Vou confessar algo a muitos anos atrás, lá pra minha infância...
Isso pode ser engraçado para alguns, mas para mim, foi de grande dor e perda.
Eu era um pequeno girino ainda, por volta dos meus 4 anos de idade, quando deparei meu pai, na sala, de boa, folheando uma revista. Me aproximei e perguntei:
- Papis, o que ser isso?
Meu pai, na maior tranquilidade do mundo me disse:
- Mulher poha!
Ele voltou a olhar pra mim e disse:
- Gostou né pilantra?
Ai eu digo:
- Sim! Muito!
Lembro-me que disse isso com muito entusiasmo, mesmo sem entender nada do que estava acontecendo. Até que meu pai diz:
- Seguinte, quando você ficar mais velho, aí eu te dou essa revista, até lá, fica chupando dedo ai, seu troxa.
E o desgraçado se mandou com a revista, e eu fiquei com cara de idiota.
(Por incrível que pareça, meu pai sempre me tratou dessa forma, assim como eu trato ele igualzinho. Ofendemos um ao outro, mas é claro, com muito respeito, e um protege o outro).
O problema maior, é que eu simplesmente não esquecia aquela revista, e principalmente, aquela foto maravilhosa, na verdade, eu lembro claramente a foto até hoje. Era uma mulher muito linda, muito linda mesmo, cabelo curto, mas não muito, ia mais ou menos até a altura dos ombros (Um dos motivos pelo qual eu tenho tara por mulheres com cabelo curto), branca, não era malhada como as mulheres hoje em dia, mas era perfeita, e ela estava, obviamente, toda arreganhada em cima de uma moto. Então aquilo ficou na minha cabeça e não sai, até hoje eu penso nisso.
Depois de 3 dias, não me aguentando mais, eu resolvi ir atrás da poha da revista. Não conseguia nem estudar direito. Primeiro eu tinha que descobrir, aonde raios meu pai colocava a revista, algo fácil pois meu pai é um idiota para esconder as coisas. Não demorou muito para eu descobrir seu esconderijo secreto, era em cima de um fucking gigantesco armário de quase 3 metros (Eu não sei se tinha 3 metros mesmo ou se era porque eu era um gnomo de tão pequeno, por que aquilo parecia uma montanha), mas aquilo não iria me impedir de ter meu precioso, ou no caso, minha preciosa.
Esperei todo mundo se mandar, meu pai trabalhar, minha mãe se distrair, minha irmã fazer sei lá o que. E resolvi subir aquilo lá, o problema é que, por mais que eu tentasse subir, não passava da metade, ele era um armário bonito, de madeira, mas simplesmente era muito difícil de agarrar e subir, eu não sei se me faltava forças para me erguer, só sei que eu precisava de um apoio. Então eu cai no minimo umas 10 vezes, até aprender a lição, me encher de hematoma, e decidir que, eu precisava de algo para me segurar enquanto eu escalava. Então decidi arrumar uma cordinha que me segurasse, só que não tínhamos cordas em casa, então eu resolvi pegar uma parada elástica, tipo uma meia que minha mãe tinha no quarto dela (Muito tempo depois eu descobri que era parte da lingerie dela, uma que ela gostava muito), então, eu amarrei aquela meia elástica na minha cintura e amarrei em algumas partes do armário, duas partes, uma na direita e a outra na esquerda, e toda vez que eu subia, com muita dificuldade, eu desamarrava uma parte, subia um pouco mais, e desamarrava a outra, amarrando de volta e por aí vai. Não demorou muito para que eu acessasse finalmente o meu objetivo, a poha da revista.
Mas por ironia do destino, eu em vez de descer com a revista, NÃO, eu fiz o mais dificil, eu tava afoito que resolvi ler a revista lá em cima do armário, todo amarrado com as meias da minha mãe e tacando o dane-se.
NÃO DEU OUTRA.
A meia se rasgou, eu cai, me machuquei todo (Me machuquei pra valer dessa vez, era mt alto) e o pior estava por vir...
Minha mãe, que até então estava distraída fazendo sei lá diabos o que, acho que lavando roupa, veio correndo até mim depois de ter ouvido um barulho estrondoso (Eu caindo que nem um saco de bosta no chão), preocupada comigo, me levantando, até que ela vê a revista e logo saca:
- Tu subiu o armário por causa dessa obra do capeta? Ela segurando a revista.
Minha mãe era daquelas evangélicas terríveis, felizmente ela parou hoje em dia, mas antes era fervorosa com coisa do satanás, obra do capiroto e coisas assim.
Resumindo:
- Minha mãe brigou com meu pai.
- Meu pai jogou fora a revista se não ia ficar sem dormir na cama.
- Meu pai ficou puto comigo porque teve que jogar fora a revista.
- Minha mãe ficou puta comigo porque rasguei as meias da lingerie dela
- E eu fiquei sem o meu primeiro amor da vida.
Essa história pode parecer zuada, engraçada, mas, pra mim foi bem triste, é algo que meche comigo até hoje. Eu amava mesmo, de todo coração, aquela revista.
Hoje em dia eu compro algumas, mas não é a mesma coisa, hoje em dia é puro photoshop, perdeu muito a qualidade. As revistas playboy de 90 era pura arte.
Foda cara.