Rinko precisou sair da cidade, seria apenas um fim de semana, mas ajudaria.
Se sentia muito mal, no último mês perdeu vários amigos, pessoas queridas que morreram cedo.
Para piorar, a consciência estava pesada, viu muita coisa errada e desonesta onde trabalhava e não interferiu. Era contra o que seu chefe tinha feito, mas quando percebeu, o esquema era muito maior e mais perigoso do que imaginava, e não poderia combater sem correr riscos.
Respirou fundo, logo tudo acabaria, seguiria seu sonho, seria uma médica e deixaria tudo isso para trás. Era forte, já tinha passado por muita coisa e conseguiria superar mais essa.
Com fones, caminhava pela praia, a areia sob seus pés ajudava a se acalmar.
Gostava da música que estava tocando. – “...Para-para-paradi...” – Aumentou o volume e começou a cantar junto.
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Uma pane elétrica nos comandos da aeronave PR-STU que tinha como destino o Aeroporto Jorge Amado, obrigou o comandante a efetuar os procedimentos para um pouso forçado.
Com os motores parados, o avião estava apenas planando com as luzes apagadas, mas a noite de lua cheia facilitou seu trabalho. Pousos de emergência são exaustivamente treinados em simuladores, e o fato da aeronave estar sem passageiros, apenas com piloto e co-piloto facilitaria, de certa forma, o pouso.
Pilotando às cegas, servido apenas dos comandos hidráulicos e mecânicos, o comandante conseguiu vislumbrar a silhueta da praia, o ATR pousaria de barriga na areia.
A menos de 100 pés de altura do chão, o comandante foi surpreendido pelo vulto de uma pessoa fazendo caminhada à beira mar, não houve tempo. Demasiadamente pesado, o manche não respondeu ao comando de uma leve arremetida. O prejuízo que até então seria material, acabou deixando também uma vítima fatal.
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Com o fone de ouvido e o som no último volume, Rinko não ouviu a aeronave planando em sua direção, foi tudo muito rápido, mal sentiu o impacto. Ela morreu na Ponta da Tulha às 21:58 h.