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Capitulo 1 – O Losoul rank Gama e a Espada flamejante.

A Vila estava um caos.
Eu, minha mãe e minha irmã, estamos sentados num canto do quarto mais afastado da casa, de costas para parede. Nos abraçando o máximo que podemos.
A única iluminação vinha de frestas na janela aonde a cortina não cobria e os sons eram apenas nossas respirações descompaçadas e alguns soluços.
Minha mãe chorava silenciosamente mergulhada no desespero.
Faz poucos meses, desde que fiz 17 anos. E isso significava que eu já era qualificado para lutar no exército... E que em momentos de emergência, eu estava automaticamente alistado.
Alguns soldados foram designados a buscar os Jovens no oeste da cidade.
Eu tentava me esconder para não ir nessa luta suicida e desnecessária. Minha mãe sofreria muito se eu fosse.
Meu pai morreu em uma dessas tentativas de contra-ataque amadoras. Há dois anos, a vila sofreu um ataque de magnitude menor, mas mesmo assim ele teve que ir. E veio a falecer nessa luta.
Eu não sei o que realmente estava acontecendo lá fora. Eu prefiro saber mais tarde quando a confusão passasse.
Posso até soar um pouco egoísta e covarde, porém estou apenas proteger a minha mãe de outra grande perda, e ela é muito mais importante que um bando de estrategistas de batalha burros que dizem que eu tenho que lutar.
Ouvi o rangido da porta da frente sendo aberta rapidamente e batendo na parede com força. Prendi a respiração, talvez eles achassem que os moradores da casa tivessem fugido.
Ouvi os passos apressados de pelo menos três homens, procurando pela sala.
Meu coração acelerou quando ouvi passos muito próximos, atrás da parede.
Mas finalmente os homens foram embora e suspirei aliviado.
Um deles passou pela janela do quarto em que estávamos, e ele notou a presença de pessoas nele.
“Têm gente aqui” Ele gritou.
Em questão de segundos, a janela foi quebrada e dois homens entraram nela.
Meu braço foi puxado, e eu sabia que não havia como lutar para não ir. A minha energia seria gasta em vão.
Olhei pra minha mãe que chorava muito e dizia palavras que não entendi devido aos soluços.
“Vai ficar tudo bem, mãe”
Eles me arrastaram pelo braço, e eu cortei minha perna em uma aresta do vidro quebrado quando passei pela janela. Mas não senti dor relevante.
Eles me soltaram e corri ao lado de um dos homens.
“O que está acontecendo?” Perguntei.
“Ataque de Losoul” Ele respondeu com um tom de desconcentração.
Arregalei um pouco os olhos. Essa era uma situação de emergência.
Nunca vi um Losoul de verdade em toda a minha vida.
“Que rank?” Tentei parecer indiferente, mas havia um tom de desespero mesmo que pouco perceptível na minha voz.
“Gama” Disse ele com a voz ainda desconcentrada.
Esse era o terceiro maior rank, não estávamos preparados pra isso. Definitivamente era uma jornada suicida.
Há alguns poucas décadas, vários tipos de monstros “apareceram” na terra, por um motivo que ainda anseio saber. Eles são os chamados Losouls. Entre eles há vários níveis de poder: alfa, beta, gama, delta e épsilon.
Por causa da repentina aparição dos losouls, as vilas viraram fortalezas. Fortalezas que mal podem se defender de um único delta.
As armas que se utilizam são precárias, não fazemos comércio com cidades a mais de um raio de 100 km daqui, e as armas delas são tão desenvolvidas tecnologicamente quanto as nossas. Todos têm medo dos perigos do mundo de fora.
A diferença entre os poderes de um delta e um gama são extremas. Um delta está para um gama como um copo de água está para o oceano. Nosso destino definitivamente estava traçado.
Eu corria nas vielas estreitas que haviam entre os pequenos prédio e casas.
“Vá até a rua principal, e siga os outros” Ordenou o soldado, voltando para buscar mais jovens.
Parei quando ouvi um barulho ensurdecedor. O losoul havia destruído uma parte da muralha interna. Tremi.
Haviam duas muralhas, a externa e a interna, a primeira cercava toda a extensão da cidade, inclusive as plantações e algumas florestas, a segunda apenas a área residencial.
Consegui ver uma parte do Losoul.
Ele era Enorme. Sua pele era alaranjada e a textura parecia de escamas muito duras.
Outra parte da muralha foi destruída.
Percebi que era demasiadamente perigoso permanecer lá.
E tentei chegar à rua principal por dentro da cidade.
Entrei num pequeno beco escuro. No desespero não percebi uma mulher que seguia a direção oposta a minha e acabei trombando com ela. Ela carregava um grosso livro, parecia ser muito pesado para uma moça pequena como aquela carregasse sozinha.
Avisei que o losoul estava daquele lado só que ela não me ouviu ou me ignorou, e continuou seguindo o seu caminho. Dei de ombros. Continuei a correr.
De repente uma mulher morena me chamou do alto de uma escada. Eu olhei para cima e percebi que ela estava com alguns ferimentos, e em suas mãos havia um escopeta que a meu ver era inútil.
“Venha, precisamos de atiradores!!” Ela gritou.
Fui até ela rapidamente. Não havia nada a perder afinal. A moça me levou por mais vários lances de escadas até chegarmos a um telhado plano onde haviam varias espécies de armas. Algumas dúzias de jovens atiravam no losoul e isso parecia não ter nenhum efeito nele, ele parecia ser feito de algum tipo de rocha dura como diamante.
“Tentem abrir um buraco na couraça!” Ouvi a mulher gritar para nós.
Balancei a cabeça com tamanha ignorância. Se a pele era tão dura quanto aparentava ser, somente uma coisa tão ou mais destrutiva poderia fazê-lo sentir dor.
Se havia algum lugar que se atingido iria realmente ajudar a derrotá-lo esse lugar eram os olhos.
Pelo que sei, os olhos são um dos órgãos mais frágeis do corpo dos seres. E mesmo não tendo os conhecimentos suficientes sobre Losouls, tinha a sensação de que não estava errado.
Tentei achar uma arma suficientemente destrutiva para que depois de atravessar um dos olhos, o tiro atingisse um pouco mais fundo dentro da cabeça do Losoul.
Vi em um canto, um canhão carregado. É isso serve.
Apesar de ser suficientemente poderosa, ela chamaria muita atenção dele e seu alvo seria esse prédio. Tinha que contar com a sorte, para que a bala o cegasse.
Em cima do canhão estava uma caixa de fósforos, agradeci mentalmente por não se esquecerem desse mero detalhe.
Virei o canhão pesado em direção ao Losoul.
Não seria difícil o atingir devido ao tamanho dele e por estar virado para nós devido aos tiros insignificantes daquelas pessoas tê-lo chamado a atenção.
Risquei o fósforo e joguei dentro do canhão.
Tampei os ouvidos para não os prejudicar depois do barulho do tiro.
A bala – que duvido que conseguiria carregá-la – voou pelos ares e atingiu o gama.
O tiro atingiu exatamente onde eu queria. E seu rugido de dor me fez sorrir.
Depois disso, eu vi que não tinha pensado, além disso. E agora?
Vi minha vida passar toda diante dos meus olhos. Nem liguei muito pra alguns gritos direcionados á mim. Muitos fugiram. Sobraram um pouco mais de meia dúzia de pessoas aqui.
Há uma moça que não para de atirar por nada e um homem que se recusa a ir sem ela. Há um homem com a perna muito machucada e outro tentando ajudá-lo a sair daquele lugar que depois de algum tempo irá desabar. Há uma moça que não conseguia se mover, perplexa. E eu.
Apesar de tudo, me senti feliz.
Feliz de ter feito alguma coisa contra aquele monstro com mais de 20 vezes meu tamanho.
Já que ele estava virado para cá, imaginei que talvez poderia atingir o outro olho e cegá-lo completamente. E assim o fiz.
Tudo foi como em câmera lenta. A bala ia dançando no céu, enquanto a cidade ardia em chamas e pessoas corriam desesperadas.
Mas dessa vez não acertei, o pânico me atrapalhou.
O Losoul está se aproximando. Ele é muito grande e conseqüentemente muito lento. Apesar do medo eu ainda estou em pé, acho que é a perplexidade. Ele bufou. O cheiro era horrível.
Eu notei a sua aproximação, e fechei um dos meus olhos.
Eu não queria ver a coisa em minha frente, mas mesmo assim, não queria fechar os olhos.
Mas, de repente ele parou.
Uma espada de fogo cortou o gama ao meio. Acho que isso era alguma ilusão pré-morte ou algo parecido.
Minhas forças se excederam e cai de joelhos no chão.
Me recuso a acreditar.
Que tipo de magia aquela pessoa usou?
Agora eu estaria no estomago grotesco do losoul se ele não tivesse me salvado.
Estou grato ao guerreiro da espada flamejante!  




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Eu sei. Tá ridiculo !!! D=
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Última edição por Fehliz em Qui 10 Jun 2010, 15:14, editado 2 vez(es)

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Capítulo 2 – Uma mulher? O nome dela é Natalie.

Quando acordei estava numa sala escura iluminada apenas pela luz da lua, vinda de uma janela pequena. Era tarde da noite.
Minha cabeça estava doendo.
Sentia-me claustrofóbico e confuso.
O quarto é minúsculo. A cama simples de lençóis brancos e armação de ferro estava encaixada entre duas paredes paralelas, como se fosse feita pra estar aqui. O piso era de azulejos. Não reconheci a cor das paredes por causa da falta de luz, mas eram claras. Havia um banco de madeira ao lado da cama. E o cheiro era de algum produto de limpeza barato.
Quando tentei me levantar, senti uma enorme dor na perna direita. E devido a isso fiquei satisfeito em apenas estar sentado na cama.
Admito que entrei em pânico quando pensei estar num quarto de hotel – pelo óbvio motivo de não ter nem um tostão furado. Mas o quarto é pequeno demais até pra uma pousada.
O mais lógico é que estou em um alojamento onde estão abrigando os feridos.
E nesse momento caiu a minha ficha. Foi real.
Minha cabeça estava girando, eu tentava me lembrar do que havia acontecido com mais detalhes antes de desmaiar. Minhas lembranças pareciam mentirosas, então tentava criar coisas que não aconteceram, mas isso fazia eu me sentir mais tonto.
Coloquei as minhas mãos na cabeça, na inútil tentativa de melhorar.
Olhei para o ponto de dor, e vi uma apertada faixa branca amarrada em minha coxa esquerda.
Ouvi o rangido da porta e um barulho que não tinha notado antes vindo do lado de fora. Mas não me preocupei em olhar quem entrava.
“Se eu fosse você, não tentaria me mexer por algum tempo” disse.
Fiquei irritado por quebrarem o meu silêncio.
Não queria falar, nesse momento estava estressado o suficiente sem curiosos irritantes me perguntando o que aconteceu – coisa que no momento nem eu sei – para repassar pros seus amigos de maneira exagerada.
“Se eu conseguisse, eu estaria deitado e quieto nesse momento” Disse tentando demonstrar a minha irritação.
Estranhamente a pessoa riu. Seu riso era feminino.
“Você está bem?” perguntou ela preocupada provavelmente por não ter olhado pra ela.
Quis responder bem grosseiramente, mas me virei antes para olhar quem era.
Era a pessoa de antes, quero dizer, o meu salvador.
Pisquei algumas vezes antes de assentir com a cabeça. Por um instante pensei ter me enganado quando caracterizei sua risada.
Olhei bem para ele(a), não dava pra identificar seu sexo. Seu corpo estava completamente coberto pelo sobretudo unissex e seu rosto oculto pelo capuz. Fiquei curioso.
“Err...” tentei fazer a pergunta de modo descontraído “Qual é o seu nome?” Ele(a) riu.
Acho que a minha tentativa não foi muito eficiente.
“Natalie” disse ela e em seguida jogou o capuz para trás e arrumou os cabelos. Provavelmente, entendeu a intenção inicial da minha pergunta.
Seu rosto é meio oval, as bochechas são ossudas, o nariz é longo e fino. Seus olhos são pequenos e castanhos claros. A pele é pouco bronzeada e os cabelos são loiros escuros e caem em cascada por cima dos ombros. Uma beleza adulta.
Ela se sentou no banco de madeira e cruzou as pernas.
“E o seu?” Ela perguntou.
“Leonardo, mas todos me chamam de Leon” disse.
Ela estreitou os olhos, fazendo com que ficassem menores ainda. Conclui que estava me analisando. Ela abanou a mão discretamente, o suficiente para eu não perceber se não estivesse olhando.
Continuei a observando criticamente.
Ela parecia uma mulher gentil, de raciocínio rápido, e acima de tudo, poderosa.
Ela franziu a testa quando notou a minha observação excessiva. E rapidamente parei a minha análise.
“Você poderia me explicar o que aconteceu?” perguntei
“Resumidamente?” Ela perguntou.
“Tanto faz” disse já impaciente.
“Eu estou de passagem pela cidade. Já fazem alguns dias. E hoje de manhã, alguns homens estavam gritando sobre aproximação de um Losoul. Eles até tentaram lutar contra ele, mas foi inútil. Ele destruiu a primeira muralha e depois a segunda.
“Eu ia ignorar e ir embora. Mas eu notei que a cidade não é pobre em recursos e eu não iria sair perdendo se ajuda-se” Ela gargalhou.
Oh, então havia um motivo para o salvamento repentino.
Eu não a apedrejava por isso, afinal, se eu tivesse chance de lucrar dessa maneira, eu certamente a faria. Porém, por um motivo incompreensivo, a sensação de gratidão e respeito avassaladora que tinha por ela, diminuiu consideravelmente.
“Você quer dizer que foi fácil?” perguntei
Ela riu sem graça.
“Tenho que admitir que não, foi mais sorte eu conseguir atacar pelas costas, você até ajudou o distraindo”
Exclamei um Oh pouco surpreso, afinal, eu acabo só servindo pra essas coisas.
Mas na verdade, eu até que fui útil, eu o ceguei.
“Você vai pra onde?” Perguntei.
“Meu destino final é Liberna, mas depois daqui eu vou pra Próspeta” Ela disse.
“Oh, muito bom” disse com visível desinteresse.
“Se não queria saber, porque perguntou?!?” disse ela irritada e eu tive vontade de rir
“Queria quebrar o silêncio” disse baixo
“Oh” ela exclamou
Ficamos um bom tempo sem nos falar. Estava vasculhando na minha mente alguma desculpa que eu pudesse usar para ela ir embora e me deixar sozinho. Não estava progredindo.
Ás vezes eu olhava rapidamente seu rosto. Estava na maior parte do tempo apoiado nas mãos com olhar vazio.
“O que vai fazer em Próspeta?” perguntei
“Isso é mais um pergunta ‘Quebra-silêncio’?” Perguntou desconfiada e irritada.
“Não” menti
Ela analisou o meu rosto, estreitando os olhos. Franziu a testa.
“Encontrar um amigo” E suspirou logo em seguida.
“Qual é o nome dele?” perguntei tentando fingir interesse.
“Marcus” disse distante “Eu conheço ele a quase 8 anos. Nós viajamos juntos.”
“Então, porque você está sozinha?”
“Eu queria encontrar alguém forte por esses cantos, e nós combinamos de nos encontrar lá daqui a duas semanas” Ela sorriu serenamente.
“Já encontrou?” Perguntei, apoiando minha cabeça na parede áspera na lateral da cama.
“Sim” Seu sorriso aumentou “Estou olhando pra ele”
Arregalei os olhos.
Tem alguém alem de nós aqui e eu não sei?
Não que eu esteja me depreciando, mas sejamos razoáveis, eu não tenho experiência em batalha. E não tenho conhecimentos nem mesmo medianos a respeito do mundo lá fora.
Apesar de conhecimento ser a coisa que mais desejo.
Ela deve estar brincando. Ou isso, ou tem alguns problemas mentais que precisam ser urgentemente diagnosticados
“Eu quero que você vá comigo em minha jornada” Ela repetiu, confirmando a segunda hipótese.
Estreitei os olhos, desconfiado.
“Por quê?”
Ela riu discretamente. Estava tentando me confundir?
“Eu sinto que você é especial” E riu novamente.
“Especial?”
“Sim. Há um brilho nos seus olhos”
Eu a analisei incrédulo.
Aquela pessoa a minha frente não poderia ser tão ingênua e antiética a ponto de pedir para uma pessoa completamente desconhecida que siga com ela.
Afinal, eu não me mostrei uma pessoa digna de confiança até agora. E ela também não.
Apesar de ter nos salvado, ela não o fez porque achava que devia, tanto que estava pronta para fugir, e sim, porque achava que seu bolso iria pesar com a gratidão dos moradores.
Mas não havia nenhum sinal de hesitação em seu rosto.
Eu já presenciei alguns impactos de ataques de Losouls, eram desastrosos. E pelo que sabia, haviam muito mais lá fora. Ela não pode simplesmente pedir que eu fosse com ela, considerando que eu não tenho treinamento. Ela não pode simplesmente me pedir pra morrer.
Ela não é ingênua, ela é egoísta.
Provavelmente deve estar pensando que sou um daqueles garotos sonhadores e inconseqüentes que vão embora com o primeiro viajante que aparece, sem se importar com sua vida ou com o que o espera lá fora.
Mas ao contrário disso, eu prezo muito a minha vida. E se ela pensa que eu devo alguma coisa á ela por ter salvado a vila – e o fato de ela cobrar diminui o prestigio disso – e vou pagar aceitando seu primeiro pedido, ela está extremamente enganada.
“Não” disse calmamente, esbravejar não era de minha personalidade.
Estranhamente, o sorriso dela não diminuiu, ouso dizer até que aumentou.
“Você é uma pessoa peculiar, Leon”
Sorri pela primeira vez desde que ela chegou.
“Você também, Natalie”
Ela sorriu e se levantou.
Tenho uma pequena impressão de que ela não entendeu o que eu quis dizer com Não.
Ela alisou o sobretudo e colocou o capuz na cabeça novamente.
Colocou a mão sobre a maçaneta para sair, mas antes, disse:
“Refaça a sua análise, Leon. Mas dessa vez leve em conta que Próspeta é uma cidade grande, e talvez encontre lá o que esta procurando”
Fiquei em silêncio enquanto ela ia embora.
Eu devo mesmo reconsiderar a proposta?

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Capítulo 3 – Reflexão

Nós só percebemos a existencia das noites de sono ruins.
Ás noites mal dormidas fazem as pessoas reclamarem durante todo o dia e uma notícia boa na maioria das vezes não afeta seus humores , porém nas que dormimos bem, uma notíca ruim arruina o dia inteiro. O ser um humano é uma criatura infeliz.
A minha noite foi péssima. O frio do quarto parecia ser mais intenso depois que Natalie foi embora – frio que não notei mais cedo. E não havia nenhum cobertor ou manta no quarto suficientemente grossa para me aquecer. Mas óbviamente esse não foi o motivo principal de minha noite mal-dormida.
As ideias martelavam minha mente implorando para não serem ignoradas, e com o passar das horas abri a porta permitindo-as invadir o espaço e causarem um tumulto.
E com isso, passei a minha noite analizando silenciosamente os contras da minha ida e os dividi em quatro:
A dor de minha mãe e minha irmã. Desde a morte de meu pai, elas me tem como figura masculina em casa. Ela me ama muito mais do que é possivel pra uma única pessoa. Além disso, eu me pareço muito com o meu pai, e isso é suponho eu, uma maneira que ela tem de sufocar a dor, uma pequena parcela dela pelo menos. Até hoje ouço minha mãe chorando antes de dormir, um som que me é extremamente doloroso. Tenho certeza que não suportaria estar fora consiente da dor dela.
A falta de conhecimento a respeito do mundo lá fora. Acho que seria muito humilhante depender de outras pessoas para conseguir o que quero. Tudo o que sei se resumem aos livros que li na medíocre biblioteca da cidade. Imagine o sentimento de inferioridade que uma pessoa ignorante a respeito de tudo quando chegar numa cidade grande. Mas na verdade a igorância também é um motivo pelo qual eu quero ir.
O perigo. Eu não conhecia o poder dos Losouls, mas sabia que era uma coisa que inimaginável por quem passou a vida inteira numa vila minúscula cercada por todos os lados. Meu consolo porém, era que Natalie também possuia um poder que eu não podia comparar com nada sequer pensado por mim. Um era menor do que o outro, mas não sei qual, isso me deixava frustrado.
E o último motivo era o bom senso. Não podia simplesmente largar toda a minha família e amigos aqui para ir com uma desconhecida para a cidade grande. Apesar disso acontecer em quase todos os livros de aventura ficticia, isso aqui é o mundo real. Nínguem sai com uma pessoa que acabou de conhecer em busca de aventuras, isso é surreal.
Minhas sinceras desculpas aos escritores que já cometeram esse erro, mas pensem comigo.
Tudo o que se narra em livros de aventura, extrapolam os limites de nossa tediosa realidade. Afinal, qual é a graça nesse mundinho onde os dramas diários já podem ser chamados de problemas e a vida se resume a seis ou sete eventos notaveis que acontecem aos baldes nos livros.
Seria divertido viver num conto de fadas com certeza, mas aqui é o mundo real, e se não se preocupar com a vida, você a perde.
Esperei até o quarto finalmente estar inundado da luz solar matinal. Levantei-me, minha perna estava notavelmente melhor que antes.
Ainda não tomei a decisão... eu já deveria a ter tomado. Ela é absurda, não? Ela é completamente impensável? Então porque eu ainda não consigo simplesmente tirar a ideia de ir da minha cabeça. Isso esta me deixando louco.
Obrigado por me confundir completamente, Natalie.
Levantei da cama e tentei achar meus sapatos, mas não sem me livrar do curativo que estava me incomodando a tempos. Franzia testa quando vi o enorme rasgo na minha calça e a enorme mancha escura em volta dele. Achei os tênis embaixo da cama, colocados cuidadosamente. Os calçei lentamente e fui embora do quarto.
O corredor era excessivamente branco e iluminado, além de longo e um pouco estreito. Haviam uma dúzia de outros quartos assim como o que estava e no final dele havia uma escada para o andar inferior. Algumas das portas estavam abertas, então pude confirmar que estava numa estalagem dos feridos na noite passada.
Desci as escadas de madeira branca.
A escada dava para um outro corredor, mas era externo e naturalmente iluminado, lembrava uma calçada. Várias outras escadas brancas também davam acesso aos outros enfermos.
Caminhei lentamente pelas pedras cinzentas encaixadas como piso.
O teto e a parede eram de vidro, e eu podia ver o céu alaranjado e um jardim extenso através deles.
O final do corredor levava a uma área descoberta. O piso era frio e azul-acizentado, desgastado com o tempo, e algumas muretas baixas cercavam o local.
A área ficava entre dois jardins imensos. O do lado oeste era o que já tinha visto, um imenso gramado verde, com algumas poucas árvores e flores ao redor delas. O lado leste era uma grande floresta, cheia de arvores frutíferas. Não havia nenhuma construção no lado oeste.
Passando pela enorme área, se via um enorme galpão deserto. No canto haviam cadeiras e mesas de plastico brancos empilhadas. E por ultimo a recepção, passei pela recepção.
Meia duzia de idosos estavam dividos em dois sofás, conversando sobre assuntos monótonos.
A recepcionista jovem que antes assistia a conversa entediada virou-se pra mim com evidente alivio no rosto.
Seus cabelos escuros estavam presos num coque e ela usava um uniforme.
“Bom dia” disse ela.
“Bom dia” respondi.
Continuei a andar em direção a porta mas ela me chamou novamente.
“O senhor não pode ir embora desse jeito” disse ela preocupada.
Balancei a cabeça. Eu estou bem, então vou embora. Não estou com muita paciencia de escutar orientações.
Levantei o braço como que dizendo Tchau e passei pela porta.
Um dos idosos disse algo como “Esses jovens de hoje” e ri discretamente.
O gramado da frente era muito menos luxuoso que o de antes. Um caminho de pedras levava até o Grandioso portão de metal ricamente forjado.
As ruas estavam desertas.
Suspirei pesadamente. As coisas vão voltar ao normal somente um mês ou dois depois, a cidade é muito tranquila e todo acontecimento fora da rotina vira o assunto da semana. E um ataque de Losoul é definitivamente fora da rotina.
Traçei o caminho mentalmente até a minha casa. Eu conhecia essa cidade como a palma da minha mão.
Eu estava perto da biblioteca e da escola municipal. E porcausa da primeira, já tinha vindo aqui muitas vezes.
A bibliotecaria me conheçe desde pequeno e me acusa de já ter lido mais livros que ela, coisa que eu realmente já fiz. Já li várias enciclopédias a respeito de biologia, medicina, geografia e matemática, e porcausa disso tenho diversos conhecimentos nessas áreas.
Porém, a que me interessava realmente era história. Não havia nenhum livro de história recente na biblioteca escassa da cidade, as informações iam apenas até o ano 2182, 93 anos atrás. Os livros que continham tanto história passada quanto recente, tiveram páginas arrancadas, e muitas das enciclopédias estavam incompletas.
Isso me intrigava. E eu anciava mais que tudo descobrir o resto da história e o porque de esconderem isso das pessoas.
Segundo os livros, Próspeta é uma cidade bem grande.
Talvez, eu pudesse ir com ela, ler a maior quantidade de livros que puder e depois voltar para cá quando ela partir.
Eu apenas, pegaria carona não é?
Nesse caso, eu não iria me afastar muito tempo da minha mãe, apenas 3 ou 4 semanas, saciaria minha curiosidade e caso houvesse algum ataque de Losoul, poderia simplesmente me esconder atrás de Natalie.
Eu poderia simplesmente fugir depois que de realizar meu objetivo.
Era uma opção boa para todos.
Cheguei em casa sem perceber. Abri a porta arrombada anteriormente.
Quando pus o pé em casa, fui empurrado pra trás. Minha mãe estava me abraçando protetoramente, chorando desesperadamente, molhando minha camiseta.
Afaguei seus cabelos escuros carinhosamente.
Eu não seria capaz de deixá-la. E porcausa disso tenho a minha resposta.

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Capítulo 4 – Decisão

Passei a manhã e boa parte da tarde abraçado com minha mãe.
Ela parou de chorar depois de um tempo.
De vez em quando eu passava a mão livre em seus cabelos e dizia que eu estava aqui e que nada de ruim iria acontecer.
Quando ela finalmente se recompôs, olhou pra mim pela primeira vez.
“Você é a cópia exata do seu pai, Leon” disse ela serenamente.
Eu ri um pouco, contendo o desespeiro de fazê-la esquecer isso.
“Até a risada é igual” ela disse fraca e rouca.
“Nem tanto, mãe” disse triste por ela estar tentando tanto demonstrar animação.
“É sério. A única coisa minha em você são os cabelos, o resto é todo do seu pai.” Ela olhou em meus olhos, com um sorriso pequeno nos labios e analizou meu rosto. “Vocês são iguais” disse ela derramando lágrimas solitárias.
Passei a mão por seus cabelos novamente, tentando acalmá-la.
“Tudo em você me lembra ele, filho” disse ela.
Após algumas horas, ela adormeceu. Deixei ela deitada no sofá da maneira mais confortável que pude, e a cobri com uma manta.
Minha irmã veio falar comigo, com o habitual tom alegre.
“Eu sabia que você não iria morrer” disse ela convicta.
Curvei meus labios num sorriso desanimado.
Minha irmã é três anos mais nova que eu e se chama Patrícia. Seus cabelos são escuros e cacheados como os de minha mãe, e os olhos são escuros como o dela. Eu sou a cópia de meu pai, e ela, de minha mãe.
Preparei um prato simples e infelismente não muito saboroso para elas e mandei Patrícia oferecer para minha mãe assim que ela acordasse.E olhei para o estado lamentável dela. Ela passou por muita coisa, e sua magestosa beleza começava a ruir.
Tomei um banho gelado para acalmar os nervos e me livrar de todos os acontecimentos da noite passada.
Me olhei no espelho, estava horrível.Haviam pequenas bolsas roxas em baixo dos meus olhos, e estava pálido. Passei a mão pelos cabelos irritantemente lisos e coloquei uma roupa limpa.
Saí de casa e me preparei para largar os sonhos.
O céu já estava alaranjado, eram umas 5 horas da tarde, o vento era frio e seco.
Perguntei a algumas pessoas que passavam pela rua onde se encontrava a “mulher que matou o Losoul” e eles disseram que estava na prefeitura.
Por sorte, a cidade era pequena, tudo ficava perto e era possivel ir a pé para qualquer lugar.
Ainda haviam casas destruídas e construções antigas arruinadas, porém o povo estava feliz, afinal, apesar de tudo, toda destruição e feridos, eles estavam vivos.
As crianças corriam alegres, algumas que eu vi nascer e crescer, elas gritaram pra mim “Oi tio Leon” e eu sorri para elas e acenei. Era gratificante saber que as pessoas tinham afeto por mim.
Cheguei a prefeitura mais cedo do que pude imaginar. Ela tinha paredes brancas e um gramado bem cuidado.
Atravessei o caminho de concreto ligeiro.
A recepção era um tanto rústica, com o piso de madeira e as paredes pintadas de amarelo-mostarda, além do sofá antigo de couro escuro. Não havia ninguem lá.
Eu procurei por Natalie em algumas salas de aparencia similar á recepção, e a encontrei na sala do prefeito junto com o mesmo.
O prefeito era um homem de meia-idade, tinha a barba sempre feita e o era calvo, seus cabelos tinham alguns fios brancos e tinha uma barriga protuberante.
O rosto de Natalie mudou de surpreso para radiante e eu enrubeci.
“Com lincença. Eu poderia falar com Natalie por um instante, prefeito?” Pedi somente com a cabeça dentro da sala.
“Nós já terminamos de conversar não é, prefeito?” disse ela pegando a bolsa pendurada na cadeira e pondo-a sobre o ombro, discontraída.
“Sim” disse ele engolindo a seco.
Tive a sensação de que ele estava assustado. Afinal, ela parecia ser bem persuasiva e amedrontadora.
Ela saltitou até mim com a bolsa balançando freneticamente. Saiu da sala e eu a segui. Parecia com pressa de sair dali.
Assim que cheagamos a rua, ela se espreguiçou satisfeita.
“Vamos comer alguma coisa.” Disse.
Pelo que tinha visto até este momento, Natalie era um mulher desavergonhada, no sentido mais puro da palavra. Não tinha medo de falar o que queria, involuntáriamente não dava a mínima para o que as outras pessoas pensavam. É como uma criança que não tem um adulto pra reprender suas palavras ou expressões. É inocente e inconsequente.
“Conhece um restaurante bom por aqui?” perguntou ela olhando pros lados. “Eu pago” Disse ela com um sorriso estampado no rosto.
“Tem uma lanchonete muito boa aqui perto, mas se quiser comer algo mais refinado, podemos ir a outro lugar”
“Não, não, vamos a lanchonete!” exclamou ela
Nós conversamos enquanto andávamos.
“Eu faço 24 anos mês que vem” disse ela andando sobre o meio-fio com os braços abertos.
“Parabéns adiantado”
“Obrigada!” disse pulando ao meu lado alegre. “ Estou cuidando dos preparativos da nossa partida”
Arregalei os olhos e recuperado do choque, suspirei.
“É justamente por isso que estou aqui” segurei seu braço firmemente e olhei em seus olhos. “Eu não posso ir com você” disse seco e sério.
Ela me olhou chocada. Soltou o seu braço e voltou a andar.
“Faça como quiser” disse seca andando em direção a lugar nenhum.
Senti que deveria ficar feliz por ela ter entendido, mas me senti pesado ao invés disso.
Suspirei. E fiz o caminho de volta pra casa.
Já havia escurecido nesse tempo. Enfiei as mãos nos bolsos da calça.
Até que, de repente, senti uma dor aguda no alto da cabeça.
E a última coisa que vi foram duas mãos me segurando antes de cair no chão inconsiente.

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