Pedro alvares Cabral não descobriu o Brasil por acidente. :
Pedro Álvares Cabral saiu de Portugal com destino a Índia em março de 1500. Não há dúvida de que chegou, tomou posse, rezou missa, fincou cruz e deu início ao processo que tornou o Brasil uma colônia portuguesa – e por isso mesmo ficou com a fama de descobridor. A controvérsia sobre sua viagem é se teria chegado por acidente ou intenção, mas até isso não é mais mistério. Sabe-se que, no local em que deveria tomar o rumo leste, os ventos sopravam para esse mesmo lado. Logo, é improvável que tenha vindo para oeste por acidente.
O que se discute é se veio por ordem do rei ou dos conselheiros reais, nobres e comerciantes que discordavam da viagem para a Índia. “Os mercadores privados e a maioria do conselho do rei preferiam a expansão no Atlântico, onde não era necessário entrar em conflito com os muçulmanos e os monopólios reais eram restritos a alguns portos e produtos”, explica o historiador Thomaz. “Para o rei, o Brasil constituiria somente uma escala para a Índia, mas para os mercadores privados era a perspectiva de um novo mundo a explorar.” Portanto, é bem possível que o fidalgo Cabral tenha resolvido contrariar o rei.
A hipótese poderia explicar o fato de ter sido “esquecido” pelo monarca, que nunca mais o escolheu para qualquer missão em mar ou em terra. Cabral morreu sem glória, sem retrato ou busto de descobridor do Brasil. Os outros descobridores não tiveram melhor sorte. Duarte Pacheco ainda foi tratado com honra por dom Manuel, que lhe deu o comando de uma armada para as Índias e o cargo de governador de São Jorge da Mina – posições muito lucrativas. Com a ascensão de dom João 3º, porém, ele seria perseguido e preso sob a acusação de desvio de ouro. Pinzón faria outra viagem ao Novo Mundo, na qual teria sido o primeiro europeu a encontrar os astecas, no México, mas morreu endividado, em 1514. Da vida de Lepe sabe-se menos ainda. Morreu em Portugal em 1515 e não se tem notícia nem de onde foi enterrado.
Dificilmente saberemos se outras pessoas não teriam chegado ao litoral brasileiro antes desses homens. A história dessas viagens foi preservada em poucos documentos. Quantas outras, de menor importância ou maior segredo, não teriam sido feitas? Quando Martim Afonso de Souza veio para o sul do Brasil, em 1530, encontrou por aqui certo Bacharel de Cananeia, degredado europeu apresentado em diversas crônicas do século 16. Os registros da viagem de Afonso dizem que o Bacharel estava no Brasil havia 30 anos. A maioria dos historiadores defende que ele fora deixado aqui por Gonçalo Coelho, em 1502, mas alguns dizem que isso teria acontecido em 1499, numa suposta expedição de Bartolomeu Dias ao Brasil – de qualquer forma, ele estava justamente onde passava o meridiano de Tordesilhas.
Não há evidências concretas de qualquer outra viagem no Atlântico Sul entre 1488 e 1498. Apesar da falta de provas, provavelmente houve, sim, outras expedições à região. Vasco da Gama percorreu no caminho para a Índia a mesma rota que os velejadores fazem até hoje entre a Europa e o sul da África. Gama teria acertado o melhor caminho, de primeira, por pura sorte? Ou teria feito isso depois de um longo e meticuloso período de viagens de exploração? Domingues arremata: “Essa é uma pergunta que se faz há mais de 100 anos”.
Tordesilhas foi outro fator que criou a suspeita de que Portugal já sabia da existência do Brasil
O Tratado de Tordesilhas ficou famoso por ter divido, em 1494, um mundo que não se conhecia entre portugueses e espanhóis. O primeiro acordo a fazer isso, no entanto, foi firmado entre os dois países na cidade lusa de Alcáçovas, em 1479, quando a disputa de ambos pelo Mar Oceano começava a se acirrar.
O acordo dividia o Atlântico horizontalmente, com as ilhas descobertas por Colombo na área de soberania lusitana. Por isso, Castela buscou um novo tratado. Dom João 2º recusou as contrapropostas castelhanas de divisão vertical – com linhas a 100, depois a 270 e a 350 léguas a oeste de Cabo Verde – e ameaçou ir à guerra até garantir uma margem de 370 léguas. Por que o monarca português insistiu tanto em 370 léguas? Para os reis católicos, ele já sabia da existência de terras no Atlântico sul. Até hoje, a suspeita nunca foi confirmada, mas, curiosamente, essa raia garantiu a Portugal uma boa parcela do Novo Mundo. E, se não fosse pela persistência de dom João 2º, nunca teria existido o Brasil como o conhecemos hoje.