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– Investigação – Capítulo 06 –
- Cara, numa boa. Por que você se importa tanto com esse concorrente Ronaldo?
- Eu preciso dizer outra vez Carlão?
- Nem vem com aquela conversa de “responsabilidade social”. Parece mais um trauma por causa do lance da mosca, não acha? – Ele mostrava um olhar irônico –
- Até parece. Eu não quero que nosso jornal venda menos que essa porcaria de concorrente. – Tanto minha cara, quanto meu tom de voz expressavam teimosia –
- Tudo bem se eu continuar achando que isso é questão de trauma? – Ele continuava ironizando –
- Humpf, faça como quiser.
Certo, não posso negar que esse jornal me faz lembrar do “caso da mosca”. Impossível não associar à isso. Por mais pacífico que eu seja, e por mais vontade que eu tenha tido (ou ainda tenha) de socar aquele médico infeliz que eu nunca mais vi na vida, o fator de “O Curriculum Diário”, é diferente. Pode ser um tipo de justiça idiota da minha parte, mas eu acho que é algo que deve ser feito, sendo por mim, ou não.
- A questão é, você vai me ajudar ou não Carlão?
- Somos amigos desde a faculdade, e trabalhamos juntos há tempos também... Mas sabe, isso é muito problemático, e – Eu o interrompi antes de sua explicação –
- A chefe anda tão preocupada com isso ultimamente... Sabe como ela ficaria totalmente satisfeita com mais gente trabalhando nisso? – Eu enfatizava, quase que num tom apelativo, de tanta ironia –
Carlão hesitou.
- Então. De acordo com as principais fontes de mídia encontradas em três sub-regiões divididas a partir do centro da cidade, podemos buscar as informações que precisamos (...) – Ele começou o discurso, sem sequer parar de falar –
Foi só colocar o nome da Betty (nossa chefe) na história, que ele mudou de idéia rapidinho. Claro, fiz isso de propósito. Ainda bem que ele é solteiro... E por esse mesmo motivo, louco pra conseguir chamar ela pra sair. Mas por que eu insisti tanto que o Carlão me ajudasse no caso? Simples. Por mais estúpido que ele pareça, se mostra um gênio quando o assunto envolve qualquer tipo de reportagem investigativa, fontes de informação, e mídia interativa. Uma vez, ele foi até mesmo convocado para trabalhar numa equipe de produção de um programa tematizado em investigações diferenciadas na televisão... Mas ele recusou. Isso, porque desde que começamos a trabalhar aqui, ele diz que não sai até conseguir alguma coisa com a Betty. Sério, apenas por isso.
- Ei, Ronaldo.
- Fala.
- Será que se tivermos sucesso nesse caso, a Betty pode me dar mole, e até mesmo deixar eu tocar nos “gêmeos maravilha” dela, se eu pedir? Cara, eles são tão grandes, redondos, e... – Ele começava a viajar –
- Tocar aonde? – Eu nem prestei atenção na hora –
- Naquele par de montanhas, que ela cobre com aquele sutiã cor de – Eu o interrompi, antes que o ataque dele ficasse pior –
- Carlão...
- Que foi? – Ele ainda estava com os olhos brilhando. Que imaginação fértil –
- Cala a boca.
Naquele dia, nos reunimos com a Betty para discutir o caso, e reunirmos uma equipe. Ela designou mais dois redatores para trabalharem comigo e com o Carlão, contando ela, como responsável pela investigação. Como estamos em época de eleição, é normal o envolvimento da mídia. Desde que, por acaso, não subornemos os candidatos, não é mesmo?
Primeiro, eles exigem que o nome do jornal apareça como “boa referência”, por parte dos candidatos em seus comícios pela cidade. Detalhe, eles são obrigados a isso. Do contrário, escândalos da vida particular ou de qualquer assunto omitido, desses mesmos candidatos, podem ser expostos publicamente, caso eles não concordem com essa exigência. Ou seja, eles impõem um “ou você puxa saco da gente, ou a gente ferra vocês”. Claro que, deve ter mais coisa envolvida nisso.
Não é questão de defender a política, que se envolve em falcatruas por conta própria, e até merece isso. Mas sim, o contrário. Dependendo dessas falcatruas, que podem até atingir níveis muito mais preocupantes do que de um escândalo comum, não é nosso dever como jornal, denunciar isso? Pelo visto, nossos “amigos” não acham isso, sendo que aproveitam a oportunidade para se promoverem por meio dos candidatos, bancando o “bom samaritano” do povo.
Enfim, mesmo com tanta informação, sempre aparece o velho problema. Não temos provas. Se somente expusermos tudo isso, todos vão simplesmente falar “bem feito pra esses políticos safados”. O povo pouco se importa com o papel real da mídia. Então, a única chance que temos, é a de conseguir provas concretas, de que esse “trato”, vem sendo firmado também, com uma “propina generosa” que nossos políticos queridos devem pagar ao C.D.¹ Com o desvio de dinheiro público.
- Se dividam para buscar informação em comícios das quatro principais regiões da cidade, de acordo com as referências dos políticos listados. – A dedicação da Betty, como sempre, surpreendia –
- Betty. Eu posso falar com você rapidinho antes disso? – Carlão parecia ansioso pra ter outro tipo de conversa –
- Se você parar de esfregar a língua nos lábios enquanto olha pra mim, pode. Mas já que fez isso, não. – Ela se virava dali, o ignorando ao ir para sua sala –
- Um dia desses, ainda levo ela pra casa.
- É. Pra dar de cara com sua mãe alcoólatra tomando um uísque em cima da pia, né?
- Caramba Ronaldo! A mamãe já não escapa do sanatório há três meses, tá bem?
A mãe do Carlão virou alcoólatra depois da morte do marido, quando ainda estávamos na faculdade. Ela ficou tão louca, que começou a parar no meio da rua pra conversar com placas de trânsito. E acreditem, pra bater nelas. Desde então precisou ir para um sanatório. Fora o alcoolismo e a falta de sanidade, a Dona Maria é uma boa pessoa.
Agora... O jeito é investigar tudo o que pudermos. Acho justo acabar com um jornal fornecedor de tantas notícias inúteis e absurdas, e que só faltam revelar alguém capaz de soltar catarro pelos olhos. Já chega disso, né?
¹C.D. – Abreviação para “encurtar” o nome do jornal “Curriculum Diário”.*Próximo Capítulo: Comício na Zona Norte . *OBS: essa tag de comentários zuado, eu que fiz, e por eu não ser um Designer
saiu essa merda, então por favor, não reparem . Obrigado .-.