Chegando ao local, Benjamin teve a ideia de listar mentalmente as coisas que teria para fazer na cena do crime. Afinal, as informações que o local podiam conter eram preciosas demais e o garoto sentia que devia ser bastante meticuloso naquela parte.
Seu primeiro passo foi examinar as linhas brancas que marcavam a posição em que o corpo de Nodart havia sido encontrado. Ao aproximar-se, então Benjamin conseguiria meio que visualizar a cena necessária para aquilo acontecer. A cena consistia em um Nodart que estava em pé diante da escrivaninha e que, em seguida, cairia de costas uma única vez, sem levantar. A julgar pelo desenho curvado do seu braço esquerdo, dava para supor que ele tinha retraído uma das mãos para proteger a região do peito.
Ademais, a julgar pelas manchas de sangue no lugar, Benjamin também conseguia deduzir que havia ocorrido apenas uma única e vigorosa facada na região do peito de Nodart. As gotas se espalhavam pela escrivaninha, pelo chão e paredes próximos. Já bem ao centro do peito da silhueta desenhada havia uma marca de poça de sangue seca junto com uma marca de ponta de faca no chão de madeira.
Percebendo o que Benjamin fazia, Satomi lhe entregaria um trecho do relatório da necrópsia Nodart. Bastante introspectiva, ela também não diria nada, apenas deixaria que Ben lesse. Ao ler, o otonin veria que o relatório indicava uma única e precisa facada no coração do músico. Batendo com as pistas encontradas, Benjamin visualizaria a cena da faca entrando pelo peito, saindo pelas costas, furando o chão onde o músico caia deitado, respingando e acumulando sangue no ambiente no processo. Considerando o buraco deixado no chão, bem no centro do peito da silhueta de tinta, dava para realmente dizer que a faca havia atravessado a região do coração. E, considerando o quão importante era o órgão, uma única facada teria sido suficiente. O que lhe parecia um pouco impreciso, porém, era o uso dos termos “faca” e “facada”. Considerando a profundidade que a faca teria que penetrar para atravessar o peito de Nodart e conseguir deixar um buraco daquele calibre no chão, tinha que ser uma arma muito maior. Algo como uma espada, provavelmente comprida.
Seu segundo passo foi examinar a escrivaninha do professor. Nela, logo de cara identificaria que a marca estranha era um buraco idêntico ao do chão, mas no centro da mesa. Com isso, sabia que a arma do crime havia sido cravada na mesa em algum momento antes ou depois da consumação do assassinato. No entanto, não era só isso que notaria de estranho. As partituras pareciam estar quase que organizadas ao redor do buraco. Suas notas definitivamente não eram como nada que Benjamin já tivesse visto. Não dava para tirar música audível dali, já que alguns símbolos nem sequer existiam na teoria musical que conhecia. Isso acabou o motivando a investigar a escrivaninha mais a fundo.
Olhando o interior das gavetas laterais na face anterior da escrivaninha, Benjamin encontraria um monte de partituras. Todavia, imediatamente perceberia que elas não eram normais. Benjamin conseguia confirmar só de ver: Salieri de fato ensinava ninjutsu musical, pois ele visivelmente estava usando notas musicais como se fossem selos de mão. Em suas pastas havia até mesmo partituras contendo informações para executar alguns ninjutsus elementais simples não com selos de mão, mas com notas musicais. Na realidade, parecia haver uma enorme lista de equivalências possíveis entre os diversos selos de mão dos ninjutsus e alguns conjuntos de notas. Sua conclusão só de olhar era de que era muito provável ser possível executar qualquer ninjutsu existente não com selos, mas sim com músicas de tamanhos variados.
Com as novas possibilidades em mente, ao que voltasse a olhar para os papéis dispostos sobre a mesa, perceberia que aquela aparente ordem não era à toa. Em algum momento as partituras estiveram organizadas em um círculo, mas acabaram bagunçadas com o tempo. Sabia disso, pois, por mais que estivessem descontínuas agora, se unisse os papéis na ordem certa, dava para ver que as linhas conseguiam formar uma série de círculos perfeitos ao redor do buraco deixado pela arma do crime na madeira. Inclusive, perceberia que aquelas não eram partituras ou páginas distintas, mas sim uma única partitura contínua. Pior ainda, ao tentar interpretar as notas naquele círculo quase ritualístico, Benjamin perceberia que algum tipo de técnica musical avançada estava codificada ali. Não conseguia entender lhufas do que se tratava, mas sabia que era sério.
Seguindo para seu terceiro passo, aproximaria-se dos arquivos dos alunos. Ao abrir a gaveta dos boletins, quase que imediatamente encontrou algumas tabelaw com os nomes e todas as notas dos alunos organizadas de maior para menor e por disciplina ou instrumento. Portanto, tinha ali, facilmente visível e consultável, os melhores cantores, melhores violinistas, melhores flautistas, etc. Após ser abordado por Satomi, que teve sua atenção chamada pelo barulho da gaveta do arquivo, pode facilmente perceber que todos os alunos mortos coincidentemente eram alunos que se destacavam em pelo menos 1 disciplina. No entanto, um padrão a mais foi notado por Benjamin. Averiguando as especialidades dos alunos um a um, pode perceber que essas estavam muito bem distribuídas. Não havia nem cantores demais, nem violinistas demais, nem flautistas demais, etc. Na realidade, ao contar os números, perceberia que dava para montar uma orquestra completa, com coral e tudo. Entretanto, um único nome, que, por sinal era a maior das notas em canto, ainda não tinha sido levado conforme os registros de óbitos: Aino Hoshino. Já que claramente o autor das mortes estava levando alunos com base no ranking de suas notas, quase todos os nomes relevantes na tabela de canto haviam sido levados. Mas não Aino. Suas habilidades em violino também eram significantes, mas nem de longe chegavam perto das de canto. Na verdade, ninguém parecia ter notas tão boas quanto às dela. Era visíveis por aqueles registros que havia um abismo entre ela e os demais. Entretanto, restava a pergunta: porque o assassino ainda não tinha a levado? Talvez estivesse a tratando como a cereja do bolo? Talvez ela simplesmente não tivesse se deixado vulnerável?
Ademais, apesar de Ben ter ficado atento aos seus ouvidos, não ouviu nada suspeito. Apenas alguns ruídos contínuos provenientes das salas de aula ativas. Nada mais.
Considerando que Ben havia ido o mais fundo nos detalhes que podia, não sentia que havia mais pistas ali. No entanto, talvez ainda pudesse extrair mais informações a partir do ponto se vista de Satomi. Sem falar que, caso quisesse prosseguir para a próxima cena do crime, talvez também dependesse de perguntar direções para ela, já que Satomi parecia mais familiarizada com aquele caso.
Ação livre para @Ben Ikneg