Capítulo I - Herança
As pequenas gotículas de água que caíam do céu, anunciando o famoso chuvisco, caíam sobre o chão rochoso da civilização com mais prestígio dentre todas as outras, a Civilização de Áries. O cheiro do solo molhado se misturava com o ar, as nuvens no céu pouco a pouco se escureciam. As correntes de ar frio varriam consigo as folhas das árvores que estavam no chão e as que estavam em seu local de origem. As donas de casa e os moradores entravam em suas moradias, em seguida, fechavam janelas e cortinas. Toda a Civilização foi tomada pela escuridão das sombras que as nuvens faziam.
Mas, nem o mais forte dos tufões seriam capaz de varrer a frustração que Haru, um jovem órfão da Civilização de Áries sentia. Enquanto observava o chuvisco e a ventania trabalharem em conjunto para castigar a civilização, o garoto se fazia várias perguntas. Várias perguntas que não pareciam ter respostas. Sentia falta de um conforto paterno e materno. Sempre que passeava pela civilização ou ao sair da academia, podia ver crianças juntas de seus pais. Se perguntava o porque de sempre ser sozinho. Ao olhar para cima, pôde observar uma pequena gotícula de água que acabava de cair do teto, escorrer pela janela de vidro.
Acompanhou o trajeto da pequena gotícula com os brilhantes olhos castanhos. As batidas na porta o impediram de continuar acompanhando a gota de escorrer pelo vidro, tirando sua atenção dali. Levantou-se do local em que estava assentado e se dirigiu à porta. Abriu-a devagar. O mais novo conselheiro da Civilização de Áries era quem estava ali. O jovem conselheiro carregava consigo três sacolas plásticas, e nelas pareciam conter coisas como compras e outros mantimentos. O jovem Haru nada disse, apenas lhe deu espaço, deixando-o entrar.
- Conselheiro Isamu? - Disse Haru, ao vê-lo.
- Vim apenas trazer os mantimentos da semana, Haru.- O jovem conselheiro disse, dirigindo-se à porta. Ao olhar de canto para trás, pôde vê-lo observá-lo sair.- Há algo errado?
- Eu sempre quis saber uma coisa.
- Diga.
- O que aconteceu com meus pais?- Perguntou com um sorriso esperançoso no rosto.
- Conselheiro Himura...não contou nada ao garoto?- Pensou.- Bem, é meio difícil de explicar. Você não vai ficar mais triste, se eu lhe contar?
- Eu não estou triste, só estou confuso.
O jovem Isamu suspirou e se virou para o garoto, que agora, esperava ansiosamente pela resposta. Tentava encontrar uma maneira de lhe contar o que acontecera, mas nada lhe veio em mente. Na verdade, nem ele próprio sabia muito sobre a história. Decidiu então, contar a ele o que sabia mais ou menos.
- Seus pais desapareceram há muito tempo. Eu não sei muito sobre a história mas, foi isso que eu ouvi dos conselheiros. Bom, agora eu tenho que ir.
Logo após vê-lo sair, Haru reuniu tudo o que o conselheiro havia deixado no canto da sala, ao lado da mesa de madeira que estava encostada na parede, frente a uma janela. Sentou-se no sofá. Agora, mais perguntas vieram a sua cabeça. Será que eles estão vivos? se perguntava. Se estão vivos, onde estarão? O garoto não sabia se se sentia feliz ou mais confuso ainda.
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Em cima das árvores, observando os arredores da civilização, estava um dos membros do grupo dos Nove Retalhadores da Elite de Áries, Arashi. Este grupo era formado e inspecionado pelos conselheiros da Nação da Água. Com o intuito de aumentar a segurança do local, a primeira geração de conselheiros fundou uma academia de treinamento especial. Para lá são enviados os retalhadores mais talentosos e que estão mais aptos a cumprir tarefas específicas para o bem da nação. A fama que estes ganham é praticamente mundial, quase sempre são reconhecidos.
A chuva parecia não incomodá-lo, sem se deixar distrair, o jovem retalhador observava atentamente a tudo, com o objetivo de não deixar passar definitivamente nada e cumprir a tarefa que lhe foi dada. Notou que algo vinha em sua direção. Levantou-se, ficando de pé sobre as folhas que agora, mais pareciam plumas. Logo pôde ver que não era ninguém menos que sua companheira, Kin. Kin era a líder daquele grupo. Em apenas um salto, a jovem retalhadora parou de pé na mesma árvore em que Arashi repousava.
- Alguma coisa por ali?- Perguntou-a.
- Nada. Está tudo normal por ali.
- Senhorita Kin, não há nada demais por ali.- Um rapaz, em solo firme, disse.
- O que acha que devemos fazer agora, Arashi?- Kin perguntou.
- Acho que devemos dispersar. Temos que descansar, se não há mais nada por aqui, não temos que perder tempo.
- Dispersar!- A jovem líder ordenou.
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Se estiverem vivos, espero que estejam bem. O jovem Haru pensava, andando pelos corredores do templo em que se reuniam os conselheiros. Pensou em ir saber mais coisas sobre o que Isamu havia lhe contado. Sentiu que deveria tirar aquela história a limpo, que deveria saber mais. Logo, parou em frente a porta do gabinete principal. Pareceu escutar vozes.
- Haru ainda é muito jovem, não tem idade para entender isso.
- O quê?
- Os pais dele...recebemos um relatório sobre o resgate, dizia que os encontraram mortos.
A palavra ecoou por sua mente. Havia guardado esperanças, mas, se desiludiu. Resolveu sair dali, a resposta que queria havia sido dada. Para voltar a rua, tomou o mesmo caminho que havia pego para estar ali.
(...)
Haru estava sentado no terceiro degrau de uma escada. A chuva, que agora parava, dava lugar ao nascer do Sol. Logo atrás de Haru, vinha Yue. Yue era uma das colegas de classe de Haru. Sempre arrumando brigas, Yue colocava medo em todos. Menos em Haru. Aproximou-se do jovem cabisbaixo.
- Qual é o problema, Haru?
- Quando você chegou aí?
- Não importa, quero saber qual é o problema com você.
- Você não se importa.
- É, mas agora eu estou entediada. Pode falar.
- Descobri que meus pais estão mesmo mortos.
- Está bem, qual é a novidade?- Perguntou, recebendo um olhar confuso.- Tá bem. Olha pelo lado bom. Você não tem pais, significa que pode fazer o que quiser sem ter alguém te amolando o tempo todo. Eu também não tenho pais e estou bem assim. Mas por que você se importa com isso agora?
- Mesmo assim, eu prefiro ter pais. Bom, se tivesse alguma coisa que eu pudesse fazer...
- E tem, Haru.- Um ancião disse, acabando de aparecer no local.- Seu pai, antes de morrer, lhe deixou uma herança. Algo que ele escondeu e queria que pertencesse a você.
- S-sério?- Haru perguntou, se pondo de pé.
- Sim. É um livro, ele se chama ''Four Sun''.
- O ''Four sun''? Diz a lenda que quem tiver este livro em sua posse, se tornará o retalhador mais poderoso de todos os tempos. Eu tenho que conseguir este livro, mas não vou conseguir sozinha. E se...
- Mas o conselheiro Isamu nunca vai me deixar sair da civilização sozinho.
- Quem se importa!? Vamos, você não vai sozinho. Eu vou com você!
- Geralmente eu não apoiaria esse tipo de atitude mas, seu pai não era do tipo de homem que fazia algo sem um motivo aparente. Se ele queria que ele fosse seu, era pra ser seu. Então, vá.
- Você ouviu o velhote! Nós temos que ir, foi seu pai que deixou pra você!
- Tá bom, nós vamos.