Mas meu querido WB, contextualizar é justamente o que não fazem. É óbvio que feministas não possuem opiniões idênticas entre si, são humanas, mas terem opiniões gritantemente diferentes entre si dentro da própria ideologia? Significa que tem algo errado, você não acha? É como hoje dia, você vê esquerdistas conservadores e que defendem com unhas e dentes o capitalismo, vê direitistas liberais e vice-versa. Ora pois, então por que diabos fazer parte de um grupo, se as ideias podem ser diferentes de maneira gritante? Não há sentido, meu caro! Grupos contra a desigualdade não visam a oposição e luta à ela, mas a forma como isto deve ser feito.
Claro que o que eu te citei até agora é o erro na teoria, âmbito não tão importante assim. O grande problema é a prática. Sabe por quê? Porque independentemente da contextualização, capacidade de relativizar ou vertentes de um grupo, se na visão macro eles não tiverem força, impacto, influência, nada mudarão! No caso, as feministas possuem, mas elas são, de maneira geral, vistas como piadas, por lutarem inadequadamente, por possuírem ideias ridículas, por atuarem de maneira incoerente, implausível em relação àquilo que diz ser o ideal do movimento! Você sabia que muitos socialistas já o foram por terem bom coração? Por quererem que a pobreza acabasse, que o sofrimento findasse? Ora pois, essas singularidades pensavam diferentes daqueles que escravizaram e exterminaram milhões de pessoas. Portanto, não é porque há divergência e pluralidade dentro de um grupo, o que por si só já te deveria indicar incoerência, que o grupo deve ser "analisado na micro visão". Devemos tratar as coisas como elas são, WB, não como gostaríamos que fossem.
Pergunte para qualquer feminista que conheça, aborde o porquê de sua luta, o que ela busca. Contra desigualdade salarial? Ok, pergunte a ela se ela sabe como se dá. Aborto em caso de estupro? Pergunte a ela se ela já sabe que é permitido. Aborto livre? Pergunte a ela, independentemente de você concordar ou não, dados comprovados que a levaram a ter essa posição, se é que ela se baseou em algo além do próprio senso. Pergunte de qual forma o machismo atua na sociedade atualmente, e se atente para ver se ela sabe o quanto mulheres mesmo fazem uso e compactuam com, e também pergunte se ela já foi vítima de machismo e peça um exemplo. Pergunte em quais países, pedindo nomes específicos, as mulheres mais sofrem. Pergunte a ela em quais locais a mulher é oprimida pela própria mulher em massa, e contemple a incapacidade de resposta mesmo que usem a imaginação para responder. Sabe, tudo isso já foi abordado abertamente, já presenciei discussões do tipo várias e várias vezes, e a verdade é que a maioria sequer sabe o porquê de "lutar". Aliás, pergunte também o porquê de seus métodos, como fazer "passeata" com o seios à mostra e etc.
WB, meu caro, se você não concorda com a forma como os movimentos são feitos, se as respostas que você mesmo pode conferir em entrevistas que achará navegando não o agradar, se você mesmo não conseguir responder as perguntas que te indiquei acima, você também não sabe a causa do feminismo na prática. Ora pois, se tem uma menina/mulher que não concorda com os métodos usados, que não concorda que machismo seja sinônimo de cavalheirismo, que não sabe exatamente se já sofreu ou não machismo e o que exatamente seria, se não sabe apontar as causas deste, se não estudou a história para saber de tais causas, se não acompanhou os movimentos antigos do verdadeiro feminismo, se não sabe a vida que uma presidiária leva, se não tem opinião embasada em razão do aborto, essa garota/mulher não é feminista. Ela pode até dizer que sim, como muitas fazem, e mesmo sem base alguma, sair postando e difundindo sua ignorância em redes sociais. Agora imagine uma centena, milhares destas, e terá o movimento feminista atual, em seu cerne, com ou sem exceções, com ou sem pessoas encima do muro.
Enfim, mais uma vez, não é preciso filiar-se a grupos para lutar contra desigualdade de gênero. Aliás, não é necessário filiar-se a grupos para nada. Se você se diz solidarista com o movimento, mas não sabe qual o seu embasamento, não sabe abordar as causas reais atuais e apontar soluções, não saberia e não teria dados na mão para caso te entrevistassem de maneira não planejada, se envergonharia das ideias feministas atuais e etc, eu sugiro que pare de olhar para a brasa e volte seus olhos à fogueira. Existir exceções eu creio que existia até em meio aos soldados da Alemanha Nazista, isto só não muda o cerne do movimento em si.