de pedra, rachou-se e explodiu contra o punho, fazendo pedras voarem para todos os lados.

- Pare com isso! - ela gritou. - Pare!

Minerva esperava que as demais fadas estivessem por perto. O poder que aquele homem emanava era forte demais, impossível de passar despercebido por um sensor faereu - o sensor das fadas -, no entanto, elas não chegavam. O coração de Minerva começou a palpitar mais aceleradamente.

- Suas companheiras não virão, pequena fada flamejante - o homem no manto disse. - Invoquei uma barreira que impede que ambas as nossas vibrações sejam sentidas do lado de fora.

Tremendo, ela começou a pousar, lentamente.

- Q-quem é você?

- Tenha calma, flammar faereus.

Minerva desconhecia o primeiro termo.

- O que d-disse?

- Flammar faereus. Significa fada flamejante, é como eram denominadas as fadas de fogo antigamente.

Disfarçadamente, ela dava pequenos passos para trás.

- P-por quê você está fazendo isso?

- Sou um mago naturalista recém fugido de um massacre, tinha os quatro tipos de fadas naturais e umas tantas outras também. Todas jazem mortas, provavelmente - ele acenou a cabeça, penosamente. - Preciso continuar meus estudos, logo, emiti minhas forças, desejando atrair uma fada qualquer e, veja bem, consegui uma rara flammar!

Quando criança, antes de ter seu vilarejo varrido pelo fogo, Minerva aprendera que haviam pessoas que capturavam fadas para tentar reproduzir e aperfeiçoar seus próprios poderes. Os primeiros que obtiveram sucesso nisso foram os nômades vindos do deserto de Margoz. Aqueles que dominavam as técnicas eram chamados de magos e passavam seus conhecimentos a outros noviços, ajudavam-nos a capturar as fadas.

- V-você... - não conseguiu terminar a frase. Tocou na barreira e sentiu uma forte descarga elétrica percorrer seu corpo.

"Dói muito..." pensou, quando sua visão começou a ficar turva e seus olhos começaram a se fechar. "Não... Preciso voltar... Ele vai..."

E então o mundo escureceu e ela sentiu o calor interno se reduzir.

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Capítulo 3 - O Domador de Navios (Vasod I)

As águas do Mar de Abyss sempre foram traiçoeiras, mas, ainda assim, bem movimentadas. Vasod sabia disso mais do que qualquer um. Sendo o corsário renomado que era, ganhara sua alcunha após conquistar cem navios e saquear mais de trezentos durante uma tempestade no Mar de Abyss.

O Domador de Navios era como o chamavam. Ele caminhava pelo convés de seu navio principal, o Príncipe das Águas, por entre os demais piratas correndo de um lado para o outro. Sobre todos eles, uma grande bandeira ondulava e se debatia com a forte ventania.

Atrás deste navio, vinham outros três, conquistados na Baía de Parmonn, a caminho do grandioso mar onde se encontravam agora. Cerca de cem navios jaziam mais ao horizonte, dirigindo-se para locais além da vista do Domador, mas não importava o quanto se distanciassem, quando um corsário escolhe sua presa, ela está condenada à ruína. Outros navios começavam a surgir no oceano, mais próximos ao Príncipe das Águas.

O Domador debruçou-se na borda do navio, mirando o longínquo sol poente, deitando-se, vermelho como sangue, atrás de montes de navios que apareciam de repente. Um homem baixo, de barba rubra e dentes dourados, com uma barriga um tanto grande, aproximou-se dele.

- Observando as sereias, capitão?

Vasod desviou os olhos para baixo e pôde enxergar as sereias nadando em movimentos circulares com suas caudas escamosas e coloridas, onde a luz do sol batia e refletia.

- Elas ficam bonitas ao pôr-do-sol, não é mesmo Meyer? - respondeu, sorrindo. - Mas não, não são elas que atraem meus olhares, embora estejam dignas de atrair o olhar de qualquer homem.

Meyer afagou sua barba ruiva e pigarreou.

- O que há de olhar então?

- Vê aqueles navios ao horizonte? - apontou para a grande frota que vinha em sua direção. - Não estavam nos meus planos, podem atrapalhar tudo.

- Como exatamente? - perguntou Meyer - Achei que você só quisesse conquistar um dos navios das Terras do Sol, no entanto, aqui aparecem dezenas e você reclama.

Vasod bufou. Ele e Meyer eram tão diferentes, tanto no físico quanto no mental. Enquanto o capitão possuía uma rala barba crescente, o outro tinha uma grande e bem-cuidada barba tão vermelha quanto vinho; o Domador era alto, forte, de pernas grossas e corpo bem definido, já seu companheiro era baixo como um anão das extintas Cavernas Escuras, com pernas atrofiadas e corpo um tanto gordo. Um pensava bem antes das decisões, o outro queria apenas partir para a guerra com seus dois machados de prata.

- É como você disse: eu desejava apenas um. Essas dezenas não são navios comuns, são navios das Terras do Sol, você sabe o que é isso? - indagou. - Os mais poderosos navios existentes no mundo, com uma tripulação muitíssimo bem preparada. Um navio pode ser tomado, dois, não, quanto mais uma centena.

Um pirata bêbado vinha cambaleando na direção deles, apoiando-se um pouco ao lado do capitão, vomitando da beirada do navio.

- Ainda acho que seria melhor invadirmos o porto das Terras do Sol pela noite e levar o máximo de navios que conseguirmos - o ruivo disse.

- Ninguém nunca cruzou o Mar de Abyss inteiro, além dos próprios Solares. Ninguém ousa fazê-lo.

- Você quase conseguiu uma vez, Domador - Meyer soltou uma retumbante gargalhada. - Eu me lembro muito bem...

O olho descoberto de Vasod virou-se e mirou, de modo quase cruel, o pobre corsário.

- Eu também me lembro, todo bendito dia, toda vez que me clamam Domador, toda noite quando acordo de meus pesadelos - ele disse, levantando-se da amurada. - Lembro bem de todo o lucro que tive naquele dia...

- E quem não lembra? - zombou o outro.

O Domador o ignorou.

- Mas também me recordo dos prejuízos. De um deles em especial - e ele tocou com dois dedos no seu tapa-olho que cobria o globo ocular direito. - E também lembro-me de ter perdido minha vida ali.

- Era só uma mulher, garoto. Mulheres se encontram em quaisquer bordéis de portos.

Subitamente, Vasod lançou seu punho com força sobre a face do companheiro, que caiu sobre as nádegas, ao chão.

- Nunca mais se dirija a ela assim, seu bastardo - ele disse, entredentes.

Virou-se e caminhou à proa do navio, com sua capa escura esvoaçando e o suor do nervosismo escorrendo sob seus rebeldes cabelos negros.

- Daremos meia volta - informou aos piratas. - Agora.

Um deles, um tipo pequenino de nariz esticado e olhos amendoados o disse:

- Isso não será bem possível, capitão.

- Como não?

O pequeno tremeu, ergueu os ombros e disse duas palavras:

- Estamos cercados.

Um pânico começou a se incendiar dentro do Domador. A noite estava chegando, uma chuva começava a cair, a frota das Terras do Sol estava ainda mais perto. Não havia uma saída além de...

- Abandonar navio! - começaram a gritar um servente qualquer, no meio do convés.

Uma flecha surgiu no meio de sua cabeça, vinda de uma besta nas mãos de Vasod.

- Permaneçam no navio, suas maricas. Nossa única alternativa é contornar a frota dos Solares, mas, para tal, precisaremos cruzar o Mar de Abyss - o medo da tripulação era palpável. - Poucos ou nenhum irão sobreviver, a não ser que sejamos abençoados pelo Deus das Águas.

De repente, um tiro de canhão soou e o mastro de um dos navios que vinham atrás quebrou-se e caiu no mar.

- Estamos sob ataque! - alguém gritou.

E então tudo aconteceu simultaneamente.

Mais tiros soaram e os dois outros navios afundaram, relâmpagos retumbaram ao longe, a chuva aumentou rigorosamente e um tornado começou a se formar na maré. Todos os navios, incluindo os dos Solares, eram atraídos num movimento circular grandioso.

A noite chegara, mas os relâmpagos e raios faziam barulho e emitiam luz tal como um dia festivo. Do centro do redemoinho algo começou a brotar. Algo não... Alguém.

Era uma criatura um tanto grotesca, tinha uma forma humana, mas seu corpo era todo feito de água. Seus olhos eram duas grandes bolas laranjas com escuras fendas no meio, seu cabelo, um tufo de algas azuis e verdes caídas sobre seus ombros. Trazia um tridente aquático em uma mão e erguia a outra para os céus. Tinha um sorriso malicioso no rosto e, quando falou, sua voz ressonou como se todo o mundo pudesse ouvir, como se viesse dos céus...

- Hoje Papyrus terá uma ótima refeição, kh kh kh... - sua risada parecia um guincho de ratazana. - Sintam a ira do Príncipe das Marés, Hidron, o Filho de Hidros, deus dos mares, marés, águas e oceanos!

Enquanto ele discursava, navios ainda eram sugados para o centro, sendo absorvidos, afundados ou destruídos. Em meio ao caos, alguém disse:

- Uma benção dos deuses! Nossa salvação!

Hidron gargalhou.

- Eu sou tudo, caro mortal, menos uma benção - ele virou-se para o Príncipe das Águas. - Definitivamente, não sou sua salvação.

Ele apontou o tridente para os navios ao redor do Príncipe, murmurou alguma coisa e, de repente, eles explodiam numa fusão de água e raios.

- Papyrus está querendo um petisco - disse. - Pegue, Papyrus!

O que é esse Papyrus? pensou Vasod. E descobriu logo.

Um grandioso tentáculo surgiu do fundo do mar, erguendo-se no mais alto dos céus, em seguida enrolando-se em dois navios Solares, esmagando-os e os puxando para baixo.

- Ah, não... Isso não - ele disse, com o coração saltando. - Cuidado! Ele tem um kraken!!

Provavelmente, Hidron ouviu, porque virou-se para o capitão e gritou:

- Não adianta se precaver! - soltou mais uma risada, então apontou o tridente para Vasod e disse: - Fluxus Inversus!

Um jato imenso de água empurrou-o para trás, tirando-o de seu navio e levando-o no sentido contrário ao da corrente marítima. A água o levou até um grande rio que desembocava ao mar, e, lá, ele seguiu no fluxo inverso ao comum do rio. Ao chegar numa catarata, ele começou a subir na água. Quando chegou ao topo, viu as enormes ondas do Mar de Abyss se tornarem um conjunto imenso e devastador, uma avalanche aquática, que desceu sobre todos os navios e sobre o pequeno povoado que existia na beira dos portos.

Meyer, pensou. Meu pobre amigo...

E sentiu uma mão puxar seu pé em meio à cachoeira. Olhou para baixo.

Não era uma mão, mas um tentáculo.

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Capítulo 4 - Fernand I

Os sinos da povoação tocavam freneticamente. Algo acontecia, isso estava claro demais para o grupo. Ultimamente, muitas coisas aconteciam o tempo todo... Coisas ruins, na maioria das vezes.

Fazia cerca de um mês, eles encontraram o ex-aprendiz de Lanzzor, Marvin, expulso da Fundação de Ensinos Místicos, que decidira juntar-se a Fernand e Aryella. Eles se encontraram subitamente, quando o príncipe e a princesa saíam dos escuros túneis de fuga. Marvin mostrara-se bastante útil, pois conhecia aquela região tão bem quanto alguém poderia conhecer, e ele que determinou o destino do bando.

- Devemos ir para o Monte Zareon, lá há um grande fluxo de elfos-mensageiros, seria o ideal para informar a todos sobre a rebelião dos humanos - ele dissera. - É muito expositivo, mas é o caminho mais rápido.

E assim eles seguiram para o Norte, rumando às Neblinas Infernais e à grande elevação dentro delas: o Monte Zareon. No trajeto, passaram pelo Campo dos Florestais, um dos principais focos de convivência de druidas, conseguindo converter o Campo à sua causa. Como uma "oferenda" e símbolo de união, dois druidas foram aderidos à equipe de Fernand: a elfa Delin, com seu falcão, Rakh, e o halfling Azaro, junto da ursa Delilah. Em seguida, depararam-se com um centro de Sacerdotes de Lanzzor, onde Marvin relatou o acontecido em Greeveen e o plano de união de Aryella. Lá, os sacerdotes acordaram em espalhar-se pelas terras, unindo cada vez mais criaturas.

Agora, passavam próximos à Cidade dos Pescadores, uma pequena povoação portuária, banhada pelo Mar de Abyss, agora invisível, coberto pela neblina da chuva e por uma sucessão de raios que caiam ali. Estavam numa colina, próximos a uma ponte sobre uma cachoeira que desembocava no oceano.

- Tem algo errado, posso sentir a natureza alterada - disse Azaro. - Delilah também se sente inquieta.

- Há algo distorcendo o foco da água. Algo como um redemoinho dentro do mar, talvez - Delin ressaltou.

Os druidas eram descritos nos livros como selvagens, no entanto, aqueles dois não pareciam selvagens. Azaro era pequeno e magro, como é próprio de um halfling, com seus curtos cachos loiros e olhos acobreados, tinha uma aparência agradável. A elfa, Delin, era esguia, de olhos totalmente preenchidos de um tom roxo florescente que parecia brilhar durante a noite e com um cabelo curto da mesma cor dos olhos. Ambos tinham a pele um pouco esverdeada, a única coisa verdadeiramente selvagem em sua aparência.

- Os sinos... Eles estão evacuando o povoado - notou a princesa Aryella. - Parece que a maré está invadindo o porto. Deveríamos ajudar?

Ninguém respondeu nada. Não precisavam responder, não tinham o que responder e não conseguiriam dizer uma palavra sequer: uma onda enorme surgira em meio à tempestade no Mar de Abyss e descera com tremenda violência sobre a Cidade dos Pescadores, levando pessoas, casas, barcos e tudo o mais que estivesse à disposição. O povoado permaneceu submergido e, no mar, uma criatura de olhos brilhantes

Fernand, que mantivera-se calado até o momento, quebrou o silêncio:

- Vocês viram?

Azaro o olhou, incrédulo, como se tivesse proferido uma ofensa.

- É possível que alguém não tenha visto isso?! Uma cidade inteira submergida!

- Não, não é isso... - o cavaleiro já não estava tão certo do que tinha se passado ali. - Havia algo. No mar. Não sei dizer o que era, mas...

- Um deus baixo - disse Delin. - Eu senti, tenho certeza.

- Um o quê? - perguntou Aryella.

- Deus baixo. Geralmente são filhos dos grandes deuses, mas de poderio menor - ela explicou. - Mas esse poder não era tão pequeno assim. E só há um deus baixo com tamanha força.

Azaro terminou o pensamento:

- Hidron, o caótico filho de Hidros. Ele vive na região do Mar de Abyss, não me recordava disso.

Um grito súbito interrompeu a discussão, e o grupo se virou para a direção de onde o som vinha. Parecia vir da cachoeira sobre a ponte. Quando começaram a correr para a água, um tentáculo monstruoso surgiu, elevando-se aos céus. Fernand precipitou-se, correndo para a queda da cachoeira, de onde o grito soara uma vez mais. Encontrou um homem segurando-se a um pedaço qualquer de madeira, entalado entre a precipitação e uma rocha lateral, sendo puxado para baixo por um outro tentáculo.

- Tomem cuidado! - gritou para os outros. - É um kraken!

Ele desembainhou sua espada, saltou para uma grande rocha mais abaixo de onde estava e mais próxima do homem desesperado. Arrastou-se para a ponta da rocha lentamente e, então, brandiu a espada e desceu-a sobre o tentáculo que puxava aquele homem. Precisou atacar mais duas vezes para cortar o pedaço do tentáculo de vez. Devolveu a espada à bainha e esticou seu braço para aquela pessoa assustada.

- Confie em mim. Segure meu braço e pule para cá, antes que outro tentáculo apareça aqui - ele percebeu que o outro pedaço do tentáculo permanecera apertado em volta da perna do homem, ainda que não o estivesse puxando mais.

O cavaleiro puxou-o para a rocha e, juntos, subiram na colina novamente. Ao invés de só um tentáculo, o grupo enfrentava agora três. Delin usara um feitiço que fazia a água subir pelos tentáculos como raízes de uma planta, o que dificultava o movimento, mas não o impedia. O halfling conjurava outras magias diversas, lançando rajadas de ar, bombas de água e conjurando presas de javali, que lançava contra o kraken. Enquanto isso, Marvin conjurava uma bolha de luz que ia crescendo e se distorcendo conforme ele murmurava algumas palavras.

Fernand avistou Aryella, com sua besta, atirando um ou outro dardo sobre algum tentáculo quando conseguia. Carregou o jovem impossibilitado de andar até ela.

- Cuide dele, por enquanto, por favor! - implorou. - Veja se consegue dar um jeito na perna dele.

A princesa assentiu. Sua testa estava suada e suas bochechas, coradas. Os cabelos desgrenhados e os olhos cansados... Ela nunca parecera tão atraente aos olhos de Fernand como parecia naquele momento. Aproximou-se, deu um rápido beijo na donzela; rápido, mas profundo e sincero e voltou-se ao rio, puxando a espada novamente, para ajudar os companheiros.

Um tentáculo caiu sobre a terra, por pouco não esmagando Azaro. Fernand aproveitou esta brecha; correu, com a espada empunhada, e, ao se aproximar, desceu a espada com uma força brutal, de modo que, desta vez, o tentáculo se partiu em um único golpe.

A bolha de luz de Marvin tomara a forma de um machado gigante, brilhando como a lua brilhava naquele momento. O ex-aprendiz estendeu as mãos na direção de um dos dois tentáculos restantes, e o machado rodopiou, atingindo o alvo em cheio, atravessando-o e dissolvendo após corta-lo.

Restava um único tentáculo. As raízes de água começavam a se desfazer e os ataques de Azaro se tornaram menos frequentes e menos eficazes. Marvin não teria tempo para fazer outro machado de luz e o tentáculo não parava, para que Fernand pudesse o cortar. Estavam perdendo, num estado sem saída. Mas, então, algo se moveu, do outro lado do rio...

Sob o luar, um homem grandioso saltava sobre o rio, gritando. Trazia dois machados nas mãos e trajava apenas uma calça um pouco abaixo dos joelhos. Ele cruzou os braços num movimento bruto e preciso, separando dois pedaços do grande e último tentáculo.

Ele pousou do lado onde o grupo estava. Era muito alto, com o corpo totalmente definido e musculoso. Seus cabelos eram grandes e negros, seu olhar era escuro e gélido. Arfava, com seus dois machados ainda em mãos. Ninguém ousava dizer nada.

- Bacco ver pessoas em perigo - a voz dele era grossa. - Bacco ajudar pessoas em perigo.

Uma rajada de vento frio passou, levantando os cabelos de Fernand.

- O que é isso? - indagou.

Marvin foi quem respondeu:

- Ele é um bárbaro.

O grandalhão pareceu entender.

- Sim. Bacco bárbaro.

Esse sim parece um selvagem, pensou o cavaleiro.

- Se ele é um bárbaro, deve pertencer a uma tribo - disse, arfando, Azaro.

- Bacco expulso de tribo. Bacco viver com pequenas pessoas.

- Pequenas? Como eu?

- Nah. Bacco viver com pessoas pequenas e gordas. Homens barbudos cozinhar bem.

Delin acariciava seu falcão, Rakh, e disse:

- Acho que ele se refere aos anões.

Bacco sorriu. Seus dentes eram quase todos quebrados.

- Pessoa de olho estranho acertar. Bacco viver com anômenes.

- Anões - corrigiu Azaro. - Mas anões não vivem debaixo da terra?

Rakh levantou voo e partiu, para caçar.

- Nem todos - respondeu a elfa. - Lembro-me de existir uma cidade só de anões próximas à Cidade dos Pescadores.

- Aparentemente, anões e bárbaros - zombou o pequeno loiro.

- Alguma família deve ter ficado com pena de vê-lo sozinho.

- Pena? Eu diria medo.

- Seja qual for a razão, ele vive com anões e os anões do Norte são bem hospitaleiros. Podemos ter algumas boas horas de descanso por lá.

Subitamente, Fernand lembrou-se de Aryella e do enfermo.

- Eu encontrei de onde vinham aqueles gritos e salvei o homem.

Uma certa onda de felicidade passou por eles.

- Onde ele está? - perguntou Marvin.

- Com Aryella, sem poder andar.

O ex-aprendiz ergueu uma sobrancelha.

- Sem andar?

- Ele estava sendo puxado por um tentáculo, que cortei, mas a parte que estava enrolada e apertada em sua perna permaneceu lá. Pedi que Aryella tentasse dar um jeito...

Eles se voltaram para onde a princesa estava. O homem estava desacordado, com o tentáculo ainda amarrado à perna.

- M-me desculpe, Fernand, mas não consegui fazer nada. Nem sequer afrouxar um pouco a pata do kraken... - ela disse.

O cavaleiro virou-se para o mago da luz.

- Você tem alguma magia para isso, Marvin?

- A única magia que eu tenho, que poderia tira-lo dessa situação, provavelmente explodiria seu corpo todo - o jovem respondeu. - Talvez os druidas...

- Nós só mexemos com ferimentos em animais. A cura humana está além de nossos poderes... - rebateu Delin.

Então só há um modo... pensou Fernand.

- Onde está o bárbaro? Bacco, venha aqui, vamos precisar do seu machado.

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Capítulo 5 - Amandur I

O barulho da foice roçando no campo de gramineas espantara os corvos negros empoleirados em Naëlin, a Árvore Morta. Seus grasnados ecoaram, enquanto suas asas pintavam de escuro o amarelado céu do amanhecer. Sob o capuz, um pálido rosto observava o movimento das aves, com olhos prateados. Vagarosamente, aproximou-se da árvore e admirou-a por um tempo.

Pouquíssimos seres podiam gabar-se de ter visto árvore com igual elegância à de Naëlin: de uma madeira escura como ônix eram feitos seu tronco e galhos, e estes últimos eram quase que totalmente secos; algumas poucas folhas cresciam neles, de fato, mas eram as mais majestosas folhas que os olhos podem ver, pareciam finas camadas de opalas que alternavam seu brilho entre dourado e azulado, dependendo do sol e do luar. Sob os galhos, folhas que uma vez refletiram a luz que iluminava o mundo agora emanavam uma aura esverdeada, ainda brilhando como opalas.

O ceifeiro ajoelhou-se perante a árvore, uniu as palmas de suas mãos e deu início a uma prece profunda. Sua voz solene entoou um cântico fúnebre, enquanto, sob sua sombra, uma iluminação arroxeada era liberada do chão; iluminação esta, que parecia dançar ao redor do orador. Enquanto ele aumentava o tom de sua voz, a luz parecia brilhar mais forte e dançar com mais rapidez, mais fervor. Abruptamente, ele se calou, levantou e ergueu uma mão cadavérica e tão pálida quanto seu rosto.

- Erga-se, Zanaëmuth! - exclamou.

De dentro da área brilhante do solo, brotou um corpo, vestido com uma calça e botas de couro, coberto por pele de lobo, onde a cabeça do finado animal cobria a cabeça do corpo como um capuz. A pele era esverdeada e, em muitas partes, corroída até os ossos, os músculos eram rígidos e bem formados e os cabelos... Sedosos fios negros caíam sobre a face morta.

- Zanaëmuth, o Bárbaro Cruel, eu o invoco por Naëjizor, a Deusa da Morte. Sob o céu que nos dá a vida e sobre a terra que nos encobre a morte, eu, Amandur, o declaro sob minha servidão - o devoto disse, enquanto uma fumaça roxa circulava seu corpo e o de sua invocação.

O homem trazido dos mortos ergueu sua cabeça lentamente e fitou seu invocador. Uma marca de algemas estava presente em seu peito, tendo falhas onde a pele desaparecera.

- A marca foi feita, o acordo está determinado. Que desejas de Zamuth, mestre Amandur? - disse, rouco, o bárbaro.

- Teu nome agora é Zanaëmuth, servo! Andas entre os vivos, mas sua alma e seu corpo aos mortos pertencem, jamais esqueças disso! Desejo que me encares nos olhos e digas o que sente.

O bárbaro soltou um grunhido, quando Amandur baixou o capuz, revelando sua face. Era majestoso, belo, divino... Sua pele era pálida, mais branca do que as nuvens, seus olhos brilhavam, num tom prateado, presente igualmente nos grandes e lisos cabelos, nas sobrancelhas e nos pequenos cílios. As orelhas pontudas confirmavam a origem élfica, bem como os lábios, finos e azulados.

- Ódio - respondeu, sem hesitar.

A marca de algema brilhou, e o bárbaro contraiu-se e gritou.

- Não deves mentir para seu mestre - lembrou Amandur. - E não temas ser sutil. O que está em prova aqui não é tua barbaridade, mas sim tua lealdade. Já reconheço tua linguagem ofensiva e tua brutal força, foi por isso, aliás, que decidi o invocar, ao invés de clamar por um bárbaro qualquer, Zanaëmuth. Dou-te uma nova chance de responder.

- Medo... - As algemas não brilharam desta vez.

O elfo assentiu.

- Posso, então, dar início à jornada - disse.

Com a foice presa às costas, sobre o manto preto, mestre e servo passaram pelas gramíneas e atravessaram o grande portão feito de ônix e ametista. Do lado de fora, elfos caminhavam para dentro e para fora de campos divinos. O Estreito dos Deuses era uma extensa e estreita rua, com centros de divindades preenchendo suas bordas e o campo de Naëjizor era o último do Estreito, ficando numa das extremidades da rua; na outra extremidade localizava-se uma escada que levava a um grandioso palácio, onde estava o Oráculo. Ali era a saída.

Junto de seu bábaro, Amandur caminhou pelo Estreito dos Deuses de capuz cobrindo o rosto e foice roçando nas pedras do chão. Muitos dos caminhantes ali encararam a dupla, mas o elfo prateado parecia não notar. Passaram ao lado do Campo de Lanzzor, onde girassóis cobriam o solo e um ipê amarelo se destacava ao centro. Além dos elfos, alguns humanos também transitavam naquele Campo e no de Hanzzor; eram os sacerdotes oficializados pela Fundação de Ensinos Místicos.

- Fique calado e olhe para baixo. Você não deve olhar para os olhos do Oráculo de modo algum, a não ser que queiras ficar cego - informou o mestre quando entravam no palácio. - Apenas os elfos podem encará-lo.

Por dentro, o lugar era todo feito de bronze. Torres, escadas, pilares, bancadas, candelabros e até as chamas das velas eram bronzes. No meio do salão, uma criatura deformada flutuava. Tinha longos braços finos e cheios de furúnculos, pernas pequenas e pés gigantes, uma cabeça ligada ao tronco diretamente, sem pescoço, com centenas de olhos de todas as cores, conhecidas e desconhecidas.

Ao seu redor, elfos ajoelhavam-se, fechavam os olhos e mantinham-se em silêncio. Amandur fez o mesmo. Quando fechou os olhos, viu-se imerso na escuridão e, então, o Oráculo apareceu.

- Oh! Produtiva foi a sua visita ao templo, eu posso ver... - disse a criatura. - Lembra-se da profecia que lhe foi dita na primeira vez que eu te vi?

Buscou no fundo de sua memória as palavras e, então, as recitou:

"Uma batalha há de haver no futuro,
Num mundo com homens, elfos e fadas,
Onde não existirá nenhum ser puro.

Em sua décima lua voltarás
para uma escolha fazer.
Hás de definir teu destino,
Em paz morrer ou em vida sofrer;

Um papel decisivo cabe a ti,
não podes cometer falhas ou desejar mérito,
pois o céu e a terra hão de lhe ajudar,
comandarás o maior exército
"

- Muito bem, muito bem... E repita o que eu lhe disse quando entrou agora há pouco.

- "Com curiosidade entrarás para fazer uma escolha. Da terra escolherás um servo. Não irás errar. Ele deve ter força, lembras disso, Amandur".

O Oráculo deu um riso abafado.

- Ótimo... Afie as orelhas pontudas, pequeno elfo, para a nova profecia...

Da terra puxastes um servo,
que julgaras ter força tremenda.
Mas vistes a força de modo errado.
As forças do corpo fazem parte do bônus, da oferenda.

A verdadeira força de teu servo é encantadora.
Logo, logo ela aparecerá
Na mais escura das noites.
Que será conhecida como A Noite sem Luar.

Nesta noite tua batalha irás travar,
Teu exército fará o céu chorar e a terra tremer.
Muito sangue irá derramar, mas nenhum sangue teu será derramado.
E uma palavra decidirá se vais perder ou vencer.

Deves agora buscar pela ave flamejante e seu treinador,
Juntos vocês irão se ajudar,
Conterão o avanço e domínio dos homens,
Mas seu coração a ave domará.


- É isso? - perguntou o elfo.

- Sim. Agora vá, Amandur, príncipe das estrelas, lute!

E o Oráculo desapareceu num nevoeiro quando ele abriu os olhos.

Levantou-se, calmamente, e dirigiu-se à saída do palácio.

- Para onde vamos, mestre? - perguntou Zanaëmuth, do lado de fora.

- Buscar a ave flamejante e seu treinador.

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Capítulo 6 - Minerva II

Um vento forte atingiu a planície e lançou os cabelos rosados da fada para trás. Supôs que estava frio, pois Nehro, o mago naturalista, tremia, mesmo sob todos os casacos de pele e mantos. Faziam semanas desde que ela fora capturada, mas ela sentia como se tivessem passado anos. Passara dias dentro de uma caverna escura, sozinha, até que um dia seu raptor chegou para levá-la a algum lugar.

- Tenho um dever a cumprir com você. Esteja preparada - ele dissera uma vez.

Desde então, eles vinham caminhando por florestas escuras e planícies verdes, dormindo sob buracos improvisados nas rochas ou encostados às árvores, cercando sempre seus arredores com os feitiços de Nehro. Ele murmurava sobre um grupo de patrulheiros florestais que eles deviam encontrar, sobre como o deserto de Margoz era gélido naquela época e outras coisas que Minerva nunca prestou atenção, tampouco respondeu. A fada evitava falar, andava sempre com o olhar baixo e quieta, apenas vez ou outra questionando acerca do destino daquela longa caminhada, mas o homem sempre dizia que ele avisaria quando estivessem próximos.

- Mas que sorte! - exclamou Nehro, quando gotículas de água começaram a cair do céu. - Tem certeza de que não quer nada para se cobrir?

Minerva não respondeu. Não queria, tampouco precisava de algo para se aquecer, muito menos vindo dele. A cada dia, as chamas cresciam mais em seu corpo. Suas asas já haviam se tornado completamente vermelhas e quentes, seus olhos eram verdadeiros rubis da última vez que vira seu reflexo nas águas de um riacho qualquer e sua pele parecia refletir um fogo inexistente. Ela sentia-se sempre quente, não como se estivesse febril, mas sim como se estivesse envolta sob o calor do sol num dia de primavera. No começo, essa sensação era terrível, mas, agora, parecia mais prazerosa.

- Tudo bem, então... Melhor pra mim - murmurou. - E estamos chegando perto do grupo de patrulheiros.

Minerva subiu os olhos para ele.

- O que faremos depois de encontrá-los? - ela perguntou.

- Hm? Decidiu falar? - ele passou as mãos pelos braços, tentando esquentá-los, e riu. - Primeiro tenho de me aliar a eles, depois, talvez eles nos ajudem a chegar às Montanhas Partidas.

As Montanhas Partidas eram constantemente amaldiçoadas na língua dos povos dos bosques. Diziam que nelas habitavam dragões, tritões e basiliscos gigantes e que seus formatos incompletos, partidos pela metade, eram decorrentes da formação divina. Ouvira uma barda cantar sobre a Guerra dos Deuses, nos primórdios, quando o mundo era criado, onde os deuses brigaram entre si, gerando um ódio tremendo entre eles, que acabou por formar criaturas escuras e sádicas. Quando a Guerra acabou, eles perceberam o que tinham criado e decidiram eliminar as montanhas repletas de monstros, mas o ódio naqueles seres era tão forte que foi capaz de se opor à vontade dos deuses. Algumas criaturas padeceram ou cederam ao poder divino, mas outros permaneceram fortes. Estes foram capazes de manter metade das montanhas, forçando os deuses a desistir de destruí-las, mas acabaram vítimas da maldição lançada dos céus, que impedia que essas criaturas deixassem as Montanhas Partidas. Não perguntou porque estavam indo para lá, mas manteve o medo forte dentro de si.

Continuaram caminhando sob a chuva, que não molhava Minerva. O calor de seu corpo fazia com que as gotas evaporassem imediatamente após o toque, inclusive em seus cabelos. Por um lado, ela estava grata de não ficar encharcada durante as tempestades, mas, por outro, detestava o fato de que não iria nunca mais tomar seus banhos nos riachos cristalinos, como sempre fizera. Um pouco à frente, uma floresta interrompia a planície, e, sob uma das árvores, um grupo de pessoas amontoava-se ao redor de uma fogueira.

O céu passou do cinza escuro para o negro total. Não havia lua, tampouco estrelas naquela noite, apenas a chuva e os ventos. Estavam bem mais próximos dos patrulheiros, quando Nehro parou. Virou-se para a fada.

- Antes de chegarmos a eles, tenho de te deixar alerta sobre algumas daquelas pessoas. Entre eles, há um elfo de cabelos e olhos azuis, é conhecido como o Bardo das Águas e muitíssimo perigoso. Não se engane com aquele alaúde bonito, ele faz muito mais do que tocar belas melodias. Também deve tomar cuidado com a elfa de cabelos escuros e o anão com a foice. Têm um ótimo coração, mas não hesitaram em te matar na primeira violação de qualquer lei deles - respirou fundo, bufou e retomou a caminhada.

Assim que eles entraram na floresta, a fogueira pareceu aumentar e Minerva sentiu-se atraída pelo seu calor. Nehro aproximou-se dos patrulheiros, que se levantaram e cumprimentaram-no curvando-se ao mesmo tempo. Um humano jovem de pele morena e cabelos longos e brancos ficou de frente com o mago.

- Mago Nehro, é um prazer tê-lo conosco novamente - sua entonação era forte. - Deseja algum serviço nosso ou pretende atender aos nossos pedidos e ingressar na Sociedade?

- Já faz um tempo, Siek. Solicito o auxílio de vocês, mais uma vez, mas em algo mais perigoso, talvez a missão mais perigosa que qualquer um de vocês já tenha recebido.

Siek hesitou por um momento, e disse:

- E o que seria essa missão?

Nehro trocou o sorriso por uma face séria.

- Vocês devem me escoltar até as Montanhas Partidas e, lá, devemos libertar Harea.

Um homem de cabelos azulados, quase lilases, e orelhas pontudas deu dois passos à frente e gritou:

- Você está louco? Isso é suicídio, além da heresia de tentar violar a maldição sobre Harea. O dragão das chamas vermelhas trucidaria-nos com facilidade, e não pode deixar as Montanhas!

Siek colocou um braço em frente ao homem e o encarou severamente.

- Astaroth, acalme-se - virou-se para Nehro. - O que ele diz é verdade, não podemos violar a lei dos deuses. No máximo, o levamos até a montanha de Harea, mas nada além disso.

- Já está de bom tamanho para mim.

- Mas você sabe que o custo será altíssimo, não sabe? O que você tem para oferecer?

- Não tenho dinheiro algum, tampouco poções, armas ou feitiços novos, entretanto, trouxe algo melhor - um sorriso malicioso surgiu novamente na face dele.

Minerva, que estava recostada numa árvore a uma pequena distância da fogueira e dos patrulheiros, ficou curiosa.

- E o que seria isso? - Siek perguntou.

- O nono integrante, para selar, oficialmente, sua Sociedade.

- Você vai entrar para a Sociedade dos Nove? - o humano exclamou, com notável excitação.

- Eu? Não... - a alegria sumiu de Siek, enquanto a de Nehro aumentava. Apontou um dedo na direção de Minerva, e todos se viraram para ela. - Ela vai.

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