[...] Okay, okay, ladies, now let's get in formation, cause I slay
You just might be a black Bill Gates in the making [...]
You just might be a black Bill Gates in the making [...]
6 de fevereiro de 2016. Já se faz um ano desde que Beyoncé com seu segundo álbum visual, intitulado como "Lemonade" foi lançado. Relembre seu marco histórico na industria musical, e principalmente no âmbito social, no qual foi a grande proposta desse seu álbum mais intimista.
Formation é uma música da cantora Beyoncé para seu sexto disco solo de estúdio, intitulado Lemonade. A canção foi lançada em 6 de Fevereiro de 2016 exclusivamente pelo serviço de streaming TIDAL junto com o clipe (que também foi disponibilizado no canal pessoal da cantora no YouTube), e um dia antes da performance especial de Queen B no show de intervalo da banda Coldplay no Super Bowl. Tanto o conteúdo lírico da música, quanto os visuais do clipe e da performance causaram grande controvérsia e muito debate na mídia, se tornando uma das músicas mais comentadas e repercutidas do ano (se não a mais). Confira o vídeo abaixo:
Liricamente, 'Formation' é uma canção sobre empoderamento racial, o que fica claro em versos como "I like my baby hair with baby hair and afros. I like my negro nose with Jackson 5 nostrils". Também é sobre empoderamento feminino, quando Beyoncé convoca as mulheres (negras) a entrarem em formação: "Ok ladies now let's get in formation". No decorrer da canção, Beyoncé ainda se direciona à rumores e ícones populares, como a teoria de conspiração dos illuminatis, o restaurante Red Lobster e o empresário Bill Gates.
O vídeo, por sua vez, contém referências mais pesadas. O clipe começa com Queen B em cima de uma viatura de polícia numa região inundada. A região em questão é a cidade de New Orleans, um dos locais que foi devastado pelo furacão Katrina em 2005 em que na época o governo do então presidente George W Bush foi acusado de abandonar a região, onde as equipes de resgate foram reduzidas e as pessoas mais pobres da área ficaram sem apoio. Milhares de famílias foram para o estádio do Superdome da Luisiana e ficaram abandonadas por lá.
Essa pouca importância dada pelo Bush ao desastre do furacão Katrina levou algumas pessoas a questionarem se isso aconteceu por ser uma região predominante de pessoas negras e pobres. No clipe é possível conferir uma interpolação falada de Messy Mya, um YouTuber negro e gay, que foi assassinado pela polícia em 2010. No vídeo, podemos ouvir ele dizendo 'What happened after New Orleans?', fazendo novamente referência a cidade traumatizada pelo furacão e descaso do governo. Temos ainda outra interpolação com o rapper Big Freddia, negro, gay, e que nasceu na mesma cidade em questão, dizendo 'I came to slay, bitch'.
Hoje na História: 2005 - Furacão Katrina devasta Nova Orleans :
Visão aérea de uma rua Nova Orleans, maior cidade da Luisiana, depois da passagem do Katrina
Em 29 de agosto de 2005, o furacão Katrina - de categoria 4 - provoca devastação na área de Nova Orleans, no estado da Luisiana, nos EUA. Apesar de ser apenas o terceiro mais poderoso da série de furacões da temporada de 2005, Katrina foi o pior desastre natural da história dos EUA. Após breve permanência na costa da Flórida, ainda como categoria 1, o Katrina ganhou força antes de invadir o Golfo do México, em 29 de agosto. Além da devastação provocada na área de Nova Orleans, o furacão causou danos no litoral do Mississípi e do Alabama, bem como em outras partes da Luisiana.
O prefeito de Nova Orleans, Ray Nagin, ordenou uma evacuação obrigatória da cidade ainda em 28 de agosto, quando o Katrina atingiu a categoria 5 e o serviço de meteorologia previu uma intensa destruição em toda a região. Cerca de 150 mil pessoas que não tinham recursos para deixar a área, ou que não quiseram, foram obrigadas a permanecer em casa. A tormenta trouxe ventos persistentes de 250 quilômetros por hora, que cortaram as linhas de transmissão e destruíram casas. O Katrina provocou recordes de ondas de tempestades em toda a costa do Mississípi. As ondas do mar passaram pelos diques que protegiam Nova Orleans, situada cerca de 2 metros abaixo do nível do mar, do Lago Pontchartrain ao rio Mississípi. Com o rompimento do dique, 80% da cidade ficaram inundados até o teto das casas.
Milhares de pessoas buscaram refúgio no Centro de Convenções de Nova Orleans e no estádio Superdome da Luisiana. A situação nos dois lugares rapidamente se deteriorou, quando começou a faltar água potável e alimento e as condições sanitárias se tornaram insuportáveis. A frustação daquela gente atingiu a indignação quando viram que os esforços de salvamento levaram dois dias para começar. Enquanto isso, os moradores retidos em suas residências sofriam de calor, fome e falta de atendimento médico. Relatos de saques, roubos e até assassinatos começaram a vir à tona. Assim que as TVs passaram a mostrar as cenas da catástrofe, o público norte-americano e mundial pôde ver que a esmagadora maioria das vítimas era de afro-americanos e pobres, trazendo à baila a questão da suposta igualdade racial e social nos EUA. O governo federal e o presidente George W. Bush foram criticados pela demora na resposta ao desastre. O chefe da Agência Federal de Emergências, Michael Brown, renunciou em meio à controvérsia.
Jipe militar passa em frente ao estádio Superdome, abrigo dos refugiados, também danificado
Somente a partir de 1º de setembro as primeiras pessoas começaram a ser levadas do Superdome e do Centro de Convenções para o Astrodome em Houston, Texas. No dia seguinte, comboios militares chegaram com suprimentos e a Guarda Nacional foi chamada para impor a ordem. Esforços foram feitos na busca e identificação dos corpos. Oito dias após a chegada do furacão, o Corpo de Engenharia do exército completou temporariamente os reparos necessários em três pontos do sistema de diques de Nova Orleans, com o que puderam bombear a água acumulada para fora da cidade.
Acredita-se que o furacão tenha causado a morte de mais de 1,3 mil pessoas e deixado mais de 150 bilhões de dólares em prejuízos tanto às propriedades privadas quanto à infraestrutura pública. A cobertura de seguro teria alcançado apenas a soma de 40 bilhões. Um milhão de pessoas foram deslocadas, fenômeno jamais visto desde a Grande Depressão. Quatrocentas mil pessoas perderam o trabalho. Ofertas internacionais de ajuda chegaram mesmo de países miseráveis como Bangladesh e Sri Lanka. As doações privadas de norte-americanos atingiram a soma de cerca de 600 milhões.— Opera Mundi
Posteriormente, o clipe mostra imagens de Martin Luther King, ativista negro mais popular e influente da história da América, além de um menino dançando em frente a um paredão de policiais e ao lado de uma parede com a seguinte mensagem: 'Stop shooting us', fazendo referência ao genocídio da população negra nos Estados Unidos e ao BlackLivesMatter.
Beyoncé e suas dançarinas também aparecem no clipe fazendo analogia com as mulheres ricas e brancas (as famosas sinhás) do século 19. Esse trecho traz referencia a famosa Guerra Civil Americana que terminou em 1865, uma guerra entre o Norte (abolicionista)e o Sul (escravista), sendo assim um dos episódios mais sangrentos da história do US. O vídeo é protagonizado por pessoas negras, que muitos dos que participaram do vídeo são pessoas comuns e moradores de New Orleans até hoje.
Outras criticas podem ser vistas na música, como quando ela se direciona ao empoderamento negro, ao fazer criticas aos comentários racistas já produzidos, tanto contra sua família quanto a demais artistas:
• Cabelo da Blue
Quem não lembra quando os primeiros flagras de Blue Ivy começaram a surgir na internet? E ainda que não lembra dos comentários feitos na epoca? De que a Beyoncé não penteava o cabelo da Blue, que a Beyoncé não arrumava o cabelo da filha e deixa a garotinha aparecer com “aquele cabelo horrivel”. Os comentários eram tão maldosos que surgiram até memes (Vá pentear seu cabelo) e petições mas quem disse que a Beyoncé liga? O cabelo crespo/afro é lindo e ela deixa claro que gosta da Blue assim
• Nariz
Há referencia aos Jackson 5, grupo formado pelos irmãos Jackson que sofreram racismo por conta de seus narizes. Michael Jackson em vida contou vários episódios de racismo já sofrido. Tal trecho da música pode ser também encarado abertamente, já que tal caso não se limita a família Jackson, como por exemplo o Jay-Z, marido de Beyoncé que já sofreu ataques racistas por contas de suas narinas.
• Black Bill Gates
Bill Gates não somente referência quando o assunto se diz respeito a fortunas acumulada, como também solidariedade. O executivo não poupa esforços para causas nobres, onde de acordo com a Bloomberg, Bill Gates, sozinho, já doou US$ 28 bilhões para a B&MGF, que é tida como a maior fundação privada em operação no mundo.
Beyoncé nos trechos "You just might be a black Bill Gates in the making" & "I just might be a black Bill Gates in the making" Procura estimular pessoas a apoiarem o movimento negro, assim como a mesma junto de seu marido já fazem através de doações, como por exemplo. O Tidal (empresa do casal) doou cerca de 1,5 milhão de dólares para a fundação Black Lives Matters. Tal trecho pode ser interpretado também como referência ao poder da Beyoncé como personalidade americana.
Vale ressaltar que o single 'Formation' foi lançado no dia 6 de fevereiro, um dia após o aniversário de Trayvon Martin, um garoto de 17 anos que foi assassinado pelo vigia comunitário George Zimmerman com tiros. Trayvon estava desarmado e morreu na hora, Zimmerman foi acusado de crime de ódio racial mas foi absolvido com alegação que o tiro foi em legitima defesa. Com isso foram realizados protestos em todo os Estados Unidos, inclusive a própria Beyoncé foi a uma passeata em Nova York.
Partido dos Panteras Negras :
O Partido dos Panteras Negras (em inglês, Black Panther Party ou BPP), originalmente denominado Partido Pantera Negra para Auto-defesa (em inglês, Black Panther Party for Self-Defense) foi uma organização política extraparlamentar socialista revolucionária norte-americana e ligada ao nacionalismo negro. Fundada em 1966, na cidade de Oakland, Califórnia, por Huey Newton e Bobby Seale, a organização permaneceu ativa nos Estados Unidos até 1982.
A finalidade original da organização era patrulhar guetos negros para proteger os residentes dos atos de brutalidade da polícia. Posteriormente, os Panteras Negras tornaram-se um grupo revolucionário marxista que defendia o armamento de todos os negros, a isenção dos negros de pagamento de impostos e de todas as sanções da chamada "América Branca", a libertação de todos os negros da cadeia e o pagamento de indenizações aos negros por "séculos de exploração branca". A ala mais radical do movimento defendia a luta armada. Em seu pico, nos anos de 1960, o número de membros dos Panteras Negras excedeu 2 mil, e a organização coordenou sedes nas principais cidades.
Os confrontos entre os Panteras Negras e a polícia, nos anos de 1960 e nos anos de 1970, resultaram em vários tiroteios na Califórnia, em Nova Iorque e em Chicago. Um desses confrontos resultou na prisão de Huey Newton por ter matado um policial.
Na medida em que alguns membros da organização foram considerados culpados de atos criminosos, o grupo passou a ser alvo de ataques violentos por parte da polícia, o que suscitou investigações, no Congresso dos Estados Unidos, sobre a repressão policial contra os Panteras. Em meados dos anos de 1970, a perda de muitos membros e a queda da simpatia do público pelos líderes negros levaram a uma mudança dos métodos da organização, que passou a se dedicar à atividade política convencional e à prestação de serviços sociais às comunidades negras.
Em meados dos anos de 1980, a organização estava efetivamente desfeita. Segundo a ex-militante Ericka Huggins, "o FBI quebrou os Panteras Negras. Acabar conosco se tornou uma questão de honra, e nisso eles foram bastante competentes". Em um único ano, afirmou ela, 28 membros dos Panteras Negras foram assassinados, e vários outros foram presos.
O Programa dos dez pontos (maio de 1967)
O QUE QUEREMOS AGORA! EM QUE ACREDITAMOS
Para aquelas pobres almas que não conhecem a história dos negros, as crenças e os desejos do Partido Pantera Negra para Auto-defesa podem parecer absurdos. Para o povo negro, os dez pontos são absolutamente essenciais para a sua sobrevivência. Temos ouvido a frase revoltante "essas coisas levam tempo" por 400 anos. O Partido Pantera Negra sabe o que o povo negro quer e precisa. A unidade negra e a auto-defesa tornarão essas demandas uma realidade.
O QUE QUEREMOS
EM QUE ACREDITAMOS
Protesto nas Olimpíadas de 1968
Na Olimpíada da Cidade do México, Tommie Smith e John Carlos, dois atletas afro-americanos, medalhistas dos EUA, fizeram a saudação do black power (braço estendido com o punho enluvado e fechado) durante a cerimônia de premiação da modalidade, após vencerem os 200 metros rasos. Por seu gesto, uma clara manifestação política, os dois atletas foram banidos dos Jogos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).
O punho erguido (raised fist) é um símbolo do Black Panther Party. Reinaldo, Eusébio e Sócrates (futebolista), todos ex-jogadores de futebol, também comemoravam seus gols com o braço erguido e o punho fechado.
A finalidade original da organização era patrulhar guetos negros para proteger os residentes dos atos de brutalidade da polícia. Posteriormente, os Panteras Negras tornaram-se um grupo revolucionário marxista que defendia o armamento de todos os negros, a isenção dos negros de pagamento de impostos e de todas as sanções da chamada "América Branca", a libertação de todos os negros da cadeia e o pagamento de indenizações aos negros por "séculos de exploração branca". A ala mais radical do movimento defendia a luta armada. Em seu pico, nos anos de 1960, o número de membros dos Panteras Negras excedeu 2 mil, e a organização coordenou sedes nas principais cidades.
Os confrontos entre os Panteras Negras e a polícia, nos anos de 1960 e nos anos de 1970, resultaram em vários tiroteios na Califórnia, em Nova Iorque e em Chicago. Um desses confrontos resultou na prisão de Huey Newton por ter matado um policial.
Na medida em que alguns membros da organização foram considerados culpados de atos criminosos, o grupo passou a ser alvo de ataques violentos por parte da polícia, o que suscitou investigações, no Congresso dos Estados Unidos, sobre a repressão policial contra os Panteras. Em meados dos anos de 1970, a perda de muitos membros e a queda da simpatia do público pelos líderes negros levaram a uma mudança dos métodos da organização, que passou a se dedicar à atividade política convencional e à prestação de serviços sociais às comunidades negras.
Em meados dos anos de 1980, a organização estava efetivamente desfeita. Segundo a ex-militante Ericka Huggins, "o FBI quebrou os Panteras Negras. Acabar conosco se tornou uma questão de honra, e nisso eles foram bastante competentes". Em um único ano, afirmou ela, 28 membros dos Panteras Negras foram assassinados, e vários outros foram presos.
O Programa dos dez pontos (maio de 1967)
O QUE QUEREMOS AGORA! EM QUE ACREDITAMOS
Para aquelas pobres almas que não conhecem a história dos negros, as crenças e os desejos do Partido Pantera Negra para Auto-defesa podem parecer absurdos. Para o povo negro, os dez pontos são absolutamente essenciais para a sua sobrevivência. Temos ouvido a frase revoltante "essas coisas levam tempo" por 400 anos. O Partido Pantera Negra sabe o que o povo negro quer e precisa. A unidade negra e a auto-defesa tornarão essas demandas uma realidade.
O QUE QUEREMOS
EM QUE ACREDITAMOS
Protesto nas Olimpíadas de 1968
Na Olimpíada da Cidade do México, Tommie Smith e John Carlos, dois atletas afro-americanos, medalhistas dos EUA, fizeram a saudação do black power (braço estendido com o punho enluvado e fechado) durante a cerimônia de premiação da modalidade, após vencerem os 200 metros rasos. Por seu gesto, uma clara manifestação política, os dois atletas foram banidos dos Jogos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).
O punho erguido (raised fist) é um símbolo do Black Panther Party. Reinaldo, Eusébio e Sócrates (futebolista), todos ex-jogadores de futebol, também comemoravam seus gols com o braço erguido e o punho fechado.
— Wikipédia
Assista à performance abaixo:
A performance foi ainda mais debatida e criticada na mídia que o clipe em si, e ocorreu justamente durante o mês da consciência negra nos Estados Unidos. De acordo com o LA Times, a performance de Beyoncé foi o ato mais negro e visualmente provocante de toda a história do evento. O Super Bowl é o programa televisivo mais assistido em todo mundo, tendo mais de 100 milhões de espectadores. O evento tende a ser politicamente neutro, então o ativismo negro de Beyoncé escancarado para todas as TVs da América não agradou a ala conservadora da sociedade americana, que acusou Bey de transmitir uma mensagem anti-policial em sua música/vídeo/performance.
A cantora foi alvo de críticas de apresentadores da Fox News, que acharam desnecessário a artista usar o espaço para "se vestir fazendo tributo às Panteras Negras" e mencionar "o movimento Black Lives Matter", adicionando que foi o show mais controverso da história do Super Bowl. O ex-prefeito norte-americano Rudy Giuliani aparentemente chamou a performance de "ridícula" e disse: "Isso é futebol, não Hollywood. Acho que foi realmente ultrajante ela usar a plataforma para atacar policiais”. Tomi Lahren, uma comentarista política e conservadora que apresenta o programa "Tomi" para o canal TheBlaze, também atacou Beyoncé, dizendo que "agora o Super Bowl virou uma forma de politizar e alavancar a ideia de que as vidas dos negros valem mais [que as dos brancos]”. A apresentadora Wendy Williams comentou sobre o caso em seu programa, defendendo Beyoncé, dizendo não entender os ataques virtuais que Queen B estava sofrendo e que ser negro e orgulhoso disso não é ofensivo. Confira os vídeos abaixo:
Spoiler :
A hashtag "BoycottBeyonce" explodiu nas redes, com os usuários pedindo para os estádios cancelarem os shows da turnê de Queen B, para as pessoas não comprarem seus CDs e um grupo anônimo planejou uma manifestação contra a cantora em frente à NFL para o dia 16 de fevereiro, mesmo dia em que os ingressos para a Formation World Tour começariam a ser vendidos. Ironicamente, apenas fãs da Beyoncé apareceram na manifestação em defesa da cantora, dessa forma, o que era pra ser um "anti-Beyoncé Protest", acabou virando um “anti-anti-Beyoncé Protest”, como chamaram o acontecimento na época, ou seja, uma manifestação contra os haters da cantora:
Spoiler :
"Na era da (in)formação, ignorância é uma escolha".
"Por quê as pessoas estão com medo de orgulho negro?"
"Acabem com a brutalidade policial e com os homicídios "[ao lado de uma pantera negra]
"Pró-negro não é anti-branco".
"Entre em formação. Só por que você não quer ouvir, não quer dizer que eu não deva falar".
"Entre em formação".
"Cadê todos vocês?"
No último cartaz, é possível ler "Aonde estão todos vocês?", fazendo alusão à ausência dos haters da Beyoncé no protesto que teve milhares de confirmações no facebook após uma grande onda de ataque e movimentos anti-Beyoncé online.
A reação do público americano foi tão assídua ao manifesto político-social de Queen B que o programa humorístico Saturday Night Live lançou um esquete onde reproduziam com muito humor a resposta dos americanos à música da cantora, nomeando o quadro como "O dia em que Beyoncé virou negra". Confira o vídeo abaixo:
E não foi só pessoas comuns que se revoltaram com a música de Queen B. Em Nashville, nos Estados Unidos, o chefe de polícia da cidade incentivou outros policiais a não trabalharem voluntariamente para cobrir a segurança do show de Beyoncé na cidade devido a sua mensagem "anti-policial". O espetáculo teve que ser adiado por conta disso. Algo semelhante aconteceu em Miami e em Tampa.
No Canadá, um conselheiro do ministro tentou impedir que Beyoncé se apresentasse no país por sua mensagem anti-policial, sugerindo que o ministro da imigração investigue Queen B, banindo seu visto. Felizmente as tentativas não deram em nada e Queen B se apresentou com a Formation World Tour lá com vários shows esgotados.
O impacto da música foi tanto que chegou à política literalmente: Em um debate presidencial promovido pela CNN, com a candidata à presidência Hillary Clinton, o entrevistador perguntou a opinião da candidata sobre a performance de Beyoncé no Super Bowl, adicionando que "a cantora irritou muitas pessoas da comunidade policial, que se sentiram atacadas". Hillary prontamente respondeu apoiando à cantora, dizendo que "temos muitos policiais honestos que merecem todo o respeito, porém há problemas sim no sistema criminal de justiça e não podemos ignorar isso", fazendo referência às mortes dos jovens negros. Veja um pedaço do debate abaixo:
Em outra ocasião, a governadora Betsy McCaughey que apoia a candidatura de Trump chegou a atacar Hillary usando a música Formation como desculpa. Na entrevista, a governadora defende o linguajar desrespeitoso de Donald em um vídeo vazado na internet onde ele diz absurdos a respeito das mulheres, afirmando que Hillary se diz abismada com o linguajar de Trump, porém adora músicas como 'I came to slay, bitch. When he f-ed me good I take his ass to Red Lobster'. Sim, a governadora disse esses versos ao vivo numa entrevista de TV em horário nobre. Mediante a essa declaração, a conta no facebook da governadora foi atacada por fãs da Beyoncé com constantes emojis de abelhas e críticas a sua absurda comparação entre as barbaridades de Donald Trump e uma música de empoderamento da Queen B. Posteriormente, a governadora teve que excluir sua conta na rede social para evitar os ataques. Veja o vídeo a seguir:
Spoiler :
Beyoncé, como boa empresária que é, transformou toda essa negatividade em MARKETING, lançando blusas com a mensagem "BoycottBeyonce" escrita, fazendo ironia com a reação das pessoas à sua mensagem de empoderamento. Além disso, a citação da rede de restaurante Red Lobster fez as vendas deles aumentarem em 33%, e segundo a própria agente de relações públicas da rede, "está claro que Beyoncé que contribuiu para isso. Essa é a prova do poder da cultura pop nos negócios". Não satisfeitos, a rede ainda lançou uma camisa com a mensagem "Someone's thinks I'm #LobsterWorthy" ["Alguém pensa que eu sou "DignoDeSerLevadoAoRedLobster", em tradução livre], fazendo referência à música e ganhando mais dinheiro em cima de Beyoncé. O serviço de streaming Tidal também teve um grande impulso após a exclusividade de Formation na plataforma, alavancando o número de assinantes. A mídia na época reportou que "Beyoncé pode ter acabado de salvar o Tidal".
Spoiler :
E nem tudo foi negativo, muito pelo contrário. Com essa música Beyoncé adquiriu a mesma quantidade de haters que de novos partidários, e seus antigos fãs se tornaram ainda mais orgulhosos e defensores de sua diva. Muitos veículos de mídia defenderam a importância da mensagem de Queen B, inclusive muitos artistas que demonstraram isso nas redes. Veja alguns abaixo:
Spoiler :
Um episódio interessante foi quando a atriz Viola Davis, que interpreta a personagem Annalise Keating na série 'How to get Away with Murder', deu uma entrevista no programa da apresentadora Ellen DeGeneres. Lá ela contou que sua filha de 6 anos é obcecada com a Beyoncé e que a mesma surtou quando lhe foi negado o pedido de comparecer aos shows de Formation World Tour, adicionando que sua filha disse: "Você não sabe o que o ‘Lemonade' significa pra mim. Você não sabe o que Beyoncé significa pra minha vida". Veja o vídeo abaixo:
Em outra ocasião, a atriz e comediante Loni Love, que é uma das anfitriãs do programa The Real do canal Fox, saiu em defesa de Beyoncé e da mensagem de Formation também, numa declaração emocionada e aos prantos, disse que "muitas mulheres negras se sentem colocadas de lado, inferiorizadas, e Beyoncé chegou e deu a elas poder. Quando Beyoncé entrou no Super Bowl, marchando com aquela roupa, e em cima do carro de polícia no vídeo [de Formation], ela estava se sentindo muito bem. Eu acho que Beyoncé não percebe o poder que ela deu a esse grupo de mulheres", disse ela com lágrimas nos olhos. Veja o vídeo abaixo:
E não parou no território norte-americano não, a repercussão da música chegou até o Brasil. A atriz Taís Araujo foi perguntada sobre a polêmica de Formation e a comparação que o jornal britânico The Guardian fez entre Beyoncé e Jay Z e ela [Taís] e Lázaro Ramos. Taís respondeu que "achou genial o posicionamento dela [Beyoncé com Formation], absolutamente corajoso", dizendo ser uma grande fã. Já as cantoras Karol Conka e MC Carol deram uma entrevista sobre racismo e violência policial no Brasil. No decorrer da entrevista, a música Delação Premiada de MC Carol foi comparada a Formation, e o entrevistador perguntou por que é tão difícil para as pessoas falarem desse assunto. MC Carol prontamente respondeu que "é perigoso", o que fica nítido quando analisamos os boicotes e reações negativas do público à Formation. Karol Conka continuou, dizendo que "Beyoncé não falou sobre racismo antes exatamente por esse perigo, ela esperou acumular bastante poder para não acontecer o que aconteceu com Nina Simone que não foi compreendida, hoje não adianta tentar boicotar a Beyoncé [devido ao seu poder]".
Spoiler :
O ativista DeRay McKesson, do Black Lives Matter, destacou a importância de Beyoncé para o movimento negro em entrevista a Pitchfork, adicionando que ela "usou sua plataforma pública para expressar seu amor e apreciação à negritude, especialmente como uma mulher negra". A co-fundadora do movimento, Alicia Garza, enalteceu Queen B como "uma especialista em encorajar algumas de nós mulheres negras a amar nós mesmas, exatamente como nós somos, e um pouco mais" e ainda disse "Bem-vinda ao movimento".
Spoiler :
A representatividade de Beyoncé para o movimento negro foi tão importante que virou até tema em uma faculdade no Texas, terra natal de Queen B. A descrição do curso foi a seguinte:
"O projeto audiovisual 2016 de Beyoncé Knowles, Lemonade, tornou-se um movimento. O Professor Harry M. Benshoff, um estudioso de cinema na Universidade do Norte do Texas, proclama que Beyoncé colocou o mundo inteiro para assistir um filme vanguarda de 55 minutos. Lemonade é uma meditação sobre a feminilidade negra contemporânea. O objetivo da classe é explorar os quadros teóricos, históricos e literários do feminismo negro, que são apresentados proeminente em Lemonade. Usaremos LEMONADE como ponto de partida para examinar as questões socioculturais que são mais proeminente na feminilidade negra através da teoria feminista negra na literatura, música e cinema."
O Museu de Arte de New Bedford, nos Estados Unidos, fizeram em novembro uma exibição gratuita do filme Lemonade, que foi seguida por uma discussão sobre os temas contemporâneos presentes no filme, o que prova que o buzz em torno da era ainda não tinha acabado no fim do ano.
Spoiler :
A Faculdade de Oxford inseriu a palavra "Bama" que faz parte da composição da canção de Formation (e que significa algo como caipira, referente a quem vem de alabama, interior do país, pessoas rústicas) em seu dicionário, adicionando que a expressão, que antes era local, teve grande proeminência e destaque a nível global por conta de Formation, e por isso a nova edição do dicionário de inglês de Oxford conterá a palavra.
Em dezembro de 2016, o Google liberou as palavras mais pesquisadas do ano, e para surpresa de todos (ou não) Formation foi a canção mais jogada no Google durante o ano de 2016, vencendo os maiores hits do ano como One Dance e Hello, e até mesmo os maiores virais como Black Beatles e Panda. O mesmo aconteceu no Instagram, com Formation sendo a música mais comentada na rede social de acordo com dados baseados em legendas, comentários e fotos. Beyoncé também foi a artista mais pesquisada na plataforma do Google e no Tumblr.
Spoiler :
Um mercado nos Estados Unidos também entrou na onda e fez um trocadilho com a letra da música, substituindo "bag" por "bowl", que significa tigela, se referindo a seção de pimentas do estabelecimento:
Spoiler :
A popularidade de Formation foi tão grande que é possível ver diversos vídeos de covers, paródias etc na internet. Inclusive de policiais que apoiaram o manifesto de Beyoncé, professoras que usaram da música para ensinarem seus alunos, e até ensaios fotográficos de casamentos inspirados nos visuais do clipe. Segue abaixo alguns:
Spoiler :
E o impacto cultural continuou até o Halloween, onde o vestuário do clipe de Formation e da performance no Super Bowl se tornaram os mais copiados do ano, por inclusive algumas celebridades:
Spoiler :
Em setembro de 2016, a revista norte-americana The Roots, criada em 2008 para enaltecer a cultura afro-americana, colocou Beyoncé no topo de sua lista anual de "Os 100 afro-americanos mais influentes" dizendo que Queen B foi responsável pelo "momento cultural, movimentos sociais e ideias mais significantes do ano". A TIME também incluiu Beyoncé em sua lista anual de pessoas mais influentes do ano, sendo Queen B a única artista da lista no meio de presidentes, políticos e empresários. Eles adicionaram que, a partir do momento que Formation foi lançada, o Lemonade já era um fenômeno.
Vanity Fair também elegeu Beyoncé como o #10 ícone cultural mais poderoso de 2016, sendo a única cantora da lista repleta de empresários das empresas mais importantes do mundo, como Facebook, Disney, Apple, entre outras.
Spoiler :
Já em 2017, tivemos dois acontecimentos que nos levaram de volta ao impacto de Formation. Primeiro, tivemos a Women's March (Marcha das mulheres), uma manifestação a nível mundial contra o Donald Trump e a favor de mais legislações sobre os direitos humanos. No protesto, mais uma vez, Formation foi figurinha repetida entre as mulheres, carregando cartazes com letras da música e até de outras canções do Lemonade.
Spoiler :
Como se isso não fosse o suficiente, a Marvel lançou no final de janeiro de 2017 um quadrinho de uma heroína latina e homossexual com os visuais inspirado no estilo de Beyoncé em Formation. Um claro manifesto anti-Trump usufruindo da imagem política e mensagem de Formation:
Spoiler :
Surpreendentemente, a música obteve sucesso considerável nos charts. E qual seria a surpresa numa música polêmica e repercutida fazer sucesso? Beyoncé por algum motivo decidiu boicotar a música para todas as plataformas, não disponibilizando a música para download no iTunes durante o lançamento, bloqueando o vídeo no YouTube (o que evitou que a música debutasse na Hot 100 na época pois a Billboard não contabiliza vídeos com funções desativadas) e não enviando a canção para as rádios. Mesmo assim, Formation conseguiu alcançar o Top 40 das rádios americanas com pico de audiência de 45M, mais do que muitos singles oficiais e enviados as rádios de muitas divas. E as rádios tocavam a música porque só se falava disso na época, e havia muitos pedidos. Tudo isso fez com que a música se tornasse o maior debut de toda a carreira da Beyoncé no chart Billboard R&B/Hip-Hop Airplay, que contabiliza apenas as músicas do gênero mais tocadas nas rádios do US, tendo mais de 16 milhões de audiência só na primeira semana com 88 estações de rádios a apoiando. Billboard ainda destacou na matéria o fato da música não ter sido oficialmente promovida às rádios pela gravadora de Beyoncé, Columbia, o que torna este feito ainda mais impressionante:
Spoiler :
Quando foi finalmente lançada no iTunes, em 25 de abril de 2016, ou seja, 2 meses e 20 dias após o lançamento para download gratuito no Tidal, ninguém esperava um grande desempenho depois de tanto tempo em estado de gratuidade, mas a música chocou novamente e foi direto para o topo de iTunes US, UK e diversos outros países, figurando o topo do iTunes US e WW por mais de 1 semana. A música debutou com +174 mil downloads pagos no US, em apenas 3 dias e meio de contagem, ou seja, metade de uma semana, e mesmo assim conseguiu o título de maior debut feminino do ano de 2016 no US. O resultado disso foi um debut na posição #10 na Hot 100, se tornando o maior debut da carreira de Beyoncé nesse chart e o primeiro single Top 10 solo desde Sweet Dreams, em 2009. Estima-se que as vendas totais no território americano atualmente estejam aproximadamente na casa dos 900 mil, sendo uma das músicas mais vendidas do ano.
Os críticos musicais também tomaram uma posição partidária à canção, sendo eleita:
♪ Melhor música do ano pela TIME, Rolling Stone, Pretty Much Magazine, Idolator, Complex, Entertainment Weekly, Entertainment Tonight, The Washington Post, NPR, Pop Matters, Paste Magazine e Fuse TV
♪ Segunda melhor música do ano pela Spin e Billboard, e Top 10 em praticamente todas as listas que saíram neste ano
♪ Melhor vídeo do ano pela Vulture, V Magazine, Complex e Grindr
Dessa forma, Formation se tornou também a música mais aclamada de 2016, com os críticos enaltecendo a produção marchante e as batidas hipnóticas, e a convocação à luta e ao amor próprio em sua composição, se tornando talvez a canção mais aclamadas de toda a carreira de Beyoncé.
1 ÁLBUM
12 FAIXAS
+ – 10 SAMPLES
5 SINGLES
70 COLABORADORES
2,9 MILHÕES DE CÓPIAS VENDIDAS
Com isso, Beyoncé se tornou a primeira artista da história da parada a estrear seus seis primeiros álbuns (solo) na liderança do ranking. Ela também se tornou a primeira mulher a colocar 12 músicas de uma vez na Billboard Hot 100: ou seja, todas as faixas do disco. Só na semana de lançamento, foram 115 milhões de streams no Tidal – onde ficou com exclusividade.
Com participações de Jack White, The Weeknd, James Blake e Kendrick Lamar, o álbum chamou a atenção pela temática sociopolítica, sublinhada na parte visual. O chamado "conceitual" não impediu sua popularidade. "Lemonade" recebeu certificados de platina dupla no Brasil e na Colômbia, platina nos Estados Unidos, no Reino Unido, na Austrália, no Canadá e na Holanda, e ouro na Bélgica, Nova Zelândia e Polônia. O disco também rendeu uma turnê de estádios de 49 shows, que vendeu mais de 2,2 milhões de ingressos e faturou US$ 256 milhões de bilheteria. Foi a segunda turnê de 2016 mais bem sucedida comercialmente, e uma das 20 de maior faturamento da história.
Além disso, "Lemonade "abocanhou a maioria dos prêmios. Só ao Grammy, foram nove indicações. Beyoncé concorreu como melhor performance pop, rock e rap de uma vez. Levou os prêmios de melhor álbum urbano contemporâneo e melhor clipe, por "Formation". Mas Adele, vencedora da categoria álbum do ano, achou que Beyoncé também era merecedora e quebrou seu troféu para uma divisão simbólica. No VMA, Beyoncé foi indicada, de uma só vez, a 11 categorias e levou oito troféus para casa, tornando-se a maior vencedora de todos os tempos (24 VMAs), superando a Rainha do Pop Madonna (que tem 20 VMAs).
2 GRAMMYS
8 VMAS
3 BET AWADS
4 SOUL TRAIN AWARDS
A estreia na HBO levou "Lemonade" a receber quatro indicações ao Emmy Awards, maior premiação da TV americana. Falando em televisão, aliás, essa "era" também gerou performances ímpares: no BET Awards, no VMA, no CMA Awards e no Grammy, gravidíssima de gêmeos.
Créditos: Pandlr & POPline