Bom dia Convidado!
Chegou a hora de votarmos na melhor equipe formada na União Fan Group!
Será uma votação difícil, foram fan fics, desenhos e banners lindos.
Segue os trabalhos:
Equipe 01 :
O penúltimo sacrifício
— Me perdoe padre, porque eu pequei.
O padre sai do limbo, não havia percebido a presença de ninguém ali. Mas se recompõem e responde com a mesma calma de sempre, com voz suave e paterna:
— Tudo bem, meu filho. O perdão de Deus é para todos. Conte-me o que você fez. Conte-me qual é o seu pecado.
— Não é o que eu fiz, padre... é o que eu vou fazer! — o tom de sua voz indicava pesar. As palavras saíam depois da língua arrastar o céu da boca, vagarosamente. Eram palavras que carregavam uma enorme responsabilidade. E o padre sentiu tudo isso.
— Ahm... – balbuciou o velho. – E o que é que você pretende fazer, meu filho?
Há uma pausa. Nada se ouvia vindo da noite escura lá de fora da igreja.
— Eu vou matar o senhor, aqui e agora. Em seguida destruirei essa igreja por inteira.
Um calafrio percorreu a espinha do velho: a ameaça parecia ser bem real. O padre sabia o que estava sentindo. Um homem qualquer que sentisse aquilo, teria corrido, se suas pernas funcionassem. Um homem qualquer teria expressado reação, ao menos. Um homem qualquer teria gritado, pedido por socorro. Mas um padre que confia em Deus, jamais faria isso. Os seus cabelos brancos se rejuvenesceriam antes de ele se deixar dominar pelo medo. Mas o seu queixo tremia. Os músculos que seguravam o maxilar, infestados por comandos de alerta do cérebro, traziam o seguinte recado: “perigo”! Mas ainda naquelas condições, a compostura foi tentada a se manter. O padre tenta desfaçar um pigarro.
— E por que você faria isso? Por que mataria a mim, e destruiria este lugar que abriga os filhos de Deus?
— Porque faz parte da missão. Eu preciso completar a missão para poder me vingar daquilo. Eu-eu preciso... — O homem agora falava pelo vão dos dentes — “Para a obtenção do sagrado, será necessário sacrificar um homem santo”... – O homem apenas citava em resposta às perguntas, como alguém que precisava se concentrar na coragem do ato que estava prestes a fazer. Parecia carregar o peso do mundo nas costas
O padre era um homem vivido. Ele já havia visto rituais satânicos e já tinha lidado com todo tipo de loucos. Mas o medo que estava sentindo ali era irracional. Era completamente irracional. Um estranho lhe disse palavras, nada mais, e ele tremia da cabeça aos pés, sendo tomado pelo mais puro pânico que experimentara. Seu coração batia agitadamente demais para sua idade. Ele não sabia mais se os arrepios eram sensação de frio, ou se tudo aquilo era da sensação maligna que sentia. A última vez que sentira algo parecido foi durante um exorcismo. A sensação que faz você ficar paranoico, que ativa os seus 21 sentidos, que te faz entrar em pânico, que te faz sentir vontade de se matar.
— O-ouça bem, meu filho! Eu não sei quem você é o-ou o que te aconteceu. Mas nunca é tarde para voltar atrás! Deus é grande e sua misericórdia é infinita... — O padre falava na medida que enxugava o suor frio da testa.
— PARE DE USAR PALAVRAS BONITAS! — berrou — EU VOU TE MATAR, PADRE! E NÃO VAI SER BONITO, NÃO VAI SER HONROSO, NÃO VAI SER MISERICORDIOSO! VOU ENFIAR UMA ADAGA DE 30 CENTÍMETROS NO SEU PEITO, VOU RASGÁ-LO DE CIMA A BAIXO, VOU ARRANCAR SUAS TRIPAS COM MINHAS PRÓPRIAS MÃOS, E DEPOIS REDUZIREI SEUS OSSOS AO PÓ!
O silêncio se fazia reinar agora por toda a escura igreja, local que só era iluminada pelas velas. O som ecoou por todo o salão, além dos bancos e das enormes janelas. Mas ninguém além do padre ouvira. A única coisa lá fora continuava a ser escuridão daquele horário da noite. O padre teria dito algo, mas não conseguia. A voz não saía mais.
— VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO, PADRE?! – Não se sabia qual respiração era mais forte no silêncio, a do homem de roupas negras, ou a do velho homem dentro do cubículo. — FALE ALGUMA COISA! AMALDIÇOE-ME! DIGA QUE DEUS NÃO ME PERDOARÁ! DIGA QUE IREI PARA O INFERNO! DIGA QUE SOU UM ASSASSINO DESPREZÍVEL! DIGA! — berrava com todo o fôlego que tinha, esbaforido.
O homem já não estava tão perto da plataforma que o separava do velho. Abrira os braços enquanto falava, e ao terminar os colocou na cabeça. Estava desesperado, estava sem saída. Na ensurdecedora ausência de resposta do padre, pôs-se a chorar. Estava perto da porta onde entrava os padres nos locais de confissão.
Um homem de guerra sabe o que o medo faz às pessoas. O medo enlouquece. Às vezes faz abandonar os companheiros. Às vezes as faz abandonar suas crenças. Às vezes as faz se tornarem outras pessoas, completamente diferente daquelas. Mikael sabia disso, embora estivesse descuidado. Suas emoções sempre atrapalhavam nas missões difíceis. Emoções... Pulsos eletroquímicos que invadem o sistema nervoso, criando reações químicas diversas cujo único propósito era dominar a lógica e razão. No caso de Mikael, a sua lógica era a sua vingança, e a sua razão era a sua raiva. Era nisto que seu cérebro estava mergulhado, mas aquele resquício... Ah, aquele resquício de compaixão, de empatia, de moralidade, não o deixava fazer o que tinha de fazer tranquilamente, sem que sua consciência o acusasse tanto! Sem que o fizesse chorar, sem que o fizesse hesitar.
Mas Mikael percebeu quando o ambiente onde o padre estava mudara. Provavelmente todo aquele instinto de sobrevivência teria valido para o homem velho. Em uma situação de emergência, vendo a oportunidade de escapar, o instinto biológico falou mais alto. O ser humano é um ser instintivo, quer viver. E o medo estava fazendo toda a fé do velho ir embora. Mikael serviu na guerra, sabia que isso era comum, mesmo em um homem santo. Naquele momento, o velho homem não pensou em Deus, não se lembrou do que pregava aos seus fiéis, não se esqueceu da incapacidade física que a idade traz. Não, naquele momento o velho estava totalmente sob controle de seus instintos de sobrevivência.
Mikael ouviu quando o padre abriu a porta lateral e correu por entre os bancos. O padre corria com todas as forças que tinha, e com o ímpeto de de alguém que quer viver. Mikael via tudo aquilo, prestes a se transformar. Suas lágrimas cessaram, suas pupilas antes dilatadas se contraíram, e ele já era um caçador novamente. Afinal, um instinto gera outro, e ao ver sua presa fugindo, o predador ressurgiu. Ele sacou a .50 da cinta, até então coberta pela capa negra, e atirou para acertar as pernas do padre. Mas a madeira dos bancos da igreja era muito densa, mesmo a .50 não conseguia varar. Não havendo outro jeito, ainda parado, no mesmo local, Mikael recalculou. Levantou a arma e dessa vez mirou no ombro do velho. Ouviu-se o segundo disparo.
— Presa... abatida...
Para um caçador, o importante é incapacitar a presa de se mover. O correto teria sido atingir os membros inferiores deforma objetiva, esse é que era o plano. Mas as emoções de Mikael haviam deixado o plano se desviar. Ele consertara, acontece que um tiro de .50 no ombro e em uma distância inferior a 50 metros, tem o poder de arrancar o seu braço. O sangue se espalhava pelo chão, com a viscosidade que o sangue de um velho deve ter. O coágulo sanguíneo do padre já era avançado, mas ainda assim, 2 litros de sangue vazaram muito rápido, faltavam 3. Mikael se aproximava devagar, a passos lentos. Seu coturno se manchava de sangue à medida que pisava. Puxa da cintura uma adaga prateada, com dizeres em latim em seu cabo, também de metal. Vira o velho inconsciente, e perfura sua região peitoral com a adaga, usando a mão esquerda, enquanto mantinha a Desert Eagle .50 na outra mão. Vai penetrando a adaga até sentir o chão de cimento. Então começa a rasgar, verticalmente. Vai descendo a adaga até a linha de cintura, para. Deposita a adaga no chão, coloca as duas mãos em cada extremidade do corte, e abre a força o corpo do já cadáver padre. Ele sempre fora ruim em dissecação humana. Sempre se esquecia que danificar os órgãos na hora de abrir dá mais trabalho. O estômago, o baço, o intestino, estavam todos cortados pela adaga. A parte boa é que ficava mais fácil de retirar. Mikael ia arrancando o que pegava e depositando do seu lado, formando um monte de vísceras, órgãos e tecidos, até deixar visível as costelas do velho homem.
— Ritual... Completo...
Terminando, usa as mãos, calçadas com luvas de couro e completamente ensanguentadas, para ajeitar seus longos cabelos para trás. Estava agachado, e se levanta. Recolhe a adaga, limpa-a no tecido da roupa do cadáver, e vai andando até o crucifixo central da igreja. Fica alguns minutos olhando para ele, faz o sinal da cruz, e ruma para a porta. Suas mãos agora pareciam se acender levemente, como chamas: havia recebido o necessário. No fim, o sacrifício valera a pena, ele já podia sentir o poder. Agora que fez o sacrifício santo, estava pronto para lidar com bestas que foram amaldiçoadas por Deus. Não precisaria usar água benta mais, balas e espadas de prata ou escrituras sagradas para repelir o maligno.
Ao abrir a porta central, que dava para a rua, ele se volta para o interior da igreja. Estende uma mão, com a palma para cima. Depois adiciona dois dedos sobre a palma desta mão, e pronuncia:
— Ignis sacris!
A faísca se deu lentamente no início, mas rapidamente se estendeu por todo o local. Ignis sacris, o fogo sagrado em latim. Foi este o poder que Mikael ganhara. E era este fogo que deveria queimar a igreja que carregava o cadáver de um homem santo. Não havia mais nada ao que fazer ali. Era hora de se vingar da besta que havia partido o seu coração. Era hora de Mikael partir para sua última missão.
— Missão... Cumprida...
Mikael se distanciava a passos lentos. A grande estrutura em chamas ainda clareava os seus ombros e sua capa preta.
Continua...
Equipe 02 :
As estações
Era uma noite chuvosa e tempestuosa, a mais sombria e silenciosa ao bloco do campus universitário que eu já vi. As gotas de chuva caindo nas copas das árvores faziam um som sereno, e o frescor da ventania me davam leves arrepios. As gotas de chuva escorriam da capa de chuva até as têmporas do meu rosto pálido. Frio. Tremia dos pés a cabeça. Lembrei que tinha um maço de cigarros ao bolso, e suspirei ao lembrar da promessa.
– Ainda está me esperando? – a voz rouca sussurrou a minha orelha –
Meu corpo estremeceu com o mínimo contato e soltei um longo suspiro ao lembrar que meu amigo de infância tem namorada.
– Sente-se – indiquei com a cabeça o espaço ao meu lado –
– Não está com frio? – encostou o corpo quente ao meu –
– Estou bem. – forcei a indiferença ao meu tom de voz –
Por qual motivo deveria cumprir uma estúpida promessa? Apertei minha mão ao bolso e sem pensar retirei o maço de cigarros e acendi um deles a sua frente. Ele ignorou, e como um castigo apenas tomou distância ao meu corpo.
Ryuu era rancoroso, convencido, mandão, e mais uma porção de adjetivos negativos que eu poderia repetir a minha mente para ocultar minha paixão por ele. Por isso, não fiquei impressionada quando ele tomou distância de mim. Ele sempre adotava essa postura peculiar de me punir. Em resposta, apenas fechei os lábios em torno do cigarro e soltei a fumaça logo depois, com a cabeça inclinada para trás, como se estivesse vivendo meu momento intenso de prazer e quisesse que ele sofresse com isso.
Segurei o cigarro queimando entre o indicador e o dedo médio, ele continuou ali ao meu lado como se estivesse cuidando de mim.
– Você sabia que isso mata, doutora? – pronunciou a palavra doutora de maneira insolente –
Ignorei seu comentário provocante, e soltei novamente a fumaça acinzentada. A chuva parou. Apenas os pequenos riscos azulados coloriam o céu escuro, e as sobras da chuvarada escorriam entre as folhas da árvore em forma de gotas sob minha capa de chuva.
– Meu pai fumava e tinha boa saúde. – interrompi o silêncio, e pela primeira vez durante à noite fitei de maneira discreta suas vestes; o típico jeans escuro e camiseta clara de algodão em gola redonda de manga curta.
– Seus genes são herdados apenas do seu pai? – perguntou erguendo uma de suas grossas sobrancelhas –
– Claro que não... – revirei os olhos e soltei a ponta do cigarro em uma pequena poça de água aos meus pés – Esqueceu sobre às aulas de genética? 23 cromossomos herdados do...
– Shhhiii – ele encostou o indicador aos meus lábios rachados – Você sabe do que estou falando... – sussurrou a minha orelha. Senti um calor no meu peito. Tive uma súbita vontade de beijá-lo e esquentar meus lábios aos dele. Seriam macios? –
– Eu tenho namorado. – as palavras saíram desenfreadas –
– Aquele... pateta? – soltou um riso inevitável pelo nariz –
Aquele pateta realmente era um pateta. Ciumento, possessivo, arrogante e com feições apresentáveis. Soltei uma risada maliciosa em pensar que meu namoro era apenas uma forma de chamar atenção de Ryuu, uma farsa, apenas troca de calor e alguém para me levar em lugares sofisticados. Um contrato que criei propositalmente a minha mente quando o vi à biblioteca da universidade. Sempre foi muito fácil enganá-lo, mas infelizmente o contrato estava chegando ao fim da linha.
– Ewww... – murmurou de forma enojada –
– Não encare dessa forma tão suja. – relaxei os ombros ao notar o semblante sereno de Ryuu –
– Quando você irá viajar? – perguntou cautelosamente. A mão dele entrou pela parte interna de meus cabelos, enroscando as mechas negras aos seus longos dedos e puxando devagar –
– Em breve. – fechei os olhos e continuei desfrutando daquele deleite –
Ele entrou em um terreno perigoso, a última coisa naquele instante que gostaria de conversar era sobre a viagem.
Tínhamos combinado de ver o pôr do sol juntos, seria uma longa viagem até o nosso destino final, logo que a chuva passou fomos para a estrada. O silêncio predominava dentro do carro, não havia música, ruídos, apenas a respiração pesada de Ryuu.
Observei de canto as feições de Ryuu; a pele suave e branca como a neve, os olhos negros e redondos faziam par com as rebeldes madeixas, e o lábios sempre com um sorriso petulante. O sangue esquenta em minhas veias. Será que ele sempre vai ter esse efeito sobre mim? Encosto a cabeça no apoio do assento e os flasbacks surgem a minha mente.
Há alguns anos, estávamos indo ao colégio juntos nos primeiros dias da primavera. Passávamos sempre por debaixo de uma porção de árvores de cerejeiras, era a minha estação favorita por causa das pétalas que caíam sob meus cabelos, e também pelo seu inevitável toque em tirá-las. Era uma adolescente que sofria o constante assédio de bullying entre as garotas e os garotos da minha idade, eles gostavam de zombar sobre a forma desajeitada que meus cabelos insistiam em esconder metade do meu rosto, meu semblante sempre tão pálido destacavam meus olhos escuros opacos e melancólicos. Meu corpo nunca fora grande coisa, as garotas faziam questão de comparar-me a uma tábua de passar roupa. Não tinha nenhuma mão amiga para me confortar no banheiro durante o intervalo, as lágrimas eram minha única companhia.
E, foi naquela época que você entrou a minha vida como se fosse um furacão; rápido e intenso. Desestruturou todos os meus sentimentos. Devolveu cada ofensa e zombaria que os nossos colegas fizeram, brigou com todos ao nosso redor e impôs respeito acima de todas as desigualdades. Todos o admiravam, Ryuu o defensor das donzelas indefesas. Sempre com aquele ar misterioso, o típico adolescente que conquistava afeição por todos ao redor.
A primavera passou a ser a nossa estação favorita, a única época que desfrutávamos da nossa caminhada matinal até o colégio. Passávamos entre os bosques borrados pelo rosa das cerejeiras, tomávamos nosso café da Starbucks e conversávamos sobre os assuntos mais aleatórios que surgiam a nossa mente. Foi naquele mesmo dia, que uma catástrofe arruinou meus próximos anos, todas as redes de telecomunicações noticiara a tragédia do voo-162, com mais de 150 passageiros mortos. Incluindo meus pais. A parti dali, meus dias tornaram-se intermináveis, e sua companhia fora essencial para acalentar minhas emoções turbulentas. Nossos dias de primavera passaram-se para um quarto gélido e escuro, o frescor da primavera passaram-se para a minha face quente borrada pelas lágrimas.
Chegamos ao nosso destino, o céu estava começando a clarear. O calor do verão esquentava nossas faces, no alto da colina observei o céu alaranjando borrando os últimos resquícios de uma noite tempestuosa. A mão de Ryuu entrelaçava com a minha, é estranho o quanto caloroso seu toque era e o quanto distante Ryuu parecia estar em certos momentos. Encostei minha cabeça em seu ombro e apenas desfrutei do nosso último momento juntos. As estações sempre eram nosso ponto de encontro.
– Ainda está me esperando? – a voz rouca sussurrou a minha orelha –
Meu corpo estremeceu com o mínimo contato e soltei um longo suspiro ao lembrar que meu amigo de infância tem namorada.
– Sente-se – indiquei com a cabeça o espaço ao meu lado –
– Não está com frio? – encostou o corpo quente ao meu –
– Estou bem. – forcei a indiferença ao meu tom de voz –
Por qual motivo deveria cumprir uma estúpida promessa? Apertei minha mão ao bolso e sem pensar retirei o maço de cigarros e acendi um deles a sua frente. Ele ignorou, e como um castigo apenas tomou distância ao meu corpo.
Ryuu era rancoroso, convencido, mandão, e mais uma porção de adjetivos negativos que eu poderia repetir a minha mente para ocultar minha paixão por ele. Por isso, não fiquei impressionada quando ele tomou distância de mim. Ele sempre adotava essa postura peculiar de me punir. Em resposta, apenas fechei os lábios em torno do cigarro e soltei a fumaça logo depois, com a cabeça inclinada para trás, como se estivesse vivendo meu momento intenso de prazer e quisesse que ele sofresse com isso.
Segurei o cigarro queimando entre o indicador e o dedo médio, ele continuou ali ao meu lado como se estivesse cuidando de mim.
– Você sabia que isso mata, doutora? – pronunciou a palavra doutora de maneira insolente –
Ignorei seu comentário provocante, e soltei novamente a fumaça acinzentada. A chuva parou. Apenas os pequenos riscos azulados coloriam o céu escuro, e as sobras da chuvarada escorriam entre as folhas da árvore em forma de gotas sob minha capa de chuva.
– Meu pai fumava e tinha boa saúde. – interrompi o silêncio, e pela primeira vez durante à noite fitei de maneira discreta suas vestes; o típico jeans escuro e camiseta clara de algodão em gola redonda de manga curta.
– Seus genes são herdados apenas do seu pai? – perguntou erguendo uma de suas grossas sobrancelhas –
– Claro que não... – revirei os olhos e soltei a ponta do cigarro em uma pequena poça de água aos meus pés – Esqueceu sobre às aulas de genética? 23 cromossomos herdados do...
– Shhhiii – ele encostou o indicador aos meus lábios rachados – Você sabe do que estou falando... – sussurrou a minha orelha. Senti um calor no meu peito. Tive uma súbita vontade de beijá-lo e esquentar meus lábios aos dele. Seriam macios? –
– Eu tenho namorado. – as palavras saíram desenfreadas –
– Aquele... pateta? – soltou um riso inevitável pelo nariz –
Aquele pateta realmente era um pateta. Ciumento, possessivo, arrogante e com feições apresentáveis. Soltei uma risada maliciosa em pensar que meu namoro era apenas uma forma de chamar atenção de Ryuu, uma farsa, apenas troca de calor e alguém para me levar em lugares sofisticados. Um contrato que criei propositalmente a minha mente quando o vi à biblioteca da universidade. Sempre foi muito fácil enganá-lo, mas infelizmente o contrato estava chegando ao fim da linha.
– Ewww... – murmurou de forma enojada –
– Não encare dessa forma tão suja. – relaxei os ombros ao notar o semblante sereno de Ryuu –
– Quando você irá viajar? – perguntou cautelosamente. A mão dele entrou pela parte interna de meus cabelos, enroscando as mechas negras aos seus longos dedos e puxando devagar –
– Em breve. – fechei os olhos e continuei desfrutando daquele deleite –
Ele entrou em um terreno perigoso, a última coisa naquele instante que gostaria de conversar era sobre a viagem.
Tínhamos combinado de ver o pôr do sol juntos, seria uma longa viagem até o nosso destino final, logo que a chuva passou fomos para a estrada. O silêncio predominava dentro do carro, não havia música, ruídos, apenas a respiração pesada de Ryuu.
Observei de canto as feições de Ryuu; a pele suave e branca como a neve, os olhos negros e redondos faziam par com as rebeldes madeixas, e o lábios sempre com um sorriso petulante. O sangue esquenta em minhas veias. Será que ele sempre vai ter esse efeito sobre mim? Encosto a cabeça no apoio do assento e os flasbacks surgem a minha mente.
Há alguns anos, estávamos indo ao colégio juntos nos primeiros dias da primavera. Passávamos sempre por debaixo de uma porção de árvores de cerejeiras, era a minha estação favorita por causa das pétalas que caíam sob meus cabelos, e também pelo seu inevitável toque em tirá-las. Era uma adolescente que sofria o constante assédio de bullying entre as garotas e os garotos da minha idade, eles gostavam de zombar sobre a forma desajeitada que meus cabelos insistiam em esconder metade do meu rosto, meu semblante sempre tão pálido destacavam meus olhos escuros opacos e melancólicos. Meu corpo nunca fora grande coisa, as garotas faziam questão de comparar-me a uma tábua de passar roupa. Não tinha nenhuma mão amiga para me confortar no banheiro durante o intervalo, as lágrimas eram minha única companhia.
E, foi naquela época que você entrou a minha vida como se fosse um furacão; rápido e intenso. Desestruturou todos os meus sentimentos. Devolveu cada ofensa e zombaria que os nossos colegas fizeram, brigou com todos ao nosso redor e impôs respeito acima de todas as desigualdades. Todos o admiravam, Ryuu o defensor das donzelas indefesas. Sempre com aquele ar misterioso, o típico adolescente que conquistava afeição por todos ao redor.
A primavera passou a ser a nossa estação favorita, a única época que desfrutávamos da nossa caminhada matinal até o colégio. Passávamos entre os bosques borrados pelo rosa das cerejeiras, tomávamos nosso café da Starbucks e conversávamos sobre os assuntos mais aleatórios que surgiam a nossa mente. Foi naquele mesmo dia, que uma catástrofe arruinou meus próximos anos, todas as redes de telecomunicações noticiara a tragédia do voo-162, com mais de 150 passageiros mortos. Incluindo meus pais. A parti dali, meus dias tornaram-se intermináveis, e sua companhia fora essencial para acalentar minhas emoções turbulentas. Nossos dias de primavera passaram-se para um quarto gélido e escuro, o frescor da primavera passaram-se para a minha face quente borrada pelas lágrimas.
Chegamos ao nosso destino, o céu estava começando a clarear. O calor do verão esquentava nossas faces, no alto da colina observei o céu alaranjando borrando os últimos resquícios de uma noite tempestuosa. A mão de Ryuu entrelaçava com a minha, é estranho o quanto caloroso seu toque era e o quanto distante Ryuu parecia estar em certos momentos. Encostei minha cabeça em seu ombro e apenas desfrutei do nosso último momento juntos. As estações sempre eram nosso ponto de encontro.
Equipe 03 :
Um Conto de Fadas: A Princesa e o Guerreiro
Definitivamente estava comprovado. O instrutor Keith Shadis é cruel. Ele, em último ato de sadismo antes da formatura do 104º Corpo de Cadete, decretou a criação de uma apresentação artística de seus alunos sob o pretexto de que essa seria uma habilidade importante no futuro. Muitos cadetes se perguntaram o porquê disso, no entanto nenhum se atreveu a questionar a ordem do homem que transpirava terror por um simples olhar.
Armin Arlert suspirou após escutar os nomes de seus companheiros de equipe. Eren Yeager, Jean Kirstein, Connie Springer, Marco Bott e Annie Leonhart. O instrutor deixou os jovens boquiabertos e sem saber o que fazer e saiu satisfeito com essas expressões. Armin não estava em condições melhores, estava a ponto de pedir socorro.
Como o menino de madeixas loiras antecipou, a reunião com seu grupo revelou que essa tarefa seria complicada. Eren e Jean juntos em qualquer tarefa sempre tinham atritos. Connie não era o mais inteligente e se distraia. Marco era o mais fácil de lidar, porém provavelmente seria a “babá” de Jean na tentativa de acalmar seu amigo. E por último restava Annie: um completo mistério.
As sugestões de atrações começaram com canto, mas foram totalmente negadas por causa das vozes nada agradáveis de Eren e Jean. Trabalhos envolvendo desenho e pintura também foram descartados, pois Jean e Eren recomeçaram uma discussão. Marco sugeriu teatro e Armin sorriu com a sugestão, isso não envolveria nenhuma competição entre Eren e Jean. Armin tinha lido em livros de sua família, quando criança, sobre como funcionava uma peça teatral e lembrava-se de algumas coisas; eles teriam que achar um tema.
Eren notou o semblante pensativo de Armin e pediu para que seu amigo contasse um conto de fadas infantil e medieval. Armin entendeu o que Eren propôs e se preparou para contar mais uma vez. Eren se endireitou e olhou em expectativa para ouvir, pela milésima vez, o conto.
“Uma linda e bondosa princesa gostava de caminhar pela cidade em que nasceu. Ela era realmente linda e sua beleza despertava muita inveja e paixões. Um dia sua fama chegou até um bruxo malvado que morava nas profundezas de uma floresta. Ele procurou a princesa e a achou em um campo. O bruxo se apaixonou pela jovem quando a viu e a pediu em casamento. A princesa se recusou e o bruxo se revoltou e lançou um feitiço para que a princesa dormisse eternamente e somente um beijo do amor verdadeiro a despertasse de seu eterno sono. O bruxo ordenou que seu dragão...”
― O que é um dragão?
A pergunta de Connie interrompeu Armin e ele calmamente explicou que era um lagarto gigante com asas e que cuspia fogo, o que impressionou o menino.
Armin observou cada um de seus expectadores e todos pareciam interessados, exceto por Annie, um pouco mais afastada, que mantinha sua expressão entediada.
“O bruxo ordenou que seu dragão levasse a princesa para uma torre e impedisse qualquer pessoa de se aproximar dela. Um guerreiro corajoso, forte e gentil decidiu enfrentar o temido bruxo e seu dragão para resgatar a bela donzela. Ele adentrou a torre e derrotou o bruxo e o dragão. O guerreiro achou a princesa e quando a olhou de perto se apaixonou e se entristeceu por sua condição, e então ele...”
Armin notou que naquele momento conseguiu capturar a atenção de Annie e continuou sua história. “Ele se inclinou e deu um beijo na princesa, o beijo do amor verdadeiro. E ela acordou.”
― Um beijo pode despertar alguém? Isso parece impossível. ― Jean questionou com a mão no queixo.
― Foi um beijo do amor verdadeiro.
Eren e Jean iniciaram mais uma contenda que felizmente não durou muito. O grupo se dividiu para determinar os personagens e Connie logo declarou com as mãos erguidas que seria o bruxo. Marco escolheu ser o narrador, Jean decidiu pelo dragão e Eren falou que seria a outra parte do dragão, por medo de fazer par com Annie.
― Eu ficarei com a cabeça do dragão.
― Um dragão com cara de cavalo? ― Bastou uma piada de Eren para começar mais uma briga.
Enquanto isso, Armin entendeu que sobrou o papel de guerreiro para ele. Annie sequer se manifestou sobre o seu papel, ficou subentendido que ela seria a princesa, pois era a única garota.
Os cadetes receberam uma folga da regra de horário de recolhimento para dar mais tempo para que eles planejassem suas apresentações artísticas. Armin e seu grupo foram até a madrugada montando suas falas, até que o cansaço finalmente os venceu e eles dormiram pelos cantos de uma sala qualquer do alojamento. Armin viu seus amigos dormindo descuidadamente pelo soalho. Connie deitado de qualquer maneira, Marco com as costas numa parede, Eren também estava sentado e apoiado numa parede e Jean com a cabeça apoiada em seu colo. Armin se perguntou como eles foram parar nessa posição. Armin achou Annie por último em um canto e murmurando palavras que ele não identificou.
― Whoosh!
Ela estava deitada, encolhida e parecia sentir frio ou algum tipo de agonia. Armin se aproximou vagarosamente para se certificar do que Annie sentia, sem despertar a menina e nem sua ira. Armin olhou em volta e pegou um lençol jogado no chão que serviu para Eren e Jean treinarem o papel de dragão. O menino cobriu Annie e notou que sua expressão contorcida se suavizou. Ele se deu por satisfeito e se distanciou dando alguns passos, antes de ser interrompido pela voz de Annie.
― Armin.
Ele voltou seu corpo na direção dela, surpreso, ela parecia dormir profundamente antes.
― A-Annie, eu só... ― Ele coçou sua bochecha com o dedo indicador, um pouco sem graça, e notou que Annie o fitava com uma expressão mais sonolenta que o normal, aparentemente esperando ele terminar sua frase. ― Você pareceu interessada no conto.
― Parece irreal, quem se arriscaria daquela maneira?
― Esse é o ponto, o guerreiro se arriscou pelo amor verdadeiro e recebeu sua recompensa.
― E o que é esse tal amor verdadeiro significa?
― Acho que o amor impulsiona as pessoas, ele dá coragem para enfrentar seus medos, como o guerreiro que enfrentou o bruxo e o dragão para salvar a princesa.
Os fios soltos do cabelo de Annie criou uma sombra que escureceu seu rosto e escondeu sua expressão. Alguns segundos depois ela passou os dedos pela mecha e depositou atrás de sua orelha e seu semblante gelado surgiu novamente. Armin se sentiu sem jeito depois de falar sobre amor sozinho com a menina e desejou uma boa noite, desajeitado, antes de se distanciar dela e deixar a sala, Annie voltou a se enrolar no lençol e deitou no chão.
No dia seguinte, Connie e Jean surgiram na sala com adereços, vestimentas e peças para compor o cenário. Connie conseguiu um chapéu exageradamente alto e escuro para cobrir sua cabeça raspada e uma capa também negra. Para a cabeça do dragão que Jean ia usar, eles conseguiram um adereço prateado que mais parecia com o que cavaleiros usavam para colocar na cabeça dos cavalos nas antigas batalhas, aparentemente o ferreiro cedeu a peça exclusivamente para ele. Armin não comentou nada para não atiçar nenhuma briga. Eles também obtiveram um lençol maior, emprestado de Bertolt, para cobrir Eren e Jean. Para a princesa, Christa emprestou seu vestido rosado de festa e o ferreiro também emprestou uma tiara. Para o guerreiro, uma capa azul, um escudo envelhecido do ferreiro com um pequeno símbolo da muralha Rose e a espada seria a lâmina de aço usada para cortar a carne dos titãs. Marco não usaria nada de especial, uma vez que ele seria apenas o narrador.
Connie sorriu se orgulhando de suas brilhantes ideias e estendeu a Armin um rolo da pintura que seria pendurada na parede do fundo para servir de paisagem.
― Que tal cada um pegar o material de seu personagem? ― Jean pareceu descontente por ter que trabalhar com seu rival.
O grupo de meninos observou Annie se aproximar silenciosamente e pegar os objetos que compõem o personagem do guerreiro.
― Vou ser o guerreiro. ― Ela declarou com seu olhar gélido e ninguém ousou questionar.
Após Annie deixar a sala, Armin compreendeu que seria a princesa e sua face se avermelhou no mesmo instante que as risadas dos outros garotos ganharam força.
Em pouco tempo o grupo iniciou o treinamento de suas falas. Eren e Jean ainda estavam atrapalhados em seu personagem.
― Cuidado com meu pé!
― Tire ele daí!
Connie estava tentando construir algum objeto para simular um ar quente que o dragão ia exalar. De repente a bugiganga explodiu e seu rosto se escureceu totalmente. O instrutor Shadis chegou nesse momento e pareceu se divertir com a situação atrapalhada em que os jovens se encontravam, apesar disso, ele anunciou que o grupo seria a última atração.
O dia a hora das apresentações chegou. Algumas pessoas importantes foram convidadas para assistir as apresentações artísticas do 104º Corpo de Cadete, entre eles, o comandante da Guarnição Dot Pixis, o comandante do Corpo de Pesquisa Erwin Smith, o soldado mais forte da humanidade Levi e outros membros do Corpo de Pesquisa. Esse tipo de apresentação cultural era um ritual de passagem realizado por todos os cadetes antes da formatura, Levi agradeceu mentalmente por não ter entrado no Corpo de cadetes.
Os grupos começaram a se apresentar e a maior parte deles apresentou pinturas com paisagens. O grupo de Christa, Ymir, Reiner e Bertolt usou vestidos brancos pintados por gotas de tinta colorida e uma coroa de flores na cabeça. Em outro grupo Sasha recitou um poema sobre comida e Mikasa fazia o papel de carne com uma cesta de pães nas mãos e exibindo seu rosto sem expressão, o que assustou alguns expectadores.
― Parabéns Mikasa. ― Jean parabenizou após a garota aparecer nos bastidores.
― Obrigada. ― Ela respondeu automaticamente e focou seu olhar em Eren. ― Eren, seu rosto está sujo.
Mikasa levantou o braço para limpar uma sobra de comida no queixo de Eren, porém ele afastou sua mão e reclamou.
― Deixe que eu mesmo limpo.
Jean observou a cena e olhou para Eren com raiva e ciúme. Após Mikasa sair Eren notou o olhar de Jean e franziu o cenho como resposta.
― Qual o seu problema?
― O meu problema é você, Yeager.
Marco tentou remediar a situação e Connie surgiu devidamente vestido como seu personagem, aparentemente procurando Armin para rir de sua fantasia. Armin surge paramentado como princesa, com a tiara gelada entre os fios de seu cabelo loiro e trajando o vestido de Christa. Seus colegas de grupo o fitaram, divertidos.
― Bela princesa Armin. ― Jean riu pondo seu adereço na cabeça.
― Como uma princesa de verdade.
Armin se sentiu derrotado, as donzelas em perigo não eram rapazes.
O sinal da apresentação surgiu e o grupo levantou o olhar.
― Prontos?
Todos assentiram com a cabeça em afirmativo, no entanto, pareciam apreensivos. Logo a voz de Marco ecoou pelo palco.
“Era uma vez, uma linda princesa Armin...”
Armin entrou no palco e risadas contidas surgiram da platéia, ele sentiu vontade de se esconder, mas se controlou.
“Famosa por sua bondade e beleza chamou a atenção de um temível bruxo. Ele se apaixonou por ela e a pediu em casamento imediatamente.”
― Princesa, case comigo.
Connie praticamente se jogou no palco e falou de forma mais dramática possível. Armin negou de forma contida e fitou a platéia que estava em expectativa.
― O que?
Connie estava dando tudo de si em suas falas exageradamente articuladas, o que roubou a atenção do público. Armin se encorajou e seguiu seu exemplo.
― Não!
― Isso não vai ficar assim.
Jean e Eren adentraram o palco como o dragão sem qualquer briga ou atrapalhação, eles não arruinaram nada.
Connie soprou um pó escuro em Armin e ele caiu. O pó o pegou de surpresa e ele caiu pelo susto e pela poeira em sua respiração, pois ele havia avisado para que ele não usasse esse pó. Armin suprimiu uma ameaça de tosse.
― Leve a princesa para a torre e não permita que ninguém se aproxime!
Connie berrou e deu uma risada maligna sacudindo sua capa. O dragão arrastou Armin até um colchonete e estendeu o corpo do menino.
Marco seguiu a narração para o publico abismado, enquanto alguns ficaram preocupados com o estado de Armin e olhavam na direção do menino para se certificar de que ele ainda permanecia vivo.
“Um guerreiro corajoso e gentil de um reino distante escutou a história da princesa e decidiu tentar resgatar a donzela.”
Annie se aproximou e Connie se precipitou em sua direção com toda sua dramaturgia a flor da pele.
― Eu vim salvar a princesa.
Connie gargalhou virando sua cabeça para o alto, seu chapéu quase caiu com essa ação.
― Um guerreiro fajuto?
― Eu disse, vim salvar a princesa.
A expressão de Annie se fechou e escureceu, Connie deu alguns passos para trás com o susto repentino.
― Er... E-eu... ― Connie gaguejou.
Annie enfiou a lâmina com cuidado embaixo do braço de Connie e a retirou da mesma forma, a platéia reagiu surpresa. Connie atou em sua morte da forma mais trágica possível, caindo lentamente. Cansada de esperar, Annie chutou o menino que ainda agonizava de joelhos. Connie quase soltou um grito de dor e rolou pelo chão para sair de cena rapidamente, o público entendeu que ele estava vivo e se acalmou.
O dragão surgiu fazendo ruídos estranhos e se dirigiu a Annie.
― Fique fora disso.
Annie franziu o cenho e o dragão continuou na sua frente. Nesse momento Connie puxou uma cordinha para seu efeito especial. Um ar quente surgiu de uma tampa aberta e a platéia se agitou, fazendo que Annie fosse para trás e Armin sentisse a quentura. Lembrou-se de que foi mais uma coisa que pediu para Connie não usar.
Annie deu um de seus chutes rápidos na perna de Jean, ele se desequilibrou e caiu sobre Eren, os dois meninos gemeram de dor. Armin escutou esses sons e ficou agitado, mas não saiu de seu papel.
― Armin. ― Ele sentiu uma mão quente apertar a sua de modo acolhedor. ― Princesa Armin. ― Seu tom de voz do guerreiro Annie era suave e o rosto do menino corou.
A platéia mergulhou numa expectativa do que aconteceria a seguir. Todos esperavam pelo final feliz em silêncio absoluto. Annie se inclinou sobre Armin e pressionou seus lábios sobre os dele. Armin abriu os olhos imediatamente, o beijo agiu como uma corrente elétrica e o despertou.
“Depois disso o guerreiro e a princesa casaram e viveram felizes para sempre.”
Marco terminou a narração e a platéia explodiu em aplausos, assovios e gritos sugestivos, como os de Reiner, mas Annie estava feliz, pois encontrou sua princesa.
― Eu sempre me emociono com essas coisas.
Petra secou as lágrimas que ameaçavam correr para fora de seus olhos, enquanto Auluo tentava imitar Levi criticando a peça e ninguém pareceu dar atenção. Levi olhou para Erwin sorrindo com simpatia e comentando algo com Pixis, o instrutor Shadis boquiaberto e Hange rindo e falando sobre o efeito especial.
― Não foi uma completa merda. ― concluiu Levi.
Armin Arlert suspirou após escutar os nomes de seus companheiros de equipe. Eren Yeager, Jean Kirstein, Connie Springer, Marco Bott e Annie Leonhart. O instrutor deixou os jovens boquiabertos e sem saber o que fazer e saiu satisfeito com essas expressões. Armin não estava em condições melhores, estava a ponto de pedir socorro.
Como o menino de madeixas loiras antecipou, a reunião com seu grupo revelou que essa tarefa seria complicada. Eren e Jean juntos em qualquer tarefa sempre tinham atritos. Connie não era o mais inteligente e se distraia. Marco era o mais fácil de lidar, porém provavelmente seria a “babá” de Jean na tentativa de acalmar seu amigo. E por último restava Annie: um completo mistério.
As sugestões de atrações começaram com canto, mas foram totalmente negadas por causa das vozes nada agradáveis de Eren e Jean. Trabalhos envolvendo desenho e pintura também foram descartados, pois Jean e Eren recomeçaram uma discussão. Marco sugeriu teatro e Armin sorriu com a sugestão, isso não envolveria nenhuma competição entre Eren e Jean. Armin tinha lido em livros de sua família, quando criança, sobre como funcionava uma peça teatral e lembrava-se de algumas coisas; eles teriam que achar um tema.
Eren notou o semblante pensativo de Armin e pediu para que seu amigo contasse um conto de fadas infantil e medieval. Armin entendeu o que Eren propôs e se preparou para contar mais uma vez. Eren se endireitou e olhou em expectativa para ouvir, pela milésima vez, o conto.
“Uma linda e bondosa princesa gostava de caminhar pela cidade em que nasceu. Ela era realmente linda e sua beleza despertava muita inveja e paixões. Um dia sua fama chegou até um bruxo malvado que morava nas profundezas de uma floresta. Ele procurou a princesa e a achou em um campo. O bruxo se apaixonou pela jovem quando a viu e a pediu em casamento. A princesa se recusou e o bruxo se revoltou e lançou um feitiço para que a princesa dormisse eternamente e somente um beijo do amor verdadeiro a despertasse de seu eterno sono. O bruxo ordenou que seu dragão...”
― O que é um dragão?
A pergunta de Connie interrompeu Armin e ele calmamente explicou que era um lagarto gigante com asas e que cuspia fogo, o que impressionou o menino.
Armin observou cada um de seus expectadores e todos pareciam interessados, exceto por Annie, um pouco mais afastada, que mantinha sua expressão entediada.
“O bruxo ordenou que seu dragão levasse a princesa para uma torre e impedisse qualquer pessoa de se aproximar dela. Um guerreiro corajoso, forte e gentil decidiu enfrentar o temido bruxo e seu dragão para resgatar a bela donzela. Ele adentrou a torre e derrotou o bruxo e o dragão. O guerreiro achou a princesa e quando a olhou de perto se apaixonou e se entristeceu por sua condição, e então ele...”
Armin notou que naquele momento conseguiu capturar a atenção de Annie e continuou sua história. “Ele se inclinou e deu um beijo na princesa, o beijo do amor verdadeiro. E ela acordou.”
― Um beijo pode despertar alguém? Isso parece impossível. ― Jean questionou com a mão no queixo.
― Foi um beijo do amor verdadeiro.
Eren e Jean iniciaram mais uma contenda que felizmente não durou muito. O grupo se dividiu para determinar os personagens e Connie logo declarou com as mãos erguidas que seria o bruxo. Marco escolheu ser o narrador, Jean decidiu pelo dragão e Eren falou que seria a outra parte do dragão, por medo de fazer par com Annie.
― Eu ficarei com a cabeça do dragão.
― Um dragão com cara de cavalo? ― Bastou uma piada de Eren para começar mais uma briga.
Enquanto isso, Armin entendeu que sobrou o papel de guerreiro para ele. Annie sequer se manifestou sobre o seu papel, ficou subentendido que ela seria a princesa, pois era a única garota.
Os cadetes receberam uma folga da regra de horário de recolhimento para dar mais tempo para que eles planejassem suas apresentações artísticas. Armin e seu grupo foram até a madrugada montando suas falas, até que o cansaço finalmente os venceu e eles dormiram pelos cantos de uma sala qualquer do alojamento. Armin viu seus amigos dormindo descuidadamente pelo soalho. Connie deitado de qualquer maneira, Marco com as costas numa parede, Eren também estava sentado e apoiado numa parede e Jean com a cabeça apoiada em seu colo. Armin se perguntou como eles foram parar nessa posição. Armin achou Annie por último em um canto e murmurando palavras que ele não identificou.
― Whoosh!
Ela estava deitada, encolhida e parecia sentir frio ou algum tipo de agonia. Armin se aproximou vagarosamente para se certificar do que Annie sentia, sem despertar a menina e nem sua ira. Armin olhou em volta e pegou um lençol jogado no chão que serviu para Eren e Jean treinarem o papel de dragão. O menino cobriu Annie e notou que sua expressão contorcida se suavizou. Ele se deu por satisfeito e se distanciou dando alguns passos, antes de ser interrompido pela voz de Annie.
― Armin.
Ele voltou seu corpo na direção dela, surpreso, ela parecia dormir profundamente antes.
― A-Annie, eu só... ― Ele coçou sua bochecha com o dedo indicador, um pouco sem graça, e notou que Annie o fitava com uma expressão mais sonolenta que o normal, aparentemente esperando ele terminar sua frase. ― Você pareceu interessada no conto.
― Parece irreal, quem se arriscaria daquela maneira?
― Esse é o ponto, o guerreiro se arriscou pelo amor verdadeiro e recebeu sua recompensa.
― E o que é esse tal amor verdadeiro significa?
― Acho que o amor impulsiona as pessoas, ele dá coragem para enfrentar seus medos, como o guerreiro que enfrentou o bruxo e o dragão para salvar a princesa.
Os fios soltos do cabelo de Annie criou uma sombra que escureceu seu rosto e escondeu sua expressão. Alguns segundos depois ela passou os dedos pela mecha e depositou atrás de sua orelha e seu semblante gelado surgiu novamente. Armin se sentiu sem jeito depois de falar sobre amor sozinho com a menina e desejou uma boa noite, desajeitado, antes de se distanciar dela e deixar a sala, Annie voltou a se enrolar no lençol e deitou no chão.
No dia seguinte, Connie e Jean surgiram na sala com adereços, vestimentas e peças para compor o cenário. Connie conseguiu um chapéu exageradamente alto e escuro para cobrir sua cabeça raspada e uma capa também negra. Para a cabeça do dragão que Jean ia usar, eles conseguiram um adereço prateado que mais parecia com o que cavaleiros usavam para colocar na cabeça dos cavalos nas antigas batalhas, aparentemente o ferreiro cedeu a peça exclusivamente para ele. Armin não comentou nada para não atiçar nenhuma briga. Eles também obtiveram um lençol maior, emprestado de Bertolt, para cobrir Eren e Jean. Para a princesa, Christa emprestou seu vestido rosado de festa e o ferreiro também emprestou uma tiara. Para o guerreiro, uma capa azul, um escudo envelhecido do ferreiro com um pequeno símbolo da muralha Rose e a espada seria a lâmina de aço usada para cortar a carne dos titãs. Marco não usaria nada de especial, uma vez que ele seria apenas o narrador.
Connie sorriu se orgulhando de suas brilhantes ideias e estendeu a Armin um rolo da pintura que seria pendurada na parede do fundo para servir de paisagem.
― Que tal cada um pegar o material de seu personagem? ― Jean pareceu descontente por ter que trabalhar com seu rival.
O grupo de meninos observou Annie se aproximar silenciosamente e pegar os objetos que compõem o personagem do guerreiro.
― Vou ser o guerreiro. ― Ela declarou com seu olhar gélido e ninguém ousou questionar.
Após Annie deixar a sala, Armin compreendeu que seria a princesa e sua face se avermelhou no mesmo instante que as risadas dos outros garotos ganharam força.
Em pouco tempo o grupo iniciou o treinamento de suas falas. Eren e Jean ainda estavam atrapalhados em seu personagem.
― Cuidado com meu pé!
― Tire ele daí!
Connie estava tentando construir algum objeto para simular um ar quente que o dragão ia exalar. De repente a bugiganga explodiu e seu rosto se escureceu totalmente. O instrutor Shadis chegou nesse momento e pareceu se divertir com a situação atrapalhada em que os jovens se encontravam, apesar disso, ele anunciou que o grupo seria a última atração.
O dia a hora das apresentações chegou. Algumas pessoas importantes foram convidadas para assistir as apresentações artísticas do 104º Corpo de Cadete, entre eles, o comandante da Guarnição Dot Pixis, o comandante do Corpo de Pesquisa Erwin Smith, o soldado mais forte da humanidade Levi e outros membros do Corpo de Pesquisa. Esse tipo de apresentação cultural era um ritual de passagem realizado por todos os cadetes antes da formatura, Levi agradeceu mentalmente por não ter entrado no Corpo de cadetes.
Os grupos começaram a se apresentar e a maior parte deles apresentou pinturas com paisagens. O grupo de Christa, Ymir, Reiner e Bertolt usou vestidos brancos pintados por gotas de tinta colorida e uma coroa de flores na cabeça. Em outro grupo Sasha recitou um poema sobre comida e Mikasa fazia o papel de carne com uma cesta de pães nas mãos e exibindo seu rosto sem expressão, o que assustou alguns expectadores.
― Parabéns Mikasa. ― Jean parabenizou após a garota aparecer nos bastidores.
― Obrigada. ― Ela respondeu automaticamente e focou seu olhar em Eren. ― Eren, seu rosto está sujo.
Mikasa levantou o braço para limpar uma sobra de comida no queixo de Eren, porém ele afastou sua mão e reclamou.
― Deixe que eu mesmo limpo.
Jean observou a cena e olhou para Eren com raiva e ciúme. Após Mikasa sair Eren notou o olhar de Jean e franziu o cenho como resposta.
― Qual o seu problema?
― O meu problema é você, Yeager.
Marco tentou remediar a situação e Connie surgiu devidamente vestido como seu personagem, aparentemente procurando Armin para rir de sua fantasia. Armin surge paramentado como princesa, com a tiara gelada entre os fios de seu cabelo loiro e trajando o vestido de Christa. Seus colegas de grupo o fitaram, divertidos.
― Bela princesa Armin. ― Jean riu pondo seu adereço na cabeça.
― Como uma princesa de verdade.
Armin se sentiu derrotado, as donzelas em perigo não eram rapazes.
O sinal da apresentação surgiu e o grupo levantou o olhar.
― Prontos?
Todos assentiram com a cabeça em afirmativo, no entanto, pareciam apreensivos. Logo a voz de Marco ecoou pelo palco.
“Era uma vez, uma linda princesa Armin...”
Armin entrou no palco e risadas contidas surgiram da platéia, ele sentiu vontade de se esconder, mas se controlou.
“Famosa por sua bondade e beleza chamou a atenção de um temível bruxo. Ele se apaixonou por ela e a pediu em casamento imediatamente.”
― Princesa, case comigo.
Connie praticamente se jogou no palco e falou de forma mais dramática possível. Armin negou de forma contida e fitou a platéia que estava em expectativa.
― O que?
Connie estava dando tudo de si em suas falas exageradamente articuladas, o que roubou a atenção do público. Armin se encorajou e seguiu seu exemplo.
― Não!
― Isso não vai ficar assim.
Jean e Eren adentraram o palco como o dragão sem qualquer briga ou atrapalhação, eles não arruinaram nada.
Connie soprou um pó escuro em Armin e ele caiu. O pó o pegou de surpresa e ele caiu pelo susto e pela poeira em sua respiração, pois ele havia avisado para que ele não usasse esse pó. Armin suprimiu uma ameaça de tosse.
― Leve a princesa para a torre e não permita que ninguém se aproxime!
Connie berrou e deu uma risada maligna sacudindo sua capa. O dragão arrastou Armin até um colchonete e estendeu o corpo do menino.
Marco seguiu a narração para o publico abismado, enquanto alguns ficaram preocupados com o estado de Armin e olhavam na direção do menino para se certificar de que ele ainda permanecia vivo.
“Um guerreiro corajoso e gentil de um reino distante escutou a história da princesa e decidiu tentar resgatar a donzela.”
Annie se aproximou e Connie se precipitou em sua direção com toda sua dramaturgia a flor da pele.
― Eu vim salvar a princesa.
Connie gargalhou virando sua cabeça para o alto, seu chapéu quase caiu com essa ação.
― Um guerreiro fajuto?
― Eu disse, vim salvar a princesa.
A expressão de Annie se fechou e escureceu, Connie deu alguns passos para trás com o susto repentino.
― Er... E-eu... ― Connie gaguejou.
Annie enfiou a lâmina com cuidado embaixo do braço de Connie e a retirou da mesma forma, a platéia reagiu surpresa. Connie atou em sua morte da forma mais trágica possível, caindo lentamente. Cansada de esperar, Annie chutou o menino que ainda agonizava de joelhos. Connie quase soltou um grito de dor e rolou pelo chão para sair de cena rapidamente, o público entendeu que ele estava vivo e se acalmou.
O dragão surgiu fazendo ruídos estranhos e se dirigiu a Annie.
― Fique fora disso.
Annie franziu o cenho e o dragão continuou na sua frente. Nesse momento Connie puxou uma cordinha para seu efeito especial. Um ar quente surgiu de uma tampa aberta e a platéia se agitou, fazendo que Annie fosse para trás e Armin sentisse a quentura. Lembrou-se de que foi mais uma coisa que pediu para Connie não usar.
Annie deu um de seus chutes rápidos na perna de Jean, ele se desequilibrou e caiu sobre Eren, os dois meninos gemeram de dor. Armin escutou esses sons e ficou agitado, mas não saiu de seu papel.
― Armin. ― Ele sentiu uma mão quente apertar a sua de modo acolhedor. ― Princesa Armin. ― Seu tom de voz do guerreiro Annie era suave e o rosto do menino corou.
A platéia mergulhou numa expectativa do que aconteceria a seguir. Todos esperavam pelo final feliz em silêncio absoluto. Annie se inclinou sobre Armin e pressionou seus lábios sobre os dele. Armin abriu os olhos imediatamente, o beijo agiu como uma corrente elétrica e o despertou.
“Depois disso o guerreiro e a princesa casaram e viveram felizes para sempre.”
Marco terminou a narração e a platéia explodiu em aplausos, assovios e gritos sugestivos, como os de Reiner, mas Annie estava feliz, pois encontrou sua princesa.
― Eu sempre me emociono com essas coisas.
Petra secou as lágrimas que ameaçavam correr para fora de seus olhos, enquanto Auluo tentava imitar Levi criticando a peça e ninguém pareceu dar atenção. Levi olhou para Erwin sorrindo com simpatia e comentando algo com Pixis, o instrutor Shadis boquiaberto e Hange rindo e falando sobre o efeito especial.
― Não foi uma completa merda. ― concluiu Levi.
Regras e Instruções :
- Os votos serão contabilizados da seguinte forma: 1° lugar - 3 pontos, 2° lugar - 2 pontos, 3° lugar -1 ponto.
- Não é permitido voto por amizade.
- Aqueles que estiverem participando do evento poderão votar desde que não votem em seus próprios trabalhos.
-A votação ficará aberta até 23h59 do dia 29/04/2017
Modelo de votação:
Código:
[b]1º Lugar:[/b]
[b]Motivo:[/b]
[b]2º Lugar:[/b]
[b]Motivo:[/b]
[b]3º Lugar:[/b]
[b]Motivo:[/b]
premiação :
1º Lugar
5000 pontos de participação;
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Medalha;
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2º Lugar
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3º Lugar
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Adição no currículo;
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