A49

Os fins do projeto Apolo não foram atingidos em sua completude, e A49 acabou por se tornar algo entre uma humana e uma máquina em termos emocionais. O fato de ser nomeada com um código é o efeito de todo um experimento que buscou remover toda a individualidade de um ser humano, além de eliminar sentimentos que possam afetar a realização de missões, criando verdadeiras armas humanas. Sentimentos como medo ou hesitação são praticamente ausentes, e a falta de um senso de autoproteção é demonstrada pela sua forma de lutar, sendo totalmente agressiva e indiferente aos riscos que traz a si. A falta de individualização também acabou por tirar a necessidade de nomear — e consequentemente individualizar — tudo que vem da moçoila, o que inclui suas armas, formas de lutar, movimentos, entre outras coisas.

Sua conduta é caracterizada pela quase completa ausência de emoções, sendo extremamente reativa aos acontecimentos. Em linhas gerais, demonstra uma forte dependência em ser guiada, o que não implica em inabilidade cognitiva, afinal, raciocínio de A49 é extremamente afiado e intuitivo, entretanto, a falta de individualidade a torna inerte, não sendo capaz de utilizar plenamente seu potencial. Seu temperamento é calmo mesmo em situações extremas, traço que se espelha na sua forma bastante tranquila de falar, carregada por uma conotação até mesmo apática. Sua personalidade, de certa forma, se dividiu em duas. A primeira preza pela transparência acima de tudo, jamais mentindo mesmo que sua razão diga o contrário, sendo uma das poucas situações em que não age de forma racional ou pragmática; a segunda surge em combate, sendo a completa ausência de emoções. A transição entre ambos é brusca, e A49 tende a ver sua mente apagar, vendo o estrago e sentindo um certo remorso, traço que foge da regra da sua personalidade. Além disso, tem forte dificuldade para entender piadas ou ironia.

Também possui uma estranha obsessão por borboletas, ao ponto de quebrar sua regra de não personalizar absolutamente nada.

O projeto Apolo foi realizado pelo governo mundial, tendo como objetivo criar armas humanas que cumpram as mais arriscadas e desumanas missões sem hesitar ou questionar, além da ausência de qualquer senso de individualidade ou medo, sendo meras ferramentas do efetivo militar do Governo Mundial. Desde muito nova foi moldada a não sentir prazeres, recebendo alimentos em rações e sendo condicionada ao sono de vigília, meramente como suplementação para suas necessidades biológicas. Desde cedo recebera cruéis formas de eliminar seu medo ou hesitação, com uso recorrente de punições como choques elétricos. Os funcionários eram trocados frequentemente para evitar afeição, e as crianças eram constantemente vigiadas. Até mesmo seus nomes foram renegados, sendo designados pela letra A de Apolo, seguida pelo número que representava a ordem em que foram registrados — foi a 49ª de 50 cobaias, sendo nomeada A49.

Apesar de tantas iniciativas, no entanto, o processo ainda era regido por seres humanos, e, num ato falho, A49 se tornou diferente dos demais. Certa vez, um chip de alta tecnologia foi injetado em seu cérebro sem anestesia para diminuir os níveis de dopamina; naturalmente a dor foi excruciante, e no pós-operatório, ao perceber que injetariam algo nela, perguntou para enfermeira se aquilo machucaria. A enfermeira, num ato de gentileza, disse que não e que ela poderia relaxar; a injeção gerou uma dor excruciante. A funcionária naturalmente foi trocada por quebrar o protocolo, mas A49, com cerca de 7 anos, foi afetada para sempre. Olhou para uma decoração de vidro dentro do consultório, e se perguntou o motivo da vida não ser tão bela e transparente, sem mentiras. A partir de então, prometeu para si mesma que jamais mentiria como a enfermeira mentiu. A motivação infantil do trauma, no entanto, gerou represálias, sendo cada vez mais punida por ser uma manifestação do seu eu individual que poderia afetar uma missão em que precisaria de mentir. Entretanto, continuou se recusando, e sua personalidade acabou por se fragmentar em dois lados: a A49 que tinha como pilar a transparência e a A49 que mentiria apenas para passar nos testes.

Apesar de começar como algo inocente, a divisão de sua personalidade se atenuou conforme os testes adquiriram tons cada vez mais práticos e voltados para o combate. Sempre que era testada, respondia perfeitamente aos requisitos dos pesquisadores, e sua consciência voltava ao seu devido lugar, e a pouca evidência dos sinais faziam aquele mal crescer cada vez mais. Entretanto, o banho de água fria aconteceu aos seus 15 anos, durante seu teste final que finalizaria o projeto Apolo: o duelo entre todas as cobaias até a morte. A49, por conta da sua segunda personalidade, se tornaria a duelista mais mortífera e pragmática, utilizando técnicas que poupam movimentos para matar seus oponentes de forma eficiente e bela. Ela desfilou naqueles campos mortíferos com uma graciosidade mórbida, e todos os seus oponentes sucumbiram facilmente. A mente de A49 acordou em uma carnificina, expelindo um grito de desespero ao ver todas as pessoas que conheceu mortas e seus braços cheios de sangue.

Sua graduação envolveu uma série de processos de queima de arquivo, incluindo a execução de todos os funcionários de baixa patente envolvidos no mesmo. Ao fim do projeto Apolo, foi presenteada com uma espada projetada especialmente levando em conta seus padrões de movimentação e ataques. Apesar do êxito em sobreviver, não sentiu nada além de um vazio que não conseguia descrever, uma vez que desde sempre foi condicionada a não sentir nada. Ao sair, se deparou com um belo campo florido cujas características destoariam totalmente da morbidez do ambiente da sua criação. Lá habitavam inúmeras borboletas, e ao ver a beleza inigualável daqueles seres, se perguntou porque elas eram tão belas, provocando reações mesmo em uma pessoa apática como ela.

Embainhada, se parece com uma espada katana convencional. Todavia, para se adaptar à forma agressiva e pouco convencional da usuária, sofreu uma série de modificações para que se some com os traços da mesma, se tornando ainda mais letal. Grande parte do gume de sua espada é removido, adicionando maior leveza e capacidade de manipulação, tendo uma parte cortante apenas na ponta, área em que a usuária tende a concentrar o maior número de ofensivas. Apesar da área cortante da espada diminuir, ganha em leveza e manejo, se tornando ainda mais letal por, se bem utilizada, proporcionar a capacidade de dar mais ataques em menos tempo, por obrigá-la a realizar apenas ataques breves como estocadas. Possui adornos de borboleta, por sua estranha obsessão pelas mesmas.