Como já é sabido por muitos, alguns trechos de áudios comprometedores envolvendo políticos do alto escalão do PMDB vazaram para a mídia. Caso alguém não tenha lido, visto ou ouvido, segue abaixo a transcrição das partes que vazaram para a mídia, mostrando os três diálogos do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, com os senadores Renan Calheiros PMDB) e Romero Jucá (PMDB) e com o ex-presidente José Sarney (PMDB).
Diálogo entre Machado e Jucá:Sérgio Machado Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez (autorizou prisões logo após decisão de segunda instância), vai todo mundo delatar.
Romero JucáExatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo (Odebrecht), e a Odebrecht, vão fazer.
MachadoOdebrecht vai fazer.
JucáSeletiva, mas vai fazer.
MachadoA Camargo (Corrêa) vai fazer ou não. Estou muito preocupado porque acho que... O (procurador-geral, Rodrigo) Janot está a fim de pegar vocês. E acha que sou o caminho.
Jucá(inaudível)
MachadoHum?
JucáMas como é que está sua situação?
MachadoMinha situação não tem nada, não pegou nada, mas ele quer jogar tudo pro (juiz Sergio) Moro. Como não tem nada e como estou desligado...
JucáÉ, não tem conexão né...
MachadoNão tem conexão, aí joga pro Moro. Aí f****. Aí f**** para todo mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu "desça"? Se eu descer...
JucáO que que você acha? Como é que você...
MachadoQueria discutir com vocês. Cheguei a essa conclusão nesta semana. Ele acha que sou o caixa de vocês, o Janot. Janot não vale cibazol (algo sem valor). Quem esperar que ele vai ser amigo, não vai... (...) E ele está visando o Renan (Calheiros) e vocês. E acha que sou o canal. Não encontrou nada, não tem nada.
JucáNem vai encontrar, né, Sérgio.
MachadoNão encontrou nada, não tem nada, mas acha... O que é que faz? Como tem aquela delação do Paulo Roberto dos 500 mil (reais) e tem a delação do Ricardo (Pessoa), que é uma coisa solta, ele quer pegar essas duas coisas. Não tem nada contra os senadores, joga ele para baixo (Curitiba). Tem que encontrar uma maneira...
JucáVocê tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. (...) Tem que ser política, advogado não encontra (inaudível). Se é político, como é a política? Tem que resolver essa p****... Tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria [Lava-jato].
MachadoTem de ser uma coisa política e rápida. Acho que ele está querendo... o PMDB. Prende, e bota lá embaixo. Imaginou?
JucáVocê conversou com o Renan?
MachadoNão, quis primeiro conversar contigo porque tu é o mais sensato de todos.
JucáAcho que a gente precisa articular uma ação política.
MachadoQuis conversar primeiro contigo, que tenho maior intimidade. Depois quero conversar com (José ) Sarney e o Renan, com vocês três. (...) Estou convencido, com essa sinalização que conseguiu do Eduardo (incompreensível). Desvincula do Renan.
JucáMas esse negócio do Eduardo está atacando (incompreensível).
MachadoMas ele (Janot) está querendo pegar vocês, tenho certeza absoluta.
Jucá Não tenha dúvidas.
Machado Não, tenho certeza absoluta. E ele não vale um cibazol. É um cara raivoso, rancoroso e etc. Então como é que ele age? Como não encontrou nada nem vai encontrar. (inaudível)
JucáO Moro virou uma Torre de Londres.
MachadoTorre de Londres?
JucáMandava o coitado pra lá para o cara confessar.
MachadoPara o cara confessar. Então a gente tem que agir como (incompreensível) e pensar numa fórmula para encontrar uma solução para isso.
Jucá Converse com ele (Renan), converse com o Sarney, ouça eles, e vamos sentar pra gente...
Machado Isso, Romero, o que eu acho primeiro: que é bom para a gente.
JucáAcho que você deveria procurar o Sarney, devia procurar o Renan, e a gente voltar a conversar depois. [incompreensível] Como é que é...
MachadoÉ porque... Se descer, Romero, não dá.
JucáNão é um desastre porque não tem nada a ver. Mas é um desgaste, porque você, pô, vai ficar exposto de uma forma sem necessidade.
MachadoO Marcelo (Odebrecht), o dono do Brasil, está preso há um ano. Sacanagem com Marcelo, rapaz, nunca vi coisa igual. Sacanagem com aquele André Esteves, nunca vi coisa igual.
JucáRapaz... (concordando)
Sobre DelcídioMachadoOutra coisa. A frouxidão de vocês em prender o Delcídio foi um negócio inacreditável. (O Senado concordou com prisão decretada pelo STF)
JucáSim, pô, não adianta soltar o Delcídio, aí o PT dá uma manobra, tira o cara, diz que o cara é culpado, como é que você segura uma p****dentro do plenário
MachadoMas o cara não foi preso em flagrante, tem que respeitar a lei. Respeito à lei, a lei diz clara...
JucáPô, pois então. Ali não teve jeito, não. A hora que o PT veio, entendeu, puxou o tapete dele, o Rui (Falcão, presidente do PT), a imprensa toda, os caras não seguraram, não.
MachadoEu sei disso, foi uma c*****.
JucáFoi uma c***** geral.
MachadoFoi uma c***** geral. Foi uma c***** o Supremo fazer o que fez com o negócio de prender em segunda instância, isso é absurdo total que não dá para interpretar, e ninguém fez nada. Ninguém fez Adin, ninguém se questionou. Isso aí é para precipitar as delações. Romero, esquentou as delações, não escapa pedra...
Jucá(incompreensível) no Brasil.
MachadoNão escapa pedra sobre pedra.(incompreensível)(...)Estou com todos os certificados do TCU, agora me deram, não devo nada, zero. E isso adianta alguma coisa? Então estou preocupado.
JucáNão, tem que cuidar mesmo.
MachadoEstou preocupado porque estou vendo que esse negócio da filha do Eduardo (Cunha), da mulher, foi uma advertência para mim. E das histórias que estou sabendo, o interesse é pegar vocês. Nós. E o Renan, sobretudo.
JucáNão, o alvo na fila é o Renan. Depois do Eduardo Cunha... É o Eduardo Cunha, a Dilma, e depois é o Renan.
MachadoE ele (Janot) não tem nada. Se ele tivesse alguma coisa, ele ia me manter aqui em cima, para poder me forçar aqui em cima, porque ele não vai dar esse troféu pro Moro. Como não tem nada, quer ver se o Moro arranca...
Jucá... para subir de novo.
Machado...para poder subir de novo. É esse o esquema. Agora, como fazer? Porque arranjar uma imunidade não tem como, não tem como. A gente tem que ter a saída porque é um perigo. E essa p***. A solução institucional demora ainda algum tempo, não acha?
JucáTem que demorar três ou quatro meses no máximo. O país não aguenta mais do que isso, não.
Sobre Cunha e Lava-Jato MachadoRapaz, a solução mais fácil era botar o Michel (Temer).
Jucá(concordando) Só o Renan que está contra essa p****. Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, p****.
MachadoÉ um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
JucáCom o Supremo, com tudo.
Machado Com tudo, aí parava tudo.
Jucá É. Delimitava onde está, pronto.
MachadoParava tudo. Ou faz isso... Você viu a pesquisa de ontem que deu o Moro com 18% para a Presidência da República?
JucáNão vi, não. O Moro?
Sobre AécioMachadoÉ aquilo que você diz, o Aécio (Neves) não ganha p**** nenhuma...
JucáNão, esquece. Nenhum político desses tradicionais não ganha eleição, não.
MachadoO Aécio, rapaz... O Aécio não tem condição, a gente sabe disso, p***. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...
JucáÉ, a gente viu tudo...
MachadoO primeiro a ser comido vai ser o Aécio.
JucáTodos, p****. E vão pegando e vão...
Machado(Sussurrando) O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara? (Mudando de assunto) Amigo, eu preciso da sua inteligência.
Sobre STF e impeachment(...)
MachadoMas viu, Romero, então acho a situação gravíssima.
JucáOntem fui muito claro. (...) Só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para p**** nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?
MachadoAgora, ele acordou a militância do PT.
JucáSim.
MachadoAquele pessoal que resistiu acordou e vai dar m****.
(...)
Jucá(Em voz baixa) Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem 'ó, só tem condições de (inaudível) sem ela (Dilma). Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca'. Entendeu? Então... Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.
MachadoAcho o seguinte, a saída (para Dilma) é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa c***** desses procuradores de São Paulo ajudou muito. (Possível referência ao pedido de prisão de Lula pelo Ministério Público de SP e à condução coercitiva ele para depor no caso da Lava-Jato)
(...)
Diálogo entre Machado e Renan:Sérgio Machado: O Cunha, o Cunha. O Supremo. Fazer um pacto de Caxias, vamos passar uma borracha no Brasil e vamos daqui para a frente. Ninguém mexeu com isso e esses caras do...
Renan: Antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação e estabelece isso.
Sérgio Machado: Acaba com esse negócio da segunda instância, que está apavorando todo mundo.
Renan: A lei diz que não pode prender depois da segunda instância, e ele aí dá uma decisão, interpreta isso e acaba isso.
Sérgio Machado: Acaba isso.
Sérgio Machado: Agora, Renan, a situação está grave.
Renan Calheiros: Grave e vai complicar. Porque Andrade fazer [delação], Odebrecht, OAS.
Sérgio Machado: Todos vão fazer.
Renan: Todos vão fazer.
Sérgio Machado: Mas, Renan, com as informações que você tem, que a Odebrecht vai tacar tiro no peito dela, não tem mais jeito.
Renan: Não tem, porque vai mostrar as contas. E a mulher é...[inaudível]
Sérgio Machado: Acabou, não tem mais jeito. Então a melhor solução para ela, não sei quem podia... É renunciar ou pedir licença.
Sérgio Machado: E ele estava, está disposto a assumir o governo?
Renan: Aí eu defendi, me perguntou, me chamou num canto. Eu acho que essa hipótese, eu disse a ele, tem que ser guardada, não pode falar nisso. Porque se houver um quadro, que é pior que há, de radicalização institucional, e ela resolva ficar, para guerra..
Sérgio Machado: A bola está no seu colo. Não tem um cara na República mais importante que você hoje. Porque você tem trânsito com todo mundo. Essa tua conversa com o PSDB, tu ganhou...
Sérgio Machado: Tu ganhou uma força que tu não tinha. Então [inaudível] para salvar o Brasil. E esse negócio só salva se botar todo mundo. Isso que você diz, se for para ruptura, vai ter conflito social. Vai morrer gente, vai ser o Brasil parado.
Renan: Vai, vai...
Renan: E aí tem que botar o Lula.
Sérgio Machado: Aí bota o Lula.
Renan: Porque é a intuição dele...
Sérgio Machado: Aí o Lula tem que assumir a Casa Civil e ser o primeiro ministro, esse é o governo. Ela não tem mais condição, Renan, não tem condição de nada. Agora, quem vai botar esse juízo nela?
Renan: E, em segundo lugar, negocia a transição com eles [ministros do STF].
Sérgio Machado: Com eles, eles têm que estar juntos. E eles não negociam com ela.
Renan: Não negociam porque todos estão p** com ela [Dilma].
Sérgio Machado: Está todo mundo sentindo um aperto nos ombros.
Renan: E tudo com medo.
Sérgio Machado: Renan, não sobra ninguém, Renan!
Renan: Aécio está com medo e perguntou se não dava pra eu descobrir. 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa.'
Sérgio Machado: Renan, eu fui do PSDB dez anos, Renan. Não sobra ninguém, Renan.
Sérgio Machado:"Agora, a Globo passou de qualquer limite, Renan.
Renan: Eu marquei para segunda-feira uma conversa inicial com [inaudível] para marcar... Ela me disse que a conversa dela com João Roberto [Marinho] foi desastrosa. Ele disse para ela... Ela reclamou. Ele disse para ela que não tinha como influir. Ela disse que tinha como influir, porque ele influiu em situações semelhantes, o que é verdade. E ele disse que está acontecendo um efeito manada no Brasil contra o governo.
Sérgio Machado: Tá mesmo. Ela acabou. E o Lula, como foi a conversa com o Lula?"
Renan: Uma conversa muito ruim, a conversa com a menina da Folha... Com o Otavinho foi muito melhor. Otavinho reconheceu que tem exageros, eles próprios têm cometido exageros.
(...)
Diálogo entre Machado e Sarney:Sarney – Olha, o homem está no Exterior. Então, a família dele ficou de me dizer quando é que ele voltava. E não falei ontem porque não me falou de novo. Não voltou. Tá com dona Magda. E eu falei com o secretário.
Machado – Eu vou tentar falar, que o meu irmão é muito amigo da Magda, para saber se ele sabe quando é que ela volta. Se ele me dá uma saída.
Machado – Presidente, então tem três saídas para a presidente Dilma, a mais inteligente...
Sarney – Não tem nenhuma saída para ela.
Machado – ...ela pedir licença.
Sarney – Nenhuma saída para ela. Eles não aceitam nem parlamentarismo com ela.
Machado – Tem que ser muito rápido.
Sarney – E vai, está marchando para ser muito rápido.
Machado – Que as delações são as que vem, vem às pencas, não é?
Sarney – Odebrecht vem com uma metralhadora de ponto 100.
Machado – Olha, acabei de sair da casa do nosso amigo. Expliquei tudo a ele (Renan Calheiros), em todos os detalhes, ele acha que é urgente, tem que marcar uma conversa entre o senhor, o Romero (Jucá) e ele. E pode ser aqui... Só não pode ser na casa dele, porque entra muita gente. Onde o senhor acha melhor?
Sarney – Aqui.
Machado – É. O senhor diz a hora, que qualquer hora ele está disponível, quando puder avisar o Romero, eu venho também. Ele (Renan) ficou muito preocupado. O senhor viu o que o (blog do jornalista da GloboNews Gerson) Camarotti botou ontem?
Sarney – Não.
Machado – Alguém que vazou, provavelmente grande aliado dele, diz que na reunião com o PSDB ele teria dito que está com medo de ser preso, podia ser preso a qualquer momento.
Sarney – Ele?
Machado – Ele, Renan. E o Camarotti botou. Na semana passada, não sei se o senhor viu, numa quinta ou sexta, um jornalista aí, que tem certa repercussão na área política, colocou que o Renan tinha saído às pressas daqui com medo dessa condição, delações, e que estavam sendo montadas quatro operações da Polícia Federal, duas no Nordeste e duas aqui. E que o Teori estava de plantão... Desculpe, presidente, não foi quinta, não. Foi sábado ou domingo. E que o Teori estava de plantão com toda sua equipe lá no ministério e que isso significaria uma operação... Isso foi uma... operação que iria acontecer em dois Estados do Nordeste e dois no Sul. Presidente, ou bota um basta nisso... O Moro falando besteira, o outro falando isso. (inaudível) "Renan, tu tem trinta dias que a bola está perto de você, está quase no seu colo". Vamos fazer uma estratégia de aproveitar porque acabou. A gente pode tentar, como o Brasil sempre conseguiu, uma solução não sangrenta. Mas se passar do tempo ela vai ser sangrenta. Porque o Lula, por mais fraco que esteja, ele ainda tem... E um longo processo de impeachment é uma loucura. E ela perdeu toda... (...) Como é que a presidente, numa crise desse tamanho, a presidente está sem um ministro da Justiça? E não tem um plano B, uma alternativa. Esse governo acabou, acabou, acabou. Agora, se a gente não agir... Outra coisa que é importante para a gente, e eu tenho a informação, é que para o PSDB a água bateu aqui também. Eles sabem que são a próxima bola da vez.
Sarney – Eles sabem que eles não vão se safar.
Machado – E não tinham essa consciência. Eles achavam que iam botar tudo mundo de bandeja... Então é o momento dela para se tentar conseguir uma solução a la Brasil, como a gente sempre conseguiu, das crises. E o senhor é um mestre pra isso. Desses aí o senhor é o que tem a melhor cabeça. Tem que construir uma solução. Michel tem que ir para um governo grande, de salvação nacional, de integração e etc etc etc.
Sarney – Nem Michel eles queriam, eles querem, a oposição. Aceitam o parlamentarismo. Nem Michel eles queriam. Depois de uma conversa do Renan muito longa com eles, eles admitiram, diante de certas condições.
Machado – Não tem outa alternativa. Eles vão ser os próximos. Presidente, não há quem resista a Odebrecht.
Sarney – Mas para ver como é que o pessoal..
Machado – Tá todo mundo se c******, presidente. Todo mundo se c******. Então ou a gente age rápido. O erro da presidente foi deixar essa coisa andar. Essa coisa andou muito. Aí vai toda a classe política para o saco. Não pode ter eleição agora.
Sarney – Mas não se movimente nada, de fazer, nada, para não se lembrarem...
Machado – É, eu preciso ter uma garantia.
Sarney – (...) O tempo é a seu favor. Aquele negócio que você disse ontem é muito procedente. Não deixar você voltar para lá (Curitiba).
Machado – Só isso que eu quero, não quero outra coisa.
Sarney – Agora, não fala isso.
Machado – Vou dizer pro senhor uma coisa. Esse cara, esse Janot que é mau caráter, ele disse, está tentando seduzir meus advogados, de eu falar. Ou se não falar, vai botar para baixo. Essa é a ameaça, presidente. Então tem que encontrar uma... Esse cara é muito mau caráter. E a crise, o tempo é a nosso favor.
Sarney – O tempo é a nosso favor.
Machado – Por causa da crise, se a gente souber administrar. Nosso amigo, soube ontem, teve reunião com 50 pessoas, não é assim que vai resolver crise política. Hoje, presidente, se estivéssemos só nos três com ele, dizia as coisas a ele. Porque não é se reunindo 50 pessoas, chamar ministros.. Porque a saída que tem, presidente, é essa que o senhor falou é isso, só tem essa, parlamentarismo. Assegurando a ela e o Lula que não vão ser... Ninguém vai fazer caça a nada. Fazer um grande acordo com o Supremo, etc, e fazer, a bala de Caxias, para o país não explodir. E todo mundo fazer acordo porque está todo mundo se fodendo, não sobra ninguém. Agora, isso tem que ser feito rápido. Porque senão esse pessoal toma o poder... Essa c***** do Ministério Público de São Paulo nos ajudou muito.
Sarney – Muito.
Machado – Muito, muito, muito. Porque bota mais gente, que começa a entender... O (colunista do jornal Folha de S.Paulo] Janio de Freitas já está na oposição, radicalmente, já está falando até em Operação Bandeirante. A coisa começou... O Moro começou a levar umas porradas, não sei o quê. A gente tem que aproveitar ess... Aquele negócio do crime do político (de inação): nós temos 30 dias, presidente, para nós administrarmos. Depois de 30 dias, alguém vai administrar, mas não será mais nós. O nosso amigo tem 30 dias. Ele tem sorte. Com o medo do PSDB, acabou com ele no colo dele, uma chance de poder ser ator desse processo. E o senhor, presidente, o senhor tem que entrar com a inteligência que não tem. E experiência que não tem. Como é que você faz reunião com o Lula com 50 pessoas, como é que vai querer resolver crise, que vaza tudo?
Sarney – Eu ontem disse a um deles que veio aqui: "Eu disse: Olhe, esqueçam qualquer solução convencional. Esqueçam!'".
Machado – Não existe, presidente.
Sarney – "Esqueçam, esqueçam!"
Machado – Eu soube que o senhor teve uma conversa com o Michel.
Sarney – Eu tive. Ele está consciente disso. Pelo menos não é ele que...
Machado– Temos que fazer um governo, presidente, de união nacional.
Sarney – Sim, tudo isso está na cabeça dele, tudo isso ele já sabe, tudo isso ele já sabe. Agora, nós temos é que fazer o nosso negócio e ver como é que está o teu advogado, até onde eles falando com ele em delação premiada.
Machado – Não estão falando.
Sarney – Até falando isso para saber até onde ele vai, onde é mentira e onde é valorização dele.
Machado – Não é valoriz... Essa história é verdadeira, e não é o advogado querendo, e não é diretamente. É (a PGR) dizendo como uma oportunidade, porque "como não encontrou nada...". É nessa.
Sarney – Sim, mas nós temos é que conseguir isso. Sem meter advogado no meio.
Machado – Não, advogado não pode participar disso, eu nem quero conversa com advogado. Eu não quero advogado nesse momento, não quero advogado nessa conversa.
Sarney – Sem meter advogado, sem meter advogado, sem meter advogado.
Machado – De jeito nenhum. Advogado é perigoso.
Sarney – É, ele quer ganhar...
Machado – Ele quer ganhar e é perigoso. Presidente, não são confiáveis, presidente, você tá doido? Eu acho que o senhor podia convidar, marcar a hora que o senhor quer, e o senhor convidava o Renan e Romero e me diz a hora que eu venho. Qual a hora que o senhor acha melhor para o senhor?
Sarney – Eu vou falar, já liguei para o Renan, ele estava deitado.
Machado – Não, ele estava acordado, acabei de sair de lá agora.
Sarney – Ele ligou para mim de lá, depois que tinha acordado, e disse que ele vinha aqui. Disse que vinha aqui.
Machado – Ele disse para o senhor marcar a hora que quiser. Então como faz, o senhor combina e me avisa?
Sarney – Eu combino e aviso.
(...)
Machado – O Moreira (Franco) está achando o quê?
Sarney – O Moreira também tá achando que está tudo perdido, agora, não tem gente com densidade para... (inaudível)
Machado – Presidente, só tem o senhor, presidente. Que já viveu muito. Que tem inteligência. Não pode ser mais oba-oba, não pode ser mais conversa de bar. Tem que ser conversa de Estado-Maior. Estado-Maior analisando. E não pode ser um (...) que não resolve. Você tem que criar o núcleo duro, resolver no núcleo duro e depois ir espalhando e ter a solução... Agora, foi nos dada a chave, que é o medo da oposição.
Sarney – É, nós estamos... Duas coisas estão correndo paralelo. Uma é essa que nos interessa. E outra é essa outra que nós não temos a chave de dirigir. Essa outra é muito maior. Então eu quero ver se eu... Se essa chave... A gente tendo...
Machado – Eu vou tentar saber, falar com meu irmão se ele sabe quando é que ela volta.
Sarney – E veja com o advogado a situação. A situação onde é que eles estão mexendo para baixar o processo.
Machado – Baixar o processo, são duas coisas (suspeitas): como essas duas coisas, Ricardo, que não tem nada a ver com Renan, e os 500, que não tem nada a ver com o Renan, eles querem me apartar do Renan...
Sarney – Eles quem?
Machado – O Janot e a sua turma. E aí me botar pro Moro, que tem pouco sentido ficar aqui. Com outro objetivo.
Sarney – Aí é mais difícil, porque se eles não encontraram nada, nem no Renan nem no negócio, não há motivo para lhe mandar para o Paraná.
Machado – Ele acha que essas duas coisas são motivo para me investigar no Paraná. Esse é o argumento. Na verdade o que eles querem é outra coisa, o pretexto é esse. Você pede ao (inaudível) para me ligar então?
Sarney – Peço. Na hora que o Renan marcar, eu peço... Vai ser de noite.
Machado – Tá. E o Romero também está aguardando, se o senhor achar conveniente.
Sarney – (sussurrando) Não acho conveniente.
Machado – Não? O senhor que dá o tom.
Sarney – Não acho conveniente. A gente não põe muita gente.
Machado – O senhor é o meu guia.
Sarney – O Amaral Peixoto dizia isso: "Duas pessoas já é reunião. Três é comício".
Machado - (rindo)
Sarney - Então três pessoas já é comício.
(...)
Sarney – Agora é coisa séria, acho que o negócio é sério.
Machado – Presidente, o cara (Sérgio Moro) agora seguiu aquela estratégia, de "deslegitimizar" as coisas, agora não tem ninguém mais legítimo para falar mais nada. Pegou Renan, pegou o Eduardo, desmoralizou o Lula. Agora a Dilma. E o Supremo fez essa suprema... rasgou a Constituição.
Sarney – Foi. Fez aquele negócio com o Delcídio. E pior foi o Senado se acovardar de uma maneira... (autorizou prisão do então senador).
Machado – O Senado não podia ter aceito aquilo, não.
Sarney – Não podia, a partir dali ele acabou. Aquilo é uma página negra do Senado.
Machado – Porque não foi flagrante delito. Você tem que obedecer a lei.
Sarney – Não tinha nem inquérito!
Machado – Não tem nada. Ali foi um fígado dos ministros. Lascaram com o André Esteves.. Agora pergunta, quem é que vai reagir?
(...)
Machado – O Senado deixar o Delcídio preso por um artista.
Sarney – Uma cilada.
Machado – Cilada.
Sarney – Que botaram eles. Uma coisa que o Senado se desmoralizou. E agora o Teori acabou de desmoralizar o Senado porque mostrou que tem mais coragem que o Senado, manda soltar.
Machado – Presidente, ficou muito mal. A classe política está acabada. É um salve-se quem puder. Nessa coisa de navio que todo mundo quer fugir, morre todo mundo.
(...)
Sarney – Eu soube que o Lula disse, outro dia, ele tem chorado muito. [...] Ele está com os olhos inchados.
(...)
Sarney – Nesse caso, ao que eu sei, o único em que ela está envolvida diretamente é que ela falou com o pessoal da Odebrecht para dar para campanha do... E responsabilizar aquele (inaudível)
Machado – Isso é muito estranho (problemas de governo). Presidente, você pegar um marqueteiro, dos três do Brasil. (...) Deixa aquele Ministério da Justiça que é banana, só diz besteira. Nunca vi um governo tão fraco, tão frágil e tão omisso. Tem que alguém dizer assim: "A presidente é bunda mole". Não tem um fato positivo.
(...)
Sarney – E o Renan cometeu uma ingenuidade. No dia que ele chegou, quem deu isso pela primeira vez foi a (jornalista da Rede Globo) Délis Ortiz. Eu cheguei lá era umas 4 horas, era um sábado, ele disse: "Já entreguei todos os documentos para a Delis Ortiz, provando que eu... que foi dinheiro meu". Eu disse: "Renan, para jornalista você não dá documento nunca. Você fazer um negócio desse. O que isso vai te trazer de dor de cabeça". Não deu outra.
Machado – Renan erra muito no varejo. Ele é bom. (...) Presidente, não pode ser assim, varejista desse jeito.
(...)
Sarney – Tudo isso é o governo, meu Deus. Esse negócio da Petrobras só os empresários que vão pagar, os políticos? E o governo que fez isso tudo, hein?
Machado – Acabou o Lula, presidente.
Sarney – O Lula acabou, o Lula coitado deve estar numa depressão.
Machado – Não houve nenhuma solidariedade da parte dela.
Sarney – Nenhuma, nenhuma. E com esse Moro perseguindo por besteira.
Machado – Tomou conta do Brasil. O Supremo fez a pedido dele.
FONTE: Jornal Folha de São Paulo.
Depois de ler esses escandalosos diálogos, eu me pergunto: Cadê os movimentos anticorrupção VEM PRA RUA, MBL, Revoltados Online? Eram apenas massa de manobra ou era tudo encenação e fingimento? Por que estão em silêncio agora?
Esses diálogos altamente reveladores deixam claro que o plano era tirar Dilma para poder acabar com a operação Lava Jato e, assim, livrá-los da cadeia e da cassação de seus mandatos parlamentares. Depois disso tudo não há mais dúvidas que esse processo de impeachment é um GOLPE, um golpe contra a justiça e a legalidade, um golpe em favor da injustiça e impunidade.