O que eu acho sobre isso? É indiferente e não representa muita coisa - mas pode sim representar.
Como já citado, a "sexualização" infanto juvenil tem margem histórica, está baseada na evolução cultural, no simples sentido da transição de idéias. Nesse âmbito, vale salientar que mesmo com uma instituição moral na formação do jovem, como a família (ou responsáveis legais), sempre houveram seus desvios. Ser moralmente correto, no que diz respeito a não contradizer-se conforme o próprio pensamento, é impossível. Sempre existirá questão em que não há um discernimento e que haverá contradição, seja pela falta de informação/conhecimento ou de um contexto. O papel da cultura, em vista seus padrões, é o de adequar uma visão generalista sobre um aspecto, independente da ética ou moral familiar (apesar da cultura se valer de valores éticos e de moral, eles são de massa e ignoram minorias e individualidades). Dentro da cultura brasileira temos fortes exemplos hereditários, o que inclusive nos transforma em um país culturalmente cristão e ao mesmo tempo um povo corrupto, mas acima de tudo, nossa principal característica é a tolerância em vários aspectos, como religioso e étnico.
A nossa corrupção, o tal do jeitinho brasileiro, não passa de uma herança do passado. Não digo que é por todo o mal, mas deve ser considerado ruim pois é danoso para a sociedade. Entende-se por exemplos; Uma pessoa que leva uma infração de trânsito e transfere a perda de pontos na CNH para outra pessoa. Dentro das circunstâncias adversas, o infrator dirigia em momento que não havia travessia de pedestres, num trecho onde era alto o índice de assaltos a mão armada e assim entende-se que seu erro fora justificável, mas ainda assim uma infração. Em contramão, temos o que vem se tornando culturalmente aceito na sociedade, apesar de anti-ético e ilegal, que é a "contratação" da CNH (exalto o termo que é utilizado na prática pelas escolas de trânsito, artifício linguístico para que os diálogos não sejam explícitos).
Ainda nesse aspecto, podemos relembrar de alguns exemplos que nos rondam. Boçalizando pela internet, encontrei uma pagina no buzzfeed que aludia a como os anos 80 e 90 eram permissivos. Dispus de três imagens ótimas: A primeira era duma caixinha de "cigarros de chocolate", no qual um menino com um cigarro estava desenhado na capa; Outra era da capa do cd da Xuxa, com dois bebês nus e desenhados uma calcinha fio dental na menina e uma folha de arvore no menino, tapando as partes íntimas; E não se esquecendo da Rainha dos Baixinhos, com as tetas quase de fora num programa infantil na tv e rodeada de crianças. O conteúdo imagético pode ser visto pela semiótica como popularmente se refere a "mensagens subliminares", levando símbolos adversos num contexto que pouco se relaciona. No caso, são de fato produtos para crianças, mas estão denotando comportamentos adultos.
O que se nota então é que a situação vêm caminhando à aceitação a muito tempo, com o uso desses sentidos implícitos em vários produtos que eram ou ainda são consumidos por crianças (está aí uma boa razão para a lei de publicidade infantil, mesmo com algumas pontas pouco justificáveis em determinadas proibições). Uma entrevista com o pai da Mc de oitos anos mostra um lado interessante; A garota é ciente da importância de sua formação acadêmica e de que pouco entende do que cantava ou dançava, mesmo que no fim afirme que seu caminho será o de cantora. A ingenuidade da criança é justamente em querer se reproduzir mais velho em determinados momentos. Lembro-me que cheguei a brincar que eu tinha um comércio quando criança e comecei a vender bugigangas feitas de gravetos, pedras e outras porcarias que eu encontrava, depois vendi gelinho e cheguei a vender títulos de rifas. Eu ia trabalhar com meu pai e ficava o dia todo fora e não achava ruim, ao contrário, insistia para que ele me levasse, mesmo que eu fosse só para ficar andando pelo lugar sem fazer nada, já me sentia realizado.
Conclui-se que é não de hoje que as crianças se espelham nos adultos, o cuidado se deve na base familiar. Mesmo com a existência do funk e de exemplos de sexualidade, há de se ter um controle maior por acesso ou busca por conversas que coloquem um entendimento na cabeça da criança. O mal não é o funk, talvez possa ser a marginalização de quem mora em favelas ou bairros "boca quente", que geralmente é de onde sai o material. Na entrevista na qual me referi, ainda se encontra a constatação de que a garota mc imitava o que via de exemplos adultos.
O ponto chave é até aonde a liberdade sexual não será danosa para nossa sociedade. Levar conotações sexuais a partir de muito cedo incidirá em graves casos de disfunção do sexo; colocando em evidência que o sexo tem duas funções, a reprodução e o prazer, corremos o risco de criar uma sociedade do prazer (se é que já não é uma realidade) e logo isso fará sentido no texto. Não se confunda agora: sexo por prazer na nossa espécie é o natural, não é e nem se quer pode ser considerado errado quando assim visto, faz parte de instintos. Por diversos motivos, a falta de um limitador moral causará em médio prazo um efeito onde o sexo, banalizado, será tão comum que a sociedade viveria em função dele, contrário de que ele nos servisse. O problema é que abrindo essa possibilidade, o reflexo é a iniciação sexual cada vez mais cedo, acontecendo então um retrocesso cultural (não há custo lembrar que em décadas e séculos passados e ainda hoje em determinadas partes do globo, a prática sexual infantil não é/era estranha e sim comum).
Isso implicaria no agravo de inúmeros problemas sociais ou até mesmo o falso apoio a muitas lutas - a sociedade seria sexista, mais do que já é. Lembrando agora dos casos dos trens e ônibus em São Paulo, que chegou ao nível de surgir uma ideia de vagão rosa só para mulheres, tudo para amenizar os abusos cometidos - uma sugestão muito extrema e que não faria eficiência numa metrópole, mas serve para ilustrar o quanto a situação estava insuportável. Os "encoxadores" se uniram em redes sociais e marcavam locais mais apropriados para os "encoxões". Aconteceram nesses casos intervenções e os praticantes do ato foram procurados, de modo que alguns foram punidos.
A interpretação da justiça é o fator para configurar um crime, principalmente num caso de exibição de uma erotização infantil. É necessário na sociedade que se lute contra o retrocesso e que a lei apoie o apelo social. Voltando a figurar o caso da criança mc, segundo disposições legais, se deve analisar também um contexto, pelo menos é dentro disso que a defesa se vale. Por falta de termos corretos e pouco conhecimento, deixo como se o responsável (o pai da mc) colocasse como a situação ocorreu e explicar também porque não havia regularização da atividade da menina nos palcos, que se for por ignorância a disposição, pode ser justificável. Mesmo assim, o papel de quem julga é determinar se o contexto muda alguma coisa na responsabilidade. No meu ponto de vista é que independente do contexto deve haver uma punição, não necessariamente a tomada da guarda, mas a justiça pode interferir e negar o pedido da regularização dos shows da criança e dispor que pais e criança tenham obrigatoriamente acompanhamento psicológico, para que também haja um parecer definitivo posterior.
Obviamente que penso assim para esse caso em específico, no entanto, em casos mais extremos a justiça poderia ser também extremista. A erotização infantil deve ser combatida para evitar que a permissividade evolua para o descontrole.
Agora conecto a frase inicial com a forma da própria sociedade combater isso; se o que acho não representa nada considerável, a cultura pode ser um bom meio de inversão de valores. No caso, a erotização da sociedade é a cultura que predomina para o caminho da aceitação dessas situações extremas, logo é relevante uma contra cultura atuar; como se pode relacionar períodos literários nesse sentido para entender o que eu propus. Não é uma solução imediata, mas não se vale apenas de repressão com base em lei para mudar alguma coisa, é necessário que hajam pensadores para criar o contra argumento para essa realidade e de que forma podemos fazer isso, prezando ainda a liberdade de expressão.
Não é só no funk; o sertanejo, o axé e uma parte de ritmos ligados ao forró também aludem muito ao sexo. A forma como é tratado o sexo e a disponibilidade de material contam nessa balança, que mede a responsabilidade da cultura, mesmo que seja apenas em uma parte dela que ocorra. Não é disseminando ódio e idéias uma boa forma, mas apresentando um outro tipo de material, uma inovação e com força de expressão. O rock já fora um ritmo muito ligado ao sexo, o que não é uma realidade tão frequente hoje. Os ritmos musicas como culturas são voláteis e tendem a se transformar, até mesmo artistas. Podemos pegar dois exemplos totalmente sem relação para analisar: A evolução (sem relação necessária à qualidade) das letras do Aerosmith e Valeska Popozuda.
O sexo não deve ser tabu (não é assunto que deve causar estranheza ou desconforto), mas é como já citado, uma questão para um sadio convívio social e regada de bom senso que hajam limites morais, como também para não permitir que a sociedade caia em um abismo de monstruosidades, atitudes boçais e desnecessidades, afinal, realmente é necessário que se aceite que uma criança, por mais madura que possa ser psicologicamente, se sujeite a atos que ela mal pode suportar e que seu entendimento pode variar durante os anos de transição para adolescência e fase adulta? Fica a reflexão.