Capítulo 01 - Lágrimas de Inverno
Um enorme vulto surge diante de Kakashi, ele observa atentamente o desesperado ataque de seu inimigo. Zabuza maneja a sua imponente e colossal espada diante do ninja, cortando furiosamente o gélido ar daquela manhã. O desesperado golpe passa caprichosamente sobre a cabeça de Kakashi, que desvia com maestria, e sem perder tempo finca duas facas kunais no tríceps do braço esquerdo de Zabuza, fazendo o seu sangue jorrar. A poderosa espada Kubikiribouchou cai distante de seu dono. O jovem ninja Naruto observa atentamente o desenrolar da luta entre o seu professor e aquele conhecido como, o Demônio da Névoa Oculta. Kakashi posiciona-se agachado diante do desarmado ninja, e observa em Zabuza o sangue escorrer desenfreadamente sobre o seu braço esquerdo. Muitos conheciam a fama de Kakashi Hatake, chamado por vezes de O Ninja Copiador, ou Kakashi do Sharingan, agora era Zabuza quem testemunhara as habilidades do reconhecido ninja da Aldeia da Folha, que havia perfurado os dois braços de Zabuza, incapacitando o Demônio da Névoa. A densa névoa que cobria a ponte que definirá o futuro do pequeno e pobre País das Ondas, por fim se dissipa. A tarefa de Zabuza em eliminar Tazuna, o construtor da ponte, estava cada vez mais distante.
- Seus dois braços estão inutilizados agora. Você não conseguirá executar selos. - Kakashi diz friamente para Zabuza, que permanecia cabisbaixo, com as costas curvadas e os braços ensanguentados e estirados. Pesados, assim como a sua iminente derrota.
- Ooh… - uma voz ecoa na ponte, surpreendendo Kakashi e Zabuza. - Você está levando uma surra. - Um homem de baixa estatura, trajando um terno escuro com finas listras e óculos escuros surge ao longe. Acompanhado por dezenas de homens armados. Ele bate com a ponta de seu cajado no chão e diz: - Que decepcionante.
- Gatou… - Zabuza fita o sujeito, reconhecendo-o. - O que você está fazendo aqui… ? E por que todos esses homens?!
- Então ele… - Kakashi mentaliza, compreendendo a relação de Zabuza com o homem.
- Hehehe o plano mudou... - Gatou sorri com escárnio. - Bem, na verdade eu planejava isso desde o início. - Gatou direciona seu olhar para o Demônio da Névoa. - Zabuza, eu terei que matá-lo aqui.
- Como? - Zabuza o questiona.
- Eu nunca planejei lhe dar nenhum dinheiro. - Gatou assume uma postura de autoridade diante de seus homens. - Contratar um ninja normal da vila é caro, e ele pode me trair. Então eu arrumo vocês, ninjas renegados, que são fáceis de se controlar. Eu faço os ninjas lutarem entre si, e quando estiverem enfraquecidos, ataco com uma quantidade numerosa de homens, e tudo isso não me custa nada. Bom plano, não acha? - Gatou sorri, vangloriando-se. - O único problema foi você Zabuza. O Demônio da Névoa Oculta? uma grande piada, se quer saber o que eu acho. - Zabuza lança um olhar de fúria para Gatou. - Hehe, você não passa de um… demoniozinho fofo. - Todos os homens que estavam atrás de Gatou começam a sorrir bem alto, deleitando-se com a humilhação de Zabuza. - Podemos matá-los facilmente agora! - berra um dos homens.
- Quem são esses caras? Tem tantos deles? - Naruto questionava-se, tenso ao ver a multidão de homens em polvorosa.
Uma ponta de frustração e desânimo invade Zabuza, que diz: - Perdoe-me Kakashi… - O ninja copiador atenta-se às palavras do seu inimigo. - Esta luta acabou. Agora eu não tenho mais motivos para caçar Tazuna, eu não tenho mais motivos para lutar com vocês.
- Ah… tem razão. - Kakashi responde.
- Hã? - Naruto questiona.
- Ah, sim… - Gatou caminha à frente em direção ao corpo de Haku, o fiel companheiro de Zabuza que havia se postado à frente da Espada Relâmpago de Kakashi, evitando que o ninja atingisse Zabuza fatalmente. Gatou cutuca com o seu cajado o corpo moribundo do jovem que possuía um belo rosto angelical. - Eu devo a este daqui. - Kakashi e Zabuza olham apreensivos para o mafioso. Gatou encara o corpo e diz: - Você apertou o meu braço até ele quebrar… - Gatou então chuta com força o rosto de Haku. - He, ele está morto.
- O que você está fazendo?! Desgraçado! - Naruto berra raivosamente, disparando em direção à Gatou. Kakashi para o seu aluno o segurando pela gola, interrompendo o seu avanço inconsequente.
- Hei! Olhe em quantos eles estão, não vá avançando assim sem pensar! - Kakashi o repreende.
- Naruto olha para o cabisbaixo Zabuza e dispara: - Diga alguma coisa também! Vocês não eram amigos?!
- Cale a boca garoto. Haku já morreu. - Zabuza responde friamente.
- E você não sente nada?! Vocês não estavam sempre juntos?!
- Assim como fui usado por Gatou, eu usei Haku. Foi simples assim. Eu já disse… No mundo ninja, há apenas aqueles que usam, e aqueles que são usados. Nós ninjas somos apenas ferramentas… o que eu queria era o seu sangue, não ele… e eu não me arrependo disso.
- Hei… você “tá” falando sério?! - Naruto rebate transtornado com o que acabara de ouvir, soltando-se de seu professor.
- Pare Naruto! - Kakashi adverte seu aluno. - Não estamos mais lutando com ele. Além do mais…
- Cala a boca! Ele ainda é meu inimigo! - Naruto rebate furioso. Zabuza olha de soslaio para o transtornado ninja. Naruto encara o Demônio da Névoa, e mesmo ofegante ele mantém sua consternação com seu olhar. Kakashi observa em silêncio.
- Quem é esse moleque irritante? - Gatou se pergunta ao ver toda a situação.
- Naruto com raiva aponta para o corpo moribundo de Haku, e então continua seu desabafo:
- Ele.. ele te amava de verdade! Ele o amava tanto assim! - As palavras de Haku ecoam na mente de Naruto, lembrando de toda a sua determinação em ser útil na vida de Zabuza. O Demônio da Névoa mantinha-se em silêncio, absorvendo cada palavra fervorosa de Naruto. - Você não está nem um pouco triste?! Você realmente… sinceramente não sente nada?! - Zabuza continuava calado, olhando para longe. O Demônio parecia refletir. A tristeza tomava conta de Naruto, que fala em lágrimas: - Se eu ficar tão forte quanto você… eu também agirei desta maneira?! Ele jogou sua vida fora por você! Sem possuir um sonho próprio… morrer sendo usado como uma ferramenta… isso… isso é triste demais…
- Garoto… - Zabuza fala com uma voz baixa e calma. Gotas de lágrimas caem dolorosamente próximos aos seus pés. O ar gélido daquela manhã na ponte do País das Ondas conforta o pesado e ardente coração do Demônio da Névoa, fazendo derramar as mais puras, dolorosas e sinceras lágrimas. - Você não precisa dizer mais nada...
Todo o peso que havia no coração de Zabuza parecia sair pela sua pele. O homem reconhecido em sua terra pela brutalidade e descomunal sede de sangue havia se desprendido por um breve instante de todos os seus demônios. A morte de Haku havia tocado uma parte inacessível de seu coração, uma parte que mesmo ele desconhecia. Toda a tristeza de perder alguém que foi capaz de amá-lo, em toda sua plenitude, o fez relembrar, por um breve instante, a última vez em que havia derramado uma lágrima. Fazia bastante tempo, mas agora era possível relembrar e sentir, como se estivesse à sua frente, pronunciando em sua mente apenas uma palavra: - Mãe…
…
O ar gélido da tarde avança sobre a tenebrosa Aldeia Oculta da Névoa. A imensa névoa cobria toda a extensão da vila, criando um ambiente sombrio e nefasto. As eternas disputas políticas, e toda discriminação que circundava a população amarguraram o dia a dia. Pessoas mortas surgiam com frequência pelas vielas e becos, doenças acometiam uma população cada vez mais sofrida. Era comum ver funerais ao final da tarde. Distante do centro da vila havia um funeral acontecendo em mais um fim de tarde, e era acompanhado por um homem com os trajes ninjas padrões da Aldeia da Névoa, e por um garoto, que chorava inconsolavelmente. Os dois mantinham-se postados à frente da lápide. O garoto continuava a chorar tristemente.
- Pare de chorar, Zabuza. - diz friamente o homem.
- Pai, mas a mamãe… - o jovem Zabuza tentava inutilmente engolir o choro.
Você ainda teve a sorte de poder enterrar o corpo da sua mãe. Muitas crianças da sua idade tornaram-se órfãos sem terem tido a oportunidade de enterrar seus pais.
- Sorte? - Zabuza questionou o seu pai, sem compreender o que ele dissera.
- O corpo de um ninja é valioso. - O homem mantinha seu olhar à lápide. - Ele contém informações pertinentes, que podem ser utilizadas por outras vilas ou pessoas. O corpo de um ninja pode se tornar uma arma contra a sua própria nação. Mesmo que tenha sido em partes, o corpo de Otosu permanecerá em sua vila. Ele pertence à ela.
- Em partes? - Zabuza assusta-se ao ouvir. - Mas por quê? Por que a mamãe… - Zabuza é interrompido por um tapa, caindo sobre a terra fria. O homem olha para o garoto com fúria.
- Sua mãe era uma ninja! Não a insulte! - Zabuza passa levemente a mão sobre sua bochecha esquerda. Os olhos do garoto se enchem de lágrimas, mas Zabuza consegue engolir o seu choro. O olhar amoroso de sua mãe vêm à mente, assim como os momentos de carinho que ela tinha com ele. - Lembre-se de uma coisa… - O homem continua a dizer, e Zabuza vagarosamente levanta-se, postando-se novamente em sua posição à frente da lápide de sua mãe. - No mundo ninja, há apenas aqueles que usam, e aqueles que são usados. Nós ninjas somos apenas ferramentas… nada mais do que isso.
Zabuza atenta-se às palavras de seu pai, e mesmo com toda a dor em seu coração pela morte de sua querida mãe, o garoto não conseguia mais derramar uma lágrima.. Ele mantinha-se com o olhar fixo para a lápide de sua mãe. Mesmo sendo uma ninja impiedosa, Otosu sempre demonstrou amor pelo filho, era o oposto de Zanzou, que sempre o tratou com muita rigidez. O crocitar dos corvos ecoam pelos campos de terra onde a população abastada era enterrada. Diferente daqueles que estavam no topo da sociedade, que eram enterrados nos nobres cemitérios da aldeia. A política severa comandada pelo Terceiro Mizukage havia mantido a Aldeia da Névoa forte militarmente, e a protegia contra os ataques de outras grandes nações ninjas, porém a sua população sofria com o descaso e as desigualdades sociais que a assolavam por dentro.
- Vamos para casa. - Zanzou diz. - Já está anoitecendo.
Pai e filho despedem-se uma última vez de Otosu, e então caminham em direção à vila. Para o jovem Zabuza aquele era o pior dia em sua vida até então. Ele sentia em seu peito um enorme buraco, como se alguém tivesse enfiado uma lâmina e arrancado a força o seu coração. O vazio que ele sentia era enorme. Ele olhava para o seu pai, que caminhava logo atrás. Zanzou mantinha um olhar tenso e distante. Os dois continuavam a caminhar, saindo enfim do campo dos mortos, chegando até às margens do rio que cortava a vila. Ao passar pela margem a névoa corriqueira tornou-se mais densa, dificultando a visão, mas para um nascido na Aldeia Oculta da Névoa, aquilo era comum. Em meio à névoa um homem alto e esguio surge à frente dos dois. Ele mantinha uma distância, mas Zanzou olhou para o homem e observou sua estranha máscara negra e bicuda, assim como os seus trajes negros e esfarrapados. A névoa estava cada vez mais densa, e Zabuza sentiu um frio percorrer em suas entranhas, fazendo com que o garoto recuasse vagarosamente para trás de seu pai.
- Pai… - Zabuza diz tenso ao ver aquele estranho com olhos luminosos encarar seu pai.
- O Mestre Buta requisita a sua presença, Zanzou Momochi. - o homem com uma voz roca e sinistra fala. - Ele exige… explicações. - Zabuza olhava para o seu pai que mantinha os olhos fixos no homem. Zanzou então assente, e caminha calmamente em direção ao homem.
- Pai! - diz Zabuza.
- Já disse que eu não sou a merda do seu pai, fedelho! - Zanzou esbraveja, encarando o garoto. - Além de um mendigo imbecil, ainda é burro?! - Zabuza olhava com temor para Zanzou, que o encarava. Ele não conseguia entender aquele comportamento abrupto de seu pai, mesmo que ele tenha sido uma figura fria, nunca o havia tratado daquela forma. - Saia daqui.
- Você não ouviu garoto? - diz o estranho homem, que balançava vagarosamente uma foice em sua mão direita.
- Zanzou volta seu olhar para o homem à sua frente. Zabuza ao ver o seu pai ir em direção ao sujeito, corre em direção à ele, porém Zanzou lança um chute na cabeça de seu filho, jogando-o para longe. A visão de Zabuza fica turva e uma enorme sensação de dor toma conta de seu corpo. Um pouco mais a frente dos dois homens estava uma carruagem parada, e Zanzou nota que havia um homem dentro do veículo. Ele trajava um kimono azul, e mesmo naquela névoa, Zanzou foi capaz de perceber toda sedosidade em suas vestes, concluindo que aquele homem fazia parte da nobreza da vila. O homem olha para ele e então fala:
- Zanzou Momochi, o infame Ceifador de Almas da Névoa Oculta… - o homem sorri levemente. - Eu gastei uma fortuna para contratar você e a vagabunda da sua mulher para realizar uma tarefa bem simples. - Zanzou permanecia calado. - Eu não entendo vocês haha. De verdade eu não entendo…
- Fomos surpreendidos pelos Espadachins da Névoa, que…
- Cala a boca, filho da puta. - Buta interrompe friamente o ninja. - Eu só pedi que vocês assassinassem uma maldita criança… você e aquela prostituta não eram os melhores assassinos da aldeia? - Zanzou encarava Buta, que continua. - Graças ao fracasso de vocês o Clã Terumi está suspeitando de que foi eu quem ordenou o ataque. É uma questão de tempo até aqueles vermes virem atrás de mim. Está satisfeito?
A visão estava clareando e a apesar da dor Zabuza se levanta e olha distante sob a névoa a figura de seu pai, ao lado estava o estranho com a máscara bicuda, e à frente dos dois uma carruagem. Zabuza não compreendia. O garoto instintivamente permaneceu parado, apenas observando. Buta continuava inquieto.
- Eu admiro os seus feitos, mesmo em desvantagem eu soube que você e a puta da Otosu foram capazes de lutar contra cinco dos Sete Espadachins da Névoa. E ainda assim conseguiram matar alguns Terumi. - Buta sorri com escárnio. - Deve ter sido horrível ver o maldito do Juzo decapitando a sua esposa, hehehe. - Zanzou absorvia cada palavra, cada insulto de seu benfeitor e mantinha-se calmo, sereno, com o olhar fixo em Buta.
- Foi esplendoroso, mestre. - complementa o capacho de Buta. - Eu estava lá. Todo o desespero e agonia ao ver a cabeça de sua mulher ser decepada… Zanzou foi capaz de aniquilar vários ninjas para recuperar o corpo de sua amada.
- Você está todo ferrado… - Buta olha para Zanzou, e observa as ataduras que envolviam o seu corpo, e nota as manchas avermelhadas de sangue esvaindo-se entre elas. - Você não é mais útil. - Buta acena com a cabeça para o seu capanga, que se posiciona ao lado do ninja.
Zanzou Momochi, era reconhecido na região, assim como a sua esposa Otosu Momochi, como um dos melhores ninjas assassinos, tendo sido capaz de assassinar reconhecidos ninjas e senhores feudais. Suas habilidades o tornaram conhecido como o Ceifador de Almas da Névoa Oculta. Zanzou relembra os momentos felizes ao lado de sua família, assim como todas as suas conquistas, e lembra de seu filho. Ele olha para trás e observa em meio a densa névoa que cobria aquele fim de tarde, o seu filho. O jovem Zabuza olhava toda aquela situação assustado. Os olhos de Zanzou encontram os olhos de seu filho. O coração de Zabuza palpita, como se fosse sair pela sua boca. Prevendo o que estava para acontecer. Uma fina e pequena lágrima escorre dos olhos agora suaves e gentis de Zanzou. O ninja mascarado com um golpe rápido e exímio corta o pescoço de Zanzou, fazendo jorrar o seu sangue. Zabuza queria gritar, mas não conseguir emitir nenhum som. Ele apenas observava a cabeça de seu pai cair no chão, seguido de seu corpo. O ninja se agacha e usa a veste de Zanzou para limpar o sangue em sua foice. Buta observa em meio a névoa o jovem Zabuza, que estava ajoelhado. Petrificado ao ver aquilo.
- Mate o garoto. - Buta ordena.
- Não é necessário, senhor. - complementa o ninja. - É apenas um mendigo.
- Hum... - Buta acena para o seu capacho. - Escória.
O ninja mascarado assume o controle da carruagem, fazendo-a andar. Os dois então saem, desaparecendo em meio a névoa. Zabuza permanecia parado, ainda sem acreditar no que estava acontecendo. No mesmo dia em que a sua amada mãe havia sido enterrada, ele também havia perdido o seu pai. A cena de Zanzou chorando não saia da sua cabeça. Ele compreendia o sacrifício que ele havia feito. Zabuza aproxima-se do corpo moribundo de Zanzou, o corpo estava distante de sua cabeça. O garoto para e olha uma última vez para o seu pai, antes de caminhar e desaparecer em meio a névoa.