— Vingança...
Cairo julgou estar em um dia atípico, pois não costumava dar muita importância às sugestões que aquele garoto, Kurapika, externalizava de seus pensamentos. Internamente, a sobrevivente mais velha dos Kurtas sabia que não tinha uma solução segura para ambos os destinos, e por isso alimentava as opções levantadas por Kurapika. Apesar de costumeiramente apresentar a caça aos garotos Kurtas em seus dias mais áureos, Cairo nunca estivera tão presente na vida de alguém mais novo do que ela — Cairo era filha única e detestava a euforia de um ambiente bem preenchido: A serenidade de uma caçadora era uma de suas características marcantes.
— Desculpe-me. Mais um devaneio. — Disse Cairo, com sua voz trêmula. — Aquela conversa que ouvimos dos dois homens da civilização... ela mexeu com você.
— É preciso. Parece que sou o único que se importa com a nossa situação. — Kurapika parecia irritado, mas a lucidez ainda marcava suas palavras. — Eles têm os seus costumes e regras, mas ao que parece teríamos permissão para matar qualquer um sem consequência alguma caso conseguíssemos passar pelo chamado Exame Hunter.
Cairo relutou internamente: Sabia que a vingança era a porta de entrada para perdições. Ela respeitava Kurapika que, devido às circunstâncias, mostrava-se demasiadamente maduro para sua idade.
— Eu posso fazer o Exame. — Disse, enfim. — Mas há de prometer que não se meterá em problemas durante o processo. Você nunca ficou sozinho.
— Sem chance. Eu quero ter a minha parte em tudo isso.— Kurapika demonstrava uma determinação convincente em suas palavras.
— Não sabemos o nível dos participantes... Pode ser perigoso.
— Eu sei.
— E ainda quer prosseguir com isso?
— Sim.
A dupla se encontrava em meio às florestas de seu antigo clã; anteriormente sua casa. Deliciavam um javali, à fogueira, contemplando um lindo céu banhado por estrelas.