Floresta
Por volta das 5 horas.
Assim que a voz de Yashin ecoou pelo ambiente, Hagoromo Ann, apesar de seu cansaço visível, reagiu como se tivesse recebido uma descarga elétrica. Seus olhos verdes, antes cansados e opacos, se iluminaram instantaneamente ao encontrar os de Yashin. Num impulso de alívio e carinho, ela correu e o envolveu em um abraço apertado. O calor e a intensidade do abraço fez com que Yashin percebesse o quanto havia permanecido inconsciente. Ao notar que ele começava a faltar o ar, Ann se afastou de repente, um pouco envergonhada, mas sua preocupação não desapareceu. Ela, com uma ternura quase maternal, levou a mão à testa de Yashin, procurando qualquer sinal de febre, mas, para sua surpresa, a temperatura estava perfeita, como se o mal que o afligia tivesse se dissipado de forma misteriosa.
Após um suspiro de alívio, Ann realizou selos de mão, e criou uma projeção dela ao seu lado, essa ilusão falou com uma voz suave, cheia de preocupação e um toque de doçura:
— Você apagou por um dia inteiro, você estava com uma pressão arterial muito baixa e tinha uma febre inexplicavelmente alta. Fiquei tão preocupada... Você murmurava palavras estranhas como "Dohaeragon", "mēre mōrī", "Ba'al" em diversos momentos diferentes, achei por alguns segundos que seu cérebro tinha virado maionese... Eu tentei usar o ninjutsu do Clã Hagoromo para acessar sua mente, mas sempre era repelida por uma criatura gigante que lembrava um lobo. — Ela olhou para o chão, seus olhos começando a brilhar com lágrimas não derramadas. — Estou tão feliz que você está bem... Ah, e sobre Madarame... assim que teve oportunidade, ele arrancou a cabeça do Kikoemon e desapareceu sem dar explicações. Hanako ficou um tempo conosco para avaliar seu estado mental, mas... Ela disse que você e o Kuroi ficariam bem e, depois, ela também se foi. O resto do corpo do Kikoemon ainda se encontra conosco.
Por fim, vendo que Kuroi ainda estava inerte naquela ilusão, Yashin saltou de sua cama, equipando seus itens que estavam cuidadosamente depositados em uma região naquela estranha cabana abandonada, por fim, o jovem Yashin resolveu ignorar os sentimentos estranhos que os fragmentos das memórias de Ikhor causavam nele e notou que aquela cabana que haviam arranjado estava lotada de escritas, nomes, palavrões, desenhos, algum grupo de adolescentes havia provavelmente passado naquela região antes deles. Por fim, o Uchiha encarou a tal adaga e usufruiu rapidamente de seu novo jutsu, selando-o nas bandagens que existiam em seu próprio corpo. Sendo assim, ele poderia utilizar aquela arma sempre que quisesse.
Bee entrou no quarto apertado com sua habitual energia, saudando Yashin com um gesto quase teatral, como se o Uchiha não tivesse acabado de sair de um estado de inconsciência. Sua atitude alegre e despreocupada contrastava com a gravidade da situação, mas ajudava a aliviar a tensão no ambiente. Após conversarem brevemente e perceberem que Kuroi ainda precisaria de mais tempo para se recuperar daquele estado preocupante, o grupo decidiu avançar com suas tarefas na região.
Não demorou para que entrassem em contato com Mifune, e Yashin aproveitou para revisar as peças dos itens que Uchiha Hanako havia lhe entregado anteriormente. Com a permissão do líder militar do País do Ferro, ficou acordado que o grupo poderia utilizar uma das minas de minério do país, desde que respeitassem os limites territoriais estabelecidos. A organização do País do Ferro teria liberdade para explorar a área, o que facilitaria o trabalho de Masamune e Opala na forja de armas, além de permitir a construção de uma loja ninja para a vila sob a regência de Byakuren. Porém, o assunto envolvendo uma aliança não parecia ser muito bem vista por Mifune, porém, ele não negou que Byakuren poderia pedir ajuda do País do Ferro num evento futuro.
Com as negociações encaminhadas, Ann cobriu Kyosuke Kuroi com um cobertor grande e quente, enquanto Bee, com sua habitual força e cuidado, colocou o jovem sobre seu ombro largo. A organização então se preparou para partir novamente, desta vez rumo ao País dos Redemoinhos. Durante a viagem, Yashin perguntou a Yoru sobre a existência de Kyosuke Rin. Yoru, um padre do Culto Yoikami, respondeu de forma casual:
— Hm, o que te faz pensar que a adaga é capaz de interagir com aquelas estranhas estátuas? Eu não sei ao certo como funciona esse culto em torno da estátua de Genshi-zou, mas sei que essas estátuas sempre acompanharam aquele imenso lobo desde tempos imemoriais, antes mesmo das lendas do Rikudou Sennin... Quanto a Kyosuke Rin... Ela é definitivamente um perigo que deve ser eliminado em algum momento. Mas não se preocupe, ela não deve entrar em contato com ninguém de Kumogakure no Sato. Para aquela nação, ela é um nome temido. Sua aparência, e até mesmo seu chakra, são reconhecíveis pelos grandes anciões da vila, que poderiam facilmente ordenar sua prisão ou morte, independentemente da vontade do Raikage. Ela não é um perigo para nós, pelo menos por enquanto.
País dos Redemoinhos
Por volta das 14 horas.
Assim que o imenso grupo se acomodou no grande barco de Byakuren e começou a navegar em direção ao País dos Redemoinhos, um silêncio inquietante pairou sobre o mar. Era um silêncio profundo, quase sobrenatural, que fazia com que todos no grupo sentissem uma tensão crescente, como se algo estranho estivesse prestes a acontecer, embora ninguém soubesse exatamente o quê.
Quando finalmente chegaram ao território onde ficava sua base, mais precisamente na praia onde costumavam atracar seus barcos, uma surpresa os aguardava. Ali, na areia, havia um barco que não pertencia a eles. A visão daquele barco desconhecido fez o grupo se entreolhar, questionando-se sobre sua origem.
Ann foi a primeira a tomar a iniciativa de investigar. Ela se aproximou cautelosamente, examinando o barco com atenção, mas, para sua frustração, não encontrou nada que indicasse de quem ele poderia ser. Não havia insígnias, bandeiras ou qualquer sinal que identificasse o proprietário ou sua origem. O mistério do barco apenas aumentava a sensação de que algo fora do comum estava por vir. Foi nesse momento em específico que Kyosuke Kuroi acordaria, sentindo uma vontade avassaladora de vomitar, assim como Yashin teve, provavelmente um acontecimento potencializado por passar um bom tempo no barco.
Ao usufruir da Adaga, Kyosuke Kuroi pode observar acontecimentos aos olhos de ???.
O grupo avançou até sua vila para repousar e curiosamente nenhuma criatura maluca do País do Redemoinho havia atacados eles, todos os monstros em seu caminho estavam mortos ou pareciam estar tremendo de medo, como se um predador muito forte tivesse passado por aquela região e atacado sem piedade eles. Quando estivessem próximo da Vila Central, bem no meio do caminho, Yashin percebeu o corpo do samurai que estava atormentando sua organização, ele estava caído no chão, completamente inconsciente, seu corpo havia diversos resquícios de escoriações e ferimentos que facilmente um shinobi identificaria que foram feitos a base de socos e chutes.
Não muito longe dali, Yashin avistou uma garota que reconheceu de imediato como Ayaka. Ela estava animadamente conversando com um fazendeiro que ninguém mais era que Ortêncio, o qual parecia estar sendo bombardeado com perguntas pela jovem.
— Uh... Eu não vi nenhum Uchiha por aqui, não... Minha jovenzinha... — respondeu o fazendeiro, claramente tentando acompanhar o ritmo da garota, mas sem revelar que Yashin usava aquela vila como refúgio.
— Estranho, os corvos me disseram que eu poderia encontrar um Uchiha nesta região. Será que eles me enganaram? — disse Ayaka, com um tom meio entediado, como se já estivesse procurando por esse tal Uchiha há muito tempo, mas sem sucesso. — Por via das dúvidas, você não conhece ninguém chamado Kyosuke Yoru, conhece? Só me falaram que ele fugiu de Kumogakure no Sato recentemente, mas... Não sei o motivo e nem sei que tipo de crime ele cometeu.
O fazendeiro ficou visivelmente nervoso ao perceber que Kyosuke Yoru estava logo atrás da garota, que continuava a olhar para Ortêncio sem perceber.
— Qual foi? O gato comeu sua língua? Bom... Não quero causar nenhum desconforto, então já vou indo... Ah, e mais uma coisa... — Ayaka encheu as bochechas de ar, tentando parecer zangada, mas o efeito foi mais engraçado do que assustador. — Quando alguém te salva de um samurai ruivo maluco, você tem que agradecer, tá? Cadê os modos? Enfim, vou procurar as pessoas que eu quero em outro lugar... Até mais, fuis!
Enquanto se preparava para voltar para a região onde estavam os barcos, Ayaka acabou esbarrando em Kyosuke Yoru. Um silêncio desconcertante tomou conta do momento, enquanto ambos se encaravam, confusos. Depois de alguns segundos que pareceram uma eternidade, Ayaka finalmente falou:
— Huh... Desculpa moço com a cara assustadora, não sabia que você estava atrás de mim... — disse ela, fazendo uma pose exagerada de respeito, sem ter ideia de que o homem à sua frente era exatamente o Yoru que ela tanto procurava.
Masamune e Opala, claramente impacientes, passaram direto pela cena, seguindo em direção à Byakuren, sem interesse em participar daquele encontro inusitado. O trio de irmãos estava ansioso para montar a loja ninja e começar a trabalhar imediatamente para ajudar a organização. Bee também parecia pouco inclinado a se envolver e simplesmente entrou no vilarejo. Ayaka, por sua vez, observava todos aqueles sujeitos passando, até que finalmente seus olhos se fixaram em Yashin. Ela deu um salto teatral e, apontando para ele, exclamou:
— AH, EU ACHEI O EMO COM CARA DE PAMONHA!
Num piscar de olhos, ela correu na direção de Yashin, mas Ann surgiu entre eles, com um olhar sério. Ayaka, no entanto, começou a resmungar, ignorando completamente a presença da garota de cabelos azuis à sua frente:
— Qual é, Uchiha fedido, a gente marcou dia e hora pra se encontrar, e você simplesmente não aparece! Tá acostumado a dar bolo em todas mulheres que convida para um encontro? E por que diabos toda Kumogakure no Sato está te caçando como se você fosse um criminoso perigoso que mata criancinha? Nem o Orochimaru, que acabou de matar o Hokage, é tão procurado assim. E pelo amor de Rikudou, estamos falando da porra do Orochimaru!
Depois de um longo suspiro, Ayaka abriu um sorriso cheio de dentes, claramente satisfeita por finalmente tê-lo encontrado.
— Certo... Agora que nos encontramos, você pode me contar tudo sobre os nomes que eu te perguntei antes? Alías, você não tinha me falado o nome da ultima vez... É Yashin, não é? Posso te chamar de Criminoso-san? — Ela iria encarar Kuroi naquele momento, seus olhos piscaram por alguns segundos como se avaliasse sua aparência. — Huh... Oi, tudo bom? Você está bem? Parece ter saído recém de um transe hipnótico. Quer algum remédio para dano mental? Tenho alguns aqui na minha bolsa. Ah, meu nome é Ayaka, prazer!
A garota com um comportamento um tanto masculino iria erguer seu braço em direção de Kuroi, Yashin e Ann, visivelmente querendo um aperto de mão, como se seu surgimento naquela região fosse a coisa mais normal no mundo. Kyosuke Yoru com nenhuma gota de interesse sobre aquela garota, simplesmente adentraria no Vilarejo Central, deixando aquela confusão para Yashin, Kuroi e Ann resolverem. Ayaka parecia ser uma garota tremendamente energética e praticamente sorria de uma forma não-hostil, porém, Yashin e Kuroi notavelmente sentiam algo de estranho vindo daquela garota, visivelmente ela não teria sobrevivido naquele mundo impiedoso com aquele comportamento tão casual, animado e invasivo. E o fato dela, ter localizado eles tão facilmente era no mínimo suspeito, considerando que uma nação inteira como Kumogakure no Sato, ainda não conseguiram definir sua localização. Seria a portadora do Ego, um perigo para eles?
Ação livre para @Heimdall e @Gaius no seguinte tópico:
https://www.forumnsanimes.com/t105704-vilarejo-central-sede-byakuren