O ato de ressuscitar um personagem não é originário do mangá de Naruto. Obras mais antigas como Dragon Ball Z, Saint Seiya, Yu Yu Hakusho, dentre outras, já exploraram esta temática de subversão da morte. Inclusive, o excesso praticado no mangá de Akira Toriyama é um dos exemplos de banalização da morte, tanto que os personagens em dado momento sequer se importam quando alguém é morto (diante da certeza de que poderá retornar).
Naruto já flertava com práticas de ressurreição desde a fase clássica quando Orochimaru apresentou pela primeira vez o Edo Tensei e trouxe os primeiros Hokages para a batalha. Algo semelhante só foi repetido no início do Shippuden com o kinjutsu de Chiyo para trazer Gaara de volta à vida às expensas do próprio sacrifício dela.
Ocorre que até aí Kishimoto era moderado. Reviver um personagem era raro no mangá, sendo que no segundo caso (Chiyo e Gaara) servia a um propósito maior à obra do que simplesmente a demonstração de ressurreição.
Entretanto, a passagem de Nagato em Konoha marcou a primeira ressurreição em massa do mangá. O Akatsuki, usando o Rinne Tensei, trouxe de volta todas as pessoas mortas na invasão de Pain. Aqui já temos um precedente perigoso na obra, posto que a morte passa a ser relativizada e perde um pouco o seu significado (seja biológico ou simbólico no mangá).
Particularmente, senti que Kakashi se tornou um personagem vazio na obra daí em diante. Ele deu tudo de si, fez tudo o que tinha que fazer e morreu. O que restava pra ele? Kakashi não é o Gaara, que é jovem, tinha acabado de virar Kazekage e tinha todo um futuro pela frente. Kakashi já devia ter uns trinta anos, não era sensei de mais ninguém, não virou Hokage, não venceu nenhum Akatsuki. E aí? Ficou a sensação de que ele estava fazendo hora-extra na história.
Mas tudo bem, vamos deixar passar esse arco e imaginar que Kishimoto não irá reviver pessoas em massa novamente. Mas eis que tudo foge do controle de uma maneira catastrófica. Kishimoto decide ressuscitar o mangá inteiro!
Claro, ele não reviveu literalmente todo mundo, mas basicamente trouxe à vida o máximo de personagens úteis que pôde. E aqui se iniciava a decadência do último arco e da própria obra.
A morte de um personagem não apenas marca o fim da sua vida, como encerra definitivamente sua participação no mangá. Por esta razão, Kishimoto dedicava uma despedida forte para cada um deles para que fossem lembrados por aquele momento e por aquilo que fizeram em vida (desconsiderando personagens aleatórios ou de baixíssima importância).
Haku, Zabuza, Chiyo, Asuma e muitos outros tiveram mortes emocionantes. Outras mortes tinham algum significado mais profundo, como Kimimaro, Hizashi, Itachi, Nagato, Sasori e por aí vai.
Tá, e o que eu quero dizer com isso? O que eu quero mostrar é que ressuscitar um personagem que já encerrou sua participação é uma prática anticlímax. Você substitui um fim glorioso por uma aparição sem relevância e que descaracteriza o próprio fim anteriormente planejado. É como esses filmes ou livros que continuam uma história que já acabou e que não tem mais nada a ser explorada. Fatalmente terão uma qualidade ruim e maculam o prestígio da história original ainda por cima.
Pois bem, é isso que aconteceu no arco da guerra. Sabe a morte épica do Deidara contra Sasuke? Pode esquecer, a última memória que você vai ter dele no mangá será o Deidara sendo derrotado ridiculamente e esperneando dentro de uma marionete como um adolescente revoltado. Sabe a despedida emocionante de Asuma para Ino, Shikamaru e Chouji antes de morrer? Pode esquecer, a despedida final agora é a da guerra no meio da bagunça. Sabe a morte emocionante de Chiyo? Esquece também, agora ela vai voltar para...para o quê mesmo?
E assim vai. O peso da morte deles se esvai completamente quando este recurso de ressurreição é utilizado desarrazoavelmente. Ao invés da última lembrança ser a mais impactante e trabalhada, será aquela em que fulano é ressuscitado contra sua própria vontade e se transforma numa marionete. Deu até pena do Haku e do Zabuza, que tiveram um arco e um fim espetaculares lá no comecinho do mangá.
Em outras palavras, Kishimoto desrespeitou a imagem de todos eles.
"Ah, mas e os personagens que não foram apresentados ou que ainda tinham algo a acrescentar?"
Bom, já que Kishimoto não conseguia controlar seu ímpeto de reviver quem lhe viesse em mente, então que limitasse a personagens que não apareceram diretamente no mangá e que os leitores tinham curiosidade de conhecer suas habilidades. Os Espadachins da Névoa, os antigos Kages, os Jinchuurikis, Kinkaku e Ginkaku, estes são alguns exemplos viáveis.
Itachi NÃO é um exemplo válido. Ele não contou nada diferente para Sasuke daquilo que já sabíamos há duzentos capítulos a respeito do massacre Uchiha. E Kishimoto é tão insistente que Hiruzen também voltou pra confirmar o que já havia sido confirmado duas vezes na obra. Quantos personagens é preciso reviver pra contar a mesma coisa?
Por falar em Hiruzen, acho que nem preciso comentar muito sobre a ressurreição dos Hokages. Puro fan service e reciclagem de ideias previamente adotadas na obra, já que Hashirama e Tobirama haviam sido revividos antes no clássico ( quase um déjà vu).
Enfim, a mensagem que quero transmitir é: deixem os personagens descansarem em paz. O fim que não termina perde o seu propósito e eu sinto que muita coisa se perdeu nesta guerra.