Digamos que você tem um bilhão de reais. Você possui a opção de doar parte ou tudo para instituições de caridade e ajudar muitas pessoas, trazendo-as um padrão de vida adequado. Em vez disso, você decide usar os bilhões de reais para comprar uma frota de jatos particulares. Muita gente pensaria que essa é a sua escolha — é o seu dinheiro, afinal, e você não fez nada de errado por não doá-lo para instituições de caridade em uma atitude altruísta e eficaz.
Agora, imagine que está andando pela rua quando percebe um homem abusando de uma mulher. Você pode intervir, ou pelo menos ligar para a polícia. Em vez disso, você continua a caminhar, entra em uma sorveteria, compra um compota de sorvetes e segue para casa.
Qual é a diferença entre esses cenários?
Hume argumentou que as pessoas só sentem compaixão para com os outros se elas estão de alguma forma dentro da vizinhança geral de vivência, ou se há uma conexão emocional entre ambas as partes. Schopenhauer, mais tarde, condonou a ideia de Hume. Hume estava preocupado com a localização espaço-temporal, mas isso também pode ser expandido para localização sócio-econômica: muitas pessoas ricas não se importam com os pobres, apesar de que eles vivem do outro lado da rua... É como se os pobres não estivessem lá.
A ação, de acordo com Donaldson, requer intenção.
Aplique isso aos dois cenários acima. No primeiro cenário, você sabe que há pessoas famintas em outros lugares que poderiam ser ajudadas por suas doações. Comprar um monte de jatos requer não só a sua intenção de comprar esses jatos, mas também a sua intenção de não ajudar essas pessoas famintas. No segundo cenário, você tem a intenção de obter sorvete, mas também a intenção de não ajudar a mulher sendo abusada.
Portanto, parece difícil defender o não-intervencionismo baseado apenas na intenção.
Além disso, para que um evento aconteça (um acontecimento não-agencial que pode, no entanto, incluir ações), exige que haja certas variáveis no lugar. Por exemplo, o segundo cenário exige que haja uma vítima, um perpetrador e um espectador que não intervenha.
Parece, então, que ser complacente e não "fazer" nada (intervindo) faz você cúmplice de um acontecimento transpirante — uma vez que você tem uma consciência e pode, desta forma, alterar sua posição na equação.
A vítima, por outro lado, não é responsável pelo que acontece com ela. As ações são direcionadas. Considerando que parece um tanto absurdo queixar-se de que a vítima implica responsabilidade sobre os espectadores (isto é, é culpa da vítima), não parece absurdo queixar-se de que a inação do outro está forçando danos à vítima.
No entanto, no sentido jurídico, há uma diferença entre fazer e permitir. Potenciais espectadores intervenientes só têm de intervir se alguém instiga uma ação nociva. Não é culpa deles se eles são colocados em um papel de responsabilidade. Então eles normalmente não podem ser punidos. Mas eles não parecem ser capazes de sair livremente — afinal, eles "permitiram" que a ação acontecesse por não intervir, assim desempenhando um papel nas condições necessárias e suficientes da ação: por procuração eles eram cúmplices na ação. Um modo secundário de fazer.
O resultado, a consequência, é o que importa aqui: mesmo que tenha sido um acidente, alguém se machucou. Que diferença faz?
Última edição por UchihaPower em Sex 17 Mar 2017, 23:45, editado 1 vez(es) (Motivo da edição : eu insisto em usar o acento agudo onde não pode. xD)
Agora, imagine que está andando pela rua quando percebe um homem abusando de uma mulher. Você pode intervir, ou pelo menos ligar para a polícia. Em vez disso, você continua a caminhar, entra em uma sorveteria, compra um compota de sorvetes e segue para casa.
Qual é a diferença entre esses cenários?
Hume argumentou que as pessoas só sentem compaixão para com os outros se elas estão de alguma forma dentro da vizinhança geral de vivência, ou se há uma conexão emocional entre ambas as partes. Schopenhauer, mais tarde, condonou a ideia de Hume. Hume estava preocupado com a localização espaço-temporal, mas isso também pode ser expandido para localização sócio-econômica: muitas pessoas ricas não se importam com os pobres, apesar de que eles vivem do outro lado da rua... É como se os pobres não estivessem lá.
A ação, de acordo com Donaldson, requer intenção.
Aplique isso aos dois cenários acima. No primeiro cenário, você sabe que há pessoas famintas em outros lugares que poderiam ser ajudadas por suas doações. Comprar um monte de jatos requer não só a sua intenção de comprar esses jatos, mas também a sua intenção de não ajudar essas pessoas famintas. No segundo cenário, você tem a intenção de obter sorvete, mas também a intenção de não ajudar a mulher sendo abusada.
Portanto, parece difícil defender o não-intervencionismo baseado apenas na intenção.
Além disso, para que um evento aconteça (um acontecimento não-agencial que pode, no entanto, incluir ações), exige que haja certas variáveis no lugar. Por exemplo, o segundo cenário exige que haja uma vítima, um perpetrador e um espectador que não intervenha.
Parece, então, que ser complacente e não "fazer" nada (intervindo) faz você cúmplice de um acontecimento transpirante — uma vez que você tem uma consciência e pode, desta forma, alterar sua posição na equação.
A vítima, por outro lado, não é responsável pelo que acontece com ela. As ações são direcionadas. Considerando que parece um tanto absurdo queixar-se de que a vítima implica responsabilidade sobre os espectadores (isto é, é culpa da vítima), não parece absurdo queixar-se de que a inação do outro está forçando danos à vítima.
No entanto, no sentido jurídico, há uma diferença entre fazer e permitir. Potenciais espectadores intervenientes só têm de intervir se alguém instiga uma ação nociva. Não é culpa deles se eles são colocados em um papel de responsabilidade. Então eles normalmente não podem ser punidos. Mas eles não parecem ser capazes de sair livremente — afinal, eles "permitiram" que a ação acontecesse por não intervir, assim desempenhando um papel nas condições necessárias e suficientes da ação: por procuração eles eram cúmplices na ação. Um modo secundário de fazer.
O resultado, a consequência, é o que importa aqui: mesmo que tenha sido um acidente, alguém se machucou. Que diferença faz?
Última edição por UchihaPower em Sex 17 Mar 2017, 23:45, editado 1 vez(es) (Motivo da edição : eu insisto em usar o acento agudo onde não pode. xD)