ELYSIUM
Sinopse: O que se passa na mente de um serial killer enquanto ele está em tratamento? Será que para uma pessoa dessas existe uma cura ou ela está fadada à loucura para sempre? Essa história é narrada em primeira pessoa, construída a partir dos pensamentos do nosso protagonista.
Temas: Distúrbio de personalidade, religião.
Gêneros: Angst;Psicológico;Crime;Drama;Suspense;Surrealismo.
Classificação: 16+
Contagem de palavras: 1008
Notas da autora: Elysium, ou também conhecido como Campos Elísios, trata-se de um lugar místico na mitologia grega semelhante ao "Paraíso" da religião cristã.
Você já sonhou com o desejo? Não falo de luxúria ou fogo, mas sim de algo mais suave. Algo infinito e mais forte. Fazia quase trinta anos e não teve um dia sequer, durante todo esse tempo, que eu não sonhasse. Todas as noites. Meu neto vem me visitar hoje e tudo está em silêncio. Tudo é silêncio.
Eu acordo e estou em Elysium e este é o mais puro mundo que existe. Minha pulsação não me alcança aqui, minha orelha não ouve. Eu ouço o éter universal e meu coração já não bate.
Eu matei Frank Kane.
Eu aprendo os dias, as semanas e os meses, por isso estou aqui. Anjos brancos sussurram entre si nos cantos. Eu ouço-os dizendo que estou aqui porque matei alguém. Eu estou aqui porque sou “psicologicamente instável”. E por causa do ferimento causado por uma bala no peito.
Nesse novo mundo eu estou enrolado em branco como um bebê.
Nesse novo mundo tudo que existe é puro.
Nesse novo mundo um anjo verifica minha pulsação a cada manhã, traz-me refeições em uma bandeja branca de plástico. Ela tem um crachá branco, que se transforma a cada mudança no ponteiro do relógio branco. Carla, Miranda, Cassandra... Deve ser um pré-requisito que todos os anjos tenham nomes terminados em “A”. Elas têm o mesmo rosto aqui em Elysium, as mesmas características básicas, apenas pinceladas em lugares diferentes.
Eu consigo dormir, aqui em Elysium.
Toda a semana eu me encontro cara a cara com Deus. Deus tem um crachá também e uma grande mesa de carvalho. O marrom escuro faz-me um pouco nervoso, quebra a pureza de Elysium. O rosto de Deus é uma mistura do rosto de todos os homens. Deus veste um terno cinza fosco (quase branco, obrigado) e um anel de casamento amarelo. A gravata é da cor de um olho humano, o cabelo fino e branco nas raízes. Papéis brancos ocupavam a parede atrás dele. Um peso de papel profeta aninhava-se em suas mãos.
Deus me diz: Por que você fez as coisas que você fez?
Por que tirar a vida de tantas pessoas?
Você não sabe que existem atos de maldade no mundo que você nunca, nunca, nunca deve cometer?
Eu apenas sorrio para ele. Educadamente. Não, Deus, não é assim que o mundo funciona. Você criou tudo isso; você, de todos os seres, deveria saber disso. O coração humano não pode ser compreendido e sempre haverá sombras, inconsistências.
Amor.
Deus diz para mim, Você não sabe que você nunca, nunca, nunca deve tirar a vida de outro homem?
Deus não entende o sacrifício que eu fiz.
Você não sabe que o assassinato é o maior pecado que existe?
Eu matei Frank Kane. Eu expurguei minha outra metade para chegar até aqui. Eu cortei o vermelho para ficar com somente o branco.
Deus não sabe.
Porque eu nunca, nunca, nunca diria a ele.
Você não sabe que Deus prega o amor eterno, o amor por todos os seus companheiros humanos?
(E porque eu te amo, se eu te matar, eu me mato).
O que você não sabe Deus, é que os homens sempre acabam matando as coisas que amam.
Nos lugares brancos em torno das outras almas que imploravam por misericórdia havia mais almas, enroladas em branco como bebês, e anjos brancos implorando para deixá-los sair. Eles querem ir para casa, ir para casa, eles dizem. Ouço seus gemidos, suas unhas. Seu tormento eterno. Lentamente, um por um, e dia a dia, eu os assisto desaparecer. Deus ordenou-lhes a voltar para o mundo.
Eu sou diferente. Eu não quero ir embora.
Porque eu posso dormir aqui, em Elysium.
Aqui, onde não há contusões, onde tudo é branco, puro e o sono vem fácil.
Estou feliz.
E então, em uma manhã, no segundo ano, vejo um anjo vindo até minha cama e colocando uma trouxa de roupas sobre a cadeira.
Ela me diz, o médico diz que você está bem agora.
Ela me diz, olha só, são suas próprias roupas.
Ela me diz, você vai voltar para casa amanhã.
Deus ordenou-me que voltasse ao mundo.
Naquela noite eu vejo imagens embaralhadas no meu sono. No campo branco e frágil vejo uma figura na neve. É Frank Kane e eu, mas desta vez Frank Kane está dentro de mim e eu estou olhando para as profundezas das minhas entranhas na barriga.
Ele está lá. Ele é vermelho.
Eu já o matei.
Mas ele ainda está lá.
Ele não morreu.
Ele ainda é uma parte de mim.
Eu olho para baixo nas profundezas da minha barriga vermelha e Frank Kane diz para mim, Eu te amo.
Ele diz, E porque eu te amo, se eu te matar, eu me mato.
Quando eu acordo, estou de volta a Elysium, mas agora um isqueiro está na minha mesa de cabeceira branca.
Eu não fumo.
Mas Frank Kane fuma.
E então, quando eu olho de novo, vejo uma carteira de couro, aberta do lado mais fino.
Déjà Vu.
Ressucitar.
É a mesma carteira que Frank Kane roubou de mim uma vez. Nós estávamos no clube feito das paredes de uma artéria gigante. Ele tinha um sorriso rápido e dedos rápidos também. Ele estava sentado em terno bem cortado e relógio caro, cabelos loiros como peróxido, mas podia ser o efeito da luz. Ele tinha uma menina no braço, junto com o relógio. Ele tinha a minha carteira. Ele tinha a minha carteira. Estava lá, no balcão à sua frente, e seus dedos brincavam com o couro preto.
Frank Kane ria e sua língua era vermelha, como tudo naquele lugar. Ele pagou bebida à garota com o meu dinheiro. Eu podia ver em seu riso, claro, pode pedir tudo o que quiser.
Eu levanto minha cabeça com um sentimento forte de medo e quando eu espio-a de mais perto, vejo que minha carteira de motorista estava desaparecida.
Poof.
O ato do desaparecimento.
Viram?
Isso é tudo o que eu preciso para me tornar você.
É tudo o que eu preciso.
É tudo o que eu preciso.
Eu acordo e estou em Elysium e este é o mais puro mundo que existe. Minha pulsação não me alcança aqui, minha orelha não ouve. Eu ouço o éter universal e meu coração já não bate.
Eu matei Frank Kane.
Eu aprendo os dias, as semanas e os meses, por isso estou aqui. Anjos brancos sussurram entre si nos cantos. Eu ouço-os dizendo que estou aqui porque matei alguém. Eu estou aqui porque sou “psicologicamente instável”. E por causa do ferimento causado por uma bala no peito.
Nesse novo mundo eu estou enrolado em branco como um bebê.
Nesse novo mundo tudo que existe é puro.
Nesse novo mundo um anjo verifica minha pulsação a cada manhã, traz-me refeições em uma bandeja branca de plástico. Ela tem um crachá branco, que se transforma a cada mudança no ponteiro do relógio branco. Carla, Miranda, Cassandra... Deve ser um pré-requisito que todos os anjos tenham nomes terminados em “A”. Elas têm o mesmo rosto aqui em Elysium, as mesmas características básicas, apenas pinceladas em lugares diferentes.
Eu consigo dormir, aqui em Elysium.
Toda a semana eu me encontro cara a cara com Deus. Deus tem um crachá também e uma grande mesa de carvalho. O marrom escuro faz-me um pouco nervoso, quebra a pureza de Elysium. O rosto de Deus é uma mistura do rosto de todos os homens. Deus veste um terno cinza fosco (quase branco, obrigado) e um anel de casamento amarelo. A gravata é da cor de um olho humano, o cabelo fino e branco nas raízes. Papéis brancos ocupavam a parede atrás dele. Um peso de papel profeta aninhava-se em suas mãos.
Deus me diz: Por que você fez as coisas que você fez?
Por que tirar a vida de tantas pessoas?
Você não sabe que existem atos de maldade no mundo que você nunca, nunca, nunca deve cometer?
Eu apenas sorrio para ele. Educadamente. Não, Deus, não é assim que o mundo funciona. Você criou tudo isso; você, de todos os seres, deveria saber disso. O coração humano não pode ser compreendido e sempre haverá sombras, inconsistências.
Amor.
Deus diz para mim, Você não sabe que você nunca, nunca, nunca deve tirar a vida de outro homem?
Deus não entende o sacrifício que eu fiz.
Você não sabe que o assassinato é o maior pecado que existe?
Eu matei Frank Kane. Eu expurguei minha outra metade para chegar até aqui. Eu cortei o vermelho para ficar com somente o branco.
Deus não sabe.
Porque eu nunca, nunca, nunca diria a ele.
Você não sabe que Deus prega o amor eterno, o amor por todos os seus companheiros humanos?
(E porque eu te amo, se eu te matar, eu me mato).
O que você não sabe Deus, é que os homens sempre acabam matando as coisas que amam.
Nos lugares brancos em torno das outras almas que imploravam por misericórdia havia mais almas, enroladas em branco como bebês, e anjos brancos implorando para deixá-los sair. Eles querem ir para casa, ir para casa, eles dizem. Ouço seus gemidos, suas unhas. Seu tormento eterno. Lentamente, um por um, e dia a dia, eu os assisto desaparecer. Deus ordenou-lhes a voltar para o mundo.
Eu sou diferente. Eu não quero ir embora.
Porque eu posso dormir aqui, em Elysium.
Aqui, onde não há contusões, onde tudo é branco, puro e o sono vem fácil.
Estou feliz.
E então, em uma manhã, no segundo ano, vejo um anjo vindo até minha cama e colocando uma trouxa de roupas sobre a cadeira.
Ela me diz, o médico diz que você está bem agora.
Ela me diz, olha só, são suas próprias roupas.
Ela me diz, você vai voltar para casa amanhã.
Deus ordenou-me que voltasse ao mundo.
Naquela noite eu vejo imagens embaralhadas no meu sono. No campo branco e frágil vejo uma figura na neve. É Frank Kane e eu, mas desta vez Frank Kane está dentro de mim e eu estou olhando para as profundezas das minhas entranhas na barriga.
Ele está lá. Ele é vermelho.
Eu já o matei.
Mas ele ainda está lá.
Ele não morreu.
Ele ainda é uma parte de mim.
Eu olho para baixo nas profundezas da minha barriga vermelha e Frank Kane diz para mim, Eu te amo.
Ele diz, E porque eu te amo, se eu te matar, eu me mato.
Quando eu acordo, estou de volta a Elysium, mas agora um isqueiro está na minha mesa de cabeceira branca.
Eu não fumo.
Mas Frank Kane fuma.
E então, quando eu olho de novo, vejo uma carteira de couro, aberta do lado mais fino.
Déjà Vu.
Ressucitar.
É a mesma carteira que Frank Kane roubou de mim uma vez. Nós estávamos no clube feito das paredes de uma artéria gigante. Ele tinha um sorriso rápido e dedos rápidos também. Ele estava sentado em terno bem cortado e relógio caro, cabelos loiros como peróxido, mas podia ser o efeito da luz. Ele tinha uma menina no braço, junto com o relógio. Ele tinha a minha carteira. Ele tinha a minha carteira. Estava lá, no balcão à sua frente, e seus dedos brincavam com o couro preto.
Frank Kane ria e sua língua era vermelha, como tudo naquele lugar. Ele pagou bebida à garota com o meu dinheiro. Eu podia ver em seu riso, claro, pode pedir tudo o que quiser.
Eu levanto minha cabeça com um sentimento forte de medo e quando eu espio-a de mais perto, vejo que minha carteira de motorista estava desaparecida.
Poof.
O ato do desaparecimento.
Viram?
Isso é tudo o que eu preciso para me tornar você.
É tudo o que eu preciso.
É tudo o que eu preciso.
escrita por Sealed Kunai