Depois de One Piece, Naruto é o mangá mais bem cotado da Shonen Jump nos últimos anos. Até pouco tempo, seu sucesso mundial era muito maior até do que o de One Piece. Em sua história, temos o jovem inconsequente Naruto, um problemático aprendiz de ninja. Orfão e solitário, ele é um pária dentro de sua comunidade, a Vila da Folha, Ko no Ha Gakure. Mas seu sonho é o de se tornar o maior dos ninjas, o mais respeitado da vila, o Hokage. E ele acaba entrando em uma história maior e ainda mais antiga que sua própria vila. Criada por Masashi Kishimoto em 1999, Naruto foi feita nos moldes da Shonen Jump, com seus ideais bem claros: Amizade, Perseverança e Vitória.
Mas sua criação é cheia de pequenas curiosidades.
Masashi Kishimoto era popular entre os amigos com seus mangás feitos em cadernos. Na época, ele se considerava um gênio e queria não só entrar na Shonen Jump, mas revolucionar a revista. Ele passou no concurso Hop Step em 1996 com uma qualificação boa (praticamente ninguém passou com excelente em toda a história) e publicou sua história chamada KARAKURI, em 1997 na Akamaru Jump (atualmente, Jump NEXT).
Durante os dois longos anos que separam KARAKURI de Naruto, o editor de Kishimoto, Kousuke Yanagi, teria destruído suas ilusões de grandeza. Kishimoto queria fazer um mangá sério de máfia, uma trama mais cerebral, mas o editor o convenceu de que ele deveria fazer algo mais com a cara da Jump. Imagine o que ele pensou quando estrearam Death Note, Neuro, Ansatsu Kyoshitsu… Além disso, o editor passou vários livros de roteiro para que ele pudesse melhorar a estrutura de suas histórias. Até hoje, ele usa o sistema de cartas, muito usado em Hollywood, para planejar sua história.
Uma exigência de Kishimoto era não mostrar o rosto. No entanto, em julho de 2012, ele apareceu em um programa de TV falando de Naruto.
Em sua concepção original, Naruto deveria ser um mangá de culinária, falando de Lamen, o macarrão ensopado chinês adorado no Japão há séculos. O nome, naruto, é dado a um dos ingredientes do lamen, uma massa cozida de peixes, com o desenho de uma espiral no meio. E um elemento de pouca importância em Naruto era o palco da trama nesta versão: o pequeno restaurante Ichiraku.
Legenda tirada da entrevista para a NHK em 2012 “Primeiro eu queria fazer uma história sobre Lamen.
Ichiraku, aliás, que existe de verdade. É um restaurante que serve apenas lamen, na frente da Universidade de Kyushu, onde o autor, Masashi Kishimoto, estudou. Ele frequentava muito o Ichiraku, ao qual ainda presta homenagem. Kyushu, região onde se localiza o Ichiraku, é conhecido como um dos melhores lugares para se comer lamen, especialmente o tonkotsu, feito com caldo de ossos de porco. Curiosamente, o lamen do Ichiraku não tem naruto na receita...
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Depois de ser recusado diversas vezes por seu editor, Kishimoto fez uma história sobre ser aceito, que se tornou o piloto de sua série.
Naruto virou um mangá de ninjas porque Kishimoto queria muito ler a continuação de Ninku, um mangá de ninjas da era de ouro da Shonen Jump. Ele era fã do anime, principalmente por causa do animador Tetsuo Nishio, character designer e diretor da animação, famoso pelo seu trabalho em Ghost in the Shell Stand Alone Complex, Inocence e Jin-Roh. Nishio foi uma exigência de Kishimoto quando Naruto virou anime.
Lembram que no primeiro capítulo de Naruto alguns ninjas tentam matar o protagonista? Pois entre eles está Chouza Akimichi, pai de Chouji, o gordinho da equipe de Shikamaru. Bem, águas passadas…
O tema de Naruto é “O elo que une uma pessoa à outra pessoa”, que é o que Naruto sempre busca em suas histórias.
Kishimoto nem havia pensado nos pais de Naruto no começo. Disse ele que era jovem e pensava mais em amigos. Com o passar dos anos, ele mesmo se casou e teve filhos. Dai, percebendo a importância deste elo, ele incluiu os pais de Naruto e lhes deu uma importância.
Os três sapos que ajudam Naruto se chamam Gamabunta, Gamaken e Shima. Gama se refere à sapos. Depois, são nomes de atores famosos no Japão. Shima é Shima Iwashita, atriz de Gokudou no Onnatachi (Mulheres da Máfia). Ken é Ken Takakura, bem conhecido no ocidente, pelo filme de Sydney Pollack, Operação Yakuza, e o de Riddley Scott, Chuva Preta. Bunta é Bunta Sugawara, ator que fez Jingi Naki Tatakai e é também homenageado em One Piece, onde personifica Akainu, um dos três generais Mariners.
As técnicas especiais também tem muito mais sentido do que simplesmente “nomes bacanas”. Muitas pessoas acham que esses nomes podem ser aleatórios, mas o legal é tornar tudo mais interessante com um fundo histórico.
Chidori, técnica usada por Kakashi e passada para Sasuke, é o nome da espada de um famoso samurai, Dosetsu Tachibana, que viveu durante o Sengoku Jidai, a Guerra Civil japonesa. Certo dia, ele estava se abrigando de uma chuva debaixo de uma árvore quando um raio caiu bem em cima dele. Com sua espada, ele partiu o raio em dois e saiu ileso. Depois desse dia, sua espada ganhou mais um nome: Raikiri, o cortador de raios. Depois, Raikirimaru, como se fosse o nome de um samurai.
Kirin, uma espécie de evolução do Chidori, é um golpe único que usa eletricidade, na forma de um dragão. Na mitologia chinesa, Qilin é um animal divino, que só aparece em terras controladas por governantes justos. Quando a girafa chegou na China pela primeira vez, o imperador chinês a chamou de Qilin e disse que ela havia vindo para abençoar seu reinado. A forma do Qilin é controversa. Existe uma versão que diz que Qilin foi um animal que existiu e está extinto há centenas de anos. Sua forma misturaria um tigre e um dragão, duas figuras de poder. Outra versão misturava cavalos, dragões, unicórnios… Ah, no Japão, existe uma cervejaria chamada Kirin, que foi considerada uma das 100 melhores cervejas do mundo. Ela é a maior acionista da brasileira Schincariol, que está longe das melhores cervejas que já tomei.
Susanoo, Amaterasu, Kusanagi no Tsurugi e outros. Todos são ligados e ainda conectados com a lenda da criação do Japão. Orochi é uma serpente de oito cabeças e oito caudas que foi derrotada por Susanoo, deus das tempestades e do mar e irmão de Amaterasu, deusa do Sol e de Tsukuyomi, deus da Lua. Todos nasceram de Izanagi, que era casado com sua irmã, Izanami, com quem conceberam as ilhas que formam o Japão. Izanami, no entanto, morreu quando deu a luz à Kagutsuchi, deus do fogo. Izanagi então partiu Kagutsuchi em oito pedaços com sua espada, Totsuka no Tsurugi, dando origem a oito vulcões. Ele foi ao mundo dos mortos, Yomi no Kuni, para trazer Izanami de volta, mas ela já havia sido consumida. Ao voltar, ele lavou seu rosto do mal de Yomi no Kuni. De seu olho esquerdo, nasceu Amaterasu. De seu olho direito, nasceu Tsukuyomi. E de seu nariz, nasceu Susanoo.
Susanoo teve uma briga com Amaterasu, destruindo campos de arroz e matando serviçais. Amaterasu, então, se escondeu, deixando o mundo sem Sol por um longo tempo. Susanoo foi castigado por isso e banido dos Céus. Na Terra, ele conheceu um casal de velhinhos que disseram que haviam perdido sete filhas para Orochi, a serpente de oito cabeças e oito caudas. Sobrou apenas a oitava. Para salvá-la, Susanoo usou a espada de seu pai que agora era sua, Totsuka no Tsurugi (a espada de dez mãos). Ao fatiar Orochi, ele encontrou algo muito duro em uma de suas caldas. Era uma espada. Ela foi chamada de espada Kusanagi. Seu nome vem significa Odor da Cobra ou Cortadora de Grama. Uma espada real recebeu o nome de Kusanagi e dizem ser a mesma espada da lenda. E essa espada dá nome para muitas cidades da região de Shizuoka.
Susanoo, Amaterasu e Tsukuyomi são os três deuses mais importantes do xintoísmo. Em Naruto, Amaterasu e Tsukuyomi são ativados cada um com um olho e Susanoo é ativado com os dois ao mesmo tempo. Tirar meleca do nariz não dá, né?
Vendo por esse ponto, Kishimoto usou muito esta lenda para temperar a trama de Orochimaru.
O Rokudo Sennin, Ancião dos Seis Caminhos, é baseado em um ensinamento budista, o dos seis desejos (ou cinco, dependendo da vertente budista. No Taoismo são cinco), um dos mundos no qual você pode reencarnar. Pain, um vilão bem conhecido de Naruto também usa como inspiração esses seis desejos.
Kamui é uma técnica que só Kakashi e Tobi podem usar. É uma forma de se falar “deus” em um dialeto antigo do norte do Japão, o Ainu, e se refere aos deuses da mitologia daquela região.
Kurama, o Kyubi, recebe o nome não por causa do Monte Kurama, onde ninjas realmente treinavam, e sim por causa do personagem de Yu Yu Hakusho, um dos mangás favoritos de Kishimoto. Sim, é isso mesmo, sem dúvida.
Quem lê o mangá e assiste o anime percebe uma grande diferença na participação de Hinata. Isso acontece porque existe um pequeno grupo de fãs da personagem trabalhando na produção do anime. Chegou ao ponto de ter um fechamento dedicado somente à ela, coisa que nem Sakura, personagem feminina de mais importância, já teve.
Para os japoneses, é um choque saber que Sakura é odiada no resto do mundo, sendo até votada a mais detestada. No Japão, ela tem uma legião fiel de fãs.
Naruto já foi considerado um dos cem japoneses mais importantes, em uma matéria da revista norte americana Newsweek.
A Shonen Jump, certa vez, encomendou uma pesquisa para avaliar quanto a pirataria somente do mangá de Naruto, o mais pirateado e buscado da internet, rendia para os criminosos. A pesquisa avaliou que pelo menos 1 milhão de dólares mensais trafegam somente na internet usando o mangá de Naruto, nas mais diversas línguas. Foi o que incentivou a Shueisha a investir mais em digitalizar os mangás, coisa que tem dado bons resultados.
Vendo este gráfico abaixo, podemos perceber a diferença que os quatro títulos mais populares da história da Shonen Jump no mundo (e só por isso não tem Slam Dunk). Mesmo Dragon Ball não chega aos pés da popularidade de Naruto no Google, o que contrasta muito com as vendas, já que em números de arrecadamento, Naruto só vence Bleach.
Não podemos esquecer que um menino russo se suicidou quando soube que seu personagem favorito de Naruto, Itachi, morreu. O que ele diria se soubesse que Itachi volta depois?
Já é bem conhecido o fato de Masashi Kishimoto ter um irmão gêmeo, Seishi Kishimoto, que também é mangaká e fez 666 Satan para a revista Shonen Gangan. Além de ter um traço extremamente parecido com o do irmão mais famoso, a história tem muitos elementos parecidos, personagens e momentos. Também há uma segunda fase, quando o personagem cresce alguns anos, deixando de ser criança para ser um adolescente. A própria premissa inicial, do excluído que se torna um herói, é bem parecida. Ele usou espaço de seu primeiro volume para se explicar “somos gêmeos e por isso, vivemos as mesmas experiências e tivemos as mesmas influências”. Sei…
Atualmente, Seishi foi para a Kodansha e publica na revista Shonen Rival, criada exatamente para bater contra a Shonen Jump, com uma premissa parecida, apesar de ser mensal e estar muito distante da Shonen Magazine, verdadeira rival da Shonen Jump dentro da Kodansha.
Para Kishimoto, os rivais são todos os autores que estão na Shonen Jump. Mas ele teme mais do que esses autores os novos talentos que aparecem. Enquanto ele envelhece e vai se distanciando do público, os novatos estão cada vez mais habilidosos e com uma vontade que é impossível de seguir para alguém que já passou dos trinta.
Naruto está chegando a seu climax, de acordo com o próprio criador, Masashi Kishimoto. E uma estranha expectativa espera o seu fim. A expectativa de que o fim de Naruto inicie uma nova era de baixas na Shonen Jump, como quando Slam Dunk e Dragon Ball deixaram as páginas da revista em um ano. A Shueisha espera que novos títulos de sucesso, como Kuroko no Basket e Toriko impeçam esse tropeço, que pode ser gigantesco no dia que One Piece também acabar. Mas para os leitores, o mais importante vai ser poder ver o fim da saga do pequeno ninja que começou do nível mais baixo, solitário e confuso e que sempre torcemos para que conseguisse realizar seu sonho, que vai além de ser Hokage: ser aceito.
Fonte: genkidama
Só não concordo com a parte que a Sakura não teve um encerramento (ending),o Ending 14 e um encerramento da Sakura.