Sasuke escreveu:
Mas Jorge, você não falou isso durante toda essa discussão?
Eu entendo e concordo que a educação de qualidade, de maior duração, dentre outras coisas podem e devem afastar os jovens das ruas, mas acontece que NO BRASIL, esse tipo de coisa, como a Kamui (Nat) disse, é muito distante para uma parte IMENSA do país.
E além disso, não basta melhorar as escolas que temos, melhorar o conteúdo apresentado nelas, e sim criar mais, fazer com que os jovens vão até elas. Foi como eu disse no meu primeiro post: tem jovem que acha que a escola tem que bater na porta de casa, e como ela não o faz, ele vai ao crime buscar a vida fácil, dinheiro fácil.
Entenda que eu sou sim a favor das melhorias apresentadas por você, mas o problema está nos políticos do nosso país, que são os únicos que podem fazer acontecer. Podemos protestar, podemos exigir sim, mas o Brasil faz isso até demais e não sai do lugar.
Você é contra a redução da maioridade penal e se preocupa em melhorar a educação. Mas enquanto isso? E os jovens que estão matando e roubando? O que faremos com eles até que o Brasil tome decência (coisa que você sabe muito bem que vai demorar DÉCADAS)?
Sobre comparar Brasil com Estados Unidos e Alemanha: é justo sim. Ou você acha justo e normal um país como o nosso, com tantos habitantes, com a riqueza natural, dentre outras coisas, daqui a 10 anos não ter nem a metade da qualidade de ensino que hoje esses países têm?
Para você, só porque começamos a corrermos antes, é justo sermos retardatários?
Aí eu te pergunto mais uma coisa: se daqui a 10 anos estaremos na mesma merda, por que você, hoje, continua a aceitar os jovens infratores nas ruas e esperar por um milagre?
É injusto e incoerente cultural e historicamente comparar as transformações sociais do Brasil no tempo e no espaço com as transformações sociais dos Estados Unidos ou Inglaterra no tempo e no espaço. Os Estados Unidos foi colonizado como colônia de povoamento, já o Brasil foi colonizado como colônia de exploração. Os Estados Unidos conseguiu sua autonomia política muito antes do Brasil. Os Estados Unidos, a França, Alemanha, Inglaterra e Holanda, por exemplo, pensaram e construíram um sistema educacional para a maioria maciça de suas populações, e não apenas para uns pouquíssimos grupos aristocratas e oligarcas. Culturalmente, nestes países, houve um fortíssimo incentivo a instrução intelectual e acadêmica das pessoas.
A história da educação brasileira é bem recente e data dos anos de 1930, quando foi pensada e construída a primeira universidade brasileira, que foi a USP e mesmo assim foi feita para os filhos da elite paulista. Apenas com o tempo é que o ensino superior foi se abrindo ao público em geral e este processo levou décadas.
O ex-presidente FHC, além de ter ficado 8 anos no poder e não ter criado se quer uma universidade, ainda criou durante seu governo uma medida provisória proibindo a construção de escolas técnicas. Ou seja, mais anos de atrasos e ausência de investimentos no nosso sistema educacional. E quem sofreu com isso? Bem, foram os filhos da classe trabalhadora e da classe média baixa, os filhos das famílias pobres, em sua grande maioria, habitantes das periferias das grandes cidades brasileiras. O filho do pobre e do trabalhador não foi incluído no sistema educacional de imediato, mas só depois de séculos e décadas. Isto se chama exclusão social e á exclusão social é uma das mães da criminalidade e da violência.
Apenas de 2003 para cá é que foram criadas no Brasil mais de 400 escolas técnicas, como também houve a extensão de vários campus universitários pelo interior dos Estados, alcançando os grotões do Brasil. Foram criados programas de incentivo ao ingresso no ensino superior e técnico, a exemplo do PROUNI, FIES, PRONATEC e CIÊNCIAS SEM FRONTEIRAS. Com a criação do REUNI em 2008, houve o aumento das vagas nas universidades públicas e criação de novos cursos e carreiras e as verbas das Universidades Federais aumentaram exponencialmente.
Hoje, a quantidade de jovens frequentando as universidades, as escolas técnicas e as faculdades mais do que dobrou, diferente do passado, em que nem metade da metade da juventude brasileira frequentava e terminava um curso superior ou técnico.
As coisas não acontecem do dia para a noite, mas demandam tempo, as vezes décadas. A redução da maioridade penal não amenizará a mazela da criminalidade gerada por jovens menores de 18 anos, nem a curto prazo e nem a longo prazo, mas apenas complicará a situação. O Brasil já experimentou isso no passado, quando baixou a maioridade penal de 21 para 18, e não surtiu nenhum efeito positivo, mas apenas deixou a situação mais complexa e caótica. Como a
@Kamui, não será enchendo as prisões brasileiras de adolescentes que resolveremos este problema. Apenas a reestruturação e fortalecimento de nosso sistema educacional que se resolverá este problema a longo prazo.
Ainda se tem o triste revés de que se baixarmos a maioridade penal, estaremos baixando também a idade para a criança e o adolescente cometer crimes. Ou seja, os traficante estarão recrutando para o tráfico crianças mais cedo ainda. E isto, só em pensar, é terrível e triste.
Para finalizar, quero dizer que o discurso eleitoreiro, covarde e oportunista, ou seja, a razão para a "redução da maioridade" é encobrir a incompetência do Estado e da sociedade brasileira em promover o debate e efetivar os direitos fundamentais previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente, fato esse que está diretamente ligado a redistribuição das riquezas nesse País. SOU TOTALMENTE CONTRA A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL. A redução tem cor, sexo e classe social NESSE PAÍS.
Para questão de comparação, pesquise acerca dos resultados dos países que reduziram a maioridade penal. Inclusive há alguns que já pensam em voltar atrás. Veja o link abaixo em que organizações lutam na justiça por aumento da maioridade penal na Inglaterra, e não sua redução.
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/38291/organizacoes+lutam+por+aumento+da+idade+de+responsabilidade+criminal+na+inglaterra.shtml
Para encerrar de vez esta discussão, as estatísticas das polícias militares e civis mostram, no geral, que os índices de criminalidade referentes aos indivíduas menores de 18 anos apenas equivalem a 2%.
Aqui eu encerro minha participação no tópico, pois não tenho mais nada a acrescentar nesta discussão.
O Brasil não pode desistir de suas crianças e adolescentes!
http://www.cartacapital.com.br/politica/o-brasil-nao-pode-desistir-de-suas-criancas-e-adolescentes-2045.html