Four Sun: Uma força Insuperável - Capítulo único
Arashi estava mais uma vez perdido em devaneios. Com o olhar além do horizonte, o jovem retalhador de cabelos lisos e negros como o ébano, pele alva tão clara quanto a neve e um par de olhos azuis claros como o dia pela manhã se distraía com a mente em tudo o que um dia lhe aconteceu.
Não sabia exatamente o porquê, mas a sua mente desde sempre trabalhou melhor quando estava ao ar livre. Quando se viu sozinho no navio, ele enfiou as mãos nos bolsos, caminhou devagar até a borda livre da embarcação, inclinou o corpo para frente, apoiou os cotovelos nas paredes do navio e ali ficou.
Suas memórias de infância passavam como um filme em sua mente. Tinha tudo para ser feliz ao lado de seus pais e de seus irmãos, apesar de nunca terem desfrutado de uma ótima condição de vida, eles tinham o mais importante: o amor. Eles se amavam, e era tudo o que importava.
Mas como tudo o que é bom não dura eternamente, seu vilarejo de origem foi atacado e quase todas as pessoas que lá viviam, foram vítimas de um massacre sangrento. Todas as suas lembranças daquele angustiante dia rodaram sua mente, ele até podia escutar os gritos de dor e misericórdia.
Gritos de seus colegas e alguns de seus melhores amigos, pessoas com quem passara boa parte de sua infância. Colegas com quem dividiu seus brinquedos, que celebrou o aniversário a seu lado, com quem riu, com quem discutiu, com quem um dia brigou e fez as pazes.
Estão todos mortos!
Tudo o que um dia foi parte de sua vida não era mais do que uma lembrança, uma memória, relíquias de seu passado. Amaldiçoava-se por não ter sido capaz de fazer nada na época e por ser só uma criança que até então nada entendia, e que foi obrigado a crescer e amadurecer antes da hora certa, para proteger os seus irmãos.
Tais lembranças proporcionaram-lhe um forte sentimento de impotência diante do passado e de sua atual situação, ele se sentia um fraco por ver que as coisas estão para se repetir, e saber que, mais uma vez, não será capaz de fazer nada por si próprio.
Cerrou os punhos com força, acertando o pequeno muro de madeira maciça que formava as bordas da embarcação. Seu maior pesadelo estava de volta para destruir a sua vida. O que mais temia acontecerá. Kazu está de volta e mais forte do que nunca, possui um poder incomparável.
Suavizou a expressão de raiva que se fez presente em sua face ao escutar passos delicados virem em sua direção. Ele se virou e logo foi surpreendido por ela, que, no momento em que ele iria perguntar-lhe algo, enfiou o picolé de blueberry que tinha em mãos em sua boca. Mas ele trancou os dentes antes.
— O que foi? Não gosta de picolé de blueberry?— A loira de estatura baixa, pele clara talvez tão macia quanto bumbum de neném, um par de olhos cor-de-mel e dona de um corpo esbelto, delicado demais para todo o poder que tinha lhe disse em pergunta, como se o que acabara de fazer fosse a coisa mais natural de todas.
Ele riu.
— Não é isso, é que você chegou de repente assim. Devia ter avisado antes de, você sabe, tentar enfiar um picolé inteiro na minha garganta, eu iria gostar de saber.— Foi a resposta do retalhador, que tentava esconder a tristeza que invadiu o seu coração, ao ter em sua mente algumas das lembranças de seu trágico passado.
— Tá legal, da próxima vez eu aviso.— Murmurou, depois de morder e arrancar um pedaço da sobremesa.
— Você é louca.— Brincou, com um sorriso divertido no canto de seus lábios.
— Posso ser, mas eu adoro te ver sorrir.— Declarou, com um pequeno sorriso em seus lábios naturalmente rosados.— Eu vi como você estava antes de eu chegar aqui. Pensando em Kazu e Hizashi de novo, não é?
Ela não obteve resposta para a sua pergunta. Ele apenas suspirou pesarosamente e girou o corpo, posicionando-se da mesma forma em que estava, antes de sua chegada. Levantou o olhar para o céu repleto de nuvens acinzentadas e negras.
Imitou a posição dele e pegou em sua mão, ganhando o seu olhar como retribuição.
— Já disse pra você não se preocupar porque eu não vou deixá-lo sozinho, vou estar sempre aqui pra você. Eu não vou deixar que você sofra mais, eu te prometi, não foi? Qual é, não confia em mim?
— Não é isso, é só que...mesmo que vençamos, isso não iria...fazer a minha vida voltar a ser o que era antes de...você sabe. E se nós perdermos, eu perco você. E eu não quero que isso aconteça.— A declaração dele soou como um pedido meio desesperado: por favor, não se envolva.
— Você está me subestimando? Não conhece meu poder ou eu estou enganada? Por favor, não faça isso.— Implorou.— Não me peça para não me envolver nisso, porque... ver você morrer, pra mim, é o mesmo que perder a minha vida.
O seu espanto com a afirmação dela foi grande, ele nunca imaginou que significasse tanto para ela.Simplesmente ficou sem saber o que lhe dizer, ficou calado, pensando em alguma forma de mudar de assunto. Mas ela o olhava como se pedisse por uma resposta.
E ele não podia negar.
— Tá, entendi. M-Mas eu...eu também não quero ver você se ferir, entende?— Foi a sua vez de chocá-la.
Cerrou os olhos por alguns segundos para tentar assimilar o que estava sentindo, e o porquê de estar falando assim com ela. Porém sentiu o calor de seu corpo fundir-se ao do seu. Ele pôde sentir também o seu perfume, o doce cheiro que tinha os seus cabelos.
Uma sensação confortadora invadiu o seu coração, assim que sentiu os braços dela contornarem o seu corpo. Sentiu-a deitar o rosto em suas costas, o contato fez ele perceber um sorriso se formar em seu rosto. Levou as mãos até os braços dela, sentindo a maciez de sua pele.
— Relaxa, não seja tão sério. Eu vou ficar bem, todos nós vamos ficar bem.— Tentava convencê-lo a se tranquilizar, pois não gostava de vê-lo tão pessimista e negativo.— É errado você querer se culpar por estarmos querendo ajudá-lo. Agora, vamos mudar de assunto, tudo bem?
Ele delicadamente se desprendeu de seu abraço e virou-se de frente para ela, mostrando-lhe o seu melhor sorriso. O seu pequeno e emocionalmente frágil coraçãozinho se encheu de felicidade ao ver um sorriso tão lindo no rosto dele.
Ele pegou em seu pulso e o ergueu, levando sua mão até a altura de seus rostos. Revelou o picolé azulado que ela tinha em mãos, que mesmo com o clima, estava derretendo. Ele viu também que já estava na metade.
— Já ia ficar com tudo sem oferecer, não é?— Brincou. Em retribuição, ela riu.
— Ué, quando cheguei aqui eu tentei fazer você comer e você até reclamou.— ela sorrateiramente subiu as mãos pelo peitoral rígido e bem definido dele, deixando-as em sua nuca — Eu vou fazer diferente agora...
— Ah, é?— Ele retrucou fingindo surpresa, mas realmente não sabia o que ela queria dizer.
— Aham.— a sua mão direita estava em torno da nuca dele, enquanto a esquerda desceu até as mãos livres de Arashi, ela o agarrou pelo pulso e a deixou sobre sua cintura.— Olha só isso. Uma super mordida vai resolver esse problema...
Deu a sua "super mordida" no picolé, prendendo a maior parte do mesmo entre os seus dentes. Jogou o palito em um canto qualquer e aproximou o rosto do dele. Sem ainda se dar conta do que ela pretendia, ele se viu surpreso com o ato.
Ela balançou a cabeça como se lhe perguntasse:"Ainda não entendeu?", gesto que o fez compreender. Ele sorriu. Logo depois, aproximou os lábios aos dela, abriu a boca e o mordeu, arrancando metade.
— Isso está ótimo, aonde conseguiu?— Mastigava-o com pressa, enquanto fez a pergunta.
— Isso não interessa, vem, me beija logo.— Pediu.
Ele não tinha como não obedecê-la. Aproximou os seus lábios dos dela apressadamente e, atendendo o seu pedido, ele uniu os seus lábios aos dela delicadamente. Ela havia pedido por aquilo, não tinha como não retribui-lo.
Os seus olhos se fecharam ao mesmo tempo em que um sorriso era moldado em seu rosto. O beijo lentamente tornou-se mais apressado e caloroso. Suas línguas agora travavam uma frenética disputa uma para ter o domínio da outra.
Segurou o corpo dela com mais força, apertando o seu corpo contra o dela. Podia sentir cada traço de suas curvas na palma de suas mãos e amava isso, mas mais do que tudo, ele adorava sentir o cheiro de seus cabelos, havia se tornado seu vício.
A troca de salivas entre os dois foi se intensificando, ele cada vez mais sentia a necessidade de tê-la perto. Ama sentir o gosto de seu beijo, o calor de seu corpo e a sua respiração pesar contra o seu rosto. Beijá-la se tornou a sua coisa favorita a se fazer.
Porra, como pode beijar tão bem?! Chega ao ponto de lhe deixar extasiado!
Não entendia muito bem o porquê de precisar tanto de seus beijos e seus abraços, só...precisa. Ultimamente têm se sentido muito confuso sobre como se sente em relação a ela. Arashi sabia que estava conquistando um espaço no coração de Kin, por isso havia decidido se afastar dela.
Tinha medo de que ela sofresse, caso algo de muito ruim lhe acontecesse no dia em que fosse enfrentar Kazu. Não sabe o que aconteceu, mas não consegue se afastar dela. Precisava ter ela sempre assim, precisava de seu beijo.
A falta de oxigênio finalmente bateu a porta, forçando-os a se separarem. Ao olhá-la nos olhos, percebeu exatamente o que tinha que fazer: confiar no que ela dizia e aproveitar cada momento a seu lado, sem medo de viver porque terá que lutar contra um inimigo grande.
— Você se tornou a minha razão de viver.— Afirmou, um pouco antes de deixar um selinho na testa dela.— Eu adoro a sua fragrância, o cheiro de seus cabelos. Adoro sentir o calor do seu corpo sobre o meu, adoro os seus beijos. Eu adoro você.
Ficou nas nuvens ao ouvi-lo dizer aquilo, nunca o escutou falar dessa forma antes com ninguém. A única coisa que lhe doía era não saber se ele estava falando sobre o amor ou sobre uma amizade, ela queria ter certeza absoluta para não se iludir. No entanto, ela se viu obrigada a confessar-lhe algo.
— Sempre que estou perto de você o meu coração bate mais rápido. Ele palpita tanto que eu sinto como se ele fosse pular do meu peito.— pegou o pulso dele e deixou a sua mão sobre o seu peito, fazendo-o sentir as batidas de seu coração. Eles riram juntos. Ele roubou um selinho seu.
— Já disse que amo beijar você?— Ele perguntou e ela só respondeu que não, com a cabeça.— Eu amo beijar você. Acho que você beija muito bem.
— Você só acha?— Brincou, rindo de si mesma.
— É, eu não tenho como dizer com certeza, já que...que você foi... promete que não vai rir?— Ela somente lhe disse que sim, balançando a cabeça.— V-Você foi meu primeiro beijo.— Confessou, com o rosto corado.
— Sério?— Ela não pôde evitar rir.
— Tá bom, eu já estou indo.— Tentou sair aborrecido, era visível pela expressão no rosto dele.
— Não, espera aí.— Disse, parando-o ao segurar firme o seu pulso.— Eu não estou rindo porque acho bobo, na verdade eu...eu acho fofo, só é difícil de acreditar.
— Por que é difícil de acreditar?— Ele queria entender bem aonde ela queria chegar, por isso resolveu prestar atenção.
— Bom, você é...gato demais, faz todas as meninas do reino ficarem babando por você, até a princesa ficou, ou você não se lembra?— Respondeu.— Não faz esse biquinho, como pôde achar que eu riria de você?— Deu-lhe as costas e cruzou seus braços, com o cenho franzido.
— É que é constrangedor. Você sabe que eu nunca dei muita importância pra esse tipo de coisa.— ele a abraçou pelas costas, envolveu seus ombros com os braços e deitou a sua face ao lado da dela — Anda, vamos esquecer isso.
E por vários minutos os dois ficaram ali, um sentindo ao outro sem nada dizer ou fazer. As primeiras gotículas da chuva caíram sobre eles, mas eles simplesmente ignoraram. Talvez, só talvez, estivessem distantes demais para discutirem sobre assuntos do "mundo exterior".
(...)
O pequeno Haru e o enérgico Sora estavam a incontáveis metros de distância longes um do outro, se encarando. O local no qual eles se encontrava era amplo, enorme, rico em mata e árvores. A região também era repleta de montanhas íngremes e pedregulhosa, o acesso à ali era muito difícil.
Mas não para os dois.
Eles sempre arrumavam uma forma de treinar, sempre se esforçando para refinar suas habilidades em batalha. Depois de tudo o que Kin lhes contou, os dois estavam mais destemidos do que nunca a conseguirem isso.
Um único movimento de pés dos dois naquele imenso vale premeditou a ação seguinte; ambos se aproximaram um do outro em um abrir e fechar de olhos. O golpe desferido foi um soco, um atingiu o rosto do outro com todas as forças.
A força do golpe disparou um para cada lado arrastando-os pelo chão, até que eles se ergueram novamente mais determinados do que nunca, ao se recuperarem do choque. Sora passou as costas da mão no canto da boca, enxugando a gotícula de sangue que saía do pequeno corte em sua boca formado pelo golpe que recebeu.
Saltaram o mais alto que conseguiram e se encontraram no ar, o golpe seguinte foi uma joelhada direcionada ao rosto desferido por Sora, golpe do qual Haru se defendeu usando o braço esquerdo. Empurrou a perna dele para o lado com esse mesmo braço, atacando-o com o outro depois, desferindo-lhe um soco.
Sora o desviou com a faca da mão, assim como os que ele desferiu seguidamente.A velocidade dos socos efetuados pelo garoto era enorme,Sora, com muitas dificuldades, se via capaz de desviá-los um a um. Cansou-se de ficar na defensiva e contra-atacou com um chute lateral, dirigido ao rosto dele.
Haru se agachou, assim como fez para desviar-se dos demais. Enquanto o fazia ele recuava, até a força da gravidade os atrair para o chão novamente. O último chute desferido pelo dominador de relâmpagos foi efetuado por cima, utilizando o calcanhar. Ele bloqueou o golpe pondo as mãos na frente, no entanto a força do golpe o jogou contra o chão mais rápido.
O impacto de seus pés sobre o solo com aquela violência foi poderoso o bastante para formar uma cratera. Enquanto segurava a perna dele acima da cabeça, Haru erguia seu olhar. Ele sorriu para Sora, que retribuiu o gesto. Repentinamente pôs mais força na perna, forçando o dominador de chamas a soltá-lo para escapar do golpe, ele o fez e o seu pé colidiu com o solo.
Com um salto mortal para frente ele se pôs em guarda novamente, ao mesmo tempo em que Haru dava vários saltos mortais seguidos para trás. Vendo isto como uma brecha ele fez a sua investida; correu na direção de Haru o mais rápido que conseguia.
Aproximando-se, ele saltou e girou no ar, desferindo um chute contra o rosto do baixinho. Haru escapou do golpe ao lançar o corpo para frente, apoiou as duas mãos no chão e lhe contra-atacou o acertando com as pernas, ao mover-se em cambalhota para frente.
Sora foi atingido em cheio no peito, no entanto amenizou o impacto do golpe ao lançar-se para frente contra o golpe, foi lançado para o ar mas rapidamente voltou a estar frente a ele. Haru sorriu, Sora franziu o cenho, em sinal de irritação. Cerrou os punhos.
— Lute com todas as forças. Lute pra vencer.— Pediu-lhe. — Eu sei que você não está lutando pra vencer, Haru.
— Mas que conversa é essa, é claro que eu tô lutando com todas as minhas forças!— Afirmou o baixinho, erguendo os punhos determinadamente.
— É mentira!— Perceber que ele não estava combatendo-o com todas as forças o deixou furioso. Ele sorriu malicioso.— É bom você começar a fazer isso, porque a partir de agora eu vou começar a atacá-lo para matar!
Sora investiu contra ele o acertando no estômago, com o seu soco mais forte. Enterrou o punho na barriga dele, fazendo com que ele regurgitasse sangue, devido a potência do golpe que recebeu. Segurou o companheiro pelo pulso, o puxou para perto e acertou um soco direto no rosto dele. O garoto só fez tombar para trás, mas sorriu e, ao voltar a si, uniu as mãos em um único punho e o atingiu na cabeça com todas as forças.
Tentou acertá-lo com o mesmo golpe novamente mas, para escapar, Haru moveu o corpo para o lado oposto, pôs-se de pé sorridente e agarrou seu braço, girou dando-lhe as suas costas, apoiou o braço dele acima de seu ombro e impulsionou o corpo para frente, lançando-o com tudo contra o chão.
Sora, no entanto, rapidamente se recuperou do choque e novamente ficou de pé. Canalizou todas as suas forças no seu pé direito, o ergueu até o rosto do seu paceiro de treino e lhe acertou lateralmente na face, fazendo-o se desequilibrar para o lado.
Ao retornar à sua posição inicial, Haru o acertou no rosto, fazendo-o, também, tombar para o lado. Isto deu início a uma frenética troca de golpes. Cotoveladas, joelhadas, socos e chutes, todos golpes vindo de ambos os lados, a uma incrível velocidade.
Os golpes desviados e bloqueados geravam as poderosas ondas de choques responsáveis por fazer toda a área tremer e o chão se rachar. Haru conseguiu encaixar um soco na boca do estômago dele, Sora removeu o seu punho dali e efetuou um contra-ataque, acertando-o com um soco no rosto.
Harusaltou, golpeando-o no estômago com a sua mais forte joelhada. Ainda atordoado pela dor, ele o lançou para longe de si com um chute frontal. Se recompôs a tempo de notar que ele estava voando sem defesa alguma, preparando-se para lançar um ataque sobre ele.
Apontou a sua mão direita para ele em um sinal de "pare" e concentrou chikara nela, vendo o mesmo ser tomado por pequenas e brilhantes correntes elétricas. Sua mão consumiu-se em um brilho ofuscante, o que antecedeu um poderoso raio eletricamente energizado que foi disparado da parte de Sora.
—O quê?!—Haruficou boquiaberto, não imaginava que ele iria levar aquilo tão a sério.
Estava a mercê dele, o máximo que poderia fazer em tais condições, era preparar o corpo para resistir ao ataque, e foi o que ele fez; cruzou os braços em frente ao corpo e a recebeu de frente, gerando uma explosão aterradora. A presença do pequeno foi totalmente ofuscada pelo brilho.
Um grande rastro de destruição erguia-se com a ventania e os destroços. Sorridente, Sora usava as mãos para proteger os olhos daquele fervoroso brilho, esforçando-se para manter-se no chão.
O brilho, a explosão e as ventanias finalmente cessaram, e revelaram a figura de Haru com o corpo repleto de cortes, a camisa rasgada pela metade e os braços ensanguentados. De sua testa escorria sangue, assim como do canto de sua boca, ele não parava de arfar.
— Grr...!!— Haru rosnou, cerrando os punhos com força enquanto encaravaSora.De repente sorriu.— Impressionante, você é muito forteSora, nunca pensei que sentiria tanta dor!
— Você também é poderoso.— Reconheceu, pondo-se de pé.— Mas pra ser sincero, eu não achei que você fosse capaz de sobreviver a esse ataque. Também estou impressionado.
— Quer dizer que você me atacou com todas as forças? E se eu tivesse mesmo morrido?!— Se irritou, não acreditou que ele seria mesmo capaz de fazer aquilo.
— Bah, fica tranquilo, você está vivo, não está?— Andou até ele com um sorriso no rosto, canalizou chikara na palma da mão esquerda e o tocou no ombro, devolvendo-lhe as suas forças com a sua técnica especial de reenergização.— Olha, já começou a chover.
— A gente não vai conseguir chegar lá a tempo, vamos ser pegos por essa tempestade.— Disse, cabisbaixo.— Eu vou ficar ensopado!
— Nós acabaríamos tendo que tomar banho de qualquer jeito, veja o nosso estado.— Sora referia-se ao sangue que os sujava e às sujeiras que impregnavam suas roupas.— Para de reclamar e vem logo.
Foram andando devagar para o Leste, aonde o navio se localizava, no instante. Conseguiam seguir exatamente para aonde o mesmo estava devido a serem capazes de sentir a energia deKineArashi. Andaram por vários minutos até que enfim se viram na trilha final para deixar aquele vale.
No caminho foram pegos pela tempestade, o que limpou o sangue fresco que ainda manchava as roupas dos dois, além de ter esfriado os corpos deles, antes quente devido a batalha que tiveram um contra o outro.
Os dois estavam prestes a deixar a trilha final, quando um forte tremor abalou toda a região, não somente ali, como todo o planeta Terra. Os garotos se entreolharam, como se um perguntasse ao outro o que seria aquilo. Os segundos foram se passando e nada do tipo voltou a ocorrer, eles resolveram que iriam ignorar.
Kaboooom!
Uma enorme explosão clareou os céus, dando ao mesmo uma cor dourada, típica de um fim de tarde. As ventanias que o sucederam vieram de longe, todavia sopraram, com todas as forças, as árvores da área em que se encontravam os dois. Levou cerca de um minuto para que o céu retomasse o seu tom de cor habitual.
— Isso não é normal, tem alguma coisa acontecendo.— Disse Sora, fitando a direção da qual a explosão vinha.
— Uhum, uhum.— Haru concordou — E tem mais, eu tô sentindo uma energia muito fraca vinda de lá, o que será que tá acontecendo?
— Não temos como saber se ficarmos aqui. Vem, vamos lá investigar.— Chamou-o, segundos antes de saltar na direção em que veio a explosão.
Em poucos minutos eles conseguiram se aproximar. De onde estavam, podiam ver uma grande cortina de fumaça. Os dois pararam no topo de uma montanha, a que se localizava logo atrás do local em que ocorreu a detonação.Soraandou até os limites da mesma, acompanhado deHaru.
A cortina de fumaça que aos poucos se dissipava com o ar era cercada por uma cratera enorme. Em seu centro era possível localizar um gigantesco objeto branco e circular, com uma janela de vidro em sua região frontal e incontáveis botões de diferentes tipos e comandos, assemelhava-se a uma nave espacial.
— Olha lá, tem alguma coisa ali.— Haru apontou.
— Hã?—Soraolhou melhor, conseguindo, depois de todo um esforço, enxergar através da fumaça.— Raios, é mesmo! É de lá que vem aquela energia fraca que você falou!
— Quem será que é?
— Provavelmente é algum animal, ou sei lá. Nenhum ser humano tem uma energia tão fraca.— Respondeu.— Vem, vamos lá dar uma olhada.
Os dois saltaram a montanha e pousaram agachados. O dominador de raios foi na frente, aproximando-se da nave com muita cautela. Tentava imaginar qual teria sido a causa daquela super explosão, também temia que aquilo voltasse a ocorrer.
Se aproximou dela e lhe tocou o dedo indicador, correndo pra longe logo em seguida, escondeu-se em uma pedra. Sem entender o porquê de ele ter feito aquilo,Harucontinuou lá e resolveu investigar sozinho.Sorasaiu de trás da pedra e voltou para lá.
Harupassou a sua mão por toda a nave. Ele tentava ver através da janela, no entanto não era capaz, pois ela estava manchada por um tipo de substância verde. Cerrou os punhos e bateu no vidro.
— Tem alguém aí?— Chamou. Não obteve resposta. Ele se virou paraSora.— Acho que não tem n...
Foi interrompido pelo grito deSora, que pulou de susto ao ver uma mão despedaçar o vidro.Haruse afastou da nave em um salto e parou em guarda ao lado deSora.Um homem, de repente, saltou janela a fora, destruindo completamente aquela nave.
A cor de sua pele era branca, tão branca quanto farinha. O mais curioso e bizarro de tudo, é que ele não tinha rosto e nem olhos, não tinha cabelos, não parecia usar roupas, não tinha orelhas e nem um órgão reprodutor, ele só tinha forma. A marca de um sorriso se formou na região aonde devia estar o seu rosto.
Expulsou uma aura negra de seu corpo, algo que fez com queSorativesse fortes arrepios.Harufranziu o cenho e cerrou os punhos, trincando o maxilar. Os seus joelhos começaram a tremer, ele não sabia ao exato o que estava sentindo. Ele só queria saber de uma coisa: quem era aquele ser?
— Quem é você e o que tá fazendo aqui?!— Perguntou. Não obteve resposta alguma.— Responde logo!
O homem diante deles não lhes deu uma resposta, mas pareceu sorrir e os chamou, com o dedo indicador. Um gesto que irritou muito aHaru, que o atacou sem pensar em nada.
— E-Espera, Haru! Raios!— Sora tentou detê-lo, mas já era tarde.
Porém, para a sua surpresa, ele foi capaz de atingir o tal ser em cheio no meio da face, arremessando-o para áreas bem distantes dali.Haruficou de pé, esperando pela sua volta. Era muito estranho.
— Será que ele...morreu?—Soraestranhava a demora do ser, homem que com certeza não nascera na Terra.
— Não, eu não acertei ele com tanta força.— Confessou o outro.— E eu também posso sentir a energia dele, agora tá ainda mais forte do que antes!
Eles foram surpreendidos por dois braços que saíram da terra e se esticaram, tentando pegá-los. Ambos recuavam, só faziam desviar dos ataques que, se os atingisse, poderia feri-los bastante e eles sabiam disso. Os membros surgidos da terra assemelhavam-se a garras afiadas.
As garras foram percorrendo um caminho, o tempo todo saíam e entravam do chão, forçando-os a somente recuar. De repente, o homem, de corpo inteiro, surgiu atrás dos dois. Ao captarem a presença dele, os dois giraram e o acertaram; Sora o atingiu com um chute giratório no rosto e Haru com um soco no peito.
O ser alienígena foi, mais uma vez, atirado para longe. Os dois somente acompanhavam o seu trajeto. O golpe foi tão poderoso que o fez colidir com as montanhas e destruir todas em seu caminho, derrubando também árvores e despedaçando pedras, no decorrer do trajeto.
Segundos depois ele voltou novamente, só que intacto. Cansado de ficar somente naquilo,Haruinvestiu contra ele. Em seu primeiro movimento, ele saltou na direção dele e o atingiu no meio do rosto novamente, segurando-o no ombro para não deixá-lo voar para longe. Continuou a desferir socos contra o rosto dele com todas as suas forças, seguidamente.
Terminou a sequência de golpes acertando um rápido e forte chute giratório no peito dele, lançando-o para bem longe mais uma vez.Harupodia sentir as energias dele aumentarem substancialmente, ele estava muito mais forte do que quando chegou ali.
Viu-o se erguer. O ser estava entre uma fenda aberta na montanha pela colisão de seu corpo. Ele esticou os dois braços além de seus limites e soltou-os, lançando-se contra Haru, que se moveu para o lado oposto, desviando. No entanto, ele o atacou mais uma vez, atingindo-o no rosto com um chute. O homem foi atirado contra o chão.
Sora somente observava de onde estava. Haru saltou o mais alto que podia, reunindo todas as suas forças nos punhos e, ao aproximar-se do chão, juntou ambos em um golpe, lhe atingindo no peito com todo o seu poder. A onda de choque que foi gerada partiu as várias rochas que estavam ao redor deles ao meio, levantando grandes ventanias.
— C-Como é possível que esteja bem depois disso...?— Sora se perguntou.
Haru saiu de cima dele e recuou, vendo-o se levantar aos poucos. Ele pareceu sorrir novamente, gesticulando com o seu dedo indicador, como se os chamasse mais uma vez. Haru e Sora sentiam que deviam acabar com aquilo de uma vez por todas, pois a energia dele estava ficando cada vez mais forte, conforme os segundos se passavam.
Se entreolharam. Um sorriu para o outro.
— Pronto?—Soraperguntou.
— Pronto!—Haru respondeu.
Soraapontou as suas duas mãos para ele, em um sinal de "pare".Haruconcentrou seuchikarana frente do rosto com a boca aberta, o que fez com que se formasse uma esfera em chamas. Uma aura de fogo se acendeu ao redor dele. Aquele ser, estranhamente, se posicionava para receber o ataque.
Os dois ignoraram isso e dispararam suas técnicas. Haru soprou, a partir de sua esfera, um raio brilhante em chamas. Sora atirou contra ele uma rajada de energia elétrica. Ambas as técnicas iam de encontro com o monstro que, por mais estranho que pareça, nada fez para se defender, apenas ficou parado, preparando-se para recebê-la.
Uma explosão gigantesca o consumiu, fazendo o mesmo com as montanhas que o cercavam. O brilho resplandeceu nos céus, dando-lhe um tom de cor azulado. A magnificência de tal detonação era assustadora, foi capaz de, facilmente, envolver todas as montanhas da região.
Haru e Sora foram lançados para longe pelo impacto. As nuvens de poeira que se formaram pelo ar se dissipavam bem aos poucos, assim como os destroços, que paravam de cair. Ofegantes por terem atacado-o com todas as forças, pararam de onde estavam, perguntando-se o que teria acontecido a ele.
Resolveram ir investigar, porém foram surpreendidos ao, novamente, serem atacados. O homem saltou, atingindo aos dois, golpeou Haru com um forte soco no estômago lançando-o para o chão e em seguida acertouSorano rosto, com um chute lateral. Os dois caíram sobre o chão.
Instantes depois, quem pousou foi o homem. Lentamente ele se aproximou deHaruque caíra de bruços, acertando-o nas costas com vários pisões seguidamente.Harunada podia fazer para se defender, pois havia gastado todas as suas energias no último ataque, e o seu inimigo havia superado a sua força. Após deixá-lo incapaz, ele andou atéSora.
O segurou pela camisa e o levantou, virando-o de frente para si. Começou a golpeá-lo com socos no estômago várias vezes seguidas, assim comoHaru, ele nada podia fazer para se defender. Depois de um tempo, o jovenzinho começou a cuspir sangue, cada vez mais perto de perder a consciência.
Apontou a palma da mão para o rosto dele, formando nela uma enorme esfera de fogo. Quando estava bem perto de detoná-la, o monstro foi golpeado nas costas e atirado para frente, soltandoSora.
— Yue-chan...v-você veio...— Foram as palavras ditas por Haru, ao notar a presença jovenzinha de cabelos lisos e curtos que escorriam até no máximo os ombros, violetas como as flores, olhos da mesma cor, pele clara alva e estatura baixa.
— Shh, não fale mais. Eu vou te curar.—Sachi, a morena que tinha mais ou menos o tamanho de seu rosto, cabelos de cor preta amarradas em uma maria-chiquinha, pele alva como a neve e olhos castanhos escuros sussurrou em seu ouvido, direcionando aos seus ferimentos a sua energia.
— T-Toma cuida...— Foram as palavras proferidas por Sora, um pouco antes de ele perder a consciência.
Furiosa por ver os seus amigos caírem daquela forma, a jovemYue não conseguiu se conter. Ela alçou voo e o atacou com todas as forças e seu máximo de velocidade, acertando-o no rosto com uma brutal joelhada. No ar mesmo ela girou, lhe atingindo com o calcanhar na parte traseira da cabeça, fazendo com que ele tombasse para frente.
Ela se pôs de pé e seguiu golpeando-o no estômago sem hesitação, em seguida começou a acertá-lo no rosto com os mesmos movimentos. Para terminar a sequência, ela saltou, canalizou todas as suas forças no punho direito e liberou após o mesmo estar em contato com o rosto dele. A criatura foi, mais uma vez, arremessada para bem longe dali.
Olhou para cima e o viu retornar intacto, como isso seria possível se o havia golpeado com todas as forças? Concentrou seuchikaranos pulmões e o liberou no formato de uma rajada de ar, soprada por ela. O ataque voou em direção linear até o monstro que caía por cima dela, gerando uma explosão de grande porte.
O brilho cegante que ofuscou a presença daquele ser foi o que a impediu de vê-lo mover-se em sua direção. Ele voou até ela, cortou para o lado esquerdo a uma assustadora velocidade e a golpeou nas costas, com uma canelada.Yuefoi disparada para frente após levar o ataque, potente a ponto de, apenas o seu corpo, ser capaz de gerar um grande rastro de destruição.
O monstro pulou, caindo de pé sobre as costas dela. A dor que o golpe proporcionou a garotinha foi grande, formou-se uma cratera na região do solo.
— Yue-sama!—Sachia gritou, não entendia o que estava acontecendo.
— Sai de cima dela!—Haru, totalmente recuperado, pôs-se de pé decidido a livrar a amiga daquela agonia.
Saltou na direção do monstro já desferindo um soco, no entanto, diferente das demais vezes, o ser recuou e começou a desviar dos socos dele.Haru,a partir dali, começou a atacá-lo com todas as suas forças. A rapidez com a qual se movia era fenomenal, parecia dar dificuldades ao monstro, que fazia de tudo para defender-se de seus movimentos.
Bloqueava todos os golpes do garoto que se direcionam a seu rosto, utilizando as mãos, recuando sem se dar conta. Ele pôde, então, sentir a presença deSora em suas costas porém, assim que o fez, já era tarde demais, seu corpo foi perfurado pelo braço carregado com energias elétricas do garoto.Haru ao ver isso parou de atacá-lo, pondo-se de pé normalmente.
— Acho que já acabamos por aqui.— Disse oraishinjá visivelmente recuperado de seus ferimentos, retirando a sua mão do corpo do oponente.
— Isso é o que você pensa.— Declarou o monstro, que, após fazê-lo, golpeouSorano rosto com uma cotovelada.
Sorafoi arremessado contra as rochas, seu corpo seguia partindo-as ao meio, com o impacto. Agarroucom força a cabeça deHaru, puxou-a para baixo e acertou o seu rosto com uma potente joelhada. Com o nariz ensanguentado ele foi jogado para trás, porém rapidamente se recuperou.
Pulou para golpeá-lo no rosto, pois era muito mais baixo. Desferia socos em seu máximo de velocidade e força, sendo eles cruzados e diretos, mas o seu inimigo somente cruzou os braços e desviou de seus golpes sorridente, sempre recuando. Estava prestes a colidir com uma montanha, e para pôr um fim a aquilo, a criatura acertouHaruno rosto, com um poderoso chute lateral.
Haru, no entanto, foi salvo da queda porYue, que voou o pegando no ar. Quem se posicionou ao lado dos dois logo em seguida foi Sora, que não possuía mais do que arranhões e mais alguns ferimentos superficiais espalhados pelo corpo. Seu olhar agora era mais sério. A situação estava se agravando.
— Raios, nunca pensei que fosse tão forte...!— Exclamou, surpreso pelo poder do adversário.
— É muito estranho...— Sachi pensava em voz alta.— Quando nós chegamos aqui, a quantidade de energia que ele tinha nem se comparava com a de agora, ele está várias vezes mais forte!
— Ele parece ter a capacidade de se regenerar. Eu tive a certeza de ter atravessado o estômago dele naquele momento mas ainda assim ele continua vivo.—Sora comentou.
— Se a gente atacar ele junto e com o máximo de nosso poder eu duvido que ele resista!—Haru estava confiante de que isso seria impossível.
— É um bom plano.—Yueconcordou.— Vamos?— Viu os dois assentirem em concordância.
— Eu vou aumentar os poderes de vocês usando toda a minha energia!—Sachi também estava disposta a ajuda, tudo o que queria era ser útil em alguma coisa, já que era para isso que ela fora enviada ali.
A baixinha inflamou o seu chikara, acendendo uma aura de energia rosada ao redor de todos. Uma poderosa onda de ar varreu facilmente toda a área, fazendo em pedaços todas as montanhas e rochas que cercavam-nos. O monstro quase era arrastado pela ventania, tentava agarrar-se ao chão. Ele se prendeu ao mesmo após fincar as garras de seus pés ali, e parou para esperá-los, sorridente.
— KITSUNE BII!— Gritou Haru, soprando contra ele a sua técnica especial.
— RAIJIN!— Exclamou Sora, disparando, através de suas mãos, a sua rajada de raio eletricamente energizada.
— Fuku Yousei!—Yuetambém lançou a sua técnica de tipo vento, soprando-a contra seu inimigo.
Os três ataques voaram a uma inacreditável velocidade até o inimigo, gerando, na Terra, uma explosão poderosa o bastante pra ser vista do espaço sideral. O planeta inteiro foi se estremecendo, enquanto a área do ataque era englobada na explosão.
A ventania e todos os destroços que foram lançados ao ar eram, por si só, o suficiente para chegar a matar qualquer ser humano. Yue agiu rápido e pegou os dois garotos pela gola da camisa, utilizando o seu voo para se afastar com eles dali. Do alto, ela e Sachi observavam a explosão de cores e aquele espetáculo de luz, ambas pediam aos céus para que aquilo se acabasse logo, pois as forças deYuese esvaíram com aquele seu último ataque.
As cortinas de poeira se espalhavam pelo ar, dissipando-se lentamente para no final, revelar uma cratera abismal que se formou com a explosão dos ataques. Nenhuma das duas eram capazes de vê-lo em parte alguma, no entanto, como as duas melhores sensitivas do planeta, eram capazes de senti-lo, ele estava vivo, e agora, mais poderoso do que jamais esteve.
— É... o nosso... f-fim...—Yue declarou, deixando-se cair sobre o solo frio e empoeirado que circundava o abismo.
— Você tem razão.— O inimigo concordou, aproximando-se dos três.— Agora que não há ninguém nesse planeta que possa me deter, eu vou destruí-lo completamente!
— I-Incrível... nunca... imaginei q-que existia alguém tão forte...—Haru não pôde deixar de impressionar-se com a força do seu oponente e nem de reconhecê-la.
— Agradeço o reconhecimento, nanico.— Disse a criatura, enquanto pisava sobre a sua cabeça. Ele ergueu as mãos para o céu e formou acima de suas palmas uma enorme esfera de fogo.— Digam a...
Estava prestes a lançá-la contra a superfície quando, bem a tempo, sentiu uma presença com alto grau de periculosidade atrás de si. Olhou a tempo de reagir e usou a sua velocidade para escapardela.
A morena de cabelos longos que lhe rendeu o apelido de "Rapunzel", pele clara, olhos negros, corpo magro e delicado descalçou uma das mãos, a fim de tocá-lo para, com a sua habilidade especial, transformá-lo em uma simples estátua de pedra sem qualquer sinal de vida, no entanto, ele foi capaz de desviar.
Devido a velocidade que pegara, ela continuou correndo de modo desenfreado com as mãos apontadas para frente, o seu medo era cair e sem querer acabar tocando um de seus quatro amigos que estavam ali caídos, mas por cautela sua, isso não ocorreu.
— N-Naomi-chan...— Foi o que disse Haru, como o único que estava consciente ali, mas incapaz de fazer qualquer coisa.
— Essa foi por pouco, acho que dava para imaginar que algo de muito ruim me aconteceria, se eu fosse tocado.— ele cruzou os braços, enquanto passava pelos garotos caídos, se encaminhando até ela — Eu sou Hera, o imortal. Não vou ser derrotado por garotinhos idiotas como vocês que só usam a força para resolver seus problemas!
— O q-que...? D-Disse que é imortal...?—Haru o escutou mas não conseguia acreditar nele. Até aonde sabia, ninguém era capaz de ser imortal, nem mesmo um guerreiro samurai.
— Agora desapareçam com esse planeta estúpido!— Ele lhes disse. Apontou a mão esquerda para o céu e formou, em sua ponta, uma esfera de fogo idêntica a anterior.
A um segundo de atirá-la contra a superfície do planeta ele foi golpeado nas costas, teve o corpo transpassado por uma brilhante e afiada espada de resplandecência dourada. A esfera moldada por ele desapareceu. Momentos depois, ele foi perfurado no coração, de frente, por uma lâmina do mesmo tipo, só que de cor azul-marinho e que emitia uma aura fria, quase congelante.
Algo incomum aconteceu. Ele, pela primeira vez, pareceu cuspir sangue, uma substância rosada, algo que não passou despercebido por Arashi, que o havia perfurado de frente. Os dois somente retiraram as suas lâminas do corpo dele e, logo depois, recuaram, posicionando-se em guarda, de frente para ele.
— Hera, o imortal, certo?—Arashifoi o primeiro a dizer algo sobre.— Farei com que você entenda que nada nesse mundo é imortal, tudo aqui tem um fim!
As palavras dele soaram como uma indireta para Kin,que não entendeu o porquê de ele falar daquela forma, depois dos momentos que passaram juntos. Mas resolveu ignorar isso por enquanto, tinham problemas bem maiores agora. Os dois o atacaram juntos, investindo de frente contra ele.
Arashi deslizava na grande pista de gelo em que ele havia transformado o chão, sua companheira efetuava uma investida aérea, com suas grandes asas douradas. A velocidade de locomoção dos três era tão grande, que eles acabaram por se tornar invisíveis aos olhos dos garotos, que os observavam caídos, ou tentavam.
A única coisa que lhes dava certeza de que eles estavam ali, era o rastro de energia que eles sentiam e as violentas ondas de choques geradas pela colisão dos ataques defendidos e desviados, algo que era capaz de fazer a Terra inteira tremer de modo abrupto. Kin agora era quem o golpeava, no rosto e no estômago com socos, terminando aquilo com um chute direto no rosto dele, golpe que o atirou para longe.
— Pode deixar que eu cuido disso, senhor "tudo tem um fim".— Avisou-lhe.
Notou um certo tom de ironia e irritação na maneira de falar dela, percebendo que havia dito algo que não devia bem na sua frente, o que o fez se sentir um insensível. Tudo o que ele fez foi assentir, recuando para próximo dos garotos. Aquele homem voltou e começou a trocar golpes com Kin.
Yue despertou a tempo de vê-lo.
— A-Arashi-san...— Falou, com somente um dos olhos abertos.
— Não se preocupe com mais nada, descanse. A Kin irá cuidar disso.— Afirmou, após ouvi-la e perceber o estado em que ela se encontrava.
Arashi era o único ali capaz de seguir os movimentos dos dois, impressionando-se com o fato daquele ser estar sendo capaz de equiparar-se à Kin, em velocidade. Ela o atacava com socos e o atingia por todo o corpo com a maioria, porém ele ainda era capaz de bloquear e de se esquivar de alguns.
Desferiu um direto contra o rosto dele, ele bloqueou e o desviou para cima, Kin contra atacou, atingindo-o na costela. Ele tentou acertá-la com um cruzado, Kin desviou somente jogando o corpo para trás e voltou, o acertando com um soco direto no rosto. O segurou pelo braço para não deixá-lo voar com o golpe e o chutou no estômago, enterrando o seu pé na barriga dele.
—É muito estranho, nunca vi algo assim antes. Por que as energias dele estão aumentando, quando deveriam cair? Kin o está atingindo com todas as forças e ele está agindo como se não fosse nada. E ele também pôde se recuperar depois de ter sido perfurado por mim e Kin. Entretanto...— Arashi se manteve de longe, agachado, apenas analisando o inimigo. O momento em que o perfurou no coração voltou à tona em sua mente.—Ele com certeza sentiu o meu ataque.
Olhou diretamente para o peito dele, percebendo que o buraco criado pela sua espada acabava de se fechar, mesmo depois de tantos segundos. Percebeu também que todos os golpes que Kin o acerta, se regeneravam segundos depois, e logo após isto, a sua força aumentava de modo considerável.
Ele então entendeu tudo.
Kin agora era a golpeada. O monstro avançou acertando-a no rosto, ela nada podia fazer para se defender. O último golpe desferido por ele foi um chute frontal, que a arremessou para perto de Arashi. Ela enxugou com as costas da mão uma gota de sangue que escorreu do corte em seus lábios e apoiou todo o peso de seu corpo nos cotovelos, que estavam sobre o chão.
— Está tudo bem?—Arashi lhe perguntou.
— Sim, eu só tenho alguns ferimentos superficiais, como cortes e arranhões.— Explicou, enquanto sentava-se.— Ele é muito forte...
— Eu preciso que você ataque ele de novo, tudo o que eu quero é confirmar uma coisa.— Pediu, ela assentiu, se ergueu e investiu contra ele mais uma vez.
— Não vê que é inútil...?— Perguntou a criatura, enquanto se defendia com os braços dos socos diretos desferidos por ela.
Flutuando no ar com o auxílio de suas asas, ela golpeava-o com socos, os poucos que o atingiam eram cruzados em seu rosto, mas a maioria ele desviava com as mãos e os braços, recuando infindavelmente. Para o último ataque ela foi capaz de canalizar todas as suas forças no punho, somando-a a sua velocidade.
Porém, ele foi capaz de esquivar do soco direto, saltou por cima dela e se moveu para as suas costas, golpeando-a na nuca com a faca da mão. Ela sentiu o golpe, no entanto se virou com uma esfera de energia dourada na palma da mão, a tocando no estômago dele.
Uma potente explosão de luz dourada envolveu todo o seu corpo, desintegrando com facilidades todo o solo abaixo dos dois. Ela sorriu, tinha plena confiança de que o matara com aquele movimento, mas ao sentir a sua energia, Kin entrou em pânico.
— I-Impossível...!— Exclamou, atônita.
Uma mão saiu do meio da fumaça, a agarrou pelo rosto e uma outra a golpeou no estômago. O brilho de luz sumiu, o que revelou a figura de Hera, que ainda estava intacta. Após a golpear com vários golpes iguais a aqueles no estômago, ele a lançou para longe. Usando a sua velocidade, Arashi foi capaz de pegá-la no ar em seus braços, salvando-a da queda.
— É o fim pra vocês!— ele apontou a mão para o céu e, mais uma vez, moldou aquela esfera de fogo, só que em uma escala maior.
— E a-aí... o que d-descobriu...?—Kin perguntou a Arashi, com um sorriso no canto dos lábios.
— Ele não é imortal. De alguma forma, seu corpo é capaz de absorver os danos que ele sofre e os converte em energia, algo que consiste em duas etapas, sendo que na primeira ele a usa para regenerar os danos, e na segunda, ele a converte em força, aumentando todos os seus atributos físicos e o poder de suas técnicas.— Explicou.
— I-Isso é desumano...como nós vamos fazer pra matá-lo, então? Ele é o verdadeiro significado da palavra "imortal"...
— No entanto...— disse ele, em tom continuativo.— Eu fui capaz de calcular o tempo que o corpo dele leva para absorver os danos que ele sofre. Algumas áreas mais vulneráveis, como o coração, leva algo em torno de treze segundos. As outras regiões levam em torno de três segundos. Eu quero que você se levante e o ataque no estômago com todas as suas forças.
— M-Mas se fizer isso eu vou acabar destruindo a Terra... você sabe que eu não controlo bem os meus poderes...— Ela lhe disse.
— Não precisa se preocupar com isso, o corpo dele vai se encarregar de absorver os danos e a explosão. Confie em mim — Pediu, ela assentiu e devagar se pôs de pé.
— E-Eu também v-vou...ajudar...!— Haru se colocou de pé, ao lado de Kin, após muito esforço.
— N-Nem pen...p-pense que eu vou ficar de fora dessa!— Sora também se ergueu após muito esforço, pondo-se de pé ao lado de ambos.
— Podem c-contar comigo também...!!— Yue também estava disposta a ajudar.
— São uns idiotas mesmo...— Disse Hera, observando a aura de energia que tomou o corpo dos quatro enfileirados a sua frente.— E por causa disso...VÃO VOAR EM MILHARES DE PEDACINHOS JUNTO COM ESSE PLANETA!
Ele disparou a esfera contra a superfície, porém, o raio de luz de Kin foi de encontro a mesma, explodiu e a consumiu de forma relativamente fácil, fazendo-a desaparecer por definitivo. A explosão continuou seguindo em rota linear até alcançá-lo, juntamente com os ataques de Yue, Sora e de Haru.
Como Arashi havia lhes pedido, eles acertaram as suas técnicas no estômago da criatura, causando uma explosão de porte assustador, algo que foi capaz de ser visto até mesmo do espaço, porém, como o retalhador previu, o corpo dele se encarregava de absorver a energia dos ataques, não deixando que a explosão se alastrasse e causasse danos a Terra.
Essa é a minha deixa!
O retalhador canalizou todo o chikara que havia em seu corpo na palma da mão direita, que foi envolvida em um cubo de gelo. Um raio congelado foi disparado da mesma mão, e foi seguindo o seu caminho até entrar na explosão, atravessando o coração dele novamente.
— Dois...um...— O retalhador contava mentalmente, se preparando para golpeá-lo mais uma vez.
Utilizando a sua grande velocidade, ele surgiu nas costas de Hera em um piscar de olhos, transpassando o seu coração ao lançar contra o mesmo a sua espada de gelo. Ambos os seus ataques colidiram dentro do músculo involuntário dele, o que o fez explodir de dentro para fora
No entanto, devido a falta de energia que sofreu, ele pôde ver que não seria capaz de escapar, ciente de que não iria sair vivo dali e que poderia até chegar a ser morto. Porém, ele não contava que Kin seria a sua salvadora; ela se moveu pra frente dele e ativou a sua defesa indestrutível, o glorioso anjo de ouro Kage-Tenshi, que suportou a explosão facilmente.
No entanto, o impacto da mesma arremessou ambos pro chão, todo o território foi tomado por um brilho intenso. Todas as nuvens de fumaça formadas se dissiparam, revelando em seu centro a figura de um abismo de alcance pequeno, porém de grande profundidade.
— C-Conseguimos...— caída por cima dele, com o rosto deitado sobre o seu peito e um sorriso no rosto, Kin lhe disse — N-Nós...c-conseguimos...!
— S-Sim...— Confirmou, após selar a sua testa com um beijo.—O sentimento que temos um pelo outro é capaz de superar qualquer coisa, ele gera dentro de nós a maior força de todo o universo, uma força insuperável.
Após confirmar-lhe que a vitória era deles, ele perdeu a consciência devido a falta de energia, assim como ela e todos os outros que, por não serem capazes de erguer sequer um dedo, tiveram que passar a noite ali, todos dormiram sobre o chão.
Após uma luta sofrida, os guerreiros de Áries foram capazes de superar a força deste grande inimigo! Muito obrigado por manter a Terra segura para nós, e até uma próxima!!!Fim.