Ele andava pela rua sem ver aonde ia, sentia tanta raiva.
Tinha pensado que pela primeira vez as coisas dariam certo em sua vida, mas não foi bem assim.
“Aquele desgraçado!”- Pensava no seu ex-chefe.
Tinha descoberto alguns desvios cometidos pelo chefe do seu departamento, e quando foi tentar um acordo, já que na verdade ele não queria denunciá-lo e sim uma porcentagem do dinheiro, o desgraçado virou o jogo e colocou toda a culpa em cima dele.
Agora estava sem emprego e correndo pela rua tentando fugir do temporal que tinha começado de repente. Para piorar escorregou em um objeto negro e caiu de cara na calçada.
Todo enlameado e com nariz sangrando, ficou sentado no chão segurando o que tinha feito ele cair: um caderno de capa preta.
Com toda raiva ele tentou jogar o caderno longe, mas o objeto escorregou da mão e acabou caindo de volta no colo dele. Foi então que ele viu algo escrito na capa “Death Note”.
Limpando o rosto irritado, decidiu entrar no bar que tinha acabado de ver na esquina. Depois de receber um olhar de desgosto do barman, fez questão de sentar no balcão e colocar sobre ele sua maleta ensopada e até o caderno sujo que ainda segurava. Com um sorriso irônico pediu sua primeira dose.
Quando segurou o copo, o caderno chamou sua atenção e ele começou a folheá-lo. Quinze minutos depois ele estava mais do que interessado no que lia, eram coisas tão absurdas que prenderam sua atenção.
“Seria muito bom se fosse verdade.”- Sorria enquanto bebia.
O barulho de vidro quebrando o fez erguer os olhos.
E a cena que viu o irritou. O barman mal humorado gritava com um garoto que estava agachado no chão pegando os cacos de vidro e se desculpando, o homem gritava e xingava cada vez mais alto e empurrou o menino com o pé, o derrubando sentado.
Aquela atitude o fez se lembrar de seu ex-chefe, sentiu ódio naquele momento, e pensou que gostaria de fazer algo, mas não se meteria. O moleque tinha que se virar, e aprender a ser homem, e ele também não enfrentaria o barman que pesava mais de 100 quilos e tinha quase 2 metros.
“Se eu pudesse...” - Pensou amassando o caderno entre os dedos com raiva.
Então olhou para as folhas amassadas.
“Bem que você poderia funcionar, não é?”- Pegando a caneta no bolso da camisa, ele abriu as páginas relendo o que precisava fazer.
Rindo do absurdo que iria tentar, pensou no nome que tinha visto no crachá do homem, olhou para o cara que ainda gritava e então escreveu: Show Tuker.
E olhou para o relógio, com a respiração suspensa.
25 segundos e o homem ainda estava gritando, quando percebeu que tinham se passado 35 segundos e nada, já estava pensando que era um verdadeiro idiota em acreditar naquelas coisas.
Mas então o homem se calou, com olhos arregalados e com a mão no peito ele caiu sobre a pia, derrubando garrafas e logo escorregando até o chão, sem vida.
Show Tuker morreu no bar onde trabalhava. Horário da morte: 22 horas.
O homem estava sentado na cama em seu quarto olhando com ódio as imagens na tela do seu notebook.
Ele continuava acompanhando tudo sobre a empresa. As pessoas com a mania de colocar tudo nas redes sociais permitiam que ele soubesse de cada festa, cada reunião, e o que cada traidor dentro daquela empresa fazia.
Olhou novamente a imagem, estavam em uma festa, todos bebendo animados, a foto tinha sido tirada a pouco mais de 20 minutos. Ele conhecia a casa onde estavam, ela pertencia ao puxa-saco que agora ocupava seu antigo cargo.
Com um sorriso no rosto, pegou uma caneta e abriu o caderno.
***
Minato tinha convidado algumas pessoas importantes para uma festa em sua casa. Ele estava comemorando seu novo cargo.
Riu se lembrando do idiota que tentou roubar a empresa e tinha se dado mal. - “Incompetente.” – Agora a vaga era dele.
Ele estava orgulhoso, porque merecia a promoção.
Era um homem extremamente eficiente, competitivo e ambicioso, tinha se esforçado, conquistou o título de funcionário do mês de maio aquele ano. Estava na empresa há 2 anos, e conseguiu chegar onde estava por mérito próprio.
No momento andava por sua casa cumprimentando as pessoas, como um bom anfitrião. Aproveitava a noite para fazer contato com os que interessavam. Bebia muito pouco, não queria ficar embriagado e fazer feio na frente de tantos colegas de trabalho, além do mais, seu chefe estava presente, precisava manter as aparências.
Andando próximo à piscina, ele observava e ria de alguns que não tinham noção e faziam papel de palhaço. Resolveu ficar por ali, as mulheres tinham bebido o suficiente para fornecer uma boa visão.
Ele avistou uma das estagiárias de seu departamento, viu como ela dançava e lançou um sorriso para ele, sorriu de volta, e soube que naquela noite se daria bem.
Sabia dançar, ganhou prêmios por isso, já entrando no ritmo, decidiu se aproximar, mas um esbarrão o fez perder o equilíbrio, o copo caiu de sua mão, deu vários passos para trás, até não encontrar mais o chão para se apoiar e caiu dentro da piscina espirrando água para os lados.
Muitos riram da cena e poucos se importaram, Minato era campeão de natação também, então as pessoas em volta não perceberam o que realmente acontecia.
Ele não conseguia se mexer, câimbras nas pernas e braços.
“Que dor era aquela?” – O líquido entrando pelo nariz. Ruído terrível das águas em se ouvido. O peito ardia. E finalmente tudo escureceu.
Quando perceberam já era tarde.
Minato morreu afogado em sua casa, as 20:12 h.
Ranauta estava extremamente satisfeito, o cheiro de carro novo só confirmava que todas aquelas horas que gastou na frente de um computador desde quando era criança, tinham valido a pena.
Com seu conhecimento, conseguiu descobrir quem era a pessoa que andava roubando a empresa onde trabalhava, conquistando assim um bônus de 75 mil. Depois de somar o bônus com suas economias, pôde comprar algo que desejava há muito tempo.
No ano anterior nunca imaginou que comemoraria seu aniversário de 24 anos se dando um Audi A3 de presente, adorava aquele carro. Foram 23 dias de investigação muito bem recompensados.
Corria agora por uma das rodovias que cortavam sua cidade. Com o som alto acelerava cada vez mais, não se importou com a chuva, que era comum nessa época do ano, e continuou a pisar no acelerador, foi um erro. No final de um longo declive, o carro aquaplanou e Ranauta perdeu o controle do veículo que invadiu a pista contrária e bateu de frente com um caminhão Ford Cargo 2428. Mesmo se tivesse tração nas 4 rodas, o que não era o caso, nada poderia ter evitado o acidente.
But Ranauta resistiu aos ferimentos e foi levado rapidamente ao hospital, sobrevivendo com muita sorte.
No início estava usando o caderno para limpar o mundo que considerava podre, mas após matar Minato, esqueceu seu objetivo original. Agora estava com a idéia fixa em descobrir quem o tinha traído além do seu chefe, que não tinha capacidade de fazer a acusação sozinho.
Não se limitou a observar as redes sociais, já tinha conseguido invadir o sistema do seu antigo emprego e continuou a investigação contra seu ex-chefe. Assim que descobriu quem o denunciou, escreveu o nome no caderno, mas por algum motivo não deu certo, o que o deixou mais obcecado ainda.
Contudo, Ranauta não era o único culpado, Zeref-Kun também tinha trabalhado na investigação.
Desta vez não poderia ter erro.
***
Zeref-Kun estava decidindo para qual país viajar, agora que seu amigo Ranauta não corria mais risco de morte, poderia voltar a se concentrar nisso.
Estava pesquisando sobre como tirar o visto de turismo para o Japão. - “Não deve ser muito difícil, já que mais de 15 mil corintianos conseguiram ir pra lá em 2012.”
Olhou no relógio, 12:04, estava com fome, então decidiu pedir algo para comer.
Depois de receber a comida, voltou para frente do computador. Enquanto ria distraído de um vídeo que estava assistindo, colocou um pedaço de carne na boca, e acabou engasgando. Desesperado se levantou, não conseguia respirar, tossir, muito menos gritar pedindo ajuda.
Debruçou-se sobre o sofá pressionando o estômago improvisando uma manobra de Heimlich, mas não funcionou. Sem ar, perdeu a consciência.
Zeref-Kun morreu as 13:11h em seu apartamento.
Depois que pluuuuffff se formou em engenharia decidiu trabalhar em outro país, saiu de Portugal e veio para o Brasil.
Infelizmente as coisas não estavam indo tão bem, quando pensou que tudo daria certo em seu emprego, três colegas de trabalho sofreram acidente, dois deles eram do seu departamento, um ainda estava internado, e o outro infelizmente não sobreviveu.
Com tanta coisa ruim, sentiu falta de casa, queria ir visitar a família, mas não poderia viajar para tão longe, não agora. Conseguiu apenas uma semana de folga, sete dias teriam que ser o suficiente.
Decidiu visitar a famosa Terra da Alegria. Foi sozinho mesmo, gostava de viajar assim. Com seu celular para tirar as fotos, ele passeava pela cidade. Tirando selfies em todos os lugares, escolheu visitar os mais bonitos. Tirou fotos do mar azul, do por do sol e dos locais históricos.
No último dia de viagem resolveu ir a um dos edifícios mais altos da cidade, conseguiu autorização para subir até o terraço do prédio comercial, e aproveitou a vista tirando belas fotos. Cada vez mais empolgado ele se debruçava sobre o parapeito, não se importando com sua segurança, adorava aquelas selfies perigosas, era fascinado.
Foi quando decidiu tirar uma, olhando em volta para ter certeza que ninguém estava vendo, pluuuuffff sentou no parapeito e ergueu o braço posicionando o celular para o melhor ângulo, mas então o celular escorregou da mão dele, por reflexo tentou pegar, mas perdeu o equilíbrio, sem conseguir se segurar pluuuuffff caiu. A queda com mais de 156 metros foi fatal.
Ele caiu e morreu na fonte iluminada do edifício, às 16 horas.
Rinko precisou sair da cidade, seria apenas um fim de semana, mas ajudaria.
Se sentia muito mal, no último mês perdeu vários amigos, pessoas queridas que morreram cedo.
Para piorar, a consciência estava pesada, viu muita coisa errada e desonesta onde trabalhava e não interferiu. Era contra o que seu chefe tinha feito, mas quando percebeu, o esquema era muito maior e mais perigoso do que imaginava, e não poderia combater sem correr riscos.
Respirou fundo, logo tudo acabaria, seguiria seu sonho, seria uma médica e deixaria tudo isso para trás. Era forte, já tinha passado por muita coisa e conseguiria superar mais essa.
Com fones, caminhava pela praia, a areia sob seus pés ajudava a se acalmar.
Gostava da música que estava tocando. – “...Para-para-paradi...” – Aumentou o volume e começou a cantar junto.
***
Uma pane elétrica nos comandos da aeronave PR-STU que tinha como destino o Aeroporto Jorge Amado, obrigou o comandante a efetuar os procedimentos para um pouso forçado.
Com os motores parados, o avião estava apenas planando com as luzes apagadas, mas a noite de lua cheia facilitou seu trabalho. Pousos de emergência são exaustivamente treinados em simuladores, e o fato da aeronave estar sem passageiros, apenas com piloto e co-piloto facilitaria, de certa forma, o pouso.
Pilotando às cegas, servido apenas dos comandos hidráulicos e mecânicos, o comandante conseguiu vislumbrar a silhueta da praia, o ATR pousaria de barriga na areia.
A menos de 100 pés de altura do chão, o comandante foi surpreendido pelo vulto de uma pessoa fazendo caminhada à beira mar, não houve tempo. Demasiadamente pesado, o manche não respondeu ao comando de uma leve arremetida. O prejuízo que até então seria material, acabou deixando também uma vítima fatal.
***
Com o fone de ouvido e o som no último volume, Rinko não ouviu a aeronave planando em sua direção, foi tudo muito rápido, mal sentiu o impacto. Ela morreu na Ponta da Tulha às 21:58 h.