Rafiukis escreveu: Eu nunca fui uma pessoa religiosa, mas já acreditei em deus e rezava em momentos difíceis, tinha conversas sobre deus com meus pais, meu pai principalmente. Porém eu nunca me senti confortável em ambientes religiosos, quando criança eu detestava igreja. Meus pais tentaram me mandar para catequese quando eu tinha uns 10 anos, mas na primeira aula em que comecei a ouvir sobre bíblia etc, eu tomei completo ranço da maneira como falavam as coisas e como eu parecia estar em um lugar que queriam mudar minha cabeça, não apenas ensinar. Desde pequeno eu detestava me sentir "preso". Mesmo nos intervalos, quando as crianças brincavam, conversavam, eu não conseguia me enturmar com aquelas pessoas específicas porque eu realmente me sentia mal naquele ambiente.
Já na adolescência, entendendo melhor os valores da religiões, entendendo mais como tudo funcionava e a parte teórica, eu sempre tive grandes disparidades ideológicas com os principais valores que se propagavam na boca das pessoas cristãs, evangélicas etc. O principal motivo que me fez literalmente criar aversão de toda e qualquer religiosidade, foram os próprios religiosos.
A minha família sempre foi muito correta em sua maneira de agir, meus pais sempre foram bondosos, fazíamos doações de roupas, meu irmão atualmente tem uma padaria e fornece pão de graça pra crianças carentes... E ainda assim, mesmo sendo de uma família cristã, meus pais nunca obrigaram nenhum dos filhos a frequentar igreja, e fora uma conversa ou outra, quase nunca ouvi falar de deus em casa, com aquelas frases feitas do tipo "Deus ta vendo, se não fizer isso, Deus vai castigar" ou "temos que amar Deus acima de tudo", ou, "se você não acredita em Deus você vai pro inferno". Era uma família tolerante e que não enfiava a religião guela abaixo de ninguém, nem dos próprios familiares. Então eu nunca fui acostumado a com esse tipo de frase e atitude intolerante na minha vida.
Quando eu tive contato com as primeiras pessoas que tentavam enfiar religião guela abaixo, que falavam este tipo de frase, eram pessoas que para mim não tinham moral nenhuma para falar dessa maneira. A partir daí, eu comecei a tomar mais ranço de religião, porque eu via que não tinha relação nenhuma com bondade ou com seguir os valores que pregavam, e sim era um código de normas pra você cagar regra na vida dos outros, e não na sua. Foram poucos os religiosos que eu encontrei que faziam o que sua religião pregava, mas foram infinitos os que encontrei que cagavam regra na vida alheia.
Estas e outras experiências me fizeram me considerar ateu durante boa parte da minha adolescência. Como eu não concordava com basicamente nada da religião, e tinha angústia da hipocrisia dos religiosos, eu não achava que deveria acreditar em um deus. Como exemplo de uma dessas experiências, no meu ensino médio, fui para uma reunião de um grupo de jovens evangélicos que um amigo meu me convidou, e junto comigo foi outro amigo em comum, também ateu. Lá sentamos e ouvimos um monte de moleques, de 15, 16 anos, falando de deus, moral, certo e errado, como se fossem pessoas experientes e vividas.
Eu e meu amigo ateu apenas ouvíamos desconcertados e com imensa vergonha alheia, como as pessoas se entregavam para aquele teatro, e realmente achavam que tinham qualquer conhecimento sobre o que falavam. Então, momentos depois da conversa, chega um pastor para conversar com o grupo, e os primeiros assuntos abordados por ele são sobre as mulheres precisarem se dar ao respeito, falou sobre homossexuais, não me lembro bem o tema, mas foi literalmente o pior tema para se abordar com duas pessoas não evangélicas visitando o grupo. Meu amigo e eu nos olhamos com uma expressão de "puta que pariu, o que eu estou fazendo aqui", mas em respeito ao nosso amigo que nos convidou, permanecemos sentados e calados. Depois da conversa, participei do evento mais estranho e idiota de toda minha vida: uma dança que falava para pisarmos em cima da cabeça do capeta. Pensa em duas pessoas que riram durante o resto da noite pra não chorar. Posteriormente, conversando com esse amigo e pensando sozinho, percebi o quanto aquilo era uma lavagem cerebral descarada. Faziam um monte de adolescentes organizarem uma reunião onde comiam, bebiam, conversavam, faziam festinhas e saíam(tudo que adolescente gosta de fazer, e pra quem vive em uma família evangélica que mal deixa os adolescentes saírem de casa, aquela era a única atividade que os jovens tinham acesso pra se divertir), e no meio disso tudo enfiavam um cara para falar um monte de coisa absurda pra fazer a cabeça dos moleques. Eventos como esse me fizeram literalmente desistir de religião. Não foi algo que ouvi ou li da opinião de outra pessoa, foi literalmente minha experiência.
Ao longo dos anos, contudo, fui amadurecendo um pouco mais minha crítica à religião, num processo de autorreflexão e conversa com família e amigos quando o assunto surgia. Aos poucos percebi que o que me incomodava era a religião, e não existência de um deus. Se deus existe ou não, eu nunca me preocupei de fato, nunca achei que seria impossível uma energia criadora ou algo do tipo, pelo contrário, sempre achei relativamente lógico. O que sempre me incomodou foi a maneira como as pessoas se portavam em relação a este assunto, como verdadeiras sábias, enquanto em suas vidas pessoais não demonstram sabedoria alguma, aos valores pregados, à lavagem cerebral das instituições, ao preconceito, aos falsos profetas, etc. Percebi então que o problema pra mim não era se deus existia ou não, e sim como a religião funcionava. A partir daí descobri o agnosticismo, e com alguma pesquisa, criei meu posicionamento:
Sou um agnóstico forte, que não acha que qualquer humano tenha conhecimento acerca do sobrenatural, inclusive eu, podendo ou não existir um deus. Então eu não entro nessa discussão. Resumindo: sou ateu para todas religiões criadas pelo homem, mas não nego que possa existir ou não um deus, apenas acho que ninguém pode saber disso, e quem diz saber, ou foi iludido, ou é mau-caráter.
Mano, me dá um abraço, eu me identifiquei muito
Eu super entendo! Sinceramente, me dá um desconforto tão grande que os próprios religiosos não entendem! Você entra numa igreja e ouve algumas palavras você já se sente agredido, como se estivessem tentando lhe fazer uma lavagem cerebral, e ver aquele bando de robôs gritando amém só deixa essa sensação mais forte.
Eu tinha amigas em um grupo evangélico e, pela amizade, eu ia sempre na célula, mesmo não acreditando em nem uma das palavras fantasiosas que elas diziam. Um dia, teve um acampamento da igreja e eu fui. Sabe da música que você falou, de pisar na cabeça do capeta? Não teve isso, mas teve um pastor que começou a gritar dizendo que nós tínhamos que começar uma guerra contra o diabo e, naquele momento, eu me senti realmente como um soldado no campo de batalha, cercada de pessoas manipuladas pelo "patriotismo" (fé) dispostas a morrer de verdade para "ganhar a guerra". Mas eu não estava, de forma alguma, disposta a isso e não me sentia parte daquele "exército", como se eu tivesse entrado no campo de batalha por acidente, e foi exatamente isso que aconteceu. Eu fiquei apavorada. Tão traumatizada que eu fugi e nunca mais consegui ir no acampamento. Eu parei de ir na célula também, porque eu descobri que a fé cega daquelas pessoas me assustava. Eu sempre pensei que, se elas sonhassem que Deus mandou que matassem os próprios pais, elas fariam sem pestanejar e ainda se sentindo honradas. É totalmente assustador. Elas não entendem o mundo de verdade, já que a bíblia jamais explicou como as coisas realmente funcionam e simplesmente se limitou a que seguissem as leis de Deus, escrita pelos homens, cujas várias podem sequer ser reais. Eu acredito em Deus e na bíblia, mas eu sou espírita, então pra mim a bíblia é como o conto de fadas que existe para te ensinar a fazer a coisa certa. Mas o espiritismo te ensina como o mundo realmente funciona. Eu sei que não existe esse negócio de Deus te mandar fazer algo e eu sei que não existem demônios contra os quais você precise lutar. Eu sei que existe um sistema. Eu sei que todos estão em processo de evolução e que algumas pessoas simplesmente encarnaram menos que outras. Eu sei que não existe nenhum inimigo para mim além de mim mesma. Esse conhecimento me dá segurança. E eu sei que ser agnóstico também é uma "religião" que dá essa mesma segurança porque, de fato, há coisas que não estaremos prontos num futuro próximo para entender e que, realmente, sequer faz diferença. No fim, o que importa é a sua atitude e não a sua religião. Tenho certeza que mesmo após a minha morte vão haver várias surpresas e coisas que eu não esperava, simplesmente porque se me contassem eu não ia entender. Eu prometo nunca tentar te converter, porque eu entendo totalmente o sentimento de ter uma "verdade" sendo imposta a você quando na sua cabeça não passa de um bando de bobagens sem sentido. De qualquer forma, eu fui ensinada que todos tem a religião que precisam para a própria evolução, seja ateu, agnóstico, evangélico ou espírita.