Dante10 escreveu: Jesuítas ensinaram nossa língua e nossa religião, por que motivo ensinariam nossa língua, se não fosse para conversar? Por que motivos ensinar nossa religião se viam os índios como meros animais
O motivo de ensinar a língua portuguesa e a religião cristã foi bem maior do que o de conversar: detinham também a pretensão de impedir que os protestantes realizassem a evangelização indígena. O principal objetivo dos jesuítas era evangelizar, catequizar e tornar cristãos os indígenas que habitavam estas terras, além de mudar drasticamente os seus costumes considerados repugnantes: o interesse central era que eles passassem a viver de acordo com a cultura europeia. Que todas as famílias fossem nucleares (pai, mãe e filhos do casal), que eles se fixassem em um local (a maioria das tribos indígenas era praticamente seminômade, vivendo em constante deslocamento) e passassem a adotar os ritmos e as disciplinas de trabalho que impunham os europeus. Nada além de aculturação forçada. Ensinar a nossa língua era só um pré-requisito para que os índios pudessem ler os trechos bíblicos e para o ensino da prática religiosa católica. No fim, anos mais tarde se pode observar que os objetivos tornaram-se outros: o poder religioso/educacional dos jesuítas tornou-se em poder econômico.
Dante10 escreveu: ''Ah, mas eles bateram nos índios! Usaram palmatória! OPRESSÃO !!''. O meu vô e meu pai na escola também apanharam com palmatória, também eram colocados com joelho no milho, os dois são brancos, os dois são da mesmo religião, país e cidade que os professores e mesmo assim apanharam. Ora, naquele tempo todos, sejam índios, brancos ou azuis com bolinhas apanhavam na escola. Que bobagem, você parece estar acostumado com alunos batendo no professor, por isso ficou assustado com o que viu na wikipédia não é garotão?
Ó meu Deus, meu Deus! Que de misérias e enganos não experimentei então, quando se
me propunha, em criança, como norma de bem viver, obedecer os mestres que me instigavam a
brilhar neste mundo, e me ilustrar nas artes da língua, fiel instrumento para obter honras humanas
e satisfazer a cobiça! Mudaram-me à escola, para que aprendesse as letras, nas quais eu,
miserável, desconhecia o que havia de útil. Contudo, se era preguiçoso para aprendê-las, era
fustigado, num sistema louvado pelos mais velhos; muitos deles, que levavam esse gênero de
vida antes de nós, nos traçaram caminhos tão dolorosos pelos quais éramos obrigados a
caminhar, multiplicando assim o trabalho e a dor aos filhos de Adão.
(...)
e não era por falta de memória ou de inteligência, que para aquela idade, Senhor, me
deste de modo suficiente, senão porque eu gostava de brincar, embora os que nos castigavam
não fizessem outra coisa.
Santo agostinho um Doutor da Santa Igreja, em seu livro 'confissões' também apanhou um bocado... :D
Talvez seja por que a palmatória só foi acabar no Brasil nos anos 60 e você usou como se os índios eram oprimidos ao serem educados... Bem, então todos dos anos 60 para trás também foram.
O contexto é totalmente diferente. Os jesuítas valiam-se de castigos físicos CONSTANTES. Não é como se os indígenas aceitassem facilmente ser doutrinadas em sua ideologia, em sua cultura e costumes. Muitas vezes, quando um aluno se recusava a ser forçado a aculturação, os jesuítas os entregavam aos colonos, tendo eles três finais:
()Escravizados;
()Torturados até aceitarem se sujeitarem;
()No caso de algumas indígenas, muitas eram estupradas pelos colonos, entregues pelas mãos dos jesuítas.
Os índios foram oprimidos por terem a sua cultura e povo extinto, e não por receberem uma palmada na mão como os seus avós. Os castigos físicos destinados aos índios eram intensos, além do peso psicológico da situação. Coisa totalmente diferente do que era no fim dos anos 60: raramente um aluno era destinado aos "castigos", por temor aos mesmos. Enfim, foram coisas completamente distintas.
Dante10 escreveu: ''Não houve aproximação pacifica entre Portugueses e índigenas''. João Ramalho foi um aventureiro e explorador português. Viveu boa parte de sua vida entre índios Tupiniquins, após chegar no Brasil em 1515. Foi, inclusive, chefe de uma aldeia, após se tornar amigo próximo do cacique Tibiriça, importante líder indígena tupiniquim na época dos primeiros anos da colonização portuguesa no Brasil.
Teve um papel importante na aproximação pacífica entre índios e portugueses, principalmente na chegada de Martim Afonso de Souza no Brasil, com quem se encontrou no território de São Vicente, e criou grande amizade.
Mais sobre ele aqui: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Ramalho
Para ter uma ideia o cara casou com uma índia fogoza serelepe.
Então houve sim tentativa de paz, pelo menos em algumas capitanias...
João Ramalho foi uma exceção ímpar dentre os portugueses: tanto é que, pela a sua grande amizade com o povo indígena, foi expulso de uma missa. Os padres tinham a visão de Ramalho como um indígena, e assim como alguém bruto e não-cristão.
Dante10 escreveu: O pirata inglês Anthony Knivet fez uma descrição detalhada da execução de prisioneiros pelos índios. Tendo sido capturado com mais doze portugueses, ele relatou:
Duas horas depois levaram um dos portugueses, amarraram-lhe outra corda à cintura e conduziram-no a um terreiro, enquanto três índios seguravam a corda de um lado e três do outro, mantendo o português no meio. Veio então um ancião e pediu a ele que pensasse em todas as coisas que prezava e que se despedisse delas pois não as veria mais. Em seguida veio um jovem vigoroso, com os braços e o rosto pintados de vermelho, e disse ao português: “Estas me vendo? Sou aquele que matou muitos do teu povo e que vai te matar.” Depois de ter dito isso, ficou atrás do português e bateu-lhe na nuca de tal forma que o derrubou no chão e, quando ele estava caído, deu-lhe mais um golpe que o matou. Pegaram então um dente de coelho (provavelmente de capivara), começaram a retirar-lhe a pele e carregaram-no pela cabeça e pelos pés até as chamas da fogueira. Depois disso, esfregaram-no todo com as mãos de modo que o que restava de pele saiu e só restou a carne branca. Então cortaram-lhe a cabeça, deram-na ao jovem que o tinha matado e retiraram as vísceras e deram-nas às mulheres. Em seguida, o desmembraram pelas juntas: primeiro as mãos, depois os cotovelos e assim o corpo todo. Mandaram a cada casa um pedaço e começaram a dançar enquanto todas as mulheres preparavam uma enorme quantidade de vinho. No dia seguinte ferveram cada junta num caldeirão de água para que as mulheres e as crianças tomassem do caldo. Durante três dias nada fizeram a não ser dançar e beber dia e noite. Depois disso mataram outro da mesma maneira que lhes contei, e assim foram devorando todos menos eu.
Todos os portugueses, inimigos dos Tamoio, foram executados. Ele se salvou porque disse que era francês, um aliado.
Repare que o relato de Knivet contraria os relatos de Métraux: o suíço descreve os prisioneiros como sendo bem alimentos, recebendo uma esposa, bla bla bla, como no relato que você mesmo colocou. Repare também que o Knivet tornou-se fluente na língua dos tupinambás em apenas duas horas, já que entendeu o que o jovem viril lutador de capoeira falou antes de acertar os pontos vitais do português inocente.
Os relatos variam de viajante para viajante, e por isso que eu disse que são cheio de pontas soltas. O de maior credibilidade é o de Hans Staden por justamente ter descrito os rituais de acordo com a religião: ao comerem a carne de um inimigo de virtudes admiráveis, eles estariam absorvendo essas virtudes like a Cell. E provavelmente era isso o que acontecia: nos relatos de Knivet eles foram mortos sem nem mesmo demonstrarem alguma bravura, coisa que era feita nos relatos de Staden. Os inimigos, mesmo estando frente a frente à morte, debatiam-se nos relatos de Staden, o que era compreensível: não queriam envergonhas as aldeias de onde vieram. Enfim, isso não interfere em nada no massacre que ocorreu: uma tribo que supostamente praticava canibalismo, e foi extinta em pouco tempo após a "descoberta" não justifica nada.
Dante10 escreveu: Mas as tribos indígenas eram sim culturalmente inferiores.
Não existem culturas inferiores ou superiores, apenas diferentes. As tribos indígenas tinham as suas próprias crenças religiosas, seus hábitos e costumes, a sua organização social e as suas línguas notavelmente diversas.
Dante10 escreveu: Por isso foram ensinados.
Eles não foram ensinadas, foram massacrados. O que vimos não foi um ensino continental — foi um genocídio continental.
Dante10 escreveu: Etnocentrismo não existe
Dante10 escreveu: Se eu preferir uma cultura democrática a bárbara, serei etnocentrico?
Os índios eram bárbaros?
Vou escrever não :
Preguiça de escrever escreveu: A organização social dos índios
Entre os indígenas não há classes sociais como a do homem branco. Todos têm os mesmo direitos e recebem o mesmo tratamento. A terra, por exemplo, pertence a todos e quando um índio caça, costuma dividir com os habitantes de sua tribo. Apenas os instrumentos de trabalho (machado, arcos, flechas, arpões) são de propriedade individual. O trabalho na tribo é realizado por todos, porém possui uma divisão por sexo e idade. As mulheres são responsáveis pela comida, crianças, colheita e plantio. Já os homens da tribo ficam encarregados do trabalho mais pesado: caça, pesca, guerra e derrubada das árvores.
A formação social era bastante simples, as aldeias não tinham grandes concentrações populacionais e as atividades eram exercidas de forma coletiva. O índio que caçasse ou pescasse mais dividia seu alimento com os outros.
A coletividade era uma característica marcante entre os índios. Suas cabanas eram divididas entre vários casais e seus filhos, como não havia classes sociais, até mesmo o chefe da tribo dividia sua cabana.
Duas figuras importantes na organização das tribos são o pajé e o cacique. O pajé é o sacerdote da tribo, pois conhece todos os rituais e recebe as mensagens dos deuses. Ele também é o curandeiro, pois conhece todos os chás e ervas para curar doenças. Ele que faz o ritual da pajelança, onde evoca os deuses da floresta e dos ancestrais para ajudar na cura. O cacique, também importante na vida tribal, faz o papel de chefe, pois organiza e orienta os índios.
A educação indígena é bem interessante. Os pequenos índios, conhecidos como curumins, aprender desde pequenos e de forma prática. Costumam observar o que os adultos fazem e vão treinando desde cedo. Quando o pai vai caçar, costuma levar o índiozinho junto para que este aprender. Portanto a educação indígena é bem pratica e vinculada a realidade da vida da tribo indígena. Quando atinge os 13 os 14 anos, o jovem passa por um teste e uma cerimônia para ingressar na vida adulta.
Os portugueses, visando tomar as terras, matavam os nativos através de armas e doenças. Esse constante comportamento resultou na quantidade mínima de índios que temos hoje. Inclusive, tem uma citação do Knivet: "“Preferi colocar-me nas mãos da piedade bárbara dos selvagens devoradores de homens do que da crueldade sanguinária dos portugueses cristãos."
Os portugueses se aproveitaram de um povo majoritariamente ingênuo e com armamento nulo.
Agora vamos ver canibalismo em uma cultura superior:
1 - Deuteronômio 28,53: "Na angústia do assédio com que o teu inimigo te apertar, irás comer o fruto do teu ventre: a carne dos filhos e filhas que o Senhor teu Deus te houver dado".
2 - Lamentações 2, 20: "Vê, Senhor, e considera: a quem trataste assim? Irão as mulheres comer o seu fruto, os filhinhos que amimam? Acaso se matará no santuário do Senhor sacerdote e profeta?"
3 - Ezequiel 5,10: "Os pais devorarão os filhos no meio de ti, e os filhos devorarão os pais (ó Jerusalém!}".
4 - Jeremias 19,9: "Eu farei que eles devorem a carne de seus filhos e a carne de suas filhas; eles se devorarão mutuamente na angustia e na necessidade com que os oprimem os seus inimigos e aqueles que atentam contra a sua vida".
Dante10 escreveu: Devemos ser todos relativistas e dizer que a cultura nazista na verdade não era inferior a outras qualquer? NOM!!
O nazismo foi um movimento político e ideológico, não uma cultura.