13: Haru finalmente chega à Big Bright!
Ryan estava atônito. O que ele mais temia aconteceu: foi-se feito um refém, e o pior de tudo, é que o refém era a sua irmã menor e eles, seus sequestradores, com certeza já sabiam disso.
Aquele parecia um pesadelo. Primeiro o seu pai, e agora ela. A sua situação se reverteu de uma forma impressionante: antes os tinha em suas mãos, agora são eles quem tem tudo sob controle.
Viu-os lentamente caminhar para perto dela, que terminava de emergir das paredes. Kikuchi usou a sua mão imunda para empurrá-la com violência, a fazendo cair sobre os joelhos, para frente.
— Miserável...!— Praguejou o rei impotente.
— E então, pequeno Ryan? Já mudou a sua maneira de pensar?— A ironia e a confiança falavam mais alto e claro no tom de voz de Kikuchi, demonstrando-os que já sabia sobre sua imensa vantagem.
Ryan não lhe deu ouvidos, estava ocupado demais pensando em uma forma de se livrar daquela situação. A sua calmaria deixava claro que ele estava analisando a sua atual condição para elaborar um bom plano.
O luminosiano agiu rápido. Bateu a palma das mãos no solo e fez moldar, frente a ela, um braço feito com o mesmo material que agora compunha o chão.
Os dois ao lado dela sequer tiveram tempo de reação, quando deram-se conta do ocorrido, a pequenina já havia sido pega e levada janela a fora.
Kikuchi franziu o cenho, cerrou os dentes e, com uma única e aparentemente simples braçada ele partiu o braço na metade, algo que causou espanto em Ryan.
Sem qualquer sustento, a garotinha, ainda nas mãos do membro de terra, acabou por cair junto com o mesmo. Veron saltou a janela e parou no ar.
O perseguidor voou frontalmente direção à ela, estendendo a sua mão para tocá-la. Já a milímetros de tocá-la, ele sorriu para ela que o olhou aterrorizada.
— Guuaaargh!— Gritou em uma tentativa inútil de agarrá-la, mas tudo o que pegou foi nada.
O que havia a sua frente era nada mais que um brilhante rastro de luz dourada que se dissipou com o movimento de sua mão mas claramente marcava todo um caminho a sua frente.
Percorreu-o com os olhos em busca da pessoa que o deixou ao passar por ali, notando que o mesmo desapareceu no horizonte, em um pequeno brilho de luz.
— Q-Que diabos...?!— Veron não entendeu nada.— Será algum samurai...? Mas quem aqui nesse mundo, além do rei, seria capaz de se mover a essa velocidade?
— O que está esperando aí, soldado Veron?! Vá atrás dela!— Seu mestre apareceu da janela e lhe deu a ordem.
— Sim, Kikuchi-sama.— E avançou ao horizonte, seguindo aquele rastro de luz deixado para trás.
Kikuchi se virou a tempo de ver Ryan erguer o punho para socar-se no estômago, mas se moveu tão rápido para as costas dele que foi capaz de chegar lá antes que ele pensasse em efetuar o movimento.
Ele o agarrou pelos pulsos e liberou em seu corpo uma inebriante descarga elétrica, tão poderosa que ao atingir o seu sistema nervoso, o paralisou por completo.
— AAAAAAHH!— Ryan gritava, enquanto o seu corpo estremecia, esfumaçando-se.
— Ryan!— Exclamou o rei, preocupado com o filho que havia se ofuscado com o brilho dos sinais elétricos que não cessavam os seus estouros.
Ao enfim alcançarem o sistema nervoso de Ryan, as descargas elétricas o paralisaram por completo, deixando-o a mercê do malvado Kikuchi.
Ryan foi, com todo o cuidado, posicionado de joelhos por Kikuchi que claramente tinha medo do que poderia acontecer ao talismã, que ele ainda tinha no estômago.
Kikuchi levou a mão esquerda até a cabeça de Ryan, agarrou-lhe os cabelos e os puxou, fazendo-o retrair a expressão com a dor.
— Você vai ficar aqui quietinho...— soltou-o — Terá que ficar bem acordado para presenciar o sofrimento de sua querida irmãzinha, após a pegarmos.
— M-Maldito! Não ouse tocar um só dedo nela ou eu...!— Ryan o ameaçou.
Kikuchi dava risadas de Ryan, pelo fato de o mesmo, no instante, estar incapaz de mover um dedo e de joelhos, mas ainda insistir em enfrentá-lo.
Ignorou-o pois não podia feri-lo, levou as mãos às costas e se dirigiu à janela, a cerrando para impedir que todo o ar gelado de sua sala emanado pelo ar-condicionado escapasse pela abertura que ela dava.
Lá fora, a perseguição continuava. Sara mantinha seus dois olhos fechados, ela curiosamente ainda esperava pela queda. Não se dera conta de que fora salva.
Salva por um garotinho que sequer era um habitante do mesmo mundo que ela, um jovenzinho nada típico, baixinho, de cabelos cor de abóbora arrepiados, pele clara e brilhantes olhos castanhos.
O topo de sua cabeça era enfeitado por uma brilhante auréola de cor dourada assim como suas asas, que forneciam um rastro contínuo de luz por onde quer que ele passasse.
Ele a tinha em seus braços, carregando-a no colo por onde quer que fosse. Sara lentamente abriu os olhos, cansada de esperar pelo destino que nunca lhe vinha.
— Hã?— olhou para um lado, olhou para o outro. Desviou o seu olhar para cima, fitando o rosto de Haru.— Quem é você?
— O meu nome é Haru, mas e você, por que tava voando pela janela quando eu cheguei nesse planeta?— Indagou-a, confuso.
— É claro que eu não fiz aquilo de propósito, eu nem sei voar, por que eu faria uma loucura dessas?!— Esbravejou.— E além do mais você claramente não é desse planeta, então me diz logo o que está fazendo aqui e de onde vem!
— Hum...eu vim da Terra, sou um terráqueo!— Sorriu e lhe disse em resposta.
— Já ouvi falar desse planeta mas...lá, todo mundo tem asas e uma auréola...? Tipo um anjo...?— Curiosa, ela levou o dedo até a sua auréola, tocando-a de leve.
— N-Não!— Haru tentou impedi-la pois já imaginava o que iria lhe acontecer, pois ocorria com todos. Mas ela não levou nenhum choque ou reagiu de modo estranho, o que o fez deduzir que ela, assim como ele...— Uau, você também tem o coração puro!
— Como é...?— Não entendeu bulhufas do que ele disse, mas no exato momento em que tiraria essa história a limpo, a sua atenção foi roubada por seu perseguidor, que ainda estava no encalço deles.— Ei, olha ele lá, ele está vindo!
— Tá falando daquele cara que tentou te pegar quando você tava caindo?— Questionou-a, olhando para trás. Ela assentiu.— Você pode ficar tranquila, eu não vou deixar ele te machucar!
E explodiu em impacto, arrancando para o horizonte e sumindo em um brilho momentâneo de luz. Vê-lo aumentar sua velocidade de voo de forma tão abrupta, fez Veron deduzir algo.
— Eles já sabem que eu estou quase os alcançando.— Franziu o cenho, o seu maior medo era falhar na missão de levá-la de volta pois uma falha era algo que Kikuchi definitivamente não tolerava.— Eu não vou deixá-los fugir!
Veron também explodiu em impacto, aumentou a sua rapidez de voo em um só instante e desapareceu no horizonte. Em pouquíssimos segundos já podia vê-los novamente.
O vilão se desesperou, ao descobrir-se incapaz de acompanhar a velocidade de voo do garotinho lá na frente. Ele se afastava cada vez mais e Veron, ao contrário dele, se aproximava do cansaço.
Como último recurso para impedi-los de escapar, começou a os atacar com suas esferas de ar comprimido. Como o esperado por ele, Haru esquivava-se de todos, porém o seu objetivo foi atingido: fazê-lo retardar a velocidade de voo.
As esferas de ar comprimido colidiam com as montanhas abaixo, reduzindo-as a pó em somente um instante. Haru não deixava de se impressionar com o poder de seu inimigo, mas não podia lutar com ele ou pelo menos não por enquanto.
— Ele tá quase alcançando a gente!— Sara, que podia vê-lo, não parava de avisar a Haru sobre a posição do oponente.
— Vou tentar despistar ele!— Haru cortou voo para a direita e foi, como o imaginado, seguido por ele.
Veron continuava a lançar esferas de ar comprimido contra Haru que somente desviava de todas, com um sorriso serelepe nos lábios. Ele dava giros em pleno ar, divertindo-se com aquilo.
O seu adversário se irritou com isto.
— Maldito nanico, está brincando comigo!— Praguejou. Sorriu ao se ver ao lado dele.— Agora eu te pego!
Haru olhou para o lado perplexo por vê-lo tão perto. Ele esticou o braço para o lado e efetuou o bote tentando pegá-los mas, mais uma vez, tudo o que conseguiu pegar foi nada.
Somente uma projeção óptica foi deixada para trás pelo garoto que centenas de metros a frente dava língua e acenava para ele. Haru continuou seguindo para o norte a todo vapor.
Ele efetuou o pouso após encontrar um local aonde achava que poderia enfrentá-lo. Pôs Sara de pé e virou-se de frente novamente para a direção da qual viera. Sara estranhou a sua atitude.
— O que foi? Despistamos ele, não...?— Perguntou, desconfiada.
— Quase isso, mas ele ainda tá vindo por aí.— afirmou o baixinho — Se esconde atrás daquela parede e só sai quando eu disser.
— Por quê? O que você tá pensando em fazer?— Perguntou.
Haru olhou mais para cima e viu um ponto de luz brilhar. Era ele, não tinha dúvidas.
— Corre!— Ordenou em desespero, ao constatar que era ele, de fato.
Sara o obedeceu, escondendo-se dentro do quintal de uma das muitas casas abandonadas daquela cidade. Ela apoiou as costas sobre a parede a frente e jogou o rosto para o lado, a fim de observar tudo.
Podia ver Haru parado, esperando por seu perseguidor, que, no instante, terminava de pousar de frente para ele. Sara se perguntava o que ele pretendia.
Muitas coisas ela se perguntava sobre ele, o que é de se esperar quando, do nada, você vê alguém totalmente diferente da raça de seu planeta chegar e te salvar.
Mas ignorou as dúvidas, resolveu prestar atenção.
— Saia da minha frente e vá embora, nós não temos porque lutar já que a White Volcano não tem nada contra você.— Começou Veron.
— Mas eu tenho tudo contra vocês, e diferente do que você acha eu digo que também deveriam ter contra mim.— pôs-se em posição de luta — Não vou deixar que você machuque ela!
— Pela aparência, você vem da Terra. E-Espera!— Veron passou a se lembrar de algo que escutara sobre um terráqueo que perdeu pra Yuzuko quando o mesmo esteve na Terra.— Você é o nanico que foi derrotado pelo Yuzuko...! — se colocou em sua pose de batalhar — Deixe-me alertá-lo sobre uma coisa: dentro dos White Volcano, ele, o Yukuzo, sempre foi o mais fraco.
— Também quero te avisar de uma coisa: nenhum de vocês já conhece a minha verdadeira força, eu não vou perder tão facilmente!— Exclamou, confiante.
— Ora, que anãozinho mais petulante...— falou, segundos antes de finalmente investir contra ele.
Na metade do caminho, Veron sacou a sua espada e desferiu o corte frontal contra o rosto de Haru, que se agachou e contra-atacou com um chute no estômago.
O golpe foi tão forte que arremessou para longe e o teria jogado sobre o chão, se o mesmo não tivesse levantado voo no instante. O golpe seguinte desferido por Veron foi uma voadora vinda do ângulo em que ele estava.
Haru recuou e ele atingiu o chão com todas as forças. Um rápido chute giratório foi efetuado depois, o garotinho se agachou, girou e o atacou com uma veloz rasteira. Veron deu um breve salto escapando do golpe do garoto.
Ainda no ar, ele girou novamente e desferiu o chute. O baixinho se defendeu do chute usando os braços, girou as mãos, o agarrou na canela e começou a girá-lo com toda a força e velocidade.
Para encerrar a sequência, ele o atirou contra o chão com força, saltou e caiu sobre o estômago dele com os dois pés, a quantidade de saliva que ele vomitou deixou claro que o golpe doera nele, e muito.
Com um único salto mortal para trás Haru se distanciou dele. Os dois eram observados por Sara, que se surpreendeu com o que vira ocorrer.
— Impressionante! — Sorriu esperançosa.— Ele é muito forte, ele tá vencendo!
Veron se levantou da cratera na qual fora enterrado, limpou de leve o canto da boca com as costas da mão e voltou a encará-lo.
Ele percebeu que, um inimigo do tipo dele, Haru jamais seria capaz de derrotar em uma batalha. Isso o ajudou a perceber também que a Via Láctea é grande, assim como o resto do universo.
Há guerreiros mais poderosos do que os da White Volcano.
Dar-se conta disso o fez enfurecer-se. Já não bastava Santsuki, e agora um "anãozinho" que veio de um planetinha como a Terra?! Se sentia humilhado.
— MALDIÇÃO! MALDITO SEJA!— Praguejou com todas as forças. Desviou o seu olhar para Haru, ainda em fúria.— Eu não vou... NÃO VOU PERDER PRA UM ANÃO COMO VOCÊ!
Veron esticou os braços e abriu a palma das mãos, mostrando-as para ele. O vilão concentrou todas as suas energias na esfera de ar e um raio de vento comprimido foi disparado.
Haru ficou em guarda. Abriu a boca e concentrou chikara frente a seu rosto, formando uma esfera em chamas. Sorriu para ele.
— Seu bobão!— estufou o peito, jogou o rosto para trás e, após voltar, soprou chamas na esfera — KITSUNE BII!
Um jato de fogo foi disparado da esfera materializada por Haru, o raio colidiu com o outro e o sobrepujou consumindo-o facilmente, e depois percorreu todo o caminho até atingi-lo em cheio e explodir.
A explosão levantou ventania e poeira, forçando Haru a lutar pra se manter no chão. A força do impacto fora tão grande que fez todas as rochas do solo desprenderem-se do mesmo.
A explosão finalmente cessou, revelando, além de uma cratera, uma mancha enorme de fumaça que se dissipava com o ar. Ele viu que nada sobrou de seu adversário.
— Incrível, você é muito forte!— Sara o abraçou pelas costas, lhe agradecendo por tê-la salvo.— Obrigada por me salvar.— O beijou no rosto.
— Não foi nada.— Retrucou Haru, afagando-lhe os cabelos com a mão esquerda.— Ei, você pode me contar o que tá acontecendo aqui? Por que aquele cara tava te perseguindo e por que você caiu daquela janela?
— Há três dias esse planeta foi atacado por alguns alienígenas. Eles mataram um monte de gente, muitos conseguiram deixá-lo bem há tempo mas alguns não tiveram a mesma sorte e foram mortos depois de pegos. O meu pai foi o único que ousou desafiá-los, mas foi facilmente derrotado pelo chefe deles na frente de todos. — Contava-lhe com certa angústia no olhar, era notável.— Eles dominaram a torre do meu papai e levaram ele preso, disseram pra gente que só iriam deixar ele ir se déssemos o talismã da neve.
— Então não era mentira e eu não me enganei, ele estava aqui o tempo todo!— Haru agora estava mais confiante.
— O meu irmão mais velho teve a ideia de engoli-lo para que eles não pusessem as mãos, m-mas...por culpa minha ele foi preso igual ao meu papai. Graças a ele eu pude escapar mas eu teria sido pega de novo, se não fosse por você. Obrigada.— Agradeceu-o novamente.
— Sem problemas.— Disse-lhe ele, em resposta.— Escuta, por que é que aqui tá fazendo tanto calor?— Haru se abanava o tempo todo, notou isso desde que entrou na atmosfera.
— Eu nunca soube o porque em detalhes, mas o meu papai uma vez me contou que é porque o nosso planeta emite luz própria, ele não precisa orbitar nenhum astro. Aqui não existe a noite como nos outros planetas e nós não precisamos de água para nada além do banho, mas isso o meu papai e o meu irmão trazem de outros lugares todos os dias e levam para uma sala especial que temos aqui.— Lhe explicou.
— Ah, então é por isso.— Haru olhou em volta — O seu planeta é bem maior do que a Terra, e é muito bonito também. Tá bom — ele esmurrou o peito, determinado — eu vou ajudar vocês a se livrarem desses bandidos!
— Sério?— Indagou-o, esperançosa.— Eles são muito perigosos, você acha que pode com os outros? Quero dizer, o chefe deles pôde vencer o meu papai facilmente...
— Não se preocupa comigo, eu também sou muito forte, posso te garantir que não vou perder tão facilmente! Além do mais, eu já ia ter que lutar com eles de todo o jeito, já que vim aqui pra recuperar o talismã do meu reino...— Retrucou.
— Então você também tá atrás do talismã...— ela desviou o seu olhar para o pé do garoto, que não estava no chão.— O seu pé... ele tá machucado...?
— É, eu...— Haru estava prestes a explicar a ela tudo o que teve que passar para chegar até ali, quando sentiu uma energia que lhe era muito familiar. Desviou o seu olhar para o céu.— É ele, tá chegando!
— Q-Quem...?— Sara lhe perguntou, fitando a mesma direção.
— O malvado que me derrotou lá na Terra e quase me matou.— Respondeu. Sorriu.— Agora eu vou ter a minha revanche! Corre pra lá de novo, esse cara também é perigoso!
Sara assentiu e correu, voltando pro lugar para aonde escondeu-se na primeira ordem e no primeiro inimigo de Haru. Sara observava o pequenino que parecia ter a mesma idade que ela — se não for mais novo — sorrir confiante olhando pra cima, enquanto uma nave branca se aproximava mais e mais da superfície.
Depois de salvar Sara das garras de Kikuchi, Haru enfrenta e derrota um dos temíveis guerreiros da White Volcano! Agora, ele se vê de frente para a última chance de recuperar o talismã da terra! Dê o melhor de si, Haru, você consegue!!!
Fim do décimo terceiro capítulo.