Enigma
Desaparecimentos misteriosos
Era uma noite cálida de novembro. As folhas amareladas das árvores esvoaçavam perante a brisa de inverno. Um uivo, esse dos buracos das árvores, era ouvido pelos animais que ali estavam, os assustando a ponto de fazê-los parar o que faziam e se esconder. Essa paisagem seria normal para aquele tempo, se não fosse pelo rastro de sangue que se destacava mais do que o que se via.
"Sangue fresco", foi o que constatou um dos moradores de uma vila próxima.
Um grupo de homens entrou na floresta naquela hora para procurar pistas sobre um jovem, filho do ferreiro da vila, desaparecido fazia dois dias. Era a terceira busca que faziam ali e, ao verem o sangue, estremeceram. Claro que não tinham como provar que os desaparecimentos recentes tinham algo a ver com os rastros de sangue encontrados exatamente três dias depois de cada um dos sumiços, mas todos daquele grupo acreditavam que os garotos que sumiram estavam mortos.
Depois de procurarem por mais uma hora, o grupo resolveu voltar, decidindo dizer que as buscas cessariam por não terem mais pistas de onde procurar. Mas nem todos do grupo concordaram com a decisão. Três homens, um ancião e dois jovens novos, relutaram em aceitar o que os outros propunham. Então, separando-se dos outros, os três adentraram a floresta, voltando para o ponto onde os rastros pararam. Observaram a área como um todo, tentando descobrir o que deixaram passar.
O uivo do vento assustou um dos jovens, que deu um grito como reflexo. Vendo que estava sendo encarado por quatro olhos, o garoto levantou os ombros e deu um sorriso amarelo.
- Foi mal. - falou.
Voltando a suas buscas inconclusivas, o pequeno grupo resolveu, assim que a lua se pôs logo acima de suas cabeças, fazer uma fogueira com suas tochas e comer um pouco para reaver as energias. Cada um trouxe um pequeno lanche de suas casas, envolvido por alguns panos velhos. Enquanto comiam, o jovem mais corajoso resolveu conversar:
- Ei... Por que vocês não concordaram com a decisão dos outros?
O ancião olhou atentamente para os dois jovens.
- Acredito que seja falta de educação um velho começar com seus motivos primeiro. Fale-nos o seu, garoto. - ele apontou para o que tinha feito a pergunta, o olhando com um quê de desafio. - Talvez seja o mais nobre de todos os que estão aqui.
Sentindo seu ego inflado, o corajoso levantou-se de peito alto e, batendo uma das mãos fortemente no torso, falou:
- Bem... Um colega meu acabou desaparecendo. Notei sua falta logo no outro dia, quando ele não apareceu no treino. Era um jovem que tinha muito talento - não tanto quanto eu, mas ainda assim - e o instrutor logo imprimiu uma busca a ele. As buscas não tiveram retorno, assim como os outros desaparecidos, e o grupo se debandou. Participei de todas as outras buscas depois da desse colega, mas todas terminavam da forma como essa terminou: As pessoas desistindo no final. Devo dizer que hoje decidi não mais receber ordens e resolvi continuar procurando os jovens. - falou de peito estufado. - O máximo que pode me acontecer é eu desistir, o que não vai ser fácil.
O ancião acenou então para o medroso, que tremia um pouco de medo - embora ele tenha dito antes que era de frio. O garoto resolveu não se levantar, no caso. Pensou um pouco para achar as palavras certas que definiam o motivo de estar ali, com os outros dois, enquanto poderia ter ficado em casa. Depois de algum tempo, sua voz finalmente saiu da garganta:
- Meu melhor amigo desapareceu. - começou. - Não consegui aceitar as explicações dos aldeões, então resolvi participar das buscas. Fiquei frustrado o suficiente hoje para não mais acompanhar o grupo dos outros. Embora eu tenha minhas suspeitas de que todos tenham morrido por causa dessa tal... Coisa que sequestra as pessoas, ainda tem uma parte de mim que acredita que está tudo bem... Que é só uma brincadeira.
O corajoso olhou para o medroso com desprezo, antes de voltar seu olhar ao velho senhor, que parecia meditar sobre as palavras que os dois disseram. Deu um pigarreio, trazendo o ancião de volta ao mundo real, e falou:
- E o senhor? Agora vai responder a pergunta?
Um som mais agudo atravessou os ouvidos dos três que estavam ali, causando arrepios nos homens. O velho, passado o susto, sorriu fracamente, como se lembrasse de uma história bem nostálgica. Ajeitou-se no tronco em que estava sentado e olhou por algum tempo para o crepitar do fogo que iluminava o lugar onde estavam.
- Meu filho foi vitima desses ataques. Devo dizer que foi o primeiro a sofrer isso. - ele riu fracamente. - É estranho porque eu já participei de tantas buscas e, embora não concordasse, aceitei a decisão dos outros. Mas algo me intriga até hoje. Eu notei o desaparecimento de meu filho pouco tempo depois, diferentemente de vocês, que notaram só um dia depois. O que me intriga é que, em todos os outros desaparecimentos, a pessoa ou coisa que capturou essas pessoas não deixou nada além de um rastro de sangue. No do meu filho, "ela" deixou uma mensagem.
O velho, com suas mãos enrugadas, pegou de um dos bolsos uma folha de sequoia bem grande e estendeu para os dois jovens. Ao pegarem a folha, os garotos notaram que ela estava manchada de sangue seco, de forma a transmitir uma mensagem. Como a luz era fraca, foi muito difícil para que eles conseguissem ler o que estava escrito.
- "Decifra-me"? Só isso? - falou o corajoso, curioso.
O velho acenou com a cabeça, dizendo nesse gesto que também não tinha ideia do que isso significava. Depois de terminarem seus lanches, os três voltaram a procurar por mais pistas. Os três resolveram se separar para ver se conseguiam mais resultados dessa forma. O medroso entrou mata adentro, logo perdendo vista dos outros dois. Enquanto o vento parecia esfriar e os uivos pareciam ficar cada vez mais frequentes, o garoto avançou olhando tudo e assimilando o que sua mente detectava.
A luz do medroso acabou se apagando com o vento e, sem mais direção, resolveu andar para um dos lados para ver se conseguia encontrar ou a vila ou um dos homens de seu grupo. Algo pareceu soprar diretamente em sua nuca, o fazendo virar pra trás diversas vezes, mesmo que não conseguisse ver nada. Alguns galhos pareciam se enroscar em suas pernas, prendendo-o por pouco tempo. Até a lua minguante no céu parecia estar rindo sinistramente, como se estivesse pensando em alguma maneira de aproveitar de seu medo.
"Isso só está em sua cabeça", pensou.
Sentiu cheiro de sangue e estremeceu, querendo correr para qualquer lugar, mas não tendo direção alguma para isso. Então, vendo que essa era sua única orientação, seguiu o cheiro, indo parar na clareira onde os três fizeram a fogueira. A luz da lua conseguiu penetrar o suficiente para que o medroso visse o corpo do corajoso estendido ao chão, dilacerado. O grito ficou preso em sua garganta ao ver os ossos nus das costelas do colega e suas tripas escorrendo para o lado esquerdo. Notou também que uma das pernas do outro estava sumida e, ao olhar melhor, a encontrou na árvore acima de si mesmo, ao levantar o olhar para o céu.
Virou-se, preparando para fugir, quando encontrou também o corpo do ancião, da mesma maneira no qual encontra o do mais novo. A única diferença era que, cobrindo sua face de horror, estava a folha de sequoia e seu "decifra-me". Desnorteado, apoiou-se em uma das árvores, enquanto fazia de tudo para não vomitar perante o que via e o que sentia. O vento pareceu ficar cada vez mais forte, como se acompanhasse as batidas frenéticas de seu coração assustado.
"Decifra-me... Decifra-te o quê?", pensou atordoado e assustado.
Um clarão veio em sua mente e, vagaroso, voltou seus olhos aos dois corpos com o queixo caído. A surpresa que esboçou em seu rosto era tanta que, quando detectou os olhos da criatura em meio a sombra das árvores, o rosto não se contorceu mais. Sabia que aquilo só deveria existir em livros de ficção, mas viu com clareza a criatura erguer-se de seu esconderijo e um sorriso se formar na face desta, como se já esperasse que aquilo acontecesse.
- ...Devora-me? - sussurrou o medroso.
"Sangue fresco", foi o que constatou um dos moradores de uma vila próxima.
Um grupo de homens entrou na floresta naquela hora para procurar pistas sobre um jovem, filho do ferreiro da vila, desaparecido fazia dois dias. Era a terceira busca que faziam ali e, ao verem o sangue, estremeceram. Claro que não tinham como provar que os desaparecimentos recentes tinham algo a ver com os rastros de sangue encontrados exatamente três dias depois de cada um dos sumiços, mas todos daquele grupo acreditavam que os garotos que sumiram estavam mortos.
Depois de procurarem por mais uma hora, o grupo resolveu voltar, decidindo dizer que as buscas cessariam por não terem mais pistas de onde procurar. Mas nem todos do grupo concordaram com a decisão. Três homens, um ancião e dois jovens novos, relutaram em aceitar o que os outros propunham. Então, separando-se dos outros, os três adentraram a floresta, voltando para o ponto onde os rastros pararam. Observaram a área como um todo, tentando descobrir o que deixaram passar.
O uivo do vento assustou um dos jovens, que deu um grito como reflexo. Vendo que estava sendo encarado por quatro olhos, o garoto levantou os ombros e deu um sorriso amarelo.
- Foi mal. - falou.
Voltando a suas buscas inconclusivas, o pequeno grupo resolveu, assim que a lua se pôs logo acima de suas cabeças, fazer uma fogueira com suas tochas e comer um pouco para reaver as energias. Cada um trouxe um pequeno lanche de suas casas, envolvido por alguns panos velhos. Enquanto comiam, o jovem mais corajoso resolveu conversar:
- Ei... Por que vocês não concordaram com a decisão dos outros?
O ancião olhou atentamente para os dois jovens.
- Acredito que seja falta de educação um velho começar com seus motivos primeiro. Fale-nos o seu, garoto. - ele apontou para o que tinha feito a pergunta, o olhando com um quê de desafio. - Talvez seja o mais nobre de todos os que estão aqui.
Sentindo seu ego inflado, o corajoso levantou-se de peito alto e, batendo uma das mãos fortemente no torso, falou:
- Bem... Um colega meu acabou desaparecendo. Notei sua falta logo no outro dia, quando ele não apareceu no treino. Era um jovem que tinha muito talento - não tanto quanto eu, mas ainda assim - e o instrutor logo imprimiu uma busca a ele. As buscas não tiveram retorno, assim como os outros desaparecidos, e o grupo se debandou. Participei de todas as outras buscas depois da desse colega, mas todas terminavam da forma como essa terminou: As pessoas desistindo no final. Devo dizer que hoje decidi não mais receber ordens e resolvi continuar procurando os jovens. - falou de peito estufado. - O máximo que pode me acontecer é eu desistir, o que não vai ser fácil.
O ancião acenou então para o medroso, que tremia um pouco de medo - embora ele tenha dito antes que era de frio. O garoto resolveu não se levantar, no caso. Pensou um pouco para achar as palavras certas que definiam o motivo de estar ali, com os outros dois, enquanto poderia ter ficado em casa. Depois de algum tempo, sua voz finalmente saiu da garganta:
- Meu melhor amigo desapareceu. - começou. - Não consegui aceitar as explicações dos aldeões, então resolvi participar das buscas. Fiquei frustrado o suficiente hoje para não mais acompanhar o grupo dos outros. Embora eu tenha minhas suspeitas de que todos tenham morrido por causa dessa tal... Coisa que sequestra as pessoas, ainda tem uma parte de mim que acredita que está tudo bem... Que é só uma brincadeira.
O corajoso olhou para o medroso com desprezo, antes de voltar seu olhar ao velho senhor, que parecia meditar sobre as palavras que os dois disseram. Deu um pigarreio, trazendo o ancião de volta ao mundo real, e falou:
- E o senhor? Agora vai responder a pergunta?
Um som mais agudo atravessou os ouvidos dos três que estavam ali, causando arrepios nos homens. O velho, passado o susto, sorriu fracamente, como se lembrasse de uma história bem nostálgica. Ajeitou-se no tronco em que estava sentado e olhou por algum tempo para o crepitar do fogo que iluminava o lugar onde estavam.
- Meu filho foi vitima desses ataques. Devo dizer que foi o primeiro a sofrer isso. - ele riu fracamente. - É estranho porque eu já participei de tantas buscas e, embora não concordasse, aceitei a decisão dos outros. Mas algo me intriga até hoje. Eu notei o desaparecimento de meu filho pouco tempo depois, diferentemente de vocês, que notaram só um dia depois. O que me intriga é que, em todos os outros desaparecimentos, a pessoa ou coisa que capturou essas pessoas não deixou nada além de um rastro de sangue. No do meu filho, "ela" deixou uma mensagem.
O velho, com suas mãos enrugadas, pegou de um dos bolsos uma folha de sequoia bem grande e estendeu para os dois jovens. Ao pegarem a folha, os garotos notaram que ela estava manchada de sangue seco, de forma a transmitir uma mensagem. Como a luz era fraca, foi muito difícil para que eles conseguissem ler o que estava escrito.
- "Decifra-me"? Só isso? - falou o corajoso, curioso.
O velho acenou com a cabeça, dizendo nesse gesto que também não tinha ideia do que isso significava. Depois de terminarem seus lanches, os três voltaram a procurar por mais pistas. Os três resolveram se separar para ver se conseguiam mais resultados dessa forma. O medroso entrou mata adentro, logo perdendo vista dos outros dois. Enquanto o vento parecia esfriar e os uivos pareciam ficar cada vez mais frequentes, o garoto avançou olhando tudo e assimilando o que sua mente detectava.
A luz do medroso acabou se apagando com o vento e, sem mais direção, resolveu andar para um dos lados para ver se conseguia encontrar ou a vila ou um dos homens de seu grupo. Algo pareceu soprar diretamente em sua nuca, o fazendo virar pra trás diversas vezes, mesmo que não conseguisse ver nada. Alguns galhos pareciam se enroscar em suas pernas, prendendo-o por pouco tempo. Até a lua minguante no céu parecia estar rindo sinistramente, como se estivesse pensando em alguma maneira de aproveitar de seu medo.
"Isso só está em sua cabeça", pensou.
Sentiu cheiro de sangue e estremeceu, querendo correr para qualquer lugar, mas não tendo direção alguma para isso. Então, vendo que essa era sua única orientação, seguiu o cheiro, indo parar na clareira onde os três fizeram a fogueira. A luz da lua conseguiu penetrar o suficiente para que o medroso visse o corpo do corajoso estendido ao chão, dilacerado. O grito ficou preso em sua garganta ao ver os ossos nus das costelas do colega e suas tripas escorrendo para o lado esquerdo. Notou também que uma das pernas do outro estava sumida e, ao olhar melhor, a encontrou na árvore acima de si mesmo, ao levantar o olhar para o céu.
Virou-se, preparando para fugir, quando encontrou também o corpo do ancião, da mesma maneira no qual encontra o do mais novo. A única diferença era que, cobrindo sua face de horror, estava a folha de sequoia e seu "decifra-me". Desnorteado, apoiou-se em uma das árvores, enquanto fazia de tudo para não vomitar perante o que via e o que sentia. O vento pareceu ficar cada vez mais forte, como se acompanhasse as batidas frenéticas de seu coração assustado.
"Decifra-me... Decifra-te o quê?", pensou atordoado e assustado.
Um clarão veio em sua mente e, vagaroso, voltou seus olhos aos dois corpos com o queixo caído. A surpresa que esboçou em seu rosto era tanta que, quando detectou os olhos da criatura em meio a sombra das árvores, o rosto não se contorceu mais. Sabia que aquilo só deveria existir em livros de ficção, mas viu com clareza a criatura erguer-se de seu esconderijo e um sorriso se formar na face desta, como se já esperasse que aquilo acontecesse.
- ...Devora-me? - sussurrou o medroso.
OBS :
Minha primeira One-Shot de Suspense. Não sei se ficou legal, mas tá aí.
Créditos do template a Operetta, de um fórum de PJ -- que é muito gata.